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Nas trevas da maldade e da ignorância

Posted by Cottidianos on 14:45

Domingo, 28 de março

 

                                                     imagem de festa clandestina

Para todas as coisas na vida, seja no plano objetivo ou no plano subjetivo, no plano material ou no plano espiritual, há diferentes graus, camadas, e texturas. Por exemplo, há diferentes graus de iluminação: há algumas esplendorosas, outras mais tímidas. Também há vários graus de bondade, algumas pessoas tem o coração totalmente aberto, outras mais ou menos, e assim por diante. Também com as trevas é assim: Há trevas nas quais brilha um fio de luz, e há trevas que é breu total.

Alguns espíritos de porco que vemos circulando por aí parecem ter saído das trevas, mas daquelas formadas pelo breu total.

O Brasil ultrapassou a triste marca dos 300.000 mil mortes por Covid-19. Não é pouca coisa. Não é apenas um número. Não são apenas estatísticas. Por trás desse somatório há vidas que se foram para sempre, deixando atrás de si um rastro de saudades de quem fica. Histórias vividas e encerradas abruptamente por uma doença cruel que não dá nem tempo aos familiares de cumprir as formalidades próprias a qualquer velório. Não deixa margem para que amigos e familiares de quem se foi se apoiem e se consolem mutuamente. Não dá oportunidade dos familiares de segurarem na mão do doente naquele momento de dores tão intensas para ele e dizer: Estamos do seu lado. Força! Reaja! Você vai conseguir. Também não deixa margem ao doente de fazer um último pedido de perdão a algum desafeto, nem recomendações aos entes queridos.

Muitas vezes, o máximo que se consegue, é enviar uma mensagem pela rede social, ou fazer uma chamada de vídeo. Porém, devido a velocidade com que a doença evolui, muitos nem isso podem fazer. Tornando o momento da partida ainda mais dolorido e cheio de sofrimento.

Apesar de todo esse quadro, ainda vagueiam entre nós espíritos ruins em forma humana. Muitos são os casos dos quais temos tido notícias.

No momento em que faltam vacinas no Brasil, dois homens foram presos em Natal, RN, acusados de roubar 20 doses da vacina Coronavac que seriam aplicadas em idosos acima de 75 anos.

Eles invadiram a unidade de Saúde, pegaram uma caixa com 20 doses da vacina, e fugiram. Isso aconteceu na manhã do dia 22, segunda-feira.

Em São Paulo, na quarta-feira, 24, dois homens chegaram de moto em uma Unidade Básica de Saúde, renderam uma enfermeira e roubaram 98 doses também de vacina contra a Covid-19. Eles chegaram a unidade de Saúde com a desculpa de que queriam saber informações sobre a campanha de vacinação.

Em Minas Gerais, reportagem mostrada pela revista Piauí, trouxe a denúncia de que políticos e empresários mineiros tomaram escondido a vacina contra a Covid. O grupo, que é ligado ao setor de transportes do estado, teria sido imunizado na terça-feira, 23. Os familiares do grupo também foram imunizados com a primeira dose da vacina.

Para entender melhor o caso, voltemos ao dia 24 de fevereiro. Naquele dia, o Senado havia aprovado um projeto de lei, de autoria do presidente do Senado, Rodrigo Pacheco, que permitia a compra de vacinas contra a Covid-19 pela iniciativa privada. O texto diz que todas as vacinas adquiridas por esses grupos devem ser doadas ao SUS (Sistema Único de Saúde) na sua integralidade enquanto não forem vacinados todos os brasileiros pertencentes ao grupo de risco, determinados pelo PNI (Programa Nacional de Imunização), elaborado pelo Ministério da Saúde.

Mesmo após a imunização desses grupos, as empresas devem doar ao SUS, pelo menos 50% das doses que forem compradas por elas. Os 50% de doses que ficarem em poder das empresas devem administradas de forma gratuita. Elas não podem comercializar o imunizante. O projeto de lei foi encaminhado para votação na Câmara dos Deputados, e no dia 02 deste mês o PL foi aprovado. A Câmara encaminhou então a Lei para a sensação presidencial, o que foi feito no dia 10 de março.  

Segundo a reportagem da Piauí, os irmãos Rômulo e Robson Lessa, donos da viação Saritur foram os responsáveis pela organização da vacina, que teria sido aplicada no grupo de pessoas, às escondidas, em um dos galpões da empresa. Ao agir assim, eles descumpriram por completo o que a lei estabelece. Ou seja, agiram com quem faz contrabando de mercadoria.

Entre os políticos, um dos vacinados foi o ex-senador, Clésio de Andrade. Ele contou a revista que tem 69 anos, e quem nem precisava tomar a vacina, pois a vez na fila de pessoas a serem vacinadas no estado, já seria na semana seguinte. Mas, como a vacina foi oferecida a ele de forma gratuita, ele aceitou.

Ainda segundo a revista, outro político vacinado foi o deputado estadual de Minas, Alencar da Silveira, (PDT). A Piauí apurou que a enfermeira chegou atrasada ao posto de Saúde improvisado para aplicação das vacinas, pois já havia vacinado outro grupo de pessoas na mineradora Belgo Mineira, pertencente ao grupo ArcellorMittal Aços.

 De acordo com a revista Piauí, os empresários R$ 600 pelas duas doses do imunizante da Pfizer. Um flagrante claro de violação da lei. A segunda dose da vacina está marcada para ser aplicada no grupo de cerca de 50 pessoas daqui a um mês.

Ou seja, se a Pfizer não vendeu essas doses aos empresários, de onde elas saíram, provavelmente de algum mercado paralelo. Não bastassem os fura-filas da vacina, ainda surgem também os contrabandistas de vacinas contra a Covid-19.

O Ministério Público está investigando o caso. Se confirmadas as suspeitas, os empresários podem responder pelo crime de importação ilegal de medicamentos. A Polícia Federal também abriu inquérito para apurar o caso.

A Pfizer negou que tenha vendido ou distribuído imunizantes no Brasil que estejam fora do que foi acertado através do Programa Nacional de Imunização.

A polícia também está investigando um grupo suspeito de oferecer um lote de 200 milhões de vacinas contra a Covid-19, ao Ministério da Saúde, de forma fraudulenta. O grupo dizia atuar em nome de um grande grupo farmacêutico, que não teve o nome divulgado pela polícia.

Dois suspeito se apresentaram ao Ministério da Saúde dizendo que tinha exclusividade para a comercialização do lote de vacinas. O combinado seria que o grupo receberia 50% do valor na assinatura do contrato do lote a ser entregue. Os bandidos ofereceram 10 milhões de vacinas em pronta entrega pelo valor de R$ 270 milhões.

