0

Sementes da violência

Posted by Cottidianos on 23:54

Segunda-feira, 27 de março

O que está acontecendo com nossa sociedade? O que está acontecendo com nossas crianças? Por que as pessoas estão ficando cada vez mais embrutecidas? Essas são perguntas que tenho me feito ao assistir o noticiário dos últimos dias para cá. Coisas que eu antes eu só via em filmes de horror está acontecendo na realidade. É assustador.

No final do ano passado, ou no início conversava com uma amiga brasileira que mora na Itália. Ela me chamava atenção para o fato que de há alguns crimes que são caraterísticos dos Estados Unidos, outros da Itália, outros do Brasil, e assim por diante. Mas parece que as coisas estão mudando. Massacre em escolas, por exemplo, eles já começaram a acontecer por aqui.

O dia de hoje começou como normalmente começa na Escola Estadual Thomazia Montoro, no bairro de Vila Sonia, em São Paulo: um dia de aulas tranquilo, com seus problemas é verdade, mas nada grave. Porém, de repente, tudo mudou.

Um adolescente de 13 anos, que frequentava as aulas do oitavo ano na escola, usando máscara, e esfaqueou quatro professoras e um aluno. Segundo testemunhas, o aluno foi ferido quando tentava defender uma das professoras. A professora Elisabete Tenreiro de 71 anos, foi atingida nas costas e não resistiu aos ferimentos. Os outros feridos foram encaminhados a hospitais da região. Um aluno também foi levado ao hospital em estado de choque.

Um dos alunos que estuda na mesma classe do agressor, deu entrevista hoje pela manhã a rádio CBN, e disse que foi tudo muito rápido, e que ele pegou a todos de surpresa. O adolescente disse também que, na semana passada, houve uma briga entre o agressor e um dos alunos. O agora assassino chamou o companheiro de classe de macaco, e o menino não gostou, e isso provocou uma briga. Segundo o entrevistado, o agressor disse que iria provocar o massacre, mas ninguém levou isso a sério.

A tragédia só não foi maior porque uma professora imobilizou o adolescente e outra tirou a faca das mãos dele. O adolescente foi apreendido pelos policiais e levado para a 34ª Delegacia de Polícia.

Outro fato semelhante que, por pouco, não acabou em tragédia, aconteceu na cidade de Monte Mor, interior de São Paulo. O caso aconteceu no dia 13 de fevereiro — coincidentemente, uma segunda-feira pela manhã — na Escola Estadual Antonio Proesser.

Um jovem de 17 anos, aluno da escola, chegou ao local trajando roupas pretas e, amarrada ao braço, usava uma braçadeira com a suástica nazista. Os portões estavam fechados e o adolescente não conseguiu entrar na escola. Mas, conseguiu arremessar uma bomba caseira no banheiro da escola por cima do gradeado. Houveram duas explosões. O susto foi grande, mas ninguém ficou ferido.

O jovem foi apreendido pela polícia por defender uma bandeira que pregava o ódio e a intolerância, principalmente contra os judeus. Na residência dele a polícia também encontrou materiais alusivos ao nazismo, e uma arma airsoft.

Outros casos, que não envolvem armas, mas envolve a violência do racismo também já aconteceram em escolas brasileiras.

 Dia 08 de março, Dia Internacional da Mulher. Nesse dia, as mulheres costumam ganhar flores, presentes, reconhecimento. Porém, uma professora do Centro de Ensino Médio 9, em Ceilândia, Distrito Federal, recebeu um presente nenhum pouco agradável.

A professora já havia começado a aula. Um dos alunos se levanta e a vai em direção com um pacote embrulhado para presente. Alguns alunos amigos dele já sabiam do que se tratava e começaram a dar risadas.

A professora toda contente achando que havia realmente ganhado um presente, abre o pacote. Dentro dele havia uma esponja de aço, dessas de lavar panelas. Sem perder o autocontrole, a professora aceita o “presente” do aluno, e diz que vai aceitar porque “tudo que vem, volta”. Entretanto, alguns alunos relatam que, após o episódio, a professora chorou, pois viu no gesto do aluno uma atitude machista e racista.

Esses não casos isolados e já aconteceram em escolas de diversas do sul e sudeste do país. Temos que cuidar para que esses gestos criminosos e desagradáveis não se tornem regra geral. Quem sabe, não esteja por trás de tudo isso, uma juventude que pede socorro? O importante é saber descobrir, juntos, pais e educadores como ajudar essas crianças e adolescentes.


Ainda na área da violência, um fato que assustou os brasileiros foi a descoberta pela Polícia Federal de um plano para assassinar autoridades e servidores do serviço público. Entre os alvos estavam o promotor de Justiça do Ministério Público de São Paulo, Lincoln Gakya, que integra o Gaeco, grupo especializado em combate ao crime organizado.

Gakya vive sob forte esquema de segurança desde dezembro de 2018, quando pediu a transferência de Marcola, líder da facção Primeiro Comando da Capital (PCC), e de outros integrantes da organização, para um presídio federal de segurança máxima. As transferências foram efetivadas no ano de 2019.

O ex-juiz, ex-ministro da Justiça do governo Bolsonaro, e atual senador, Sérgio Moro, também era um dos alvos da quadrilha.

