Obrigado, Tom Veiga! Siga em paz.
Segunda-feira, 02 de novembro
Ele
acreditava, segundo a visão católica, que a alma dos que partiram ficavam em um
lugar chamado Purgatório, onde passavam por um processo de purificação, até
chegar, finalmente, ao Paraíso.
Acredite
você ou não nessas coisas de Purgatório e Inferno, o fato é que as orações, de
alguma forma, por algum modo inexplicável, conseguem chegar ao mundo invisível
e agir sobre àqueles aos quais foi dirigida, ajudando-os, se estiveram em
estado de tormenta, ou propiciando-lhes ainda mais bem estar se foram
agraciados com a plenitude eterna.
Por
isso, desde santos católicos a médiuns espíritas, ressalta-se a importância e a
necessidade da oração. “Continuem ligados
na prece. A oração é a chama que não se apaga com as ventanias do mundo, porque
brilha na alma, nas entranhas de nosso próprio ser”, disse o médium
espírita Chico Xavier. Por sua vez, Santo Agostinho afirmou: “A oração é chave que nos abre a porta do céu”.
***
No de ontem, domingo, 01, data na qual o universo católico celebra o Dia de Todos os Santos, estava eu a passear de bicicleta no Parque Ecológico, aqui em Campinas. Logo na entrada fui tentado por uma banca de pastéis e não resisti. Apesar de serem hipercalóricos os pastéis, quem há de resistir a eles de tão gostosos que são? Sinceramente, eu não resisti. Comprei dois e fui saboreá-los ao tronco de um antigo pé de eucalipto.
Depois
disso, sai a pedalar e, ao mesmo tempo me deliciar com a beleza do lugar. Ouvia
a brisa suave do vento que sussurrava o meu ouvido. Admirava as imponentes
árvores que, com suas galhadas erguidas para o alto, mais pareciam mãos que se
erguem aos céus em atitude suplicante.
Ao
voltar os olhos para baixo podia ver o belo tapete verde formado pela grama, no
qual se podia afundar os pés como se estivesse caminhando por um belo tapete
persa tecido pelas mãos da caprichosa mãe natureza.
Algumas
árvores tinham seus galhos cobertos por flores vermelhas, outras por flores
amarelas, outras ainda por flores brancas, todas emolduradas pelo um belíssimo céu
azul e branco. Formavam pinturas que nem mesmo o famoso pintor italiano, Rafael,
com toda sua maestria e talento não conseguiria pintar tons e paisagens iguais.
Um
bando de garças brancas aproveitava os galhos de uma árvore para descansar um
pouco. Outras preferiam ficar dentro do lago artificial que há no parque. De vez
em quando, algumas delas deslizava pelo ar em voo suave de um lugar para outro.
As
mangueiras estavam carregadas de mangas que, mesmo estando ainda verdes, eram
atacadas por alguns visitantes que enchiam sacolas com o fruto. Certamente, para
fazê-los madurar em casa, pois, verde do jeito que estavam, não eram lá muito
apetitosas.
Passando
pelas trilhas verdejantes, notei um tronco de árvore caído. Fiquei a pensar que
na natureza não existe a palavra morte. As coisas no reino da natureza não
morrem. Elas sofrem uma transformação, uma renovação. Aquele tronco caído mesmo
que estava vendo, ele foi uma grande árvore, cheia de folhas e galhos, fez
muita sombra. Talvez algum passante tenha se beneficiado dela. Mas agora estava
ali apenas um tronco se decompondo, dia a dia, para se transformar em adubo,
que, por sua vez, alimentará outras árvores e a grama rasteira que cobre o
solo.
Se
a natureza não conhece a palavra morte, e se tudo nela é sinônimo de renovação
e transformação, e se nós, humanos somos também natureza, por que nos assusta
tanto a palavra morte. Não seria ela para nós também sinônimo de transformação,
renovação? Assim como aquele velho tronco de árvore voltará novamente ao ciclo
da vida de uma outra forma, não estaríamos nós também destinados a renascer de
alguma outra forma, em algum outro lugar?
Finalizei
meu passeio naquele lugar por volta de uma hora da tarde. Estava alegre e
satisfeito, era a primeira vez que o visitava desde o início da pandemia. Primeiro
porque ele ficou fechado alguns meses por causa dela. Os parques reabriram em agosto,
mas apenas só voltei ao Parque Ecológico agora. Ele também não estava com seu
movimento caraterístico. Antes da pandemia tinha muito mais gente circulando
pelo lugar. Talvez a população campineira ainda esteja meio receosa de ir a
lugares públicos.
Já
no Parque Portugal, centenas de pessoas caminham sem máscaras pelas pistas de
caminhada em volta do Parque. Para adentrar nos parques é necessário o uso de
máscaras, mas, mesmo fora dele, as pessoas deveriam ter a consciência de que a
pandemia ainda não acabou. Enfim, assim como é difícil entender o Covid-19, é
difícil entender também alguns hábitos da população das cidades.
Já ao cair da noite, em casa, passeava pela Internet, quando me chamou a atenção a notícia de que Tom Veiga que dava vida ao papagaio Louro José havia falecido. Não quis acreditar. Achei que era notícia falsa. Mas estava na Folha de São Paulo, e a Folha não publica falsas notícias. Entrei em outros sites e todos falavam a mesma coisa.
Foi
uma notícia triste, que pegou a todos de surpresa. Principalmente a Ana Maria
Braga, que apresentava o programa junto com o Tom, melhor dizendo, com o Louro
José. Confesso que fiquei bastante tocado com a notícia. Triste mesmo.
Afinal,
tenho acompanhado o programa Mais Você, apresentando por Ana Maria Braga, tendo
a importante colaboração do papagaio Loro José, desde que o programa estreou na
Globo, em 18 de outubro de 1999.
