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Doping político

Posted by Cottidianos on 00:10
Quinta-feira, 11 de agosto


No momento em que começo a escrever este artigo, coincidentemente, começo a ouvir o som do Hino Nacional Brasileiro, e o público, no Estádio Fonte Nova, em Salvador, Bahia entoá-lo com fervor. Em campo, a seleção brasileira, e a seleção dinamarquesa, em partida válida pelos Jogos Olímpicos. Vocês tem percebido que tenho evitado falar de futebol, e, principalmente, falar de seleção brasileira. E porque não o faço? Desmotivação é a palavra, o motivo. Desde aquele fatídico 7 x 1 para a Alemanha, tenho perdido o interesse por partidas da seleção brasileira. E porque o desinteresse?

Ora, caro leitor, vejo uma geração de jogadores absolutamente descompromissada com o futebol brasileiro. Jogando um futebol de várzea a seleção não encanta ninguém. Desde aquela surra que a seleção brasileira levou dos alemães, até pensei que algo pudesse melhorar. Ah, ledo engano. O futebol brasileiro parece caminhar cada vez mais para o fundo do poço. Os jogadores da seleção brasileira parecem estar muito mais comprometidos com seus clubes europeus, e com seus patrocinadores, do que com a camisa verde e amarela.

Em 2015, o Brasil foi eliminado da Copa América pelo Paraguai nas quartas de final. Neste ano de 2016, o Brasil deu outro vexame na Copa América Centenário, quando perdeu para a seleção peruana por 1 x 0, e foi eliminada ainda na primeira fase da competição. O mais ridículo é saber que na competição estavam times de “grande” tradição futebolística de “enormes” conquistas no futebol, como por exemplo, Equador, Haiti, e Peru.

Estamos em 2016 e o Brasil disputa os Jogos Olímpicos. O desempenho da seleção tem sido, mais uma vez, vergonhoso. A seleção joga suado por classificação para a próxima fase da competição.

Foi-se o tempo em que a seleção brasileira amedrontava os adversários. Hoje, aquele leão que amedrontava, hoje não passa de um gatinho amedrontado. E não estranhe, caro leitor, se os jornais estamparem, qualquer dia desses, que a seleção brasileira não conseguiu se classificar para a próxima Copa do Mundo. Do jeito que as coisas andam isso não é nenhum pouco difícil.


Ainda falando de Rio 2016. O ouro tem jorrado abundante no coração, e ao redor do pescoço do gênio das piscinas, do Pelé da água. Michael Phelps é o nome dele. O homem é uma máquina de fabricar medalhas olímpicas, sendo a sua especialidade, as de ouro. Salve Phelps! Grande cara! Grande campeão!

Quando vi as manchetes de jornal estamparem as manchetes “Michael Phelps vai parar”, e depois “Phelps vai retornar”. Pensei: “porque ele parou, voltou, e decidiu vir ao Rio”? Então quando vi o mito beijando o filho recém-nascido após a conquista de mais uma medalha de ouro. Então compreendi por que a fera havia voltado.

Saindo dos campos e piscinas olímpicos, vamos para um campo menos glamouroso e mais lamacento, que é o nosso viciado cenário político.

Hoje, ontem (10), o Senado aprovou o relatório da Comissão Especial de Impeachment de Dilma Rousseff, pelo placar de 59 votos a favor, e 21 contra. O ato autoriza o julgamento de uma presidente afastada por crimes de responsabilidade fiscal. A partir de hoje Dilma é ré em processo que apura o crime citado anteriormente. A partir de agora, os autores da denuncia apresentarão a tese de acusação, que nada mais é do que uma análise detalhada dos crimes atribuídos à presidente. O prazo para apresentação da tese de acusação é de 48 horas.

Após a apresentação dessa tese, a defesa da presidente terá o mesmo prazo para oferecer o contrário. A previsão é de que a sessão de julgamento em plenário do Senado ocorra em fins deste mês.

É emblemático que as duas principais figuras do Partido dos Trabalhadores se tornem réus em períodos datas tão próximas. Em fins do mês anterior, o ex-presidente Lula, enquanto se dirigia à ONU, dizendo-se vítima de perseguição política, se tornou réu em processo relacionado à Lava Jato, no qual é acusado de obstrução de justiça.

O que será do PT tendo os seus pilares fortemente abalados? Eu, particularmente, lamento que dois líderes políticos da envergadura de Lula e Dilma, com uma história tão forte de luta, tenham amassado, rasgado, e jogado suas biografias no lixo. Hoje, Lula poderia ser um homem altamente popular. Não digo que não seja, ainda é, mas a imagem dele está muito arranhada, e quando confrontada no espelho, está opaca. A imagem de Dilma idem.

Considero o processo de impeachment de Dilma um caminho irreversível. Primeiro porque a tendência é de que se mantenha o resultado obtido na votação de ontem no Senado. Segundo, apesar de julgarem o crime de responsabilidade da presidente afastada, os senadores, evidentemente, não deixam de olhar em volta e analisar o quadro geral da obra.

O quadro geral à volta de Dilma não é nada animador. O jogo de xadrez para ela e para o PT está cada vez mais complicado.

Outra peça importante do tabuleiro que virou réu foi o ex-ministro do Planejamento no governo Lula, Paulo Bernardo. Ele e mais 12 investigados foram tornados réus no inicio deste mês. Isso enfraquece ainda mais a articulação favorável á Dilma no Senado. Por quê? Paulo Bernardo é marido da Senadora Gleise Hoffmam, do PT do Paraná, e Gleise é uma das defensoras ferrenhas de Dilma naquele espaço, e, com o marido na condição de réu, a senadora perde muito de sua força política.

Outra peça encurralada é o próprio ex-presidente Lula — que para a alta cúpula do PT, ainda é chamado de presidente — que além de réu no processo por obstrução de justiça, ainda é investigado na Operação Zelotes que apura a compra de um apartamento triplex no Guarujá, e de um sítio em Atibaia, imóveis que Lula e família negam pertencer a eles. Lula também é investigado em outra denuncia por tráfico de influência.