O anúncio da operação chamada de Operação Sequaz foi feita na segunda-feira, 23, pelo ministro da Justiça, Flávio Dino. Naquele dia foram realizadas buscas e apreensões e prisões em cinco estados. Os bandidos planejavam realizar ataques, homicídios e sequestros contra diversas autoridades.

Não era um plano que ainda estava no papel, em desenvolvimento, ao contrário, descobriu a PF, esse plano já estava em fase de realização. Desde o ano passado os criminosos seguiam e vigiavam os alvos. O objetivo deles era causar grandes alvoroço e medo com as mortes das autoridades, e com os sequestrados eles planejavam usá-los como moeda de troca por líderes das facções.

O plano era ousado e traçado para ocorrer simultaneamente em vários estados, dificultando com isso o trabalho da polícia. A maioria dos investigados é de São Paulo e Paraná.

Tudo isso porque o crime organizado movimenta milhões de reais todos os anos. Por isso é tão difícil acabar com ele. É um negócio lucrativo. Não é à toa que tem tanto peixe graúdo obtendo vantagens desse esquema criminoso. Quando os bandidos fazem de tudo para libertar os líderes de suas facções, eles estão cuidando para que o negócio continue, que o crime continue a ser lucrativo para eles. Não é à toa que eles estão aterrorizando a população do Rio Grande do Norte. E não é um negócio feito apenas nas fronteiras do país. As rotas do narcotráfico para outros países são uma espécie de expansão dos “negócios” para além das fronteiras.  

No meio de toda essa confusão, vem o presidente Lula e coloca mais lenha na fogueira. Ele parece não entender que o mundo e muito desde o seu último mandato como presidente ocorrido entre 2003-2011. Naquela época as redes sociais não eram tão influentes como são hoje. As notícias hoje se espalham com a velocidade com que se espalha fogo em palha seca.

Percebi isso durante ainda durante a campanha quando Lula foi o entrevistado do programa Flow. No fim da entrevista o Igor, apresentador do podcast, perguntou: “Lula, como é que as pessoas te acompanham nas redes sociais?”  e Lula responde com a maior naturalidade “Não sei”. Então, portanto quando ele fala ele não tem a dimensão e o alcance do que suas falas vão causar nas redes sociais.

Na terça-feira, 21, Lula dava uma entrevista para ao Brasil 247. E durante a entrevista relembrou o período que passou na prisão. De vez em quando ia algum procurador ou delegado visitá-lo formalmente. A esse respeito Lula disse: “De vez em quando um procurador entrava lá de sábado, ou de semana, para visitar, se estava tudo bem. Entravam três ou quatro procuradores e perguntava ‘tá tudo bem?’. Eu falava ‘não está tudo bem. Só vai estar bem quando eu foder esse Moro’. Vocês cortam a palavra ‘foder’ aí…”

Ao se dar conta de que havia falado uma bobagem, Lula pediu para os jornalistas cortarem o trecho da entrevista no qual usou um palavrão para se referir a Sérgio Moro, e aí também não se deu conta de que a entrevista estava sendo transmitida ao vivo no canal do Youtube do Brasil 247. O resultado é que sua fala foi muito mal avaliada nas redes sociais.

Na mesma entrevista Lula também falou que dizia as autoridades que o visitavam que iria se “se vingar dessa gente ao provar sua inocência”.

Obviamente, Moro foi procurado para se pronunciar sobre a fala do presidente. O senador disse, não com essas palavras, que Lula estava tentando criar uma cortina de fumaça para esconder que o plano do ministério da fazenda para equilibrar receitas e despesas ainda não havia sido apresentado até o momento.

. para ser divulgada antes da reunião do Copom, do Banco Central. E aí tínhamos perspectiva de redução de juros. No final, não teve nada”, disse Sérgio Moro.

A poeira nem havia baixado quando surge essa descoberta por parte da PF do plano de assassinar e sequestrar autoridades, inclusive, Sérgio Moro. E mais uma vez o presidente fala bobagem.

Na manhã da quarta-feira, 22, Lula estava em visita ao Complexo Naval de Itaguaí, Rio de Janeiro, quando foi questionado sobre o plano dos bandidos para assassinar o senador. “Quero ser cauteloso. Vou descobrir o que aconteceu. É visível que é uma armação do Moro. Eu vou pesquisar e saber o “porque” da sentença. Até porque fiquei sabendo que a juíza não estava nem em atividade quando deu a parecer pra ele”, e ao dizer mais essa bobagem Lula colocou em cheque o trabalho da PF e do próprio ministro da Justiça Flávio Dino, que havia anunciado a realização da operação.

E com isso Lula elevou Sérgio Moro. Ele que deveria olhar para cima, mirar nos objetivos de governo, resolve remoer mágoas do passado contra seu algoz. Lula deu a Moro uma narrativa para a fala de Lula ligando a fala do presidente de prejudicá-lo à ameaças que ele e sua família sofreram. Obviamente uma coisa não tem nada ver com a outra. Mas do jeito que funcionam as redes sociais bolsonarista isso é bem fácil de virar produto para fake news.

A verdade é que Lula os meses avançam e o governo Lula ainda não fincou pé no chão para valer, principalmente na economia, e na falta de apoio no Congresso a ponto de levar o escritor Paulo Coelho a dizer que a respeito de Lula: “seu novo mandato está patético”.