Os próprios funcionários do ministério desconfiaram da proposta e acionaram a Polícia. Federal. A proposta havia sido feita ainda no mês de fevereiro. A PF então iniciou as investigações e concluiu que os suspeitos não estavam autorizados a falar em nome do grupo farmacêutico que diziam representar.

Na manhã desta quinta-feira, 25, a PF cumpriu sete mandados de busca e apreensão nas cidades de Paracatu, em Minas, e em Vila Velha, Espírito Santo. A ordem para o cumprimento dos mandados foi expedida pela 10a Vara Federal do Distrito Federal.

Nenhum valor chegou a ser pago à quadrilha. A operação recebeu o nome de “Taipan”, e apura os crimes de associação criminosa, estelionato, falsificação de documentos, e de produtos destinados a fins medicinais.

Além de tudo isso, ainda temos as festas clandestinas sendo realizadas. Na manhã da quinta-feira, 25, a prefeitura de São João do Meriti, município da baixada fluminense interditou uma casa de shows. O interessante é que a boate ficava em frente à prefeitura.

Durante à noite, a polícia recebeu denúncias de que havia aglomeração no local, e que a maiorias das pessoas não usava máscara, nem respeitava nenhum distanciamento social.

O dono da casa de shows ainda ficou bastante irritado com a interdição do local, e disse que estava respeitando todas as normas. Enfim, gente sem nenhuma noção da gravidade do momento que o país atravessa, e o que é pior, sem nenhum respeito pela própria vida, nem pela vida do próximo. Em meio a tanta dor e sofrimento fica a pergunta: O que eles comemoram?

E assim vamos seguindo, em meio à pandemia, vendo pessoas com comportamento suicidas e decisões políticas equivocadas, como equivocada foi a decisão do prefeito de São Paulo, Bruno Covas.

Na quinta-feira, 18, o prefeito de São Paulo, Bruno Covas, anunciou várias medidas com a finalidade de conter a escaladas de aumento de casos e de mortes na cidade, e a fim de reduzir a pressão no sistema de saúde. O prefeito antecipou cinco feriados deste ano, e dois do ano de 2022. A antecipação dos feriados começou a valer na sexta-feira, (26/03), e vai até o domingo, (04/04).

O objetivo era o de fazer as pessoas ficarem em casa, e talvez muitos fiquem, mas muitos descerão para as praias, pois, na cabeça do brasileiro, feriado significa festas e viagens.

Quando Bruno Covas antecipou os feriados em São Paulo, a luz vermelha imediatamente acendeu para os prefeitos das cidades circunvizinhas e, principalmente, nas cidades litorâneas. Já neste final de semana filas quilométricas começaram a se formar na descida para as praias do litoral. Prefeitos dessas cidades endureceram as medidas, mas como deter uma multidão?

Alguns atos praticados pelos negacionistas beiram a barbárie. De sexta (26) para sábado (27) turistas destruíram barreiras que foram instaladas com a finalidade de dificultar o acesso às praias de Maresias, Juquehy, e Camburi, que ficam localizadas em São Sebastião, litoral norte de São Paulo.

São Sebastião é apenas uma das cidades litorâneas que receberam uma enxurrada de turistas após a decretação dos feriados em São Paulo. Felipe Augusto (PSDB), prefeito de São Sebastião fez um desabafo através das redes sociais: Ele disse que a cidade já não tem mais condições de internar pessoas por falta de insumos, e acrescentou: “Fique na sua casa, não venha ao litoral norte neste momento. Nós dependemos, sim, do turismo, mas nesse momento nós dependemos da saúde. Precisamos evitar o colapso ainda maior”.

E é bom lembrar que os bárbaros negacionistas não são pessoas analfabetas e pobres. Para ter casa naquela região do litoral precisa ter muito dinheiro. Ou seja, dinheiro e conhecimento esses bárbaros que destruíram as barreiras sanitárias em São Sebastião tem, o que eles não tem é empatia, isto é, a capacidade de se colocar no lugar do outro. Também não possuem nenhuma vontade de ajudar o país a sair dessa crise sanitária imensa em que nos encontramos. Atitudes como essas representam uma grande pobreza de alma e de coração.

Esses endinheirados apenas querem mostrar que podem, que ninguém impede o direito deles de ir e vir. E aqui há bastante semelhança com o que prega o presidente Jair Bolsonaro que chama os prefeitos e governadores de tiranos quando eles tentam adotar medidas sanitárias e restritivas mais severas. É nisso que dá. Os seguidores do presidente seguem as ordens dele à risca.

Bastante controversa então essa decisão do prefeito de São Paulo. Dar feriado para as pessoas ficarem em casa. Elas não ficam em casa e vão aproveitar esses dias no litoral, para levam o vírus, e de lá trazem mais vírus.

Enquanto alguns brincam de roleta russa, o vírus vai se alastrando pelo país, de forma cada vez mais mortífera e alarmante, de forma até então nunca vista. Tornando o país celeiro de novas variantes do vírus, que podem se tornar ainda mais letal. Há quase dois meses o país bate recorde diários de novos casos de Covid-19 e de número de mortos pela doença.

No país já são, até agora, 310.694 mil mortos, e 12.489.232 os casos registrados desde o início da pandemia. Na quarta-feira, 24, o Brasil atingiu a triste marca de 300 mil mortos pela Covid-19. Para se ter uma ideia do descontrole da pandemia, em apenas 28 dias o Brasil registrou 50.000 mil mortes. De quarta-feira para cá, ou seja, em apenas em apenas 04 dias o país registrou mais 9.607 mortes.

Em alguns dias da semana, já alcançamos a marca dos 3.000 mortos por dia. Os especialistas dizem que podemos bater a marca dos 5.000 mortos por dia. E não estamos longe disso. O mais assustador, é que, além do número de mortos, também aumenta, de forma vertiginosa, o número de pessoas contaminadas pela doença.

Emoldurando o cenário desta tragédia, o país enfrenta um quadro de UTIs quase lotadas, em algumas cidades isso já aconteceu. Há também o risco de falta de insumos para serem usados na intubação de pacientes e, até mesmo, risco de falta de oxigênio, à exemplo do que aconteceu em Manaus.

A verdade é que o coronavírus encontrou no Brasil um ninho perfeito para reproduzir-se, multiplicar-se, e por sua vez, dá origem a novas variantes mais transmissíveis e mais letais.

Tudo isso nos lembra as palavras de Jesus, no evangelho de Lucas 17: 26-29.