A rainha também está encurralada, e de mãos atadas. Os marqueteiros da campanha dela, João Santana e Mônica Moura, e admitiram ter mentido no interrogatório que deram à Polícia Federal, em fevereiro, quando foram detidos. O casal admitiu recentemente, que recebeu R$ 4,5 milhões, por meio do operador de propinas, e doleiro, Zwi Scorniki. Com isso, a presidente, que até então figurava como “João-sem-braço” em meio a todo esse lamaçal, fica mergulhada nele. Claro, a presidente afastada nega qualquer envolvimento, e diz não saber de nada.

Sai Temer e entra Dilma e o lamaçal continua.

A delação mais esperada dentre todas as delações premiadas da Lava Jato, a de Marcelo Odebrecht, aponta que o presidente interino não está isento de culpa em todos esses escândalos.

Segundo informações divulgadas pela revista Veja, em maio de 2014, reuniram-se para um jantar no Palácio do Jaburu, residência oficial do vice-presidente da República, Michel Temer, o deputado Eliseu Padilha, atual ministro-chefe da Casa Civil, e Marcelo Odebrecht. Conversa vai, conversa vem, Temer pediu “apoio financeiro” ao empresário do ramo de empreiteiras.

Marcelo, empresário “generoso” prometeu colaborar. Esse “apoio financeiro” se deu em dinheiro vivo, derramado na campanha de 2014. 10 milhões de reais repassados ao PMDB. Outro que aparece em delações premiadas como sendo beneficiário de dinheiro provindo de esquemas ilegais é José Serra, atual ministro das Relações Exteriores. Segundo delação premiada de Marcelo Odebrecht, Serra teria recebido R$ 23 milhões da empreiteira para sua campanha presidencial em 2010.

Pelo visto não há jogo limpo quando se trata de política brasileira. Se política no Brasil fosse esporte e os políticos tivessem que passar por um exame antidoping, certamente, seriam todos banidos da modalidade que praticam.

Voltando ao jogo da seleção, em Salvador, finalizei esse texto, no momento em que o jogo da seleção brasileira com a dinamarquesa chegou ao seu final. Vitória do Brasil. 4 x 0. Foi um bom jogo, mas não mudo minha opinião. Em se tratando de seleção brasileira estou igual a São Tomé: Só acredito vendo.

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Maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas, 2004: uma história dramática e curiosa

Posted by Cottidianos on 00:15
Segunda-feira, 08 de agosto

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“Queridos amigos, Só Deus é mais importante do que minha saúde! Em minha vida tive fraturas, cirurgias, dores, internações em hospitais, vitórias e derrotas, e sempre respeitando aqueles que me admiram. A responsabilidade das decisões é minha onde sempre procurei não decepcionar a minha família e o povo brasileiro. Nesse momento eu não estou em condições físicas de participar da abertura da Olimpíada. E como brasileiro, peço a Deus que abençoe a todos que participarem desse evento e que seja um grande sucesso e termine em paz!”

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Palavras introdutórias


Quando Vanderlei Cordeiro de Lima pegou a tocha olímpica das mãos da ex-jogadora de basquete, Hortência, nos momentos finais da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, no estádio Maracanã, Rio de Janeiro, dois surpresos olhos estavam sobre ele: um de raiva, ódio, e rancor, e outro de orgulho, alegria e felicidade. O primeiro, numa cidade ao sul de Londres, e o outro em alguma cidade da Grécia.

Lembram-se daquelas novelas clássicas da Globo, que chegaram a ter dois finais gravados, e sobre as quais se fazia absoluto mistério quanto ao desfecho da trama, reveladas, quase sempre, no último capítulo, a exemplo de Rock Santeiro, e mais, recentemente, Avenida Brasil?

Pois bem, o momento mais importante da cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos do Rio, também foi aguardado com ansiedade. Ninguém sabia até o último momento quem seria aquele, ou aquela que acenderia a tocha olímpica, dando início, de fato, aos jogos olímpicos e paraolímpicos de 2016.

Havia muitas especulações, mas ninguém sabia quem acenderia a tocha, mesmo entre os mais influentes no mundo esportivo ninguém sabia. Esse foi um segredo guardado a sete chaves.

A mensagem  em parágrafo recuado, e em itálico, que abre esse texto é de Pelé — atleta que dispensa apresentações — e foi publicada pelo atleta em suas redes sociais.

Pelé, o rei do futebol, segundo o diretor de comunicação do Comitê Organizador dos Jogos Olímpicos, Mário Andrada, era a primeira opção para acender a pira olímpica. Ele chegou a ser esperado até os últimos momentos, porém, o médico que trata do problema no quadril de Pelé, achou melhor que seu paciente, não participasse da cerimônia a fim de não prejudicar a saúde do atleta.

Durante a semana houve muitas especulações sobre quem seria teria a honra desse momento sublime. Guga, Hortência, Pelé. Pelé, como já disse, não pôde. Guga e Hortência, até participaram desse momento. O primeiro entrou com a tocha olímpica no estádio Maracanã. A segunda passou a tocha olímpica para Vanderlei Cordeiro que, subindo os degraus que representavam o Monte Olimpo, morada dos deuses, acendeu a tocha olímpica dos jogos Olímpicos de 2016, sob as bençãos do Cristo Redentor, em uma cerimônia de abertura, memorável, esplendorosa.

O momento sublime de acender a tocha acabou ficando sob a responsabilidade de Vanderlei, que, na verdade, era o plano B. Porém, foi uma escolha que agradou imensamente aos brasileiros. Acender a tocha em jogos olímpicos é tarefa apenas reservada a atletas de grande expressão. E porque Vanderlei Cordeiro de Lima conquistou esse direito?

Para compreender isso, vamos voltar no tempo a outros Jogos Olímpicos.


