Dia do Trabalho x Madame bandida
Domingo, 01 de maio
Hoje,
1o de maio, os parabéns deste blog vão especialmente para os
trabalhadores e trabalhadoras do mundo inteiro. Dia de comemorações, dia de
luta, mas também de glórias e conquistas.
Este
ano, pelo menos no Brasil, para os trabalhadores é um período de reflexões que
precisam levar a uma ação, pois o trabalhador brasileiro está sufocado com a
inflação galopante e a alta taxa de juros. Isso acontece em parte devido as
medidas, necessárias, contra a covid-19, e em parte devido a uma política
econômica equivocada, cheia de altos e baixos. Também podemos colocar nessa
conta a grande instabilidade política que dominou o Brasil de 2019 para cá.
Neste
1o de maio houve manifestações em várias cidades brasileiras, organizados
por partidos de esquerda, de direita, de centro, enfim, o espaço estava livre
para a manifestações de ideias. Porém, nem a tão criticada esquerda brasileira
é tão nociva ao Brasil quanto a extrema direita radical. Por quê? Pelo simples
fato de que a esquerda não ameaça a democracia. Jair Bolsonaro, seus aliados, seu
partido, e os partidos que o apoiam, estes, sim, podem jogar o Brasil nas trevas
de um regime ditatorial.
E
esse regime ditatorial seria um desastre total. Podemos dizer isso baseados no
que eles conseguem fazer e dizer em plena luz do sol da democracia. Imagina,
então nas trevas da ditadura. Aí, sim, estaríamos perdidos de vez.
Há
muita gente por aí que diz: “Ah, mas Bolsonaro não é capaz disto. Ele é
apenas de bravata. Não vai conseguir implantar uma ditadura no Brasil”.
Acho as pessoas que pensam assim extremamente inocentes. É como se o individuo se
colocasse diante de uma cobra que está, aparentemente, alheia a tudo, e dissesse:
“Ah, ela não é capaz de me morder. Está apenas tomando um sol no jardim”.
E, de repente, recebe uma carga de veneno
na perna. Com cobra você tem que ter cuidado, sempre. Se possível, pegá-la com
uma vara grande, colocá-la numa caixa de proteção, e levar para o Instituto
Butantan, para que eles possam extrair o veneno dela.
Várias
manifestações da extrema direita não eram contra a situação econômica que o
Brasil atravessa, mas, sim contra o STF e contra os ministros que o compõem. Para
o evento ocorrido na Avenida Paulista, o presidente gravou um vídeo que foi exibido
durante o ato.
No
vídeo, o presidente, como sempre, carrega na demagogia, usando no nome de Deus
em vão e, assim, conseguindo enganar, tranquilamente, o eleitorado evangélico e
os moralistas. “É uma satisfação muito grande poder cumprimentá-los nesta
manifestação pacífica com todas as idades em defesa da constituição, das
famílias e da liberdade. Eu devo lealdade a todos vocês. Temos um governo que
acredita em Deus, respeita as autoridades, defende a família e deve lealdade a
seu povo. E eu irei onde vocês estiverem. Estarei sempre ao lado da população
brasileira”.
Os
apoiadores do presidente, não apenas na Paulista, mas em várias cidades
brasileiras, se reuniram para defender o deputado federal, Daniel Silveira,
condenado pelo STF a 8 anos e 9 meses de prisão, e ‘perdoado’ pelo presidente. Obviamente,
ao defender o deputado Silveira, também atacam o STF, órgão que o julgou. Houve
também ataques às urnas eletrônicas e o processo eleitoral.
É
surreal o que acontece no Brasil. E olhem, caros leitores e leitoras, que
estamos apenas no início da maratona das eleições que ocorrem em outubro.
Senhoras e senhores, apertem os cintos que o ano eleitoral vai ser de muita turbulência,
e muito jogo sujo, destruição de reputações, e muito mais.
Quem
esteve também falando a apoiadores neste Dia do Trabalho foi o ex-presidente, e
candidato a presidência, Luís Inácio Lula da Silva. Lula participou de seu
maior ato de campanha até agora. Ele esteve presente em evento realizado pelas
centrais sindicais na Praça Charles Miller, no Pacaembu, zona Oeste de São
Paulo.
Logo
no início do discurso Lula disse aos seus apoiadores que não iria falar de
eleições para não ter problemas coma Justiça Eleitoral. Então ele falou da
situação que o Brasil atravessa atualmente, e também criticou o presidente
Bolsonaro, chamando-o de genocida. “Não aceitamos esse ódio que está sendo
imposto por esse genocida que governa o país. Eu disse ontem e vou dizer agora:
ao invés de abrir salões e salões de treino de tiros, vamos abrir salões para
fazer biblioteca”, disse Lula.
Ele
também insinuou que os apoiadores do presidente têm alguma participação no
assassinato da vereadora Marille Franco: “Este cidadão só governa, para quem
sabe, os milicianos deles. E alguns inclusive têm responsabilidade pela morte
da Marielle que a gente quer saber quem é que mandou matar a Marielle”.