A crítica de Paulo Coelho veio neste domingo, 26. “Décadas apoiando Lula, noto que seu novo mandato está patético. Cair na trampa de ex-juiz desqualificado, incapacidade de resolver problema do BC, etc. Não devia ter me empenhado na campanha. Perdi leitores (faz parte) mas não estou vendo meu voto valer a pena”.

Durante a campanha o escritor declarou voto em Lula e fez críticas ao governo de Jair Bolsonaro.

Porém, ainda há muito tempo para o governo Lula achar o rumo certo, e para alguém falar para o presidente parar de falar bobagem. Ter um assessor que o alerte para o não cometimento de deslizes.

Até porque, não queremos de volta a nos comandar o clã Bolsonaro. Michele já se tornou presidente do PL Mulher, e parece estar gostando da atividade política. O marido dela ainda está nos Estados Unidos.

A colunista do Uol Carla Araújo destacou em sua coluna que o presidente do PL Valdemar Costa Neto anunciou que quando Bolsonaro voltar ao Brasil, ele será presidente de honra do partido, com salário equivalente ao de ministro do STF, que hoje é de R$ 39 mil, porém com previsão de aumento para R$ 41,6 mil em abril.

Uma coisa que gostaria de saber é como Bolsonaro está lidando com esse protagonismo que Michelle Bolsonaro tem assumido, ele que é não admite que as mulheres possam ser protagonistas em alguma coisa.


0

Madrugadas de terror no Rio Grande do Norte

Posted by Cottidianos on 00:21

 Quarta-feira, 22 de março

 

O ódio não nos trará melhor fim

Jah não nos fez prá viver assim:

Acuados, cidadãos sitiados

Nas ruas e residências

Reféns da violência

Reféns da Violência – Tribo de Jah


Deputada Júlia Zanatta (PL-SC)


 Sal. Tempero universal. Que culinária consegue viver sem ele? Está presente em todas as culturas desde tempos imemoriais. Se usado de menos, deixa a comida insossa. Se usado em demasia deixa a comida tão salgada que ninguém conseguirá ingeri-la. Mas nem só na culinária o sal é importante.

Na época da escravidão, quando o chicote cortava as costas dos negros, amarrados ao tronco, fazendo-os gemer de dor, para amenizar as curar as feridas deixadas por ele, era jogado sal nas feridas. O sal agia como antisséptico, cicatrizando, curando, limpando as feridas.

Além de temperar e conservar alimentos o sal tem sido usado desde tempos antigos para fins espirituais.

Na antiguidade os sacerdotes usavam o sal para afastar demônios. Os egípcios o usavam em cerimonias dedicadas aos deuses. Os romanos o tinham como sinal de sabedoria. Enfim, em todas as culturas antigas ele teve seu significado que ultrapassa os limites culinários.

Hoje não é diferente. Um banho de sal grosso tomado do pescoço para baixo tem o poder de afastar energias negativas, quebrar inveja e mal olhado, e todos os outros males que deixam o corpo carregado.

Seguindo esse raciocínio podemos dizer que o presidente Lula precisa mesmo tomar um bom banho de sal grosso.

Primeiro, tem dirigido contra ele o ódio dos bolsonaristas que, se pudessem, o matavam, literalmente. Em fins de janeiro, o ex-jogador da seleção brasileira de vôlei Wallace Leandro de Souza, compartilhou uma postagem em seu perfil no Instagram. A postagem era uma enquete que sugeria que Lula levasse um tiro na cara. Mesmo tendo apagado o post horas depois, a reação ao post do jogador foi imensamente reprovada por autoridades e por imensa maioria da população.

O Comitê Olímpico Brasileiro suspendeu o atleta. O Cruzeiro time pelo qual ele atua também aplicou a ele pena de suspensão. Em fins de fevereiro, o Superior Tribunal de Justiça Desportiva do Vôlei arquivou o processo movido contra o jogador pela Advocacia Geral da União (AGU), e pela Confederação Brasileira de Vôlei (CVB). Mesmo o processo no STJD tendo arquivado os processos, o Comitê Olímpico Brasileiro manteve a suspensão do jogador por tempo indeterminado.

Na sexta-feira, 17, foi a vez da deputada federal Júlia Zanatta (PL-SC), publicar uma foto na qual segura uma metralhadora e veste uma camiseta cujas estampas são uma metralhadora, um revolver e uma mão com quatro dedos alvejada por três tiros. No texto que acompanha a foto na postagem a deputada diz: “Não podemos baixar a guarda. Infelizmente a situação não é fácil. Com Lula no poder, deixamos um sonho de liberdade para passar para uma defesa única e exclusiva dos empregos, do pessoal que investiu no setor de armas. Estamos falando em socorrer empregos +”.

Fosse só o texto, seria mais um discurso vazio de uma bolsonarista em favor do armamento da população, e uma referência ao decreto do presidente Lula que dificulta o acesso de armas no país. Porém, tudo na foto é significativo. A deputada segurando um rifle, o próprio rifle, o revolver, e a mão com quatro dedos atingida por três tiros. Nem precisa citar o nome de Lula. Todos sabem que o presidente só tem quatro dedos. Perdeu um deles em acidente de trabalho no tempo em que era metalúrgico.

Ainda na estampa da camiseta está a frase: “Come and take it”, algo como “Venha e pegue”. Isso deixa uma dubiedade no ar. Venha e pegue o quê? A arma? Para que?