E, como aconteceu nos dias de Noé, assim será também nos dias do Filho do homem. Comiam, bebiam, casavam, e davam-se em casamento, até ao dia em que Noé entrou na arca, e veio o dilúvio, e os consumiu a todos. Como também da mesma maneira aconteceu nos dias de Ló: Comiam, bebiam, compravam, vendiam, plantavam e edificavam; mas no dia em que Ló saiu de Sodoma choveu do céu fogo e enxofre, e os consumiu a todos

Assim agem os tolos negacionistas. O dilúvio já chegou. Do céu chove foge e enxofre sobre o país. E eles estão sorrindo, negando, fazendo carreatas e manifestações por todo o país contra as medidas sanitárias, contra os fechamentos e lockdonws, fazendo festas clandestinas, correndo para se aglomerarem nas praias, e jogando pedras nos profissionais de saúde, que já estão exaustos de uma rotina estafante que parece não ter fim.


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O Brasil na UTI

Posted by Cottidianos on 18:14

 Domingo, 14 de março


A semana que passou foi uma semana bastante movimentada no cenário político brasileiro. O ministro, Luiz Edson Fachin, do Supremo Tribunal Federal, anulou as provas contra o presidente Luís Inácio Lula da Silva. Houve então grande rebuliço no meio político. Nas redes sociais, nem se fala.

O importante é que nas atuais circunstâncias, Lula se torna elegível. E isso bagunça todo o cenário político pensado até agora para as eleições de 2022. De novo a polarização. Deveria haver nisso tudo uma terceira via. Mas a oposição nunca conseguiu emplacar um nome que fizesse frente a Jair Bolsonaro. E, ironia do destino, Lula pode ser esse nome.

Observem que Lula anda dizendo por aí que está livre completamente, o que não é verdade. Fachin anulou os processos que corriam na vara de Curitiba, mas não anulou as provas. E no meio desse caldeirão todo, ainda tem o julgamento da suspeição do ex-juiz Sérgio Moro, já iniciado no Supremo e paralisado porque o ministro Kassio Nunes Marques pediu vistas do processo, ficando dessa forma o processo sem data para acontecer, dependendo apenas de quem pediu vistas para que haja uma retomada do julgamento.

Enfim, ainda tem muita água para rolar debaixo dessa ponte. Apesar da decisão de Fachin ser muito importante para o futuro político do país, e da balburdia que ela provocou, não vou falar disso nessa postagem. Há algo mais importante, mais urgente, e que tem consumido e preocupado grande parte da sociedade brasileira: o avanço do coronavírus no país. Chega a ser assustador.

 Estamos à beira de um colapso. Em alguns lugares ele já aconteceu. E vivendo todo esse drama ainda temos que ouvir as vozes que se levantam contra as medidas para conter a doença, inclusive, por parte de Jair Bolsonaro, aquele que deveria abraçar a causa junto com todos; governadores, prefeitos, e população brasileira.

Já que entramos no assunto. Falemos de Bolsonaristas de carteirinha.

No final do ano passado, o deputado estadual Silvio Antônio Fávero, do PSL, de Mato Grosso, apresentou na Assembleia Legislativa daquele estado, um projeto de lei que desobrigava os cidadãos mato-grossenses de serem imunizados contra a Covid-19.

Segundo o próprio parlamentar, o objetivo da lei seria assegurar aos cidadãos e cidadãs daquele estado o direito ou não de se vacinarem. Ele disse ainda na ocasião que e acreditava haver muita insegurança quanto a eficácia da vacina, e que ela podia, inclusive, por a vida dos cidadãos em risco.

O pensamento de Fávero estava em consonância com o pensamento do presidente, Jair Bolsonaro, que chegou, em algumas ocasiões, a fazer campanha contra a vacina, e dizer que a vacina não deveria ser obrigatória e que, ele mesmo, não tomaria a vacina. Insinuou até que quem tomasse a vacina poderia virar jacaré.

As ideia do deputado estadual mato-grossense, seguiam na contra mão do discurso da ciência de que é preciso haver uma imunização em massa para diminuir os riscos de infecção, e evitar a superlotação dos leitos de UTI, e frear o avanço da doença.

Ainda no ano passado, em 29 de junho, Fávaro chegou a usar do recurso das fake news em um discurso que fez na Assembleia Legislativa. O deputado falava sobre a entrega do “kit-covid” no estado, quando afirmou: “Vocês sabem quanto ganha a prefeitura por cada morte? 19 mil reais. Para morte, 19 mil reais. Ninguém morre mais de nada, de câncer, acabou, a única doença é a Covid.”

A legenda do vídeo ressalta a afirmação do parlamentar, ao dizer que cada óbito no Brasil notificado como Covid significa “dinheiro vivo”, em uma clara insinuação de que as secretarias de Saúde dos estados estavam inflando o número de mortos por Covid-19 para assim receber mais dinheiro. Posteriormente, o vídeo também foi publicado na conta do Instagram do deputado.

O próprio Ministério da Saúde chegou a desmentir o fato de que, para cada morte, as prefeituras recebem 19 mil reais. O critério usado pelo Ministério da Saúde para a distribuição de recursos para o combate à pandemia é feito de acordo com a proporção do número de habitantes de cada estado. O órgão também leva em conta que os municípios que já investem em recurso para situações de média e alta complexidade tem direito a uma parcela mensal extra.

Seguindo a cartilha do presidente, Fávaro também era crítico das medidas de isolamento social, e um defensor das medicações sem eficácia comprovada contra a Covid, como por exemplo, a cloroquina, tão amplamente divulgada e aconselhada pelo Dr. Jair Bolsonaro.

Na tarde deste sábado, 13, o deputado Silvio Antônio Fávero, PSL-MT, faleceu em Cuiabá, vítima da Covid-19. Ele estava internado desde o dia 04 deste mês com complicações pulmonares em decorrência da doença. Na madrugada de sexta para sábado, o quadro de saúde dele se agravou, provocando infecção generalizada, e o consequente óbito.

Este blog cita o caso do deputado Silvio Favaro porque acredita que o caso seja apenas mais um, dentre os milhares de bolsonaristas que perderam a vida, por alinhar-se ao pensamento do presidente. E por não acreditar nas medidas de distanciamento social, e até mesmo se revoltarem contra elas, por não acreditarem na eficácia das máscaras, na eficácia das vacinas, por procurarem aglomerações, eles se tornam vítimas e presas fáceis de um inimigo mortal e ainda desconhecido pela ciência: o coronavírus.