Gostaria
de comentar com vocês uma reportagem divulgada neste domingo, 01, pelo jornal O
Globo, que é a questão do estado do Rio de Janeiro estar concedendo escolta
policial, 24 horas, a uma criminosa, mulher do ex-capitão do Bope, e miliciano,
Adriano da Nobrega, morto em 2020, em Esplanada, Bahia.
Júlia Emília Mello Lotufo
A
Coordenadoria de Recursos Especiais (Core), é um grupo de Elite da Polícia
Civil. Os policiais desse grupo são treinados para atuar em caso que exijam
grande habilidade por causa das complexidades e riscos que as operações
envolvem. A maioria das operações do Core se desenvolvem em áreas de alto risco
e são realizadas contra narcotraficantes. Estes estão sempre fortemente
armados. Usando uma expressão popular, são “gente da pesada”.
Segundo
a reportagem do Globo.com, a remuneração de um policial do Core, em valores
brutos, é de R$ 10.000. Além disso, por serem uma tropa especializada, eles
ainda recebem uma gratificação de R$ 1.500.
Alguém
consegue imaginar que equipes de uma corporação tão conceituada como essa,
pagos com o dinheiro do estado, estejam sendo usadas para proteger a mulher de
um bandido, que herdou os negócios ilícitos do marido.
Ainda
segundo a reportagem citada, desde junho do ano passado três equipes da Coordenadoria
de Recursos Especiais montam guarda, 24 horas, em um condomínio de luxo à
beira-mar, na Avenida Lúcio Costa, na Barra da Tijuca, um dos bairros mais
famosos e mais caros para se morar no Rio de Janeiro.
Tal
tratamento protecional não é dedicado a nenhuma grande autoridade do estado
brasileiro, mas sim a Júlia Emília Mello Lotufo.
Ela é viúva de Adriano da Nóbrega, ex-capitão do Bope e miliciano. Para falar
da viúva dele é interessante falarmos sobre quem era o sujeito.
Enquanto
policial, Adriano era a personificação do que há de pior na polícia, a chamada
“banda podre da polícia” do estado do Rio de Janeiro. Um profissional desses
que a PM do Rio não tem do que se orgulhar.
Era
um exímio atirador, fez a segurança de várias pessoas ligadas ao jogo do bicho,
e também montou o Escritório do Crime, um grupo de extermínio formado por
policiais e ex-policiais. Além disso, integrava um grupo de policiais
milicianos que atuava em Rio das Pedras, zona oeste do Rio de Janeiro.
Ainda
na PM Adriano foi preso, acusado por três crimes, sendo dois deles um
assassinato, e uma tentativa de assassinato. Foi solto por falta de provas. Em
2014 foi expulso da polícia, e continuou sua carreira no crime.
É
conhecida de todos a relação próxima de Flávio Bolsonaro com o miliciano. Ainda
quando estava preso pela acusação de homicídio de um guardador de carros,
Adriano foi condecorado pelo então deputado estadual, Flávio Bolsonaro, no ano
de 2005, com a Medalha Tiradentes, a mais alta honraria da Assembleia
Legislativa do Rio de Janeiro. O então deputado Jair Bolsonaro também usou a
tribuna da Câmara dos Deputados para defender Adriano.
A
partir daí, a relação entre Flávio e Adriano aumentou ainda mais. Em 2006, o
policial foi inocentado dos crimes e saiu da cadeia. Em 2007, o deputado
estadual, Flávio Bolsonaro, contratou a mãe e mulher do policial-miliciano para
trabalhar em seu gabinete, na Alerj.
As
duas seriam apenas mais duas a irrigar com seu salário as contas escusas do
deputado com o esquema da rachadinha, que nada mais é do que apropriação
indébita do dinheiro público. O esquema era operado por Fabrício Queiroz,
também funcionário de Flávio na Alerj. Um homem “de confiança”, digamos assim.
Queiroz também era parceiro de Adriano da Nóbrega no 18o Batalhão da
Polícia Militar do Rio de Janeiro. Segundo o MP do Rio de Janeiro, parte do
dinheiro arrecadado com o esquema das rachadinhas ia parar no bolso de Adriano.
Em
2019, o MP iniciou uma investigação contra a milícia envolvendo crimes de
agiotagem, grilagem de terras, pagamento de propinas a agentes públicos, e
receptação de mercadoria roubada. Os métodos usados pelos milicianos para
concretizar os seus planos não eram nada republicanos e envolviam violência
física e psicológica para com suas vítimas. Em linhas acima, falei do
Escritório do Crime, um grupo de matadores de aluguel do qual o ex-capitão
fazia parte. Deste grupo também fazia parte o amigo dele, o também ex-policial
Ronnie Lessa, acusado de matar a vereadora Marielle Franco, e o motorista dela,
Anderson Gomes, em março de 2018.
Ou
seja, Adriano era um homem que sabia demais. E quem sabe demais, no mundo do
crime, vira arquivo morto.