Maratona dos Jogos Olímpicos de Atenas. 2004


Era tarde de domingo. 29 de agosto de 2004.

Em Atenas, acontecia mais uma edição dos Jogos Olímpicos.

Naquele domingo, acontecia a maratona olímpica de Atenas. O brasileiro Vanderlei Cordeiro de Lima voava na pista de corrida. Liderando a maratona, o brasileiro sentia a medalha, em volta do pescoço, cada vez mais perto.

Vanderlei tinha entrado o ano de 2004, com o pé direito. No inicio daquele ano, ele havia vencido a Maratona de Hamburgo, na Alemanha. Após isso, ele partiu para a altitude da cidade colombiana de Paipa. Um paraíso de águas termais. Ali naquele paraíso de águas quentes, perfeito para recuperação de corredores de longas distâncias, Vanderlei se estabeleceu, junto com seu treinador, Ricardo D’Angelo, e iniciou a preparação para a sua terceira participação em jogos olímpicos.

Enfim, chegou agosto do ano em questão, e era hora de arrumar as malas e partir para Atenas. Técnico e atleta foram para a terra dos deuses. Porém, por não pertencer ao grupo de técnicos do COB, Ricardo não pode acompanhar Vanderlei, nem nos preparativos finais para a maratona, nem na largada.

Assim, nesse momento tão importante de uma prova tão importante, sem a presença daquele que o ajudara tanto durante a preparação em Paipa, o maratonista brasileiro largou na pista como uma flecha.

Quando chegou ao quilometro 30, um dos trechos mais difíceis do percurso, Wanderley tinha uma folgada distância entre ele e seu principal adversário, Paulo Tergat, do Quênia. Nesse momento, o brasileiro lembrou-se das palavras escritas na carta de seu treinador, e que ele havia lido ainda na Vila Olímpica, momentos antes de sair para o local de largada da maratona. Dizia a carta: “Lembre-se da forte subida no quilômetro 30. Se você estiver se sentindo bem, arrisque, porque se não arriscar, você nunca vencerá. Minha confiança em você é imensa, então vamos lutar pelo objetivo com que sonhamos há tanto tempo. Não importa o que aconteça no fim, lembre-se que você sempre terá minha amizade e confiança, e também lembre-se que eu o admiro pela pessoa maravilhosa que você é. Então, boa sorte, e vamos tomar uma cerveja juntos depois da corrida”.

Entretanto, aquela era uma pista cheia de feras. Nela também estavam: Lee Bong-Ju, que havia sido medalha de prata, em Atlanta, 1996, Stefano Baldini, campeão europeu, e Erick Wainaina, medalhista de bronze em Atlanta, e de prata em Sydney, em 2000.

Seguia a maratona de Atenas, e havia mais de uma hora, Vanderlei liderava a corrida sozinho, e o que era melhor, via a distância entre eles e os outros competidores aumentar cada vez mais.

Vanderlei chegara ao quilometro 35. Olhou mais uma vez por sobre os ombros. Um confiante sorriso de satisfação de ouro iluminou seu sorriso e se estendeu por toda a sua face. A distância entre seus adversários era enorme. Tudo bem que ainda faltavam sete quilômetros para a chegada ao estádio Panathinaiko. Se continuasse naquele ritmo, pensava ele, só uma grande onda de azar tiraria dele o prazer de segurar a medalha de ouro. Afinal a distancia entre ele e as outras feras da maratona era de cerca de 150 metros.
E veio uma grande maré de azar veio na pessoa de um padre irlandês.

Quando havia chegado ao km 36, Cornelius Horan, um padre irlandês, saiu dentre a multidão que assistia a prova, e agarrou o maratonista brasileiro. Horan puxou Vanderlei para fora da pista de corrida. O brasileiro tentava, desesperadamente, se desvencilhar das mãos do padre irlandês, mas sem sucesso. Até que um grego que assistia a corrida, e presenciava a cena, correu em direção aos dois, agredido e agressor, e ajudou Vanderlei a se desvencilhar das mãos do irlandês.

Polyvios Kossivas, o grego que ajudou Vanderlei, não estava na rua assistindo à corrida. Ele estava na tranquilidade do sofá da casa dele, vendo a corrida. Gostou do estilo arrojado de corrida do brasileiro, e resolveu então desligar a TV e ir pra rua, assistir a passagem do brasileiro, ao vivo e a cores. Acompanhado da mulher e da filha, o grego esperava a passagem do brasileiro, quando o viu se debatendo nas mãos do irlandês. Não teve dúvidas. Correu em direção à confusão, com o intuito de livrar o brasileiro daquele embaraço. E essa foi a maré de sorte de Wanderley. Esse acaso levou Polyvios a ser participe de um episódio, no mínimo, curioso.

Livre da agressão, com a importante ajuda do grego, Vanderlei conseguiu voltar à prova ainda na condição de liderança. Entretanto, a distância entre ele os demais maratonistas já havia diminuído pela metade. Esse fator, aliado ao esforço que havia feito para se livrar do incomodo e maldoso padre, bem como o estresse que toda cena havia causado, fez Vanderlei perdeu a concentração, o ritmo, e ele foi ultrapassado pelo norte-americano Meb Keflezighi.

Apesar de todos esses contratempos, Vanderlei conseguiu chegar em terceiro lugar, e conquistar a medalha de bronze.

São nesses momentos em que os valores que um homem traz no peito, e que medem a grandeza de sua personalidade aparecem. Wanderley poderia, muito bem, ter esbravejado contra a organização da prova, contra o irlandês, e contra tudo o mais. Mas não foi isso que ele fez. O maratonista brasileiro levou tudo na esportiva. Chegou à linha de chegada fazendo um gesto que ficou conhecido como “aviãozinho”, na qual ele abria os braços e imitava um avião. Subiu ao pódio com um sorriso de ouro, e foi ovacionado pelo público presente, assim como foi ovacionado, ontem, ao acender a pira olímpica.