Eles se consideram invencíveis e saem por aí a desafiar o perigo, sem mesmo se dar conta de que seguem um comandante que empurra os seus comandados diretamente para os braços de um inimigo impiedoso,

Em seu comentário na rádio CBN, na quinta-feira, 11 de março, a jornalista Miriam Leitão, refletindo sobre a qualidade da liderança e os malefícios do negacionismo, diz:

Qualquer que seja o governante, ele seja de direita, Netanyahu (Benjamin Netanyahu, primeiro ministro de Israel), seja de esquerda como a Jacinda Arden, (primeira ministra da Nova Zelândia), seja de centro-esquerda como Justin Trudeau (primeiro-ministro) no Canadá, seja de centro-direita, como a Angela Merkel(chanceler Federal) na Alemanha, ou Boris Johnson (primeiro ministro do Reino Unido), que é de direita, o importante não é ser de esquerda ou de direita, isso não é uma discussão nesse momento, o importante é não ser negacionista.

E por que que o negacionismo mata? Ele mata por um motivo concreto: quem nega um problema não se prepara pra ele. E foi o que se viu no Brasil cheio de improvisos. O tempo todo é improviso. Não tem coordenação, nunca houve. Agora os estados estão desesperadamente se organizando, indo pro Congresso pra daí sair uma pressão para que o governo faça uma coisa objetiva...

Então quando você nega um problema você não se esforça para combate-lo. A falta de esforço para comprar no ano passado as vacinas foi resultado do negacionismo. O presidente Bolsonaro deu o exemplo contrário do que um líder responsável tem que dar o tempo todo. Ele com atos e palavras ofendeu os vivos, com palavras ele ofendeu os mortos, e com falhas e os erros da sua ação governamental ele feriu o país, ele feriu a economia, ele feriu a sociedade. Então nós estamos numa situação muito dramática. Por que? Qual o centro disso? É exatamente o negacionismo. Ele não é apenas uma palavra. Ele significa uma atitude, e atitude errada que nos expõe a mais mortes.

Nós erramos enquanto país, e continuamos errando, em grande parte, como diz Miriam Leitão, por causa desse maldito negacionismo. Por exemplo, quando o governador de São Paulo, Joao Dória, decretou que o estado entraria na fase vermelha no sábado, dia 06, no dia 05, sexta-feira, os caminhoneiros fizeram um protesto, claramente um ato político, contra as medidas de restrição. Enfileiram dezenas de caminhões na marginal Tietê, uma das mais movimentadas da capital paulista. As medidas de restrição foram adotadas por causa do alto número de lotação nas UTIs do estado.

A medida não adiantou muito e, na segunda, 15, começa em São Paulo uma fase emergencial ainda mais restritiva.

Enfim, mesmo vendo o drama que o estado atravessa os caminhoneiros, categoria parceira do governo, resolveram protestar contra uma medida que impedirá a aceleração da transmissão da doença.

Prefeitos bolsonaristas ignoram a situação grave que as suas cidades apresentam. Por exemplo, a prefeita de Bauru, cidade de 380 mil habitantes, localizada a 330 km de São Paulo, também resolveu ignorar a fase vermelha decreta por Dória. E a situação por lá não estava bem tranquila não. Em 06 de março, Bauru tinha uma das situações mais graves em relação a Covid no estado.

Outros erros cometidos que são difíceis de entender, e que também provocam muitas reclamações por parte dos brasileiros, é o transporte coletivo. Os usuários do transporte público, para ir ao trabalho, tem que enfrentar, todos os dias, conduções lotadas, seja nos ônibus, trens, ou metrôs. Espremidos dentro dos transportes públicos, como manter o distanciamento social num espaço tão pequeno e com tanta gente? Em um momento em que as empresas que administram o transporte público deveriam colocar mais ônibus em circulação, algumas delas simplesmente retiraram alguns ônibus de circulação.

O poder público também deveria agir sobre elas e cobrar mais responsabilidade, mas, misteriosamente, essas empresas nunca entram em nenhum decreto para reduzir o distanciamento social.

Os cartolas do futebol também não estão se importando muito com o agravamento da pandemia. O futebol foi suspenso em alguns estados, outros não. Em São Paulo, os cartolas estão muito bravos com o governador por que ele incluiu o esporte na lista das atividades que estão suspensas. Em Belo Horizonte, por exemplo, o prefeito, Alexandre Kalil, decretou medidas restritivas, mas o futebol e outras modalidades esportivas ficaram de fora.

Também tem a irresponsabilidade dos jovens que continuam a fazer as festas clandestinas. Em várias cidades brasileiras, a polícia está tendo trabalho para evitar que elas aconteçam. Algumas são denunciadas e chegam ao conhecimento da lei. E as que não chegam ao conhecimento das autoridades?

O mau exemplo vem também de quem deveria dar bom exemplo. Na madrugada deste domingo, 14, a polícia recebeu denúncias de que estava havendo uma festa clandestina em um cassino, na Vila Olímpia, Zona Sul de São Paulo. A polícia foi até lá e encontrou mais de 200 pessoas no local. Não era exatamente uma festa, mas um cassino clandestino.

No local, a polícia encontrou o ídolo do flamengo, Gabriel Barbosa, o Gabi Gol, atleta do Flamengo, e o funkeiro MC Gui. Gabi Gol estava escondido debaixo de uma das mesas do estabelecimento.

A irresponsabilidade de Gabi Gol tornar-se ainda mais inconsequente quando a gente pensa que ela acontece às vésperas da reapresentação do grupo principal do Flamengo. Os jogadores do Fla ganharam um período maior de descanso após a conquista do Campeonato Brasileiro. Obviamente, não apenas Gabi Gol é irresponsável, mas todos que organiza e quem participa desses eventos". O Flamengo não deve se calar diante da irresponsabilidade do seu jogador diante de um quadro de saúde pública tão grave. Não deve passar a mão na cabeça dele, mas dar-lhe, pelo menos, punição.

A gente não pode analisar do ponto de vista individual. Para a polícia, a gente não trabalha com um nome. Eu não decido quem vai ser alvo da nossa repreensão. Para mim, todos são iguais ali e devem ser responsabilizados na medida das suas condutas, na medida do que fizeram. Na verdade é que o que causa espanto é que, novamente no meio de uma situação da humanidade, dessa pandemia, com gente morrendo, falta de leito no hospital, alguns desfrutam da vida como se nada tivesse acontecido”, disse Eduardo Brotero, delegado de polícia e supervisor do GARRA (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos)/Deic.

                            Manifestantes protestam contra medidas restritivas no Rio



Os médicos e enfermeiros de Brasília, como os de todo o país, tem tido muito trabalho nas últimas semana. Aliás, esses profissionais estão no limite da exaustão desde o início da pandemia. Na capital federal, a taxa de ocupação de leitos de UTI está acima de 95%. Mesmo assim, um grupo de manifestantes saiu em carreata pelas ruas de Brasília.