E
era simplesmente impossível assistir a uma edição do programa sem dar umas boas
risadas com a dupla. Tom não era apenas um manipulador de bonecos. Ele dava a
vida a um personagem. Conforme afirmado por Ana Maria, o diálogo entre eles era
espontâneo, natural, não havia texto. E quem assistia ao programa percebia
isso.
Entretanto,
apesar de não haver textos ensaiados, as tiradas de humor de Tom Veiga era
rápidas, inteligentes, sagazes, certeiras. As falas do personagem tinham, ao
mesmo tempo, a ingenuidade de uma criança e a sagacidade de um adulto. “O Louro José é encrenqueiro, rabugento,
chavequeiro, galanteador, mas é muito divertido, inteligente. Às vezes, quando
eu revejo um programa, eu me pego dando risada. Eu dou risada com o Louro. O
legal na personalidade dele é que cresceu, mas continua uma grande criança”,
disse o próprio Tom Veiga em depoimento ao site Memória Globo.
E
era bem isso mesmo. Era impossível assistir a qualquer das edições do programa
sem dar umas boas risadas com o Louro José. E ter alguém que nos faça rir, nas
primeiras horas da manhã, em um mundo tão conturbado, em um Brasil tão povoado
por notícias de corrupção, assaltos aos cofres públicos, e pela brutalidade da
pessoas humana, é coisa de se admirar, apreciar, e agradecer.
Também
ouvi depoimentos de pessoas que o conheceram, de convidados que a Ana Maria levava
ao programa dizendo que o Tom tornava o ambiente mais leve. Fernanda Gentil,
por exemplo, falava hoje no Programa Encontro, programa apresentado pela Fátima
Bernardes, mas por ela estar de férias, hoje foi apresentado pela Fernanda,
junto com o André Curvello, que auxilia a Fátima na apresentação do programa,
dizia que durante a Copa do Mundo, quando ela ainda estava na editoria de
Esportes, que quando ela entrava ao vivo no Mais Você sempre ficava nervosa,
mas que quando pensava no Louro José, ficava mais tranquila, por que sabia que
ele ajudava a tornar mais leve as situações.
E
era isso mesmo. Tom Veiga, através de seu personagem, o papagaio Louro José,
tornava as nossas manhãs mais alegres, estivessem elas frias ou não, conturbadas
ou tranquilas.
O
ator foi encontrado morto em sua casa em condomínio na Barra da Tijuca, no Rio
de Janeiro. Exames necrológicos revelaram que a causa da morte foi um Acidente
Vascular Cerebral (AVC) hemorrágico, provocado por um aneurisma. Ele tinha 47
anos e seus quatro filhos sentirão imensas saudades do pai.
Ainda
na noite de domingo todos se perguntavam: E o Mais Você desta segunda, como
será? Eu, particularmente, achei que não haveria programa, ou que seria
apresentado alguma reprise.
Mas
que nada. Nove e meia da manhã. Lá estava Ana Maria Braga, apresentando o
programa. Estava destruída. “Moída por
dentro”, como disse ela. E já começou o programa se derramando em lágrimas,
emocionando-se e emocionado a todos os telespectadores. Mas era preciso prestar
essa última homenagem ao companheiro de trabalho, a quem ela tinha como filho. Mais
uma vez, a loira provou que é uma grande profissional.
Durante
o programa, Ana Maria contou que, apesar da preocupação que a produção do
programa e a direção da emissora estavam tendo com a presença dela no programa,
ela não poderia deixar de estar ali para prestar uma última homenagem ao seu
parceiro de trabalho por vinte e cinco anos.
Ela
conta também que estranhou o fato de o Tom não ter desembarcado em São Paulo,
no domingo (01), onde iria gravar o programa desta segunda. O programa acontece
na casa da própria Ana Maria, na capital paulista. Por causa da pandemia o
programa sofreu algumas reformulações. Primeiro passou a ser um quadro dentro
do programa Encontro, apresentado por Fátima Bernardes, e, recentemente,
voltando novamente a ter seu próprio programa. No momento, Ana Maria
apresentava o programa de São Paulo e o Tom Veiga, do Rio de Janeiro.
Então
ele passava uma semana em São Paulo, e outra no Rio, até que fizesse mudança
definitiva para a capital paulista. Ele já estava nesse processo de mudança.
E
quando ele não desembarcou em São Paulo no domingo, ela e a produção do
programa ficaram preocupados. Tentaram entrar em contato com ele e não
conseguiram. Ele não atendia o telefone, nem respondia as mensagens de celular.
Ligaram
então para o apresentador André Marques — que era amigo pessoal do Tom, e
perguntaram se o ator estava com ele. André disse que não. Também preocupado, André
foi até a casa do amigo e o já o encontrou sem vida.
O
Louro José nasceu em 1996, quando ela apresentava o programa Note e Anote, na
TV Record. O programa entrava no ar depois de uma atração infantil, e a ideia
era chamar a atenção a atenção da criançada que acompanhava o infantil.
“Precisava ser um bicho que falasse, que
interagisse comigo, mas não podia ser cachorro, porque cachorro não fala,
passarinho não fala. E, por eliminação, decidimos pelo papagaio. Eu tenho um em
casa chamado Louro José. Ele fala e assobia o hino nacional. E eu disse: 'Vamos
pôr o Louro'. Fiz um primeiro rascunho do desenho e pedi para uma pessoa que
desenvolvia bonecos fazê-lo. Ele nasceu todo mambembe. Depois a gente foi
ajeitando, mudando a espuma, até que ele virou global – aí ficou um astro,
lindo. É um filho mesmo