Obviamente os petistas ficaram revoltados com a postagem da deputada. Na segunda-feira, 20, o líder da bancada do PT na Câmara, Zeca Dirceu (PR), e vice-líder do governo daquela casa legislativa, Alencar Santana (PT-SP), ingressaram com noticia crime no STF contra a deputada Júlia Zanatta.

Eles pedem ao órgão que a deputada seja investigada por apologia e incitação ao crime, além do crime de ameaça contra o presidente Luís Inácio Lula da Silva (PT). Se os pedidos forem aceitos pelo STF a deputada pode ter seus registros de armas investigados e até ser presa.

A presidente do PT, deputada Gleise Hoffman, ao comentar a postagem da deputada catarinense, afirmou que ele teve um “comportamento nazista”, e que vai estudar medidas contra a parlamentar.

Após a repercussão do caso, Júlia Zanatta disse que se sentiu muito ofendida com as críticas a ela dirigidas: “Os ataques que tenho sofrido não se justificam. Não é razoável que minha honra e meu mandato sejam questionados pela interpretação de uma imagem. O correto é se ater aos fatos e o fato é que, na ânsia de me desqualificar, a presidente do PT, Gleisi Hoffman, evocou algo muito grave ao me chamar de nazista. Isso reflete não só em mim, mas no estado que me elegeu”.

O que me impressiona nos bolsonaristas é que eles não têm noção do mal que causam, ou da tragédia que podem causar. É como alguém que planta sementes de violência. Ora ou outra elas brotam.

A deputada esteve com Jair Bolsonaro no dia 4 deste mês nos Estados Unidos. Júlia esteve naquele país participando da Conferência de Ação Política Conservadora (CPAC). Disse que foi a convite do deputado e “amigo”, Eduardo Bolsonaro (PL-SP). Na ocasião ela compartilhou foto junto com Bolsonaro. O evento é uma troca de ideias entre lideranças conservadoras de direita ao redor do mundo.

Lula teve de enfrentar ainda, na primeira semana de governo, os ataques antidemocráticos as sedes dos Três Poderes, no dia 08 de janeiro, em Brasília. O processo segue veloz. Centenas de manifestantes foram presos. Alguns já foram liberados mediante a observância de medidas restritivas. Outras ainda estão sendo presas. Também continua preso o ex-secretário de segurança do DF e ex-ministro do governo Bolsonaro, Anderson Torres.

Recentemente, explodiu no Rio Grande do Norte, uma rebelião das facções criminosas que operam no estado. O terror começou naquele estado na madrugada de terça-feira, 14. Entre os dias 14 e 21 de março, os bandidos atacaram em 56 cidades e fizeram mais de 250 ataques.

Prédios públicos, ônibus de transporte público, ambulâncias, e até um depósito de remédios foram incendiados. No bairro de Igapó, Zona Norte de Natal, os bandidos obrigaram famílias a sair de suas casas e atearam fogo nas casas dessas pessoas. Escolas e postos de saúde foram fechados. A frota do transporte público foi reduzida. Por esses dias os norte rio-grandenses vivem sob o signo do medo. Reféns da violência.

A polícia conseguiu identificar os principais responsáveis pelos ataques e os transferiu para presídios federais. O ministro da Justiça, Flávio Dino, enviou cerca de 600 homens da Força Nacional para debelar a rebelião.

O motivo de tanta barbárie são as regalias que foram retiradas dos presos. Voltemos no tempo para poder o caso melhor.

Na tarde do dia 14 de janeiro de 2017, a Penitenciária Estadual de Alcaçuz, RN, foi palco da rebelião mais violenta dentro de um presídio no estado. 26 presos morreram, quinze deles decapitados. Outros tiveram os corpos mutilados, ou tiveram os corpos esquartejados. Os que estavam lá naquela tarde; familiares de presos que estavam em visita, detentos e funcionários estiveram num verdadeiro inferno. Muitos presos aproveitaram a confusão, e fugiram. Foi uma guerra entre facções rivais entre presos de complexos diferentes dentro do próprio presídio.

Naquela época os presos do sistema penitenciário do Rio Grande do Norte, apesar das proibições tinham grande facilidade de usar o celular. Foram colocados bloqueadores de sinal nas penitenciárias, ainda assim os presos conseguiam acessar os aparelhos. Havia também problemas de superlotação. A prisão tinha lugar para 620 detentos, mas abrigava 1.150.

Após essa rebelião muita coisa mudou em Alcaçuz. Por exemplo, as celas não têm nenhuma tomada, nenhum ponto de energia, ou seja, os presos não conseguem recarregar os celulares de jeito nenhum. Também foram instaladas mais de 130 câmeras que registram tudo o que acontece em tempo real. Naquela época, praticamente eram os detentos que comandavam a penitenciária. Hoje é o Estado.

Os presos reclamam que não tem direito a visita íntima, reclamam que não tem ventiladores das selas. Mas tudo isso é mais um motivo para eles terem acesso aos celulares. Com a visita íntima, poderiam entrar também os aparelhos celulares, e as mesmas tomadas que ligam o ventilador poderiam ser as mesmas que recarregariam celulares. Não só em Alcaçuz é assim, mas em todo o sistema prisional do Rio Grande do Norte.