Eles defendiam o presidente Jair Bolsonaro, e protestavam contra as medidas de restrição para conter o avanço da Covid-19, impostas pelo governador Ibaneis Rocha (MDB). Os manifestantes também dirigiram suas críticas aos ministros do STF, e pediam intervenção militar, o que é inconstitucional. Dentre as centenas de manifestantes, poucas eram os que usavam máscaras.

Além de Brasília, houve protestos também outras capitais: Campo Grande (MT), Belo Horizonte (MG), Belém (PA), Rio de Janeiro (RJ), São Paulo; Rio de Janeiro, Bahia; e Rio Grande do Sul.

Claro que essas manifestações não surgem do nada. Eles tem uma origem e uma motivação. E origem e motivação nesse caso, parece vir do negacionista-mor: de novo ele, o presidente Jair Bolsonaro.

Essa semana, em meio aos caos vivido pelos estados brasileiros, e com os governadores em desespero, vendo os seus sistemas de saúde à beira de um colapso, e tentando encontrar uma solução, eis que o presidente resolve voltar sua metralhadora, novamente, contra eles. O presidente disse que as medidas de restrição são uma privação de liberdade para o povo.

O que mais a gente tem de sagrado é a nossa liberdade. O pessoal não está dando bola... Parte da imprensa deturpou quando eu falei como é fácil impor uma ditadura no Brasil. E isso foi no ano passado que eu falei, naquela sessão que vazou lá... Pessoal vai devagar, devagar, tirando seus meios, tirando suas esperanças, tirando teu ganha pão, você passa a ser obrigado a ser sustentado pelo Estado”, disse ele. Se o coronavírus nos dá um frio na espinha, a fala do presidente tem o mesmo efeito, além de provocar também indignação.

Quando se referiu ao toque de recolher imposto por Ibaneis Rocha, o presidente disse se tratar de uma medida de estado de sítio que só ele poderia adotar, e ainda assim, com o consentimento do Congresso. O que não é verdade. Há uma enorme diferença entre a decretação de estado de sítio e adoção de medidas de restrição em prol da saúde da população.

Apenas lembrando aos leitores e leitoras que o Distrito Federal está à beira de um colapso em seu sistema de saúde.

Então, se não há uma liderança unificada na condução da pandemia, a população fica confusa, principalmente a parte da população que se alimenta de fake news. Eles ficam sem saber em quem acreditar. Não deveriam, pois a realidade cruel salta aos olhos. É fácil ver que está com a razão, e quem não está. Trazendo as coisas para o plano ideológico, como tanto gosta o presidente, é fácil ver, nessa guerra, quem é do bem e quem é do mal.

E aqui eu volto ao comentário da Miriam Leitão. Miriam fala sobre a qualidade de liderança. Ela diz que isso faz uma enorme diferença, e cita também o que acontece nos Estados Unidos, com a condução de Joe Biden no combate à pandemia. As coisas por lá parecem estar mudando da água para o vinho. Bastou apenas atitude e vontade política.

Antes os americanos também tinham um governo negacionista e estavam mergulhados no caos. Então chegou Joe Biden acreditando na ciência, incentivando seus governados a obedecer as medidas sanitárias, apresentando pacote de estímulo à economia, e estabelecendo metas.

A principal delas, no meu entender, é essa de querer todos americanos vacinados até 04 de Julho, data significativa para os americanos. Na quinta-feira, 11, dia em que fez um ano em que a OMS decretou pandemia, Biden fez um pronunciamento à nação no qual alertava para as novas variantes e a importância da imunização. “Se fizermos tudo isso, se fizermos a nossa parte, se fizermos isso juntos, até 4 de julho há uma boa chance de vocês, suas famílias e amigos poderem se reunir no seu quintal ou no seu bairro e fazer um churrasco e comemorar o Dia da Independência. Isso não significa grandes [fazer] eventos com muitas pessoas juntas, mas significa que pequenos grupos poderão se reunir após este ano longo e difícil que tornará este Dia da Independência algo verdadeiramente especial”. Assim age um estadista: Incentivando o seu povo e guiando para caminhos mais seguros.

Pelo andar da carruagem, os americanos vão descobrir, mais cedo do que pensavam, que fizeram a melhor escolha. Espero que os negacionistas de lá saiam das trevas da ignorância e venha para o mundo da luz do bom senso e colaborem com os esforços de Biden nessa luta terrível contra o coronavírus. Afinal, essa não é a luta de um presidente, mas a luta de toda uma nação.

Por aqui, seguimos com um homem que não tem a menor vocação para ser presidente da República, e que ocupa a cadeira presidencial por mera força das circunstâncias. Um presidente que não governa para seu povo, mas para seus apoiadores.

Que bom seria se os negacionistas daqui percebessem o abismo para o qual caminham. Alguns já despertaram dessa letargia, é verdade, mas pelas carreatas de apoio ao presidente, neste domingo, contra as medidas de restrição adotadas pelos governadores, críticas ao STF, e pedidos de intervenção militar, vimos que muitos ainda permanecem no reino das trevas da ignorância.

Enquanto isso, o coronavírus continua sua escalada mortal no país, na quinta-feira, 11, o Brasil registrou 2.349 mortes por Covid em 24 horas. E tem sido assim há mais de um mês: o país tem batido recorde atrás de recorde na média móvel de mortes e no número de pessoas contaminadas. É triste ver que, devido a superlotação nas UTIs brasileiras, muita gente pode morrer por falta de assistência médica, o que é ainda mais triste.

Apenas dois remédios farão o país sair do abismo para o qual caminha: distanciamento social e vacinação já: dois remédios odiados pelo presidente.

Os governadores, tal qual filhos órfãos de pai, na ausência de uma coordenação nacional nessa luta estão se virando como podem para resolver o problema da falta de leitos, e a compra de vacinas. A vacinação avança muito lentamente, não por culpa dos governadores, e sim, por absoluta inércia do governo federal que não tomou, com antecedência, as medidas e iniciativas que poderiam estar salvando muitas vidas hoje.

Para finalizar, recupero trecho da fala de Eduardo Brotero, delegado de polícia e supervisor do GARRA (Grupo Armado de Repressão a Roubos e Assaltos)/Deic, citada neste texto. Fala essa que, tanto vale para as pessoas que frequentam festas ou cassinos clandestinos, como para aquelas que ignoram as regras sociais, ou para os políticos bolsonaristas, e até mesmo para o próprio presidente: “Na verdade é que o que causa espanto é que, novamente no meio de uma situação da humanidade, dessa pandemia, com gente morrendo, falta de leito no hospital, alguns desfrutam da vida como se nada tivesse acontecido”, diz o delegado.

Já havia finalizado este artigo, mas não poderia deixar de comentar uma notícia de última hora.

