0
O Calvário de Sérgio Moro e Deltan Dallagnol
Posted by Cottidianos
on
00:30
Segunda-feira,
17 de junho
“Talvez o mundo
não seja pequeno
Nem seja a vida um
fato consumado
Quero inventar o
meu próprio pecado
Quero morrer do
meu próprio veneno
Quero perder de
vez tua cabeça
Minha cabeça perder
teu juízo
Quero cheirar
fumaça de óleo diesel
Me embriagar até
que alguém me esqueça
Pai, afasta de mim
esse cálice
Pai, afasta de mim
esse cálice
Pai, afasta de mim
esse cálice
De vinho tinto de
sangue”
(Cálice – Chico Buarque)
Faz
tempo, o noticiário político brasileiro deixou de ser uma novela morna para se
tornar um daqueles enredos apimentados, daqueles que em cada curva ou em cada
esquina se escondem surpresas de tirar o folego, surpresas essas nem sempre agradáveis. Agora, foi a vez dos ventos do destino
jogarem o aclamado juiz Sérgio Moro no centro do furacão. Esses ventos tem nome
específicos: hackers.
Exatamente
há uma semana, o site The Intercept Brasil, publicava informações obtidas de
maneira criminosa, que cairiam como bomba no noticiário nacional e que
atingiriam em cheio o ex-juiz e atual ministro da Justiça e da Segurança
Pública, Sérgio Moro, e procurado Deltan Dallagnol. O site “The Intercept” foi
fundado pelo jornalista, Gleen Greenwald, que é também um dos autores da
bombástica reportagem. Greenwald ficou conhecido mundialmente quando ajudou o
ex-analista de sistema americano, Edward Snowden a revelar informações secretas
obtidas pela Agência Nacional de Segurança (NSA), dos Estados Unidos.
O
conteúdo da informação trazia a publicação de conversas privadas entre o
ex-juiz Sergio Moro e o procurador Deltan Dallagnol, coordenador da
força-tarefa da Lava Jato em Curitiba, ocorridas no período de 2015 a 2017. As
conversas, trocadas por meio do aplicativo Telegram, foram entregues ao site
por uma fonte anônima. Nesse primeiro lote de conversas divulgadas, Moro sugere
a Dallagnol que troque a ordem de fases da Lava Jato e cobra agilidade em novas
operações.
Falando
de fases da Operação Lava Jato, moro sugere Moro a Dallagnol: “Talvez fosse o
caso de inverter a ordem das duas planejadas”. Em outra ocasião, após um mês
sem que a força-tarefa saísse às ruas, Moro pergunta: “Não é muito tempo sem
operação?” “Não pode cometer esse erro agora”, disse o juiz ao procurador em
tom de repreensão ao trabalho da Polícia Federal. “Aparentemente a pessoa
estaria disposta a prestar a informação. Estou então repassando. A fonte é
séria”, disse Moro em outro dialogo, sugerindo um caminho para investigação.
O
The Intercept continua divulgando trechos da conversa do ex-juiz com os
procuradores que atuam na força-tarefa da Lava Jato.
Pelo
Código Penal Brasileiro, em seu artigo 234, o juiz deve declarar-se suspeito ou
ser recusado pelos envolvidos no processo se tiver aconselhado uma das partes,
seja defesa ou acusação.
Moro
e Dallagnol continuam a afirmar que não há nada nos trechos divulgados nas
conversas que manche a conduta dos dois. O problema, desculpem o trocadilho, é
que eles estão no centro de um grande problema. É fato que juízes conversam com
procuradores, com advogados, apesar de isso ir contra o Código Penal, pode
acontecer e acontece, essas situações citadas por Sérgio Moro.
Os
dois, Deltan e Moro, cometeram irregularidades nesse caso? Ao que parece, sim. Porém,
em nenhum momento da conversa se veem os dois forjando provas, ou alguma outra
irregularidade mais grave.
Durante
todo o decorrer da Operação Lava Jato, que ainda está em curso, muitos poderosos
foram para trás das grades, quantias em dinheiro foram devolvidas aos cofres
públicos, esquemas ilegais foram desfeitos. O Brasil, enfim, viu e soube de
toda a lama que corre sob os corredores de Brasília, e que sempre ficou longe
dos olhos da população.