Os desfechos


O padre irlandês, logo após o incidente, quase foi linchado pela multidão, que batia nele e gritava: “O que foi que você fez, seu louco? O que você fez?”. Então, chegou a polícia, o algemou, e o tirou do local da agressão. O louco irlandês, um ano antes já havia invadido uma prova de Fórmula 1, em Silverstone, Inglaterra.  Após atrapalhar a corrida do brasileiro, o padre, que também foi expulso do sacerdócio, foi deportado da Grécia, e condenado a um ano de prisão, mas pagou fiança e conseguiu sair livre.

Os anos passaram, porém, o coração cheio de ódio, maldade, e rancor de Cornelius Horan, não mudou. Segundo informações do The New York Times, retransmitidas pelo jornal Folha de São Paulo, o ex-padre, sentiu raiva quando viu Vanderlei acender a tocha olímpica. Diz ele que a raiva vem de tentativas fracassadas de reconciliação. De louco, é melhor querer distância, digo eu. Horan, hoje com 69 anos, continuar aproveitando-se de eventos para fazer suas paranoias e chamar a atenção para o que ele chama de “missão”: alertar o mundo sobre a volta de Jesus Cristo e os valores da Bíblia. Sua esposa morreu em 2012 e, desde então, ele vive sozinho, em uma casa alugada, em Peckham, sul de Londres.

Quanto a Polyvios, após a confusão, é claro que o que ele mais queria era descansar e, principalmente, ver o final da corrida. Acompanhado da mulher e da filha, voltou para casa, ligou a TV, à tempo de ver Vanderlei receber a medalha de bronze. Emocionado, chorou ao presenciar esse momento. O grego foi jogado na calçada pelo irlandês, e pelo seu gesto nobre e corajoso, foi homenageado pelo Comitê Olímpico Brasileiro.

Meses depois, Vanderlei Cordeiro de Lima, por ter demonstrado espírito esportivo, e por ter continuado na disputa, mesmo após ser agredido por Cornelius Horan, recebeu do Comitê Olímpico Internacional, a Medalha Pierre de Coubertin: uma alta honraria concedida apenas aos atletas que demonstrarem alto grau de esportividade e espírito esportivo em Jogos Olímpicos. A medalha foi entregue a Vanderlei, no dia 07 de dezembro de 2004, na cidade do Rio de Janeiro, em uma cerimônia especial na qual o maratonista também recebeu o título de Atleta Brasileiro do Ano de 2004. Nesta cerimônia também estava presente Polyvios Kossivas, o grego que salvou Wanderley do louco irlandês.

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Uma festa inesquecível

Posted by Cottidianos on 21:27
Sábado, 06 de agosto

O sol há de brilhar mais uma vez
A luz há de chegar aos corações
Do mal será queimada a semente
O amor será eterno novamente
É o Juízo Final, a história do bem e do mal
Quero ter olhos pra ver, a maldade desaparecer
O amor... será eterno novamente
(Juízo Final – Nelson Cavaquinho)



Prezados (as)

Ontem, sexta-feira, 05 de agosto. Fiz questão de esquecer que era abertura dos Jogos Olímpicos, no Rio de Janeiro, e mais ainda de que a cerimônia seria transmitida, ao vivo, para todo o mundo, pelas redes de televisão. Mas não fiz por descaso, não. Conhecem aquele ditado que diz “o que os olhos não veem o coração não sente”. Pois bem, como já havia falado em postagem anterior, não podia mesmo assistir a cerimônia. Então, como gosto demais desses momentos festivos, e ainda mais quando eles têm o sabor da pátria em que nasci, preferi não pensar muito a respeito do assunto.

Quando cheguei em casa a cerimônia ainda estava sendo transmitida, mas já estava quase no final. Já fiquei maravilhado assim que liguei a TV e dei cara com aquele gigante Maracanã, tão cheio de cores, tão cheio de vibração.

O que sei, além do pouco que vi da cerimônia de abertura dos jogos, veio das imagens posteriores que vi na TV... E, apenas com isso, fiquei encantado, maravilhado, orgulhoso de ser brasileiro. Sempre gostei das aberturas de Jogos Olímpicos. Sempre as achei lindíssimas. Mas a do Rio foi mais que belíssima. Foi deslumbrante, suntuosa.

Mesmo sabendo que os brasileiros são especialistas em fazer uma boa festa. Mesmo sabendo que os cariocas são campeões em fazer a maior festa do planeta que é o deslumbrante carnaval carioca, assim como também é sensacional a queima de fogos em Copacabana, na virada do ano, nós brasileiros fomos pegos de surpresa com tanta beleza, tanta sensibilidade, e tanto esmero, na forma como nosso país foi apresentado ao mundo.
A suntuosidade dessa festa de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016, que ficará para história, também deslumbrou o mundo.

Para nós brasileiros, foi um momento especial, pois estamos vivendo momentos conturbados em nosso país. Um momento cheio de trapaças e confusões em todas as esferas da sociedade, e em todas as esferas do poder. Isso acaba afetando também a nossa estima. Mas a noite de ontem foi uma injeção de animo em um país cujas sombras da corrupção têm ofuscado o brilho da esperança. Foi uma sensação de “sim, nó podemos”.

A seguir compartilho texto do jornal, El País Brasil, escrito pela jornalista, Carla Jiménez.

No mais, fica a torcida para que a festa seja bela do início ao fim. Sem o menor sinal das ameaças que insistiram em rondar esta edição da maior festa do esporte.