Finalmente, o presidente Jair Bolsonaro vai trocar o comando do Ministério da Saúde. Segundo informaram assessores do presidente, o general Eduardo Pazuello comunicou ao presidente que está enfrentando problemas de saúde, e pediu para deixar o cargo. Coincidentemente, esse pedido de afastamento do ministro da Saúde, coincide com a pressão de políticos do Centrão para que o general deixe a pasta. Eles alegam má condução da crise por parte de Pazuello. Aliás, não apenas o Centrão, mas os secretários estaduais de Saúde já fizeram a mesma afirmação.

Isso mudará alguma coisa? Provavelmente, não. Uma vez que Pazuello não tinha voz ativa apenas obedecia ordens de Bolsonaro. E, o presidente, pelo que se conhece dele, não vai mudar suas ideias tortas apenas porque se trocou um ministro da Saúde. Em meio à pandemia já são três os ministros que passaram pela pasta, Luiz Henrique Mandetta, Nelson Teich, e agora, Eduardo Pazuello. Dois médicos e um general do Exército.


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Coronavírus 7 x Brasil 1: Um jogo de vida ou morte

Posted by Cottidianos on 09:16

 Sexta-feira, 05 de março de 2021

 


Era tarde de terça-feira, 08 de julho de 2014. Naquela fatídica tarde eu estava reunido na casa de uns amigos na maior expectativa: iriamos assistir a primeira semifinal da Copa do Mundo entre Brasil e Alemanha. Estávamos confiantes. Brasileiro é assim, mesmo que o time não tenha evoluído bem no campeonato, a esperança de vitória está sempre lá nas alturas.

O palco da grande disputa entre dois gigantes do futebol seria no estádio Mineirão, em Belo Horizonte, Minas Gerais. O relógio marcou 17 horas, e o juiz apitou o início da partida. E nós ali: olhos grudados na telinha.

Querendo ou não, apesar das críticas, Neymar era o melhor jogador daquela geração. Mas infelizmente, ele não pode estar em campo. Havia fraturado a vertebra em um jogo das quartas de final contra a Colômbia, quando o colombiano Zuñiga, com uma joelhada, lhe fraturou a terceira vertebra lombar.

O técnico, Luiz Felipe Scolari, havia escalado Bernard para substituir Neymar naquele jogo. Bernard era o menor e mais novo jogador da equipe. Logo se viu que a escolha de Scolari havia sido equivocada. Não que a tragédia que se viu em campo deva ser colocada nos ombros de Bernard. A equipe brasileira esteve fragilizada durante toda a competição. Não apresentou um futebol convincente. Misturaram-se numa mesma equipe ingredientes que fazem qualquer bolo murchar: despreparo técnico, tático e emocional.

Mesmo assim, a torcida brasileira dava um espetáculo à parte de amor ao país e incentivo à seleção. A Fifa determinava um certo tempo para a execução dos hinos, o que dava para executar somente a metade da letra do hino brasileiro, porém, a torcida não respeitava essa regra, e cantava a plenos pulmões mesmo quando parava a execução proposta pela Fifa. Nos estádios, cantava-se à capela, no gogó, como diz o ditado popular. Um espetáculo tão belo que impressionou até os adversários alemães. Mas esse entusiasmo todo parou por aí.

O que se viu assim que a bola começou a rolar foi um verdadeiro massacre. Em apenas 18 minutos, a Alemanha fez cinco gols. Os gols saídos dos pés de Müller, Klose, Kroos, e Khedira, calaram os torcedores no Mineirão e calaram também aos que assistiam o jogo nas telinhas do Brasil afora. Igualmente, no estádios e fora dele, as lágrimas corriam pelos olhos dos brasileiros, discretamente, ou não.

E os gols não pararam por aí. Schürrle fez mais dois gols.

Restou a Oscar fazer o chamado gol de honra do Brasil.

A impressão que ficou foi a de que os Alemães, como uma máquina de guerra mortífera, poderiam ter destruído completamente o Brasil, fazendo muito mais gols, mas preferiram parar nos 7.

Um misto de tristeza e vergonha se abateu sobre os torcedores brasileiros após aquele jogo. Ao final daquele jogo, os alemães foram bastante aplaudidos pela torcida brasileira pelo espetáculo de futebol que mostraram, mesmo massacrando a seleção brasileira.

Depois dos aplausos aos alemães, só restou aos brasileiros silêncio e lágrimas. Havíamos perdido o jogo contra a Alemanha de uma maneira vergonhosa. Nós que éramos acostumados a vitórias.



Ontem, pela manhã, quinta-feira, 04 de março, acordei com a mesma sensação que tive depois daquele jogo. Uma sensação de tristeza no peito, uma angústia. Sentimentos esses que tive ao ver os jornais e sites noticiarem que, no dia anterior, o Brasil registrara mais um recorde. Aliás, o que mais temos feito nesses últimos dias é bater recordes. É bom bater recordes quando eles são positivos, o que não é o caso nesse momento.

Apenas em 24 horas o país registrou 1.840 mortes por Covid-19. Hoje, data em que escrevo este artigo, o país chega a uma soma total de 261.188 mortos pela doença. Desde o início da pandemia já são 10.796.506 casos. O horizonte é sombrio.

O país apresenta uma média móvel de mortes altíssima: 1.331. Um aumento de 30% comparado a 14 dias atrás. Esses números apenas indica uma tendência de alta no número de mortes por Covid.

O povo brasileiro vive uma agonia. É o pior momento da pandemia desde que o primeiro caso foi detectado no Brasil. Já são 43 dias com a média móvel de mortes acima de 1.000. No início da pandemia, e nos meses subsequentes, havia um certo equilíbrio, quando um estado apresentava uma tendência de alta, outros estavam com suas curvas baixando, e assim, apesar de não termos nos livrado desse tormento, dava-se para se ter uma certa “tranquilidade”, pois, se as coisas ficasse complicadas demais, um estado, uma cidade, ou um munícipio poderia socorrer o outro.

Agora, não todos os estados apresentam tendência de alta e estão com seus leitos de UTI lotados ou quase. O país está à beira de um caos total. O pessoal da linha de frente, médicos e enfermeiras que já estavam exaustos das lutas sobre-humanas contra um vírus desconhecido que a todos pegou de surpresa, estão tendo que transcender a todo esse cansaço e começar tudo de novo. Heróis. Verdadeiros heróis. A eles os nossos aplausos.

Enquanto o mundo, de forma geral, apresenta tendência de queda no número de casos e mortes por Covid-19, o Brasil vai na contramão. Enquanto a pandemia, graças a aplicação das vacinas, desacelera mundo afora, aqui no país, ela acelera, e não acelera na planície, quando ainda, apesar do perigo, é mais fácil dominar o veículo. A pandemia aqui acelera estando o carro ladeira abaixo.

