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Ricardo Boechat: Uma voz que se cala
Posted by Cottidianos
on
23:43
Terça-feira,
11 de fevereiro
“A vida é breve como um jogo,
Com
suas regras, suas leis,
Injustiças
e malogros,
Muitos
perdem sua vez.
É
ganhar ou perder,
É
lutar pra viver”
(Breve como um jogo – Tribo de Jah)
Ricardo Boechat |
Cada
texto é um mergulho num mar de palavras e sentimentos intensos. Aliás, tudo que
envolve opiniões, sentimentos, conflitos, e que brotam do fundo das regiões
conhecidas ou desconhecidas do santuário que é a consciência individual de cada
ser, deve ser profundo.
Mesmo
por que os raciocínios superficiais não alcançam a consciência cósmica de onde
brotam todos os bons fluídos que descem sobre cada homem e mulher que desejam
fazer de suas vidas algo mais que um simples lago de águas paradas, mas um
imenso mar de amor, beleza, e verdade.
Já
notou o leitor, ou leitora deste blog que ele não costuma abordar tragédias. Até
que este vos escreve pensou em escrever um texto semelhante ao anterior, cujo
título foi, mistérios do mar da vida. Até foi pensado o primeiro parágrafo: “Ah,
as tragédias.”
Mas
isso seria como se posicionar a beira de um rio de águas turbulentas e nele
mergulhar de cabeça, deixando o corpo imergir naquelas águas frias e nebulosas.
Em
todo escrito que pretenda, de fato, dizer algo de positivo e substancial,
primeiro mergulhou o autor, e em seguida, aqueles que, com os olhos e o
pensamento percorreram aquelas linhas.
E
se, ambos, autor e leitor, mergulham em águas claras e cristalinas é certo que
também nos elementos naturais há uma vibração positiva, daquelas que iluminam a
alma e aquecem o coração, esse efeito, por certo é transmitido àquele que se
banha nessas águas. Então a imersão e fluidez naquelas benditas águas também
servem como balsamo para o corpo. Traz sorriso aos lábios e paz ao coração.
Ao
contrário, o que colhe quem mergulha num mar de tristeza? Serão boas as
vibrações que trará de lá? Fica o leitor convidado a refletir sobre essa
questão e para ela encontrar uma resposta.
É
certo que no mundo da informação, num mundo midiático, há milhões de pessoas
ávidas por ouvir falar de desgraças e ver imagens de tragédias e acidentes. Há programas
especializados nisso. Na televisão brasileira há uma boa quantidade deles.
Não
há como escapar de, ao passear pelos canais, toparmos com alguns deles. Também os
telejornais que envolvem assuntos diversos são obrigados a dar notícias de
desastres e infortúnios. Às vezes, não conseguimos escapar de tais fatos. São notícias,
e no final de contas, queremos saber o que houve, o que ocorreu.
Mais
daí a mergulhar de cabeça nestes programas especializados em tragédias, crimes,
assassinatos, e roubos há uma grande diferença. Às vezes podemos molhar um dedo
ou outro nestas águas, ou até mesmo a mão, mas ao sair dali podemos lavá-las...
E seguir em frente.
Este
blog mesmo já falou delas algumas vezes, entretanto, sem dar, nesse triste mar,
aquele mergulho que submerge a alma e o coração.
Não
sei ao certo com quanta profundidade o autor deste blog mergulha neste mar de
palavras e sentimentos. Não sei se muita ou se pouca, ou se talvez nenhuma, mas
pelo menos procura não se manter na superficialidade.
Também
não sabe quanta profundidade os leitores e leitoras sentem nestes textos. Ou se
é que sentem nas palavras aqui colocadas alguma agudeza. Enfim, o conhecimento,
o sentimento, a agudeza são mares tão vastos, que se algumas destas gotas
servirem para, pelo menos refrescar a mente dos que lêem as palavras aqui
postas, então já terá valido a pena imergir neste vasto rio corrente que vai
dar no mar e que é a palavra, pensada, dita, escrita.
Mesmo
não querendo falar de tragédias, como disse acima somos atingidos por elas na
forma de querer saber, e do sentimento de tristezas que elas no geram. O sofrimento
alheio nos toca, e nos toca porque o alheio é um outro de nós, tem os mesmo
sonhos, vive, respira, e sente a necessidade de ser tanto quanto cada um de
nós. Afinal os diversos meios de comunicação que nos circundam vivem de
notícias e nós precisamos saber delas, mesmo as ruins.