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Ok, eu me rendo à fantasia dos Jogos Olímpicos

A cerimônia de abertura derreteu até os corações mais cascudos para o que mais interessa: assistir aos atletas que furam o bloqueio do Brasil real para brilhar durante os Jogos

CARLA JIMÉNEZ
6 AGO 2016

Como vamos acordar neste final de semana depois de ouvir Paulinho da Viola cantar docemente o hino do Brasil? Ver Elza Soares, Jorge Benjor, Zeca Pagodinho, Gil, Caetano e até a homenagem às favelas sob a trilha sonora do Rap da Felicidade, além da Aquarela do Brasil de Ary Barroso? Ver a homenagem a nosso Santos Dumont? O parâmetro era a insossa abertura da Copa do Mundo há dois anos. Mas desta vez, chorei… e os relatos de choro se multiplicaram nas redes sociais. De alegria, de nervoso, de alívio. De cansaço. O país está cansado de tanto excesso de realidade que tivemos de encarar até aqui com essas trapaças políticas que nos roubaram a esperança.

Mas veio a festa. E a fantasia. A projeção do Brasil que queremos ser, que acolhe negros, transexuais, e respeita indígenas, ainda que os que se sentaram nas tribunas de autoridade não deixem que esse país (ainda) utópico aconteça. Ousado ainda para um país campeão de desmatamento dar lições de preservação do meio ambiente… Mas (ainda) somos a cultura do contraditório ambulante, e isso nós sabemos desde que nascemos.

A cerimônia de abertura conseguiu ser uma janelinha de calor que derreteu os corações mais cascudos. O cineasta Fernando Meirelles e a coreógrafa Débora Colker foram de sensibilidade ímpar. Artistas… justamente os que foram desrespeitados pelo presidente em exercício Michel Temer quando assumiu o Governo e tentou aniquilar o ministério que os protege.

Não é Temer, não é Dilma Rousseff, não é a corrupção da Odebrecht que devem ser lembrados por esta abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Os louros não são deles. Os voluntários que trabalharam de graça pelo evento, os profissionais que se dedicaram com afinco para fazer uma festa tão bonita são os verdadeiros merecedores do reconhecimento.


Agora, ficaremos com os nossos nobres atletas, esses sim, autoridades. Nobres por sobreviver a um país arisco a incentivar o próprio esporte, a cuidar dos mais vulneráveis. Guerreiros, filhos de empregadas domésticas, pessoas humildes, pessoais reais, gente íntegra de verdade. Como a jogadora de rugby Edna Santini, filha de um pedreiro e uma costureira, ou a tenista Teliana Pereira, filha de um ex-cortador de cana. Pessoas que furaram o bloqueio do Brasil real, que nesta noite esquecemos por algumas horas. É por esse Brasil que eu me rendo todos os dias.

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Rio 2016: Jogos Olímpicos da exclusão e da ilusão

Posted by Cottidianos on 00:33
Quinta-feira, 04 de agosto

Ontem um menino que brincava me falou
que hoje é semente do amanhã...
Para não ter medo que este tempo vai passar...
Não se desespere não, nem pare de sonhar
Nunca se entregue, nasça sempre com as manhãs...
Deixe a luz do sol brilhar no céu do seu olhar!
Fé na vida Fé no homem, fé no que virá!
(Semente do Amanhã – Gonzaguinha)


Caros leitores e leitoras,

Hoje é um daqueles dias em que apenas compartilharei texto de outro veículo de comunicação com vocês.

Mas, mesmo assim, não perco a oportunidade de dirigir-lhes algumas palavras relacionadas ao artigo que apresentarei.

No domingo, assistia eu ao Fantástico, quando comecei a perceber que a Globo estava apenas vendendo o seu peixe, o que é natural. Afinal, temos uma Olimpíada acontecendo em nosso país, sem dúvida, um momento raro, histórico. Além disso, a Globo é umas das grandes TVs do mundo, e, como tal, preparou uma superestrutura, montada com as melhorias tecnologias e recursos. Isso sem falar no time de profissionais de primeira linha, ex-atletas olímpicos, que a globo escalou para fazer os comentários e transmissão das provas esportivas da Rio 2016, em suas mais diversas modalidades. Acresça-se a tudo isso o muito dinheiro que entra para os cofres da emissora com todo esse trabalho que reconheço feito com esmero.

Não queria desligar a TV, mas também queria assistir todo aquele comércio em forma de notícia, então fiquei vendo algumas coisas no computador, meio naquela “um olho no peixe, outro no gato”.

Ao mesmo tempo em que mais ouvia do que assistia a programação da Globo, fiquei pensando na grandiosidade dos Jogos Olímpicos, em todas as delegações que aqui vem competir, sem falar dos atletas brasileiros. Quantos sonhavam estar aqui, mas ficaram no meio do caminho, seja por contusões, seja por acusações de doping, mas enfim, é a roda da vida, girando, girando, e girando sem parar.

Também tenho assistido em reportagens da emissora, algumas exaltações a uma linha de trem no Rio, e que mais... Que mais tem sido exaltado? Deixe-me ver. Vasculho em minha memória outras reportagens exaltando grandes feitos em infraestrutura que poderão ficar como herança destes Jogos Olímpicos. Desisto. Se há algum mais é tão ínfimo que nem consigo lembrar. Mas entendo a Globo, é preciso mostrar algo de positivo, quero dizer, vender uma imagem positiva em meio ao caos.

Meus queridos pais costumavam dizer: “Quando a cabeça não pensa, o corpo é quem padece”.  Se neste dito popular, se substituirmos as palavras cabeça e corpo por governantes e nação, teríamos reescrito o ditado popular da seguinte forma: “Quando os governantes não pensam, a nação é quem padece”.

Tomo como linha de raciocínio para este parágrafo o anterior, e lamento as grandes oportunidades que a nação perdeu de avançar em infraestrutura com estes dois grandes eventos: a Copa do Mundo e as Olimpíadas. E a nação perdeu a oportunidade de construir um legado a partir destas oportunidades porque é governada por políticos hipócritas e incompetentes. Políticos que se acham os grandes espertalhões, mas que não passam de pessoas carentes de Deus, e essa segundo os mais evoluídos espiritualmente, é a pior das carências, porque faz perder a alma.