Perante o mundo, estamos no topo como exemplo negativo de como não se deve agir no combate a uma pandemia. Fomos e continuamos sendo um dos países mais afetados pela doença. Não bastasse apenas o coronavírus, ainda temos que lidar com variantes mais perigosas e mais transmissíveis do vírus como por exemplo a P1, surgida em Manaus. A variante se espalha rapidamente por todas as regiões brasileiras provocando o estrago que temos visto nas últimas semanas. Lembrando também que não apenas a P1 é causadora de tudo isso, mas também as festas clandestinas que foram realizadas nas festas de fim de ano, e também no carnaval.

Não apenas no Brasil, mas a P1 já ultrapassou fronteiras e já foi detectada em mais de 20 países.

Esse avanço da pandemia e a celeridade com que o vírus tem se alastrado nas últimas semanas preocupa não apenas o Brasil, mas também as autoridades de saúde de todo o mundo. Já éramos considerados um paria perante a comunidade internacional. Agora somos visto como ameaça global. Isso porque a grave situação em que nos encontramos, com alta no número de casos e de mortes, e o sistema de saúde de todo o país à beira de um colapso, todo esse cenário pode favorecer o surgimento de novas variantes do coronavírus que sejam mais letais, além de serem mais transmissíveis.

Veículos de comunicação de todo o mundo tem noticiado a gravidade da situação no país. “De que adianta resolver a pandemia na Europa ou nos EUA, se o Brasil continua a ser um terreno fértil para esse vírus? Se você permitir que o vírus seja transmitido nos níveis em que está se proliferando aqui, você abre a porta para a ocorrência de novas mutações e o aparecimento de variantes ainda mais letais”, disse Miguel Nicolelis, neurocientista da Universidade de Duke, EUA. Até o mês anterior, Nicolelis fazia parte da coordenação do Comitê Cientifico do Consórcio do Nordeste para a Covid-19. O neurocientista cobra das autoridades internacionais que se manifestem sobre a incompetência do governo brasileiro em lidar com a pandemia.

Por falar em governo, ele está super preocupado com tudo isso que está acontecendo. Para vocês terem uma ideia, na terça-feira, 02, dia em que o Brasil registrou 1.726 mortes por Covid-19, o presidente fez um banquete e para ele convidou os deputados da bancada mineira. Segundo participantes da festa, o governador de Minas, Romeu Zema (Novo-MG), também esteve presente.

O banquete aconteceu no Palácio da Alvorada, que é residencial oficial do presidente da República. Tudo de muito bom gosto, e muito apetitoso também. Um cardápio bem regional à base de leitão assado, linguiça caseira, feijão tropeiro, e carne moída com quiabo. Para o comando do preparo da refeição, o presidente escolheu o deputado Fábio Ramalho (MDB-MG). Os participantes do encontro também relataram que o presidente mostrava ar alegre e descontraído. Uso de máscara, álcool gel, e distanciamento social? Nenhum. Essas coisas ficam para nós pobres mortais, ou como diz o próprio presidente: “para os fracos”.

Enquanto isso, desesperados, os governadores se reunia com o presidente da Câmara, Arthur Lira (PP-AL) para tentar encontrar uma solução para o qual está mergulhado o país, com unidades de UTI superlotadas, e pessoas morrendo de Covid a cada minuto. Oito deles estava presencialmente e 14 online. No mesmo dia, e seguindo a mesma linha, o governador de São Paulo, João Dória (PSDB-SP), fazia uma reunião virtual com 618 prefeitos para discutir que medidas adotar no controle da pandemia feroz.

Sabendo da birra do presidente com os governadores, e isso é uma especulação desse blog, quem sabe se esse almoço festivo com aliados no Palácio do Planalto não terá sido uma forma de o presidente dizer a eles: “Tô nem aí”.

Reparem os caros leitores e leitoras, que em nenhum momento durante essa terrível peste que se alastrou sobre a terra, e com grandes estragos no Brasil, inclusive tendo vitimado milhares de brasileiros, em nenhum momento, e quando digo, é nenhum mesmos, o presidente mostrou uma caraterística comum a todo ser humano diante da dor e do sofrimento do outro: compaixão. Procurem para ver se encontram alguma fala do presidente lamentando a vida daqueles que partiram e tentando conforta os familiares que ficaram chorando a perda do ente, ou dos entes queridos. Certamente não encontrarão pois não houve esse ato de humanidade por parte dele.

Nos últimos dias, os de maior sofrimento para o povo brasileiro em todo o decorrer da pandemia, o presidente vem criticando as medidas adotadas pelos governadores. Na quarta-feira, 3, o presidente disse: “Se você ler a imprensa, você não consegue viver. Cancelei, desde o ano passado, todas as assinaturas de jornais e revistas. Ministro que quiser ler jornal e revista vai ter que comprar. Não leio mais. Não vejo Jornal Nacional, não assisto, que é a maneira que você tem de realmente pensar em coisa séria no País. Criaram pânico, né? Problema tá aí, lamentamos, mas você não pode entrar em pânico. Que nem a política, de novo, do ‘fica em casa’. Pessoal vai morrer de fome? De depressão?”

O discurso de Bolsonaro vai sempre na direção da defesa da economia. Todos nós sofremos ao ver negócios fechando constantemente no Brasil. É mais das causas de sofrimento que a pandemia provoca. Mas qual economia se sustenta escolhendo um caminho de morte? A economia é importante? Sem dúvida que é. Mas primeiro é preciso cuidar da vida daqueles que, com o suor do trabalho farão ela girar. E pelo que sabemos os mortos não podem fazer girar qualquer coisa, muito menos a economia.

No dia 26 do mês passado, durante uma visita às obras de duplicação da BR-222 ele já havia declarado: “O auxílio emergencial vem por mais alguns meses e daqui para frente o governador que fechar seu Estado, o governador que destrói emprego, ele é que deve bancar o auxílio emergencial. Não pode continuar fazendo política e jogar para o colo do presidente da República essa responsabilidade”.

Nesta quinta-feira, 4, dia em que o Brasil bate mais um recorde de mortos pela Covid, o presidente solta mais uma barbaridade, dessas que doem fundo na alma de que está sofrendo com tudo isso.

Dessa vez foi por ocasião de uma visita dele a cidade de São Simão, em Goiás: “Nós temos que enfrentar os nossos problemas, chega de frescura e de mimimi. Vão ficar chorando até quando? Temos de enfrentar os problemas. Respeitar, obviamente, os mais idosos, aqueles que têm doenças, comorbidades, mas onde vai parar o Brasil se nós pararmos?”