E
no Brasil, no início deste ano, eles, os infortúnios, tem se sucedido um após
outro. Primeiro foi Brumadinho com suas centenas de vítimas e um grande
desastre natural — aliás, Brumadinho e Mariana são desastres que não só
aconteceram como continuam a ocorrer todos os dias, uma vez que os rejeitos de
minérios continuam a contribuir para a morte dos rios e ecossistemas.
Também
houve a chuvarada forte que atingiu o Rio de Janeiro e deixou um rastro de
destruição e vítimas fatais. Quando o Rio ainda tentava se recuperar deste
desastre natural, veio o incêndio em um centro de treinamento do Flamengo, no
qual dez jovens atletas morreram carbonizados pelas chamas terríveis.
Quando
o Brasil ainda chorava e lamentava este triste incidente, eis que a morte,
resolve aparecer, assim de surpresa e levar um dos grandes nomes do jornalismo,
Ricardo Boechat.
O
dia de hoje, 11 de fevereiro, começou normal para Boechat. Ele apresentou o
jornal na Band News. Ao termino do programa veio à Campinas onde participou de
um evento promovido pela indústria farmacêutica Libbis, onde proferiu palestra sobre
ética no trabalho. A participação de Boechat ocorreu logo no início do evento. Por
cerca de uma hora, ele entrevistou o presidente da empresa sobre o tema citado.
O evento teve como palco o hotel The Royal Palm Plaza.
Encerrada
sua atividade em Campinas, por volta do meio dia, o jornalista embarcou em um helicóptero
em direção à capital, São Paulo. Mas o destino, o cruel destino, não quis que o
jornalista chegasse ao destino. Nem ele, nem o piloto do helicóptero.
Chegando
a São Paulo, a aeronave apresentou problemas. O piloto, Ronaldo Quatrucci,
sócio proprietário da empresa que fazia o transporte, ainda tentou um pouso
forçado, no Km 7, próximo ao acesso à Rodovia Anhanguera. Não teve êxito,
porém, e aeronave se chocou contra um caminhão, soltou algumas peças, caindo
alguns metros mais adiante.
O
jornalista, Ricardo Eugênio Boechat, 66 anos, e o piloto da aeronave, Ronaldo
Quatrucci, morreram na explosão. A cabine do caminhão, parte atingida pelo helicóptero,
ficou destruída, entretanto, o motorista escapou ileso, apenas com alguns
arranhões.
Os
apresentadores da rádio BandNews, Eduardo Barão e Carla Bigatto, que
apresentavam, ao vivo, o jornal naquele horário, e a editora-executiva do
programa, Sheila Magalhães, bastante abalados, não conseguiram segurar as
lágrimas ao dar aos ouvintes a triste notícia. A programação da radio foi
suspensa por alguns minutos enquanto os que faziam a rádio naquele momento se
refaziam do baque.
O
Brasil chora e lamenta a morte de Boechat, porém, certamente, os anjos não devem
ter deixado que ele sofresse na alma as terríveis conseqüências do acidente. Além
do excelente e competente jornalista, Boechat também era citado pelos amigos
como sendo uma pessoa generosa e disposto a ajudar aos que estavam em
dificuldades.
Pessoas
assim, com o coração cheio de beleza e bondade, até no último instante os anjos
vem correndo e acolhem a alma daquele que desencarnou, e com ela entram nas
moradas cheias de luz da corte celestial. Ali, para os que praticaram o bem
haverá uma grande paz.
Boechat,
o Brasil gostaria que você continuasse com seu estilo arrojado de dar notícias,
e de falar sobre as coisas boas do Brasil, bem como criticar ferrenhamente o
que acontece de errado por aqui. Mas, o acaso te surpreendeu e te levou mais
cedo do que esperávamos.
Agora
só nos resta dizer: descanse em paz!
Um
blog cujo objetivo é informar não poderia deixar de prestar essa homenagem cujo
objetivo era informar.
Boechat
era apresentador do Jornal da Band, da rádio Bandnews, e também escrevia uma
coluna na revista IstoÉ. Também já havia passado por grandes órgãos de
comunicação da imprensa nacional. Foi vencedor de prêmios importantes do jornalismo.
Um vencedor na vida.
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