Quando
se iniciaram as investigações do MP, em 2019, o miliciano fugiu. Desde então,
Adriano era procurado pela justiça. Adriano fugiu, penso eu, mais com medo de
virar arquivo morto, do que, propriamente, de ser preso pela polícia. Até
porque, se fosse preso, seria morto do mesmo jeito, dentro da cadeia.
Adriano da Nobrega
Enfim,
depois de uma intensa rotina de fuga, Adriano da Nóbrega, foi localizado e
morto pela polícia, em 09 de fevereiro de 2020, em sítio na zona rural da
cidade de Esplanada, no estado da Bahia.
Porém,
a operação policial que resultou na morte do ex-policial, parecia mais uma
operação de guerra contra um homem só, do que uma operação policial normal.
Para Esplanada foram destacadas equipes do Bope (Batalhão de Operações
Policiais) da Bahia, da Cipe (Companhia Independente de Policiamento
Especializado) Litoral Norte, da Superintendência de Inteligência da Secretária
da Segurança Pública, e Agentes da Polícia Civil do Rio de Janeiro.
Segundo
a SSP (Secretária de Segurança Pública da Bahia), Adriano teria reagido a
chegada dos policiais com disparos de armas de fogo, e por isso teria sido
alvejado.
À
época, o advogado Emílio Catta Preta, disse ter recebido, cinco dias antes da
morte do ex-policial, uma ligação dele dizendo que temia ser assassinado por
saber demais. Recentemente, a imprensa publicou áudios de Daniela Magalhães da
Nóbrega, irmã de Adriano, que apontam na mesma direção.
Nesse
caso, não precisa nem ser especialista para se chegar a essa conclusão. Como é
que, cerca de 70 policiais são enviados para prender um único homem escondido
numa casa num sítio rural, e não conseguem capturá-lo com vida? O que faz um
polícia eficiente quando quer prender um homem que sabe muita coisa, não apenas
acerca dos negócios da milicia, mas também do assassinato de uma vereadora e de
seu motorista, que até hoje, 4 anos depois, ainda não se sabe quem foi o
mandante do crime, apesar de já terem prendido o matador? Mata o foragido, ou o
captura vivo?
A
verdade é que a morte de Adriano da Nóbrega tem mais jeito de execução do que
tentativa de prender alguém. Quanto ao assassinato de Marielle e Anderson, o
mandante deve ser alguém muito poderoso como diria o dito popular “peixe
grande”.
Voltando
a viúva de Adriano Magalhães da Nobrega, após um parágrafo que já se faz longo,
mas necessário.
Após
a morte do marido, Júlia Emília Mello Lotufo, casou-se, em 05 de dezembro de
2020, com Eduardo Vinícius Giraldes Silva, em regime total de bens. Segundo a
PF, ela ficou com a herança herdada dos negócios ilícitos do falecido marido.
De acordo com relatório sigiloso da PF, Giraldes devia dinheiro de agiotagem a
Adriano de um empréstimo contraído em 2018.
Em
julho do ano passado, Júlia apresentou-se ao Ministério Público e ofereceu
acordo de delação premiada. Após a morte do marido, ela teve prisão preventiva
decretada e ficou foragida. Porém, a pena foi convertida em prisão domiciliar,
e ela passou a responder a um processo na 1a Vara Especializada da
Capital do Rio de Janeiro por organização criminosa e lavagem de dinheiro. No
processo consta uma contabilidade dos negócios ilegais de Adriano.
Porém,
o Grupo de Atuação Especial no Combate ao Crime Organizado (Gaeco) rejeitou a
proposta. Os promotores chegaram à conclusão de que havia muitas
inconsistências na delação premiada de Júlia, que ficaram agravadas por ela não
ter assumido os crimes que a levaram a prisão em 2020, dentre os quais lavagem
de dinheiro.
Ela
queira fazer delação premiada para reduzir a pena, mas também para poder morar
em Portugal.
O
reforço da segurança nesse contexto foi feito pela Secretaria Estadual de
Polícia Civil, pois na época havia risco de algum atentado a ela por conta da
delação, uma vez que ela prometia revelar crimes dos quais tomara conhecimento
durante o período que estivera em união estável com Adriano.
O
acordo de delação premiada de Júlia Lotufo começou a ser desenhado com as
promotoras Simone Sibilo e Letícia Emile, que estavam à frente das
investigações do assassinato de Marielle Franco e do motorista Anderson Gomes, ocorrido
em 14 de março de 2018. As promotoras queriam em troca informações sobre o
mandante e a motivação do crime. A
delação premiada de Júlia acabou provocando uma crise no MP que culminou com a
saída das promotoras no caso Marielle. As duas alegaram como motivo da saída do
caso “interferências externas”.
Ao ser perguntado pelo jornal O Globo o motivo de ainda manter a segurança da viúva de Adriano a assessoria da Secretaria de Polícia Civil informou que pelo fato de ela ter prestado depoimento que denunciavam o crime organizado, colocou em risco a própria vida. A PM informou ainda que espera decisão judicial para ver se mantém a escolta policial que “por enquanto está mantida por precaução para que não seja cometido nenhum atentado, e que a secretaria vai solicitar uma avaliação de risco para decidir sobre a manutenção ou não da escolta”.
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