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As frituras de Bolsonaro

Posted by Cottidianos on 00:23

 Terça-feira, 18 de junho




Ah, frituras! Maravilhosa técnica milenar que consiste em mergulhar alimento em óleo, ou outro tipo de gordura. Quanto mais tempo no óleo, melhor. Quem é que resiste àquela batatinha frita, saborosa e quentinha!… Aquele salgadinho de festa!… E aquele bife feito com carinho na frigideira?!
Comidas fritas são deliciosas, porém, dizem os nutricionistas, não se deve abusar delas. Pois ao longo do tempo, elas vão desgastando o organismo. E o preço cobrado pelo corpo são as doenças vasculares, hipertensão, desenvolvimento de cancer, má absorção de nutrientes, e várias outras.
Assutou-se com o abuso decorrente do uso dos alimentos fritos? Calma. Não é necessário cortar de vez os fritos, principalmente se eles lhe aprazem. Basta apenas passar a adotar o uso moderado desses alimentos. Passar a degustar também os grelhados e assados. Eles também são deliciosos!… E mais saudáveis.  
O presidente Jair Bolsonaro também gosta de fazer frituras. A especialidade dele? Fritar ministros. Ah, como ele adora esse prato. Ele gosta de fritá-los em fogo brando, para ir queimando aos poucos, e quando a fritura já está passando do ponto, eis que é hora de tirá-la da panela. Essa é a receita. E não é invenção desse blog. Ela veio da boca do próprio presidente, como outras palavras, é claro.
Em uma conversa, na sexta-feira, no último dia 14 de junho, durante o café da manhã com jornalistas, no Palácio do Planalto, o presidente revelou seu método sádico. Ele disse que antes de demitir um funcionário cujo desempenho não esteja lhe agradando, é preciso deixar a pessoa se enrolar um pouco, no dito popular isso se chama “dar linha na pipa”. Dar linha na pipa de alguém significa dar liberdade a uma pessoa para ver até onde ela vai com suas atitudes ou conversas.
Para o leitor entender melhor o contexto, o presidente falava do filho, Carlos Bolsonaro, que já causou algumas situações bastante constrangedoras para o governo através de sua atuação nas redes sociais. O presidente dizia que o filho é mais “imediatista” nos resultados pretendidos que ele, e que tem capacidade de se antecipar aos problemas. “Ele (Carlos Bolsonaro) levantou alguns problemas no passado e eu falo o seguinte: tem que dar um tempo para, ao dar o cartão vermelho para essa pessoa, não ter dúvidas. E tem que deixar a pessoa se enrolar um pouco mais, no linguajar popular. Ele é imediatista. Converso com ele, mas não sigo 100% o que ele fala”, disse o presidente.
Para o leitor se situar ainda mais no contexto da conversa, Jair Bolsonaro havia acabado de demitir, no dia anterior, o ministro da Secretaria de Governo, Carlos Alberto dos Santos Cruz.
A vítima mais recente desse processo de fritura foi o presidente do Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social ( BNDES), Joaquim Levy. Levy é um homem preparado em sua área, tanto é que, mesmo tendo feito parte do governo de Dilma Rousseff, foi convocado por Paulo Guedes, ministro da Economia para ocupar o importante cargo. Levy foi ministro da Fazenda, de janeiro a dezembro de 2015, no primeiro ano do segundo governo da ex-presidente.
Pois é, assim do nada, do nada mesmo, sem ser provocado por ninguém, Bolsonaro chamou os jornalistas, no sábado (16) — apenas dois depois de revelar sua receita de frituras — e disse a eles que a cabeça de Joaquim Levy estava a prêmio. E ameaçou demiti-lo na segunda-feira, se ele não suspendesse a nomeação do advogado Marcos Barbosa Pinto para ocupar o cargo de diretor de mercado de capitais do banco.