É uma pena que tenha sido assim. Dizem que cada nação tem o governo que merece. Eu, particularmente, me recuso a acreditar que nós temos os governos que merecemos. Nós não merecemos isso. O Brasil merece coisa melhor.

Enfim, estou quase escrevendo outro texto, e ainda não fiz o link com o artigo que quero compartilhar hoje com vocês.

Daqui a algumas horas será realizada no histórico estádio do Maracanã, na Cidade Maravilhosa, aos pés do Cristo Redentor, a cerimônia de abertura dos Jogos Olímpicos de 2016. Sempre gostei de assistir esse momento, acho sempre tudo tão mágico e tão belo. Além dos efeitos especiais, esse momento representa o breve retrato de um momento que deveria ser permanente no mundo todo: delegações de vários países se dando as mãos e caminhando juntas, de mãos dadas: negros, brancos, jovens e velhos, pessoas com suas limitações, e outras com grandes limitações físicas, mas que puseram o coração e a vontade acima de todas as dificuldades e se fizeram a si mesmas campeãs. Ainda que não conquistem medalhas de ouro, de prata, ou de bronze, elas já serão vitoriosas.

Não poderei assistir a cerimônia de abertura dos jogos, apesar de grande vontade que sinto, devido a compromissos assumidos anteriormente que não será possível desmarcar, mas verei os jogos, mergulharei na cartase do esporte, afinal, da força de vontade dos atletas, também podemos tirar grandes lições para a nossa própria vida.

Porém, é preciso mergulhar nisso tudo, sem esquecer de que tudo isso é uma grande farsa, uma grande ilusão, não por causa do esporte em si — louvado seja Deus pelo esporte que encaminha para o bem tantas vidas que poderiam ter ficado perdidas no meio do caminho, ou até mesmo, ter tomado o caminho errado.

Ao falar de farsa e de ilusão, falo da segurança reforçada, das forças armadas nas ruas do Rio, da grande concentração das agências de inteligência, nacionais e internacionais, apenas porque é Rio 2016. Segurança pública não deveria ser para nós, apenas artigo de luxo pra agradar e dar boa impressão aos gringos. Isso deveria ser uma coisa permanente. Todo esse aparato militar nas ruas mostra apenas que o que falta em nosso país é vontade política para acabar com o terror que o tráfico e as milícias impõem aos moradores dos morros e favelas do Rio e de todo o país, que, por extensão, acaba se estendendo a todos os que vivem nas grandes cidades brasileiras.

Falo eu das vidas que foram sacrificadas em nome dos interesses e do capital privado para que as Olimpíadas pudessem acontecer, assim, meio de qualquer jeito. Falo das milhares de crianças e jovens que não tendo atividades de lazer e de esporte, ficam apenas a olhar o carregado céu das ilusões perdidas, tornando-se assim, vítimas fáceis das garras do mal. Falo das obras que poderiam ter custado menos, e nos custaram muito mais a todos nós, brasileiros e brasileiras, que trabalhamos cinco meses por ano, para pagar impostos dos quais não vemos retorno, ou o retorno que vemos é ínfimo. Falo do dinheiro desviado dessas obras que foram abastecer os cofres das empreiteiras, dos partidos políticos, e de empresários e políticos sem vergonha na cara.

Desejo a todos, bons tempos de Jogos Olímpicos no Brasil. Faço votos de que eles ocorram dentro da mais absoluta normalidade, sem atentados terroristas, nem a peste da zika. Afinal, somos brasileiros, e queremos ver as coisas darem certo, em todos os campos, olímpicos ou não.  Entretanto, não podemos nos deixar deslumbrar a ponto de esquecermos a noção de realidade.

Ah, faltou dizer uma coisa. Na verdade, um elogio ao povo brasileiro. Foram a gentileza e cordialidade do brasileiro que salvaram a Copa do Mundo, bem como será essa qualidade que também salvará a Rio 2016. Porque se for esperar boa vontade dos políticos para nos deixar algum legado, tanto a Copa, quanto a Rio 2016, seriam um fracasso total.

Acabei me empolgando e escrevendo meu próprio texto como perceberam. Entretanto, como promessa é dívida, segue artigo publicado na seção de opinião do jornal El PaísBrasil. O artigo foi intitulado, Os Jogos Olímpicos do Rio serão lembrados como os Jogos da exclusão?, e é de autoria da pesquisadora, Julia Mello Neiva.

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Os Jogos Olímpicos do Rio serão lembrados como os Jogos da exclusão?

As instituições democráticas poderiam ter protegido e amparado brasileiros na preparação para os Jogos. Mas isso não aconteceu

JÚLIA MELLO NEIVA
2 AGO 2016

Em agosto, a cidade do Rio de Janeiro vai sediar pela primeira vez os Jogos Olímpicos e Paraolímpicos em meio a um dos momentos políticos mais turbulentos que o país já viveu. A crise política e social no Brasil tem mostrado que muitas de nossas instituições democráticas ainda carecem de consolidação. Estas são as mesmas instituições que poderiam ter protegido e amparado brasileiros na preparação para os Jogos, assegurando um legado positivo. Isso não aconteceu.

No início deste ano, conheci e entrevistei lideranças comunitárias e moradores da Vila Autódromo, bairro do Rio localizado ao lado do Parque Olímpico. Acompanhada da Justiça Global, reconhecida organização de direitos humanos, presenciamos um protesto de moradores, com apoio de pessoas e organizações que lutam em favor da comunidade. O protesto era contra o fato de que moradores cujas casas estavam dentro da construção do Parque Olímpico estarem sendo impedidos pelas autoridades locais de entrar e sair livremente de suas casas.

