Madrugadas de terror no Rio Grande do Norte
Quarta-feira, 22 de março
“O ódio não nos trará melhor fim
Jah
não nos fez prá viver assim:
Acuados,
cidadãos sitiados
Nas
ruas e residências
Reféns
da violência”
Reféns
da Violência
– Tribo de Jah
Na
época da escravidão, quando o chicote cortava as costas dos negros, amarrados
ao tronco, fazendo-os gemer de dor, para amenizar as curar as feridas deixadas
por ele, era jogado sal nas feridas. O sal agia como antisséptico, cicatrizando,
curando, limpando as feridas.
Além
de temperar e conservar alimentos o sal tem sido usado desde tempos antigos
para fins espirituais.
Na
antiguidade os sacerdotes usavam o sal para afastar demônios. Os egípcios o
usavam em cerimonias dedicadas aos deuses. Os romanos o tinham como sinal de
sabedoria. Enfim, em todas as culturas antigas ele teve seu significado que
ultrapassa os limites culinários.
Hoje
não é diferente. Um banho de sal grosso tomado do pescoço para baixo tem o
poder de afastar energias negativas, quebrar inveja e mal olhado, e todos os
outros males que deixam o corpo carregado.
Seguindo
esse raciocínio podemos dizer que o presidente Lula precisa mesmo tomar um bom
banho de sal grosso.
Primeiro,
tem dirigido contra ele o ódio dos bolsonaristas que, se pudessem, o matavam,
literalmente. Em fins de janeiro, o ex-jogador da seleção brasileira de vôlei
Wallace Leandro de Souza, compartilhou uma postagem em seu perfil no Instagram.
A postagem era uma enquete que sugeria que Lula levasse um tiro na cara. Mesmo
tendo apagado o post horas depois, a reação ao post do jogador foi imensamente
reprovada por autoridades e por imensa maioria da população.
O
Comitê Olímpico Brasileiro suspendeu o atleta. O Cruzeiro time pelo qual ele
atua também aplicou a ele pena de suspensão. Em fins de fevereiro, o Superior
Tribunal de Justiça Desportiva do Vôlei arquivou o processo movido contra o
jogador pela Advocacia Geral da União (AGU), e pela Confederação Brasileira de
Vôlei (CVB). Mesmo o processo no STJD tendo arquivado os processos, o Comitê
Olímpico Brasileiro manteve a suspensão do jogador por tempo indeterminado.
Na
sexta-feira, 17, foi a vez da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), publicar uma
foto na qual segura uma metralhadora e veste uma camiseta cujas estampas são
uma metralhadora, um revolver e uma mão com quatro dedos alvejada por três
tiros. No texto que acompanha a foto na postagem a deputada diz: “Não podemos baixar a guarda. Infelizmente a
situação não é fácil. Com Lula no poder, deixamos um sonho de liberdade para
passar para uma defesa única e exclusiva dos empregos, do pessoal que investiu
no setor de armas. Estamos falando em socorrer empregos +”.
Fosse
só o texto, seria mais um discurso vazio de uma bolsonarista em favor do
armamento da população, e uma referência ao decreto do presidente Lula que
dificulta o acesso de armas no país. Porém, tudo na foto é significativo. A
deputada segurando um rifle, o próprio rifle, o revolver, e a mão com quatro
dedos atingida por três tiros. Nem precisa citar o nome de Lula. Todos sabem
que o presidente só tem quatro dedos. Perdeu um deles em acidente de trabalho
no tempo em que era metalúrgico.
Ainda
na estampa da camiseta está a frase: “Come and take it”, algo como “Venha e
pegue”. Isso deixa uma dubiedade no ar. Venha e pegue o quê? A arma? Para que?
Obviamente
os petistas ficaram revoltados com a postagem da deputada. Na segunda-feira,
20, o líder da bancada do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), e vice-líder do
governo daquela casa legislativa, Alencar Santana (PT-SP), ingressaram com
noticia crime no STF contra a deputada Júlia Zanatta.
Eles
pedem ao órgão que a deputada seja investigada por apologia e incitação ao
crime, além do crime de ameaça contra o presidente Luís Inácio Lula da Silva
(PT). Se os pedidos forem aceitos pelo STF a deputada pode ter seus registros
de armas investigados e até ser presa.
A
presidente do PT, deputada Gleise Hoffman, ao comentar a postagem da deputada
catarinense, afirmou que ele teve um “comportamento nazista”, e que vai estudar
medidas contra a parlamentar.
Após
a repercussão do caso, Júlia Zanatta disse que se sentiu muito ofendida com as
críticas a ela dirigidas: “Os ataques que
tenho sofrido não se justificam. Não é razoável que minha honra e meu mandato
sejam questionados pela interpretação de uma imagem. O correto é se ater aos
fatos e o fato é que, na ânsia de me desqualificar, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, evocou algo muito grave
ao me chamar de nazista. Isso reflete não só em mim, mas no estado que me
elegeu”.