Levy nomeou Marcos Pinto para a função no BNDES. Já estou por aqui com o Levy. Falei para ele: ‘Demite esse cara na segunda ou eu demito você sem passar pelo Paulo Guedes’” disse Bolsonaro, e acrescentou: “Governo tem que ser assim: quando coloca gente suspeita em cargos importantes e essa pessoa, como Levy já vem há algum tempo não sendo leal àquilo que foi combinado e àquilo que ele conheceu a meu respeito, ele está com a cabeça a prêmio há algum tempo”.
Levy, nem esperou o suplício de ficar sendo fritado através da mídia, e, ele mesmo, Levy, pediu demissão do cargo. Como diz o ditado: “Pra bom entendedor meia palavra basta. Antes do pedido de demissão de Levy, e imediatamente após a fala de Bolsonaro, Marcos Barbosa Pinto, pivô da ira de Bolsonaro, pediu demissão do cargo.
Pinto havia sido chefe de Gabinete de Demian Fioccca, na presidência do BNDES entre 2006 e 2007.  Demian era homem muito ligado a Guido Mantega, ministro da Fazenda nos governos Lula e Dilma. Tanto Levy quanto Pinto eram homens preparados o primeiro para função que exercia desde o governo de Bolsonaro, e o segundo para a cadeira que iria assumir.
Levy vinha resistindo a alguns planos de Bolsonaro, por exemplo, abrir a “caixa preta” do BNDES e investigar possíveis irregularidades em financiamentos concedidos pelo Banco. Ele também resistiu a devolução de R$ 100 bilhões do banco ao Tesouro Nacional. Segundo cronograma feito ainda no governo Temer, o banco deveria devolver R$ 26,6 bilhões em 2019. De 2015 até agora foram devolvidos aos cofres públicos pelo BNDES R$ 300 milhões.
A medida se encaixa nos planos liberais de Guedes e agrada aos bolsonaristas, pois o BNDES é para eles um símbolo da roubalheira da era petista. Na verdade, Bolsonaro nunca engoliu Joaquim Levy. Aceitou ele na presidência do BNDES porque foi o próprio Paulo Guedes que indicou ele para a função.
Tudo bem que Bolsonaro queira demitir esse ou aquele ministro, afinal ele é presidente, como ele próprio costuma dizer: “tem o poder da caneta”, o esquisito em tudo isso, melhor seria dizer sádico, é a maneira como ele faz isso. O presidente não é daqueles estadistas que sentam e conversa com o interessado, ou com desafeto que, segundo ele, não está fazendo um bom trabalho.
Por exemplo, no caso de Levy ele o demitiu através da imprensa. Chamou os repórteres e jogou a bomba. Tudo bem que foi Levy quem, na verdade, pediu demissão, mas como foi dito acima: “Para um bom entendedor, meia palavra basta”. Não seria melhor chamar Levy em seu gabinete e dizer com franqueza: “Olha Levy seu trabalho não tem me agradado, em tais e tais pontos não concordamos. Você não se encaixou no projeto de governo para o banco, então tudo certo, valeu, tchau”. É uma atitude mais digna e que combina mais com um estadista.
Com isso já são três os ministros e dois auxiliares em postos chaves que sofreram processo de fritura em menos de seis meses de governo, e não importa se eles são amigos, aliados, homens de confiança, ou não.
Um a um  foram sendo fritados, sofrendo um enorme processo de desgaste, uns mais, outros menos; Gustavo Bebiano (Secretaria Geral); Ricardo Vélez Rodriguez (Educação); Carlos Alberto Santos Cruz (chefe da Secretária de Governo); ainda na sexta-feira, durante o café com os jornalistas, Bolsonaro demitiu o presidente dos Correios, general Juarez Cunha; e agora foi a vez de Joaquim Levy.
Foram três os ministros demitidos no primeiro escalão do governo: Bebiano, Vélez Rodrigues, e Santos Cruz, e segundo levantamento feito pelo jornal O Globo, já somam 19 as baixas no segundo escalão do governo.
Seria interessante o presidente Jair Bolsonaro ouvir o que os nutricionistas tem a dizer sobre o uso excessivo de frituras. Pois pode ser que não demore muito para que o governo passe a sofrer de hipertensão e todos esses males causados pelo excesso de fritura de ministros e auxiliares.

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