Mulheres líderes, corajosas e fortes, deram seus testemunhos sobre as violações dos direitos humanos a que estavam sendo constantemente submetidas, devido às obras para sediar os Jogos. Famílias foram despejadas e removidas sem consulta ou acesso à informação. Foram deixadas sem voz para denunciar os problemas de sua comunidade, que costumava ser uma área tranquila e segura, cercada de natureza. Para algumas dessas famílias foram prometidas novas casas, e as chaves deveriam ter sido entregues na semana passada. Durante anos de construção para receber os Jogos, havia relatos frequentes de cortes de água e luz bem como de violência perpetrada pelas forças de segurança. A moradora Heloisa Helena, conhecida como Luizinha de Nanã, disse que por mais de dois anos teve o acesso restrito a sua casa e centro religioso. A casa mais tarde foi demolida.

Como afirmamos em outra ocasião, esses mesmos moradores já haviam denunciado que a prefeitura do Rio teria negociado com empresas privadas a construção de prédios a classe média no bairro onde vivem, causando com isso a remoção de ao menos mil famílias pobres. Segundo os moradores, as obras planejadas excluíam os pobres do que a prefeitura e empresas privadas têm chamado de “progresso”.

Além disso, muitas famílias perderam suas casas para a especulação imobiliária ou para reformas e construções classificadas pelo governo local como necessárias ao desenvolvimento da cidade e recebimento dos Jogos. Os atingidos pelas "remoções desnecessárias e injustas" nunca foram adequadamente consultados, tampouco participaram de tomadas de decisão, como afirmam Raquel Rolnik, ex-Relatora da ONU por Moradia Digna, RioonWatch e Lena Azevedo e Luiz Baltar em seu estudo sobre as remoções no Rio. Sem dúvida, os atingidos não estarão no público assistindo os Jogos; as construções transformaram suas vidas para sempre, não apenas no período das Olimpíadas. Acrescente-se a este legado sombrio, os trabalhadores que morreram durante as obras de construção para as Olimpíadas e para a Copa do Mundo.

Aqueles que têm resistido bravamente em protestos nas ruas em oposição aos abusos relacionados aos Jogos têm muitas vezes sofrido com violência policial e das forças de segurança. Infelizmente isso provavelmente ocorrerá novamente com grupos e também membros do Comitê Popular da Copa e das Olimpíadas que estão organizando mais uma vez importantes debates e protestos, dias antes dos Jogos começarem, para mostrar o quanto tais jogos excluíram pessoas e direitos. Neste contexto cabe lembrar que a lei de antiterrorismo, recentemente aprovada, já tem sido usada infelizmente para deter manifestantes e continuará a colocar em riscos direitos humanos muito tempo depois de terem terminado as Olimpíadas.

A promessa de proteger o meio ambiente durante a preparação para os Jogos também não foi cumprida. Muitas árvores foram derrubadas, piorando a já comprometida qualidade do ar, afetando diretamente as comunidades do entorno. Exemplos tristes e perturbadores do descaso com o meio ambiente são a Baía de Guanabara contaminada e rios poluídos, os quais o governo havia prometido limpar. E chama a atenção a construção controversa de um campo de golfe em área de proteção ambiental, o que revela planejamento e políticas equivocadas, para dizer o mínimo.

Os Jogos receberam altos investimentos públicos mas que prioritariamente favorecem interesses privados. Para muitos brasileiros, isto maculou o que poderia ter sido um momento de orgulho para o país. É lamentável que uma vez mais a oportunidade de deixar um legado duradouro e positivo tenha sido totalmente perdida. Recentemente até o prefeito do Rio assumiu ser esta uma oportunidade perdida, embora pouco tenha feito para impedir que isso acontecesse. Ainda está por saber se haverá algum legado positivo decorrente dos dois grandes eventos esportivos que o Brasil sediou a Copa do Mundo 2014 e Jogos Olímpicos 2016. No momento, identificamos algumas instalações esportivas novinhas em folha e algumas melhorias de transporte, resta saber porém se esses novos estádios e outras construções terão de utilidade pública após os eventos.

Tanto o governo como as empresas deveriam ter feito muito mais e tragédias não teriam ocorrido. Más condições de trabalho e mortes teriam sido evitadas se os direitos humanos e os princípios e as boas leis trabalhistas que o país tem tivessem sido respeitados. O mesmo pode ser dito sobre as remoções e outras violações já mencionadas. Infelizmente, porém, parece que os Jogos Olímpicos Rio 2016 serão lembrados como os "Jogos da exclusão".

JÚLIA MELLO NEIVA é pesquisadora sênior e representante para o Brasil, Portugal e países Africanos de língua portuguesa no Centro de Informação sobre Empresas e Direitos Humanos.

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Fogueira das vaidades

Posted by Cottidianos on 00:20
Terça-feira, 02 de agosto


O momento da grande festa olímpica está chegando, e a festa é em nossa casa. É um momento que deveria estar enchendo a todos nós brasileiros de orgulho pátrio e de alegria. Porém, neste mês, estranhamente, os brasileiros têm dois assuntos bem mais importantes que a realização dos Jogos Olímpicos de 2016, na bela cidade do Rio de Janeiro, com que se preocupar. Particularmente, acho que nossos olhares deveriam estar mais voltados para os plenários da Câmara e do Senado, do que, propriamente, para as raias, quadras, e campos olímpicos.

E penso isso, pois, querendo ou não, a vitória de um atleta nas olimpíadas, acaba sendo uma vitória individual, extensiva a sua equipe, ou treinador, mas ainda assim, uma vitória individual.

O jogo político o qual, nós, na condição de cidadãos e cidadãs brasileiras estamos, a duras penas, sendo participes, ao contrário, representa a vitória de uma nação e de sua gente. E a nossa grande vitória olímpica seria vencer a corrupção. Vencendo esse inimigo perigoso porque silencioso, estaríamos a vencer os campeonatos da educação, da saúde, da segurança e do bem estar de nossa gente. Se conseguíssemos isso, quão grande vitória e quão grande maravilha teríamos conseguido!