A
defesa de Lula pede anulação da condenação do ex-presidente no caso do Triplex,
e um novo julgamento na Justiça Eleitoral. Lula foi condenado pelo juiz Sérgio Moro,
em julho de 2017, a 9 anos e meio de prisão por corrupção passiva e lavagem de
dinheiro no processo do triplex no Guarujá. Os advogados recorreram e, em
janeiro de 2018, o Tribunal Regional Federal da 4a Região (TRF-4),
ao invés de questionar a decisão de Moro, aumentou ainda mais a pena para 12
anos e um mês de prisão.
É
certo que o Moro e Deltan possam ter cometido alguma irregularidade, porém, isso
não apaga os crimes cometidos pelo ex-presidente Lula, nem por outros presos na
Lava Jato. Isso das acusações contra o ex-presidente, não é uma coisa de passar
uma borracha e voltar tudo a estaca zero. Houve um processo judicial, testemunhas
foram ouvidas, as provas foram todas documentadas.
Pelas
redes sociais circulam algumas piadas que, às vezes, resumem bem toda a
situação. Permitam-me reproduzir aqui uma dessas que circulou no WhatsApp, diz
ironicamente: “Graças a Deus: Lula não roubou e o país não está quebrado. Era
tudo armação do Moro. Que bom, estamos crescendo, não somos o último da
educação, não houve Passadena, nem dólares na cueca, as empreiteiras não
roubaram, a Petrobrás não foi roubada, os Correios são uma maravilha, os fundos
de pensão não foram parar nas contas do PT, os estádios não foram
superfaturados, a corrupção não tomou conta do Estado. A transposição do Rio
São Francisco encheu de água o Nordeste. O país cresceu. Ufa! Achei que eles tivessem
mesmo roubado e que hoje a gente estaria com 16 milhões de desempregados. Ainda
bem. Valeu, hacker! Eu quase acreditei no Moro! Agora vou pegar o trem-bala que
a Dilma fez entre Rio e São Paulo”.
Outro
fato a se notar é que os semanários de grande circulação que são também os mais
lidos no país trouxeram em suas reportagens de capa artigos atirando pedras no ex-juiz,
e atual ministro da Justiça e da Segurança, Sérgio Moro. Até mesmo veículos que,
no passado, atiram flores em Moro, agora trouxeram artigos bem críticos sobre a
situação. Teve até quem defendesse que — tal qual a
defesa do PT — o julgamento do ex-presidente foi uma fraude, e defendeu a anulação
do processo.
Mas
tudo são interesses, circunstâncias. Nada é por acaso. Os veículos de
comunicação também lidam com interesses. E Bolsonaro, que confia integralmente
em Sérgio Moro, várias vezes citou a imprensa como inimiga. Atacar Moro no
atual momento, significa também atacar o presidente. Isso são considerações que
faz esse blog. Talvez possa ser uma leitura que se faz do fato nas entrelinhas.
Risco
mais grave e do qual pouco se falou e se deu atenção foi para o fato da própria
invasão aos celulares dos procuradores e suas conversas no Telegram. Os ataques
dos hackers chegam a ser uma ameaça às instituições brasileiras. E isso é
grave.
Outro
fato que deve se observar é que a luta contra a corrupção e a Operação Lava
Jato não deve ser abalada pelo recente furacão que atingiu a vida de Sérgio
Moro e de procuradores do MP que atuam na força-tarefa da Lava Jato, em
Curitiba. Afinal, não foram poucas às vezes que os políticos tentaram matá-la, sufocá-la.
Não estranhem, portanto, se alguns começarem a se articular no Congresso para desgastar
a imagem de Sérgio Moro. O que eles querem, na verdade, é que a corrupção continue
correndo livre, leve, e solta pelo Brasil afora, como sempre aconteceu.
É
prezados leitores, e leitoras, Sérgio Moro e Deltan Dallagnol, tantas vezes
protagonistas na Lava Jato, operação que tanto bem fez ao país, agora vivem
seus calvários.
Se
subirão o Monte Gólgota para serem açoitados e crucificados, ou se terá sido
apenas um vento passageiro na vida dos dois, aguardemos o desenrolar dos fatos.
Postar um comentário