A situação no estado do Rio Grande do Norte ainda não está 100% controlada, mesmo com a chegada dos homens da Força Nacional. Os criminosos continuam a fazer ataques a prédios públicos e garagens municipais. Na cidade de Angicos, na madrugada desta terça-feira, 21, criminosos atiraram contra o Fórum de Justiça da cidade. A marca dos tiros ficou nas paredes e vidraças do edifício. Eles também aterrorizaram outras cidades.

A situação é tão delicada que a embaixada americana no Brasil emitiu um alerta a turistas americanos que evitem viagem ao estado do RN por causa dos ataques e incêndios a prédios públicos, comércios e veículos. A embaixada também orienta a funcionários do governo a não viajarem para lá.

Os cidadãos norte-americanos que precisam viajar para o Rio Grande do Norte devem revisar os planos de viagem e monitorar as fontes de notícias locais para obter informações adicionais. Funcionários do governo dos EUA são orientados a evitar viagens ao estado do Rio Grande do Norte até novo aviso”, diz nota da embaixada americana.


0

Fake news e democracia

Posted by Cottidianos on 01:59

 Terça-feira, 14 de março de 2023

Existe um ditado popular que diz que “todos os caminhos levam à Roma”. Outro diz que “quem tem boca diz o que quer”. Mas é preciso ter cuidado. Nem todos os caminhos levam à Roma. Alguns podem levar para aonde a gente não quer. Se quem tem boca diz o que quer, tem de estar preparado para ouvir o que não quer.

O mundo, de um modo geral, tem entrado pelos caminhos perigosos abertos pela extrema-direita. E essas vias com certeza não levarão o mundo à “cidade eterna” com sua rica história, a beleza de sua cultura, arte, e arquitetura, mas, sim ao reino tenebroso do ódio, do preconceito, e da intolerância.

E, se olharmos por cima dos ombros, para um passado não muito distante e chegarmos até a Alemanha de Hitler ou a União Soviética de Stalin, veremos que os líderes dessas nações, de forma mais contundente, a Alemanha, trilharam esses caminhos odiosos. E todos sabemos quais são as consequências de enveredar por essas trilhas.

Dentro do espectro ideológico, o surgimento e ascensão do partido nazista foi o que de pior aconteceu na Alemanha. O nazismo encarnou o ódio em sua forma mais perversa e mais radical. Uma das armas mais eficazes da propaganda do Terceiro Reich — magistralmente usada a serviço do mal por Joseph Goebels ­— foram o que hoje chamamos de fake news, e olhem que naquele tempo nem existia essa comunicação instantânea que a Internet nos proporciona atualmente. Imaginem então se naquela época, os nazistas dispusessem de meios de comunicação tão potentes.

A segunda guerra acabou, Hitler suicidou-se, e junto com ele morreu o nazismo. O mundo se reorganizou, entretanto, não conseguiu se livrar dos discursos de ódio que brotam aos borbotões de bocas malditas e corações trevosos.

E os herdeiros desses discursos hoje são os movimentos de extrema-direita, ou ultradireita, como são conhecidos esses movimentos, que são o lado mais radical e violento do espectro político.

Apesar dos meios de comunicação terem dado saltos enormes em relação a época na qual a propaganda nazista funcionava a todo vapor, espalhando inverdades a respeito dos judeus, e de outros grupos que eles consideravam indignos de viver, o meio de conquistar corações e mentes fracos continua sendo o mesmo: as fake news. Agora potencializadas pelas redes sociais. E isso é perigoso em qualquer sociedade. É perigoso também na sociedade brasileira.

Até o ano passado e início deste ano, nós, brasileiros, nos deparávamos com cenas chocantes, inacreditáveis, verdadeiras aberrações. Vimos fieis se prostrarem nas igrejas e jejuaram pela vitória de um candidato homofóbico, preconceituoso, amante do ódio e da mentira. Milhares de pessoas acampando em frente aos quarteis e invocando até mesmo aos ETs, clamando por um golpe militar. Bloqueando rodovias por não aceitarem a vitória democrática, confirmada pelas urnas. Vimos as fake news se alastrarem pela sociedade feito palito de fosforo jogado em paiol de pólvora. O ápice de toda essa aberração foi a destruição da sede dos poderes, em Brasília, no dia 8 de janeiro deste ano.

O pior de tudo isso, e o mais preocupante é que os fabricantes de fake news, os disseminadores de mentiras e inverdades chegaram ao Congresso, e o que é ainda pior, levados pelos braços do povo. Já haviam alguns, nas últimas eleições, chegaram mais.

A mais recente aberração que presenciamos aconteceu no dia 8 de janeiro, Dia Internacional da Mulher. Naquele dia, o jovem deputado Nikolas Ferreira (PL), Minas Gerais. As deputadas queriam ocupar a tribuna da Câmara dos Deputados, para fazer discursos que exaltassem o valor e o direito das mulheres. Realmente, aquele dia não era lugar de fala para radicais. Não era lugar de fala para Nikolas.

O que ele fez então? Vestiu uma peruca loira, disse que se chamava deputada Nikole e iniciou um discurso transfóbico, ofendendo as mulheres trans. “As mulheres estão perdendo seu espaço para homens que se sentem mulheres”, disse ele.