Nas raias olímpicas de nossa política teremos duas grandes provas a vencer neste mês de agosto — pelo menos deveria ser assim, mas como no cenário político atual é tudo muito improvável, e tudo depende mais de interesses pessoais, do que de interesses públicos, fica a dúvida: será ou não?

Falo do processo de impeachment da presidente Dilma Rousseff, que está em vias de chegar ao seu epílogo, e do processo de cassação de Eduardo Cunha, que é, para nós, uma incógnita.

Como em nosso Brasil, política passou a ser sinônimo de balcão de negócios, e não de bem conduzir os interesses do povo da nação, temos que o impeachment de Dilma pode ser adiado, e a cassação do mandato de Eduardo Cunha pode nem chegar a ocorrer.

O processo de impeachment pelo cronograma elaborado pelos senadores deveria acontecer em fins de agosto, provavelmente, dia 25, mas pode ser que esse prazo seja estendido. Renan Calheiros é o presidente do Senado, portanto é ele quem dá as cartas. E o presidente do Senado, está, mais uma vez, tentando usar podre moeda de troca com o presidente interino, Michel Temer. Renan quer que seja nomeado para a pasta do turismo, um deputado federal que responde a processo no Supremo por falsidade ideológica. O deputado corrupto que Renan quer ver nomeado ministro é Marx Beltrão, companheiro de partido, e conterrâneo de Renan, do PMDB de Alagoas.

Na política brasileira tudo parece ser contrassenso. A pasta de Turismo está vaga desde vaga desde junho, quando o deputado que a ocupava, Henrique Eduardo Alves, renunciou ao cargo, após ser citado na delação premiada do ex-presidente da Trasnpetro, Sérgio Machado, como beneficiário de propina no esquema de desvio de dinheiro da Petrobrás. Segundo Machado, ele próprio teria repassado R$ 1,55 milhão a Alves em propina, no período de 2008 a 2014. Após o incidente, ficou acordado entre o governo interino, Michel Temer, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, que o novo ministro do Turismo viria da Câmara dos deputados. Ficando a cargo de Renan a indicação.

Nesse jogo, surgiu então nome de Marx Beltrão como indicação de Renan. O deputado responde a processo por falsidade ideológica e, segundo denúncia do Ministério Público, é acusado de fraudar informações referentes a dívida do município de Coruripe — do qual foi prefeito — com a Previdência, com o objetivo de impedir o bloqueio de transferência de verbas da União.

Renan, publicamente, não assume essa indicação, mas nos bastidores da política, diz-se que ele está pressionando, fortemente, Michel Temer para que ele indique Beltrão para a pasta de Turismo. Temer tem resistido, talvez por estar recente em sua memória a vergonha que passou com a saída de Alves do governo. Até agora, já são três os ministros de Temer que caíram por envolvimento em escândalos de corrupção; Romero Jucá, do Planejamento, Fabiano Silveira, da Transparência, e Henrique Alves, do Turismo. Dizem que “gato escaldado tem medo de água fria”, então Temer deve ter seus motivos para estar receoso.  Prefere aguardar o desfecho do caso de Marx Beltrão no STF, o que deverá ocorrer ainda neste mês de agosto. Enquanto isso, Renan pressiona Temer usando a frágil moeda de atrasar a votação do impeachment de Dilma.

Isso no Senado Federal. 

Na Câmara dos Deputados, os aliados de Cunha, continuam com sua vergonhosa intenção de salvar a pele de um bandido. Assustou-se? Isso mesmo. Um bandido em pele de cordeiro, que deve ter muita munição escondida na manga contra políticos da mesma laia que ele, caso seja cassado, haja vista o medo que os senhores deputados têm de tomar essa atitude.

A mais nova dessas manobras é querer deixar a votação da cassação de Cunha para depois do impeachment de Dilma. Isso daria a Cunha uma chance de salvar-se.

O líder do governo na Câmara, Rodrigo Maia, disse nesta segunda-feira (1o) que na próxima semana pretende ler em plenário o relatório que pede a cassação de Cunha. Burocracia das burocracias, só após a leitura desse relatório, e após duas sessões, é que será possível realizar a votação que decidirá se o deputado será cassado ou não. O medo dos opositores de Temer e de Cunha é de que, ficando para a semana vem, a leitura do relatório, haja a possibilidade de o processo de cassação de Cunha ser adiado para setembro, ocorrendo apenas após a votação do processo de impeachment de Dilma. Isso daria a Cunha uma sobrevida e também uma chance de reverter a situação.

Considerando que, a partir da semana que vem, os deputados começam a ir para suas bases eleitorais, em seus estados de origem, devido a campanha eleitoral que começa na segunda metade do mês agosto, a hipótese da cassação de Eduardo Cunha passar para setembro fica mais perto da realidade de fato do que da hipótese.

As pautas que Rodrigo Maia quer colocar em votação, como por exemplo, a negociação da dívida dos Estados com a União, e a proposta que desobriga a Petrobrás de participar de todos os campos do pré-sal são importantes? Sem dúvida que sim. Entretanto, essas pautas poderiam esperar um pouco mais. Em minha opinião, o mais urgente seria acabar logo de vez com essa palhaçada que é a demora, traduzida em dezenas de manobras espúrias, na tentativa de salvar o mandato de um corrupto de grande vulto.

Pelo medo que o governo e os aliados têm de Eduardo Cunha — a ponto de se fazerem de tapete no chão por onde ele passar — eu não tenho receio de afirmar: o homem é nitroglicerina pura.

E cada vez mais se afirma a definição de política como sinônimo de balcão de negócios, pois o motivo que se discute não são os motivos pelos quais Dilma Rousseff e Eduardo Cunha estão sendo julgados, mas sim os favores e benefícios que a classe política pode auferir de uma ou de outra situação. Acaso tudo isso não são fogueiras das vaidades?

Enquanto isso os planos, discussões, leis, e projetos de interesse do povo brasileiro ficam em segundo plano. Então eu pergunto: Isso é política? Isso é ser político?

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