Champagne com Covid: Uma combinação mortal
Segunda-feira, 21 de dezembro
Praia de Pipa, Rio Grande do Norte. Uma das mais belas praias do Estado. Aliás, dizer que uma praia do RN é a mais bela chega até a ser uma redundância. Lá todas as praias são lindas. Particularmente, as praias do interior são mais aconchegantes, mais charmosas, e mais selvagens, que as praias da capital, Natal. Enfim, as praias do nordeste, de modo geral, são o cenário perfeito para uma maravilhosa festa de réveillon.
E
Pipa não perdeu o rebolado. A pandemia não impediu que o munícipio de Tibal do
Sul, onde fica localizada a praia, realizasse o Let’s Pipa, tradicional festa de réveillon do munícipio.
Segundo
informações apresentadas em uma reportagem da revista Piauí, intitulada, Covid
Espumante, a festa ocorrerá numa área de 9 mil metros quadrados à beira mar,
entre falésias de 10 metros de altura. O suave murmurejar do mar continuará
ecoando como desde sempre, mas será abafado pelo som dos artistas que farão
shows ao vivo no local.
Seis
dias de muita festa com público estimado em 2.500 pessoas. 450 funcionários se
esforçarão para prestar um bom atendimento aos negacionistas fanfarrões. Gente vinda
de todas as partes do país.
Não
é festa para pobre. É festa de elite. O valor do pacote é estimado em 3.600
reais para homens, e 3.200 para mulheres. Acrescentando as despesas com
passagens áreas, hospedagem, passeios, alimentação, estima-se que os
participantes desembolsem de R$ 8 a 15 mil.
Os
organizadores dizem que nenhuma empresa quis patrocinar a festa. Nenhuma delas
quis emprestar o nome a tal evento. Alguém tinha que ter um pouco de lucidez
nesse cenário nebuloso. Eles também dizem que investiram pesado em face shield
(máscaras de acrílico), máscaras faciais comuns, e álcool gel.
Eles
afirmam também que para participar da festa é necessário ter apresentado exames
negativados para Covid-19 e que tenham sido realizados até a 72 horas antes do
dia 27 de dezembro, ou apresentação do IgG positivo que atesta imunidade até 90
dias antes das festas. Os exames terão que ser apresentados online antes do
embarque para o Rio Grande do Norte.
Um pouco mais longe, mais também no RN, o
munícipio de São Miguel do Gostoso, também resolveu arriscar e faturar algum
dinheiro com festa de réveillon. Localizada a 103 km de Natal, a praia de São
Miguel do Gostoso também não abriu mão de sua luxuosa festa de fim de ano.
Ainda
segundo informações da revisa Piauí, na programação consta shows de Tiaguinho e
Pedro Sampaio. Lá, o preço dos ingressos são ainda mais salgados que em Pipa. Custam
3.800 para mulheres e 5.150 para homens.
Também
em Gostoso a organização garante que está reforçando todas as normas de
segurança.
Agora,
imaginem os leitores como será fácil respeitar as regras de segurança contra a
Covid em uma festa que dura uma semana inteira. Aos primeiros goles de champanhe,
cerveja, ou uísque, a Covid nunca existiu.
Essas
festas são muito perigosas em um momento em que no Brasil os números de mortes
por Covid, número de casos, e transmissão da doença aumenta consideravelmente e
já começa a preocupar autoridades de todo país. Me sinto até constrangido ao
falar isso, pois sabemos que nem todas as autoridades estão preocupadas com
número de mortos, aumento de casos da doença, e muito menos com vacina.
Detalhe
interessante: nem um dos dois municípios do Rio Grande do Norte, que promoverão
suas luxuosas festas, tem leito de UTI. Os pacientes que precisam desse serviço
precisam ser transferidos para a capital.
E
as autoridades o que dizem? Quando questionada pela Piauí, a governadora do RN,
Fátima Bezerra, disse que orientou todas as cidades do estado a cancelarem suas
festas de réveillon. Mas que por determinação do STF a competência para decidir
sobre essas questão cabe a municipalidade.
Os
prefeitos das duas cidades proibiram as festas públicas, mas permitiram que as
festas privadas fossem realizadas.
Fica
a pergunta: Qual a prioridade para esses prefeitos? A saúde da população ou o
dinheiro que entrará no caixa da prefeitura com a realização desses eventos? Um
olho aberto para a economia e outro fechado para a vida de sua população.
A
questão foi parar na Justiça. O Ministério Público entrou com um pedido de
suspensão das festas. O juiz Witemburgo Gonçalves de Araújo, da comarca de
Goianinha suspendeu as festas. Porém, o desembargador Amaury Moura Sobrinho, do
Tribunal de Justiça do Rio Grande do Norte, suspendeu a decisão liminar do juiz
de Goianinha que proibia as festas. As festas estão liberadas então para
acontecerem de 27 de dezembro a 02 de janeiro.
Infelizmente,
essas aberrações não serão vistas apenas nas praias paradisíacas do Rio Grande
do Norte. Mas esses comportamentos tipo “tô nem aí” pra Covid-19 serão vistas
nas praias, parques, e onde houver espaço aberto para o lazer, em todo o país. Pois
mesmo estando proibidas e os governantes terem cancelado as grandes festas de Réveillon
que acontecem nas capitais de todo o país, os negacionistas ignorarão essas
proibições e cancelamentos e botarão o bloco da ignorância na rua.
Enquanto
isso, os números da Covid-19 no Brasil começam a aumentar e os doentes começam
a lotar as UTI’s dos hospitais públicos e privados. Dados divulgados pelo consórcio
de imprensa no domingo, 20, mostram que, mesmo sem os dados de São Paulo e Goiás,
o Brasil registrou a maior média móvel de casos confirmados pelo segundo dia
consecutivo.
47.909
diagnósticos diários da doença, em média, nos últimos sete dias, não é pouca
coisa. É para parar e pensar. Já são 7.237.350 o número de brasileiros que
tiveram diagnóstico confirmado da doença, e 186.773 óbitos desde o início da
pandemia.
Pra
terminar o ano teve luz no fim do túnel que é a vacina que já começou
efetivamente a ser aplicada em alguns países. Mas veio também um novo alerta
que é essa nova mutação do vírus detectada na Inglaterra.
Segundo
autoridades da daquele país, ela é 70% mais transmissível do que as variantes
já conhecidas do vírus. Em decorrência disso, o país que pretendia relaxar
algumas medidas de proteção nessas festas de fim ano foi obrigado a endurece-las
medidas.
No
sábado, 19, o primeiro ministro do Reino Unido, Boris Johnson, anunciou o
endurecimento das medidas restritivas em algumas regiões do país. O objetivo é
barrar o avanço da nova variante do vírus para as regiões onde ela ainda não
foi detectada. O líder britânico pediu que os habitantes das áreas atingidas
fiquem em casa, pelo menos até dia 30 de dezembro.
Enquanto
isso o barco saúde no Brasil continua sem comando, indo em direção aos recifes.
A esperança é que a mão divina e varinha de condão da ciência nos salvem de um
desastre certo.
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