O
que me impressiona nos bolsonaristas é que eles não têm noção do mal que
causam, ou da tragédia que podem causar. É como alguém que planta sementes de
violência. Ora ou outra elas brotam.
A
deputada esteve com Jair Bolsonaro no dia 4 deste mês nos Estados Unidos. Júlia
esteve naquele país participando da Conferência de Ação Política Conservadora
(CPAC). Disse que foi a convite do deputado e “amigo”, Eduardo Bolsonaro
(PL-SP). Na ocasião ela compartilhou foto junto com Bolsonaro. O evento é uma
troca de ideias entre lideranças conservadoras de direita ao redor do mundo.
Lula
teve de enfrentar ainda, na primeira semana de governo, os ataques
antidemocráticos as sedes dos Três Poderes, no dia 08 de janeiro, em Brasília. O
processo segue veloz. Centenas de manifestantes foram presos. Alguns já foram
liberados mediante a observância de medidas restritivas. Outras ainda estão
sendo presas. Também continua preso o ex-secretário de segurança do DF e
ex-ministro do governo Bolsonaro, Anderson Torres.
Recentemente,
explodiu no Rio Grande do Norte, uma rebelião das facções criminosas que operam
no estado. O terror começou naquele estado na madrugada de terça-feira, 14.
Entre os dias 14 e 21 de março, os bandidos atacaram em 56 cidades e fizeram mais
de 250 ataques.
Prédios
públicos, ônibus de transporte público, ambulâncias, e até um depósito de
remédios foram incendiados. No bairro de Igapó, Zona Norte de Natal, os
bandidos obrigaram famílias a sair de suas casas e atearam fogo nas casas dessas
pessoas. Escolas e postos de saúde foram fechados. A frota do transporte
público foi reduzida. Por esses dias os norte rio-grandenses vivem sob o signo
do medo. Reféns da violência.
A
polícia conseguiu identificar os principais responsáveis pelos ataques e os
transferiu para presídios federais. O ministro da Justiça, Flávio Dino, enviou
cerca de 600 homens da Força Nacional para debelar a rebelião.
O
motivo de tanta barbárie são as regalias que foram retiradas dos presos. Voltemos
no tempo para poder o caso melhor.
Na
tarde do dia 14 de janeiro de 2017, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, RN, foi
palco da rebelião mais violenta dentro de um presídio no estado. 26 presos
morreram, quinze deles decapitados. Outros tiveram os corpos mutilados, ou tiveram
os corpos esquartejados. Os que estavam lá naquela tarde; familiares de presos
que estavam em visita, detentos e funcionários estiveram num verdadeiro
inferno. Muitos presos aproveitaram a confusão, e fugiram. Foi uma guerra entre
facções rivais entre presos de complexos diferentes dentro do próprio presídio.
Naquela
época os presos do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte, apesar das proibições
tinham grande facilidade de usar o celular. Foram colocados bloqueadores de
sinal nas penitenciárias, ainda assim os presos conseguiam acessar os aparelhos.
Havia também problemas de superlotação. A prisão tinha lugar para 620 detentos,
mas abrigava 1.150.
Após
essa rebelião muita coisa mudou em Alcaçuz. Por exemplo, as celas não têm nenhuma
tomada, nenhum ponto de energia, ou seja, os presos não conseguem recarregar os
celulares de jeito nenhum. Também foram instaladas mais de 130 câmeras que registram
tudo o que acontece em tempo real. Naquela época, praticamente eram os detentos
que comandavam a penitenciária. Hoje é o Estado.
Os
presos reclamam que não tem direito a visita íntima, reclamam que não tem ventiladores
das selas. Mas tudo isso é mais um motivo para eles terem acesso aos celulares.
Com a visita íntima, poderiam entrar também os aparelhos celulares, e as mesmas
tomadas que ligam o ventilador poderiam ser as mesmas que recarregariam
celulares. Não só em Alcaçuz é assim, mas em todo o sistema prisional do Rio
Grande do Norte.
A
situação no estado do Rio Grande do Norte ainda não está 100% controlada, mesmo
com a chegada dos homens da Força Nacional. Os criminosos continuam a fazer
ataques a prédios públicos e garagens municipais. Na cidade de Angicos, na
madrugada desta terça-feira, 21, criminosos atiraram contra o Fórum de Justiça
da cidade. A marca dos tiros ficou nas paredes e vidraças do edifício. Eles também
aterrorizaram outras cidades.
A
situação é tão delicada que a embaixada americana no Brasil emitiu um alerta a
turistas americanos que evitem viagem ao estado do RN por causa dos ataques e incêndios
a prédios públicos, comércios e veículos. A embaixada também orienta a
funcionários do governo a não viajarem para lá.
“Os cidadãos norte-americanos que precisam viajar para o Rio Grande do Norte devem revisar os planos de viagem e monitorar as fontes de notícias locais para obter informações adicionais. Funcionários do governo dos EUA são orientados a evitar viagens ao estado do Rio Grande do Norte até novo aviso”, diz nota da embaixada americana.
Postar um comentário