Ou seja, o presidente acha que é frescura e mimimi o choro sentido das famílias e dos amigos dos quase 260.000 mil brasileiros e brasileiras que tombaram vítimas da Covid-19. Para ele é frescura a preocupação dos governadores que estão vendo seus governados sofrerem agonias por falta de leitos, e de oxigênio, como ocorreu em Manaus.

Ainda no dia de hoje, em mais uma fala do presidente contra o isolamento social ele disse em uma rede social: “Atividade essencial é toda aquela necessária para um chefe de família levar o pão para dentro de casa”.

Se vocês acham que acabou as barbaridades proferidas por ele, não acabou não, tem mais. Em Uberlândia, MG, ele fez críticas a compra de vacinas pelo governo federal. “Tem idiota que a gente vê nas redes sociais, na imprensa, [dizendo] 'vai comprar vacina'. Só se for na casa da tua mãe. Não tem [vacina] para vender no mundo”.

Mais uma afronta, uma humilhação do presidente aqueles que esperam, ansiosamente, pela vacina salvadora. A questão é que o presidente nunca levou a sério a vacina. Sempre foi um crítico da vacina, inclusive da vacina produzida pelo Instituto Butantã, que graças ao esforço de João Dória, governador de São Paulo, foi o primeiro imunizante a ser utilizado em nosso país. 

Sem contar que em todas as falas do presidente, sempre traz uma fake news. Ou seja, não são falas confiáveis, a não ser para os seus seguidores. Como classificar um ser humano desses: louco, genocida, psicopata, sociopata, incompetente, insensato, insensível? Muito outros adjetivos de mesma monta poderiam ser utilizados para descrevê-los, mas fiquemos com os ditos acima.

O Brasil poderia estar bem melhor, sem viver o inferno que vive hoje, se o presidente tivesse tido a humildade de sentar na mesa com os governadores e discutir as medidas que tinham que ser tomadas quando solicitadas pelas autoridades em saúde logo no início dessa tempestade. E elas não eram coisa de outro mundo, não, falava-se naquela ocasião, e ainda se fala hoje, de distanciamento social, álcool gel, e mascaras de proteção.

Claro, houve os programas do governo que ajudaram trabalhadores e empresários durante a pandemia, mas como tudo no governo Bolsonaro, a muito custo, e, algumas vezes, de forma atabalhoada. Mas a medida que faria com que fossem poupadas muitas vidas teria sido o apoio as medidas sanitárias: a vacina, essa ficou em segundo plano nos planos do governo.

O presidente também desdenhou da vacina, ou seja, do remédio que faria com que caíssem o número de casos e de mortos. Ele, com seu ministro da Saúde de araque, não providenciaram o que tinha que providenciar no início da pandemia, como matérias para utilizar na campanha de vacinação, não negociou a compra de vacinas ainda nos meses de julho e agosto do ano passado como fizeram líderes mais competentes em outros países, e agora vem dizer que não tem vacina no mercado. Não tem por pura incompetência dele mesmo.

Por aqui, segundo apuração feita pelo consórcio de veículos de imprensa G1, O Globo, Extra, Estadão, Folha e UOL, até às 20hs de ontem, 7.671.525 pessoas haviam recebido a primeira dose da vacina, o que em porcentagem equivale a 3,62% da população. 2.463.894 receberam a segunda dose, um total de 1,16% da população. Pelo números dá pra ver que a vacinação em nosso país anda muito lentamente.

O Brasil tem capacidade de estar entre os primeiros nessa luta pela imunização. O país já foi líder em campanhas de vacinação contra outras doenças. Mas de que adianta ter condições de ser excelência em campanhas de imunização quando se tem um líder que não tem competência para aproveitar os recursos de que dispõe?

Até agora o presidente tem usado toda a sua energia para odiar adversários, na maioria das vezes, imaginários, para fazer campanha política para a reeleição, e para interferir nas instituições, ora para proteger os filhos da acusações de corrupção, ora para agradar seus seguidores.

Na questão da pandemia é como um jogo. De um lado, os brasileiros. Do outro, o coronavírus. O cenário, o Brasil. O técnico da seleção brasileira, o presidente da República. O Brasil precisa ganhar o jogo. Um técnico inteligente senta na mesa, traça planos, estratégias para vencer o jogo. Motiva os jogadores. Esse é comportamento do técnico que quer ser campeão.

O que faz um mal técnico?

Vai para o bar, senta com os amigos, e toma cerveja, enquanto o time pensa sozinho no que vai fazer para ganhar o jogo.

A questão no caso do Brasil a grande dúvida que fica é se o técnico Jair Bolsonaro não tem estratégia para vencer o jogo contra o coronavírus, ou se a estratégia dele é justamente fazer o time perder o jogo. Fica a dúvida se a intenção dele é fazer uma festa de celebração da vitória da vida, ou se é promover uma celebração da morte.

Se a gente for analisar friamente a situação desde o seu início, que foi quando o coronavírus chegou ao Brasil, e depois quando a OMS decretou o estado de pandemia, veremos que as atitudes de Jair Bolsonaro caminham sempre na direção de sabotar o jogo. Minimizar a situação. Até mesmo ignorá-la. Fazer tudo o contrário do que a OMS recomenda para ganhar a jogo contra o vírus.

Quando analisamos todos esses fatos e fatores vemos que a intenção do presidente são atitudes de um técnico que tem como estratégia perder o jogo, e perder o jogo nesse caso é algo muito grave que vai muito além de ganhar ou perder uma partida de futebol. Quando se fala em querer perder o jogo em um cenário de pandemia, significa querer, deliberadamente, deixar que pessoas morram aos milhares, é deixar que outras morram, nem tanto por causa do vírus, mas porque não havia leitos de UTI disponível, é abandonar as pessoas à própria sorte, inclusive, deixando-as morrer sufocada em camas de hospitais ou em casa porque faltou oxigênio nos tubos de oxigênio.

Quando a gente pensa que a intenção deliberada do presidente é justamente essa, então um frio nos percorre da cabeça ao pé, e a gente se pergunta o porquê. Por que tamanha crueldade? Por que tanta frieza? Qual o motivo de tanto sadismo?

Depois de um ano de pandemia, nesse jogo cruel entre humanos e vírus, só nos resta a nós brasileiros, as lágrimas, mas não o silêncio. É preciso falar, e reclamar desses governantes sádicos e loucos, descolados da realidade, e de parte da sociedade que escolheu tirar do armário a própria burrice e ignorância como forma de combater o vírus, aliando-se a ele na realização de festas clandestinas e ao desrespeito às medidas sanitárias.



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