As eleições de 2022 representaram um avanço no sentido da inclusão. Nelas foram eleitas as primeiras deputadas transexuais do Brasil. São Paulo elegeu Erika Hilton (PSOL), e Minas Gerais elegeu Duda Salabert (PDT). Ambas já haviam sido pioneiras ao serem eleitas as primeiras vereadoras trans em seus munícipios. Os legislativos estaduais também elegeram mulheres trans. Rio de Janeiro elegeu Dani Balbi (PC do B). E Sergipe elegeu Linda Brasil (PSOL).

Porém, em sua fala preconceituosa, Nikolas ofende, não apenas as mulheres trans, mas sim, a todas as mulheres de modo geral.

Quando você ofende uma mulher, você ofende a todas as outras! Transfobia é crime e não podemos fingir que nada aconteceu”, escreveu no Instagram a deputada Tabata Amaral (PSB-SP).

O que impressiona é que depois dos ataques às mulheres trans, o número de seguidores do deputado Nikolas aumentou em 46 mil. Ou seja, arrebatou mais 46 mil pessoas dispostas a odiar. Isso é preocupante. E é mais preocupante ainda quando pensamos que anos atrás havia no parlamento um deputado do baixo clero que pregava discurso de ódio, e esse deputado, por força das circunstâncias chegou à presidência da República, e quase jogou o Brasil de volta a um regime ditatorial. Por isso devemos ficar de olhos e ouvidos bem abertos a essas falas de radicais.

Por tudo isso e muito mais, o discurso sobre a regulamentação das redes sociais tem ganhado cada vez mais força. As redes sociais tem sido o principal veículo de comunicação para muita gente. No entanto, elas não estão sujeitas às mesmas regras a qual estão submetidas os veículos de comunicação tradicionais.

Nesta segunda-feira, 13, durante o seminário, Liberdade de Expressão, Redes Sociais e Democracia, realizado pela Fundação Getúlio Vargas (FGV), no bairro de Botafogo, no Rio de Janeiro, o presidente da Câmara dos Deputados, Arthur Lira, criticou as prisões por fake news.

Redes sociais são instrumentos da democracia porque brasileiros passaram a demonstrar suas opiniões lá. Expandiu o debate da democracia. Mas podem representar obstáculos, sendo o mundo digital a nova ágora grega ou fórum romano. Não é necessário prender alguém para silenciá-lo. Incluindo jornalistas e parlamentares que podem ser calados a um mero clique. Assim como ataques a democracia jamais serão legítimos à liberdade de expressão”, disse ele.

Lira disse ainda que “liberdade de expressão e democracia são temas caros ao Brasil”, que “no momento em que um dos dois deixou de existir, o outro não estava vigente”.

Também esteve presente no evento, Alexandre de Moraes, ministro do STF. Moraes tem sido um árduo combatente das fake news. Ao contrário de Arthur Lira, ele defende a regulamentação das redes sociais para evitar a disseminação das notícias falsas e dos discursos de ódio.

Essa discussão é importantíssima, porque não podemos ter dois tipos de tratamento. Tratamentos diversos para o mundo real e para o mundo das redes sociais. Eu repito o que venho falando há quatro anos: as redes sociais não são terra de ninguém. Não são terras sem leis. É necessário o mesmo respeito que tem a liberdade de expressão no mundo real. Liberdade com responsabilidade. Você pode falar o que quer. Postar o que quer. Mas você terá responsabilidade penal e responsabilidade civil. Por isso temos que discutir a forma de regulamentação, mas levando em conta que liberdade de expressão não é liberdade de ódio, liberdade contra a democracia, como o que nós vimos nas eleições e o que vem ocorrendo depois delas”.

Toda aquela destruição em Brasília em 08 de janeiro foi tudo fruto de desinformação. E, se Jair Bolsonaro tivesse sido eleito para mais quatro anos de governo essa rede de desinformação promovida por ele, os filhos, e seguidores teria se potencializado, e correríamos o risco de ter problemas ainda maiores. É impressionante como o presidente da Câmara dos Deputados não perceba isso.

Na tentativa de querer blindar os seus aliados e colegas de parlamento, Lira quer deixar que as ervas-daninhas se espalhem ainda pela plantação, até o dia em que ela arruíne toda a colheita dos grãos saudáveis. Aí não haverá muito que fazer senão lamentar.

Não há como não voltar ao nazismo. Foi exatamente assim que o regime engoliu a democracia. Foi plantando aos poucos na sociedade alemã a ideia de que o comunismo iria destruir a sociedade, e por outro lado, incutindo na mente das pessoas que tudo de ruim que acontecia no país era culpa do povo judeu. E assim, como serpente venenosa, enrolada sobre si mesma, no momento certo, deu o bote e engoliu a democracia.

Não podemos deixar que o mesmo aconteça no Brasil dos dias de hoje. A serpente venenosa continua a se enrolar sobre si mesma. Não devemos permitir jamais que ela engula a democracia. Liberdade de expressão e discurso de ódio não são a mesma coisa. O primeiro é salutar e o segundo é nocivo à sociedade.


0

O brilho da cobiça

Posted by Cottidianos on 23:42

 Segunda-feira, 06 de março


O brilho das joias tem encantado homens e mulheres há milênios. Elas representam status, poder, realeza, dinheiro. Por elas homens e mulheres se matam, se morrem, se presenteiam. O brilho e o fascínio das joias têm despertado interesse no passado, e continuam despertando no presente.

No momento, o ex-presidente Jair Bolsonaro e ex-primeira dama, Michele foram pegos por um redemoinho inesperado com potencial de se tornar furacão. Um escando de milhões de dólares em joias revelado pelo jornal O Estado de São Paulo.

Era o ano de 2021 e estávamos no segundo ano da pandemia. Foi um ano marcado pela chegada de uma segunda onda forte do coronavírus. Mas foi o tempo no qual a ciência começou a reagir ao vírus com a chegada das vacinas. No final daquele ano o país atingia a sonhada marca de 80% da população vacinada.

Também em 30 de dezembro daquele ano, a Petrobras concluía a venda da Refinaria Landulpho Alves (RLAM), em São Francisco do Conde, na Bahia. A refinaria foi vendida para o grupo árabe Mubadala Capital, dos Emirados Árabes. A Petrobras divulgou na ocasião que o negócio havia sido fechado em R$ 10,1 bilhões, após o cumprimento de todas as condições precedente. O acordo previa ainda um ajuste final no preço que deveria ocorrer nos meses seguintes.

A Landulpho Alves foi a primeira das oitos refinarias a serem vendidas pela Petrobras, o presidente do grupo Mubadala Capital no Brasil, Oscar Fahlgren, disse que a empresa se comprometeria com as pessoas e meio ambiente: “A nossa prioridade é garantir excelência na produção e operação da refinaria, além de uma transição estruturada, serena e sem ruptura. É criar valor com atenção especial às pessoas e ao meio ambiente. Enfatizamos sempre o compromisso de longo prazo que temos com o país e as regiões onde atuamos. Este é certamente um dos objetivos da Acelen”, disse ele na ocasião.

Foi nesse contexto de segundo ano da pandemia, avanço da vacina contra a Covid, e negociações entre a Petrobras e o grupo árabe tratando da venda da refinaria na Bahia, que, em 22 de outubro de 2021, o ministro das Minas e Energia, Bento Albuquerque e sua comitiva, iniciava uma agenda de eventos oficiais em Riad, capital da Arabia Saudita.

Foram quatro dias de reuniões bilaterais, conferências sobre meio-ambiente, e reuniões com membros da realeza saudita. O presidente Jair Bolsonaro, não esteve presente nessa viagem.

Não se sabe em que momento da viagem, nem em quais circunstâncias, a comitiva brasileira recebeu da realeza saudita um presente destinado a então primeira dama Michele Bolsonaro. Também não se sabe exatamente quem recebeu as joias, se foi o próprio Bento Albuquerque, ou algum subordinado. Mas, pelo quilate, presume-se que foi o próprio ministro quem recebeu as joias, que eram joias caríssimas.

O presente consistia de uma escultura de um cavalo, e um conjunto com colar, anel, relógio, e um par de brincos de diamante. Junto com itens foi entregue um certificado da marca Chopard — empresa suíça que produz algumas das joias mais caras do mundo. O conjunto de joias foi avaliado em R$ 16,5 milhões.

Até aí, tudo bem. Vários outros presidentes brasileiros receberam presentes de outros chefes de nações. Mas eles ficaram como patrimônio do Estado brasileiro. Mas, ao que parece, a intenção do presidente brasileiro não era seguir esse caminho legal, e, sim, abocanhar essa fortuna.

Todos sabem, até quem não viaja ao exterior, que se trouxer um anel na bagagem na volta de uma viagem internacional, esse item tem que ser declarado à Receita Federal. Isso se a pessoa tem a intenção de fazer as coisas de forma legal.

 Terminada a viagem oficial a comitiva brasileira retornou da Arábia Saudita em 26 de outubro de 2021. Desembarcaram no aeroporto de Guarulhos. Quando os funcionários da receita realizavam fiscalização dos passageiros que vinha da Arábia Saudita, encontraram, na bagagem de Marcos André dos Santos Soeiro, que era assessor de Bento Albuquerque, então ministro de Minas e Energia, a caixa contendo a escultura de um cavalo dourado, com as patas quebradas, e dentro dela, a caixa com as joias, e certificado de autenticidade da empresa suíça.

As peças não haviam sido declaradas. E nem tampouco haviam sido registradas como presente oficial da realeza árabe para o presidente da República, nem para a primeira dama.

Como procedimento de praxe, a Receita reteve as joias. De acordo com procedimento da Receita, qualquer objeto com valor superior a US$ 1 mil, deve pagar o imposto de importação referente a 50% do valor estimado do item, e ainda uma multa de 25% por tentar entrar de forma ilegal no país. Então, os interessados nas joias teriam de pagar ao todo 75% do valor somando-se valor do bem e multa.

No dia 25 de outubro de 2021, mesmo dia que o ministro Bento Albuquerque se preparava par voltar ao Brasil, o presidente Jair Bolsonaro se encontrou com o embaixador da Arábia Saudita em Brasília. Presentes ao encontro estiveram o senador Flávio Bolsonaro, e o ministro das Relações Exteriores, Carlos França. O encontro não constou da agenda pública de Bolsonaro, nem do Itamaraty. 

É muita coincidência de o ministro das Minas e Energia ter viajado a Arabia Saudita, quando a Petrobras fechava a venda de uma refinaria de petróleo a um grupo daquele país. Da mesma forma que é coincidência que o presidente Jair Bolsonaro tenha estado com o embaixador daquele país logo após a comitiva brasileira ter recebido valiosos presentes dados à primeira dama, Michele Bolsonaro. Tem coisas que parecem coincidência, mas talvez não sejam.

O presidente Jair Bolsonaro tentou — creio eu, desesperadamente — reaver as joias em pelo menos quatro ocasiões, sendo a última delas, no apagar das luzes de seu governo, ou seja, um dia antes de viajar para os Estados Unidos.

No dia 29 de dezembro de 2022, Jairo Moreira da Silva, sargento da Marinha, na ocasião, chefe de Ajudância de Ordens da Presidência da República, chegava ao Aeroporto de Guarulhos. Ele vinha com uma missão: reaver as joias apreendidas. Vinha a mando de Bolsonaro.

Ele mostrou aos funcionários e mostrou um documento no celular e disse a eles que estava ali para retirar o material que estava retido na alfandega, e que a própria chefia da Receita já deveria ter comunicado o fato a alfandega de Guarulhos.

O funcionário Marco Antônio Lopes disse ao sargento que não estava sabendo de nada, e que não entregaria os produtos retidos. Jairo então ligou para alguém a quem se referiu como coronel, e tentou fazer com que o funcionário da receita falasse com ele. O funcionário disse então que não resolveria nada por telefone.

Foi então que o sargento disse: “Não pode ter nada do (governo) antigo para o próximo, tem que tirar tudo e levar”.

Nem mesmo a ligação de Júlio Cesar Vieira Gomes, secretário que comandava a Receita naquela ocasião, pedindo para liberar as joias, adiantou. Marco Antônio Lopes, foi firme e não entregou as joias apreendidas de modo algum.

Um dia antes da ida de Jairo ao aeroporto, Bolsonaro havia enviado um ofício a Receita no qual comunicava a viagem do subordinado e pedia a devolução das joias.

Essa foi a última das oito tentativas de Bolsonaro de liberar as joias. Nem usando toda a força do Planalto, do Itamaraty, da Receita e do ministério das Minas e Energia as joias apreendidas foram liberadas.

As reações do ex-casal presidencial foram bem parecidas.

Bolsonaro continuar nos Estados Unidos. Perguntado sobre as joias, ele disse: “Estou sendo acusado de um presente que eu não pedi, nem recebi. Não existe qualquer ilegalidade da minha parte. Nunca pratiquei ilegalidade. Veja o meu cartão corporativo pessoal. Nunca saquei, nem paguei nenhum centavo nesse cartão”. Ele também afirmou que não tentou trazer as joias ilegalmente ao país. Quanto ao cartão corporativo, a divulgação dos dados dos gastos mostram que Bolsonaro usou e abusou do cartão corporativo.

Michele Bolsonaro tratou do assunto com deboche, e ainda culpou a imprensa. “Quer dizer que, 'eu tenho tudo isso' e não estava sabendo? Meu Deus! Vocês vão longe mesmo hein?! Estou rindo da falta de cabimento dessa impressa (sic) vexatória”.

Na esteira dessa primeira entrega de joias do governo saudita ao presidente brasileiro, surgiu a denúncia de que mais um caixa de joias teria sido enviada a Bolsonaro. Dessa vez, a caixa não passou pelo crivo da Receita Federal, e os itens contidos nela incluem itens masculinos; relógio, caneta, abotoadura, anel, e um tipo de rosário da marca suíça de diamantes Chopard. Essa segunda caixa de joias também foi trazida na bagagem de um integrante da comitiva.

Essa segunda caixa de joias também foi trazida em outubro de 2021, por ocasião da visita oficial do ministro de Minas e Energia, Bento Albuquerque. o fato estranho, além das joias terem vindo na bagagem de um assessor, é que elas ficaram no ministério de Minas e Energia por um ano, e só foram entregues ao Palácio do Planalto em 29 de novembro do ano passado.

Foi entregue [ao Planalto em novembro de 2022] porque demorou-se muito nesse processo para dizer quem vai receber quem não vai receber, onde vai ficar onde não vai ficar. Só não podia ficar no ministério nem ninguém utilizar”, disse Bento Albuquerque. Como diz o ditado, “desculpa esfarrapada”.

A Polícia Federal, que já havia aberto inquérito para apurar as joias apreendidas pela receita, agora também abriu um inquérito para apurar essa segunda caixa de joias que também não havia sido declarada a receita.

Para Michele Bolsonaro o caso das joias foi um balde de água fria no seu envolvimento no PL. No dia 15 de fevereiro, o nome de Michele foi confirmado como presidente nacional do PL Mulher. O anúncio foi feito durante encontro realizado em Brasília, na sede do partido, com a participação de deputadas da sigla.

Para este mês estavam sendo organizados uma série de eventos com a participação dela. Agora, tudo o que partido mais quer é achar um buraco onde ela possa se esconder depois da divulgação dos caríssimos mimos dados a ela e a Bolsonaro pelo governo saudita.

Enfim, caros leitores e leitoras, é mais uma máscara retirada da face de pessoas que se autoproclamavam honestas e donas da verdade. É um fato gravíssimo e tem mesmo de ser apurado. Reproduzo aqui o versículo bíblico que Bolsonaro costumava usar: “Conhecereis a verdade, e a verdade vos libertará”. É bom eles tomarem cuidado pois a mesma verdade que liberta também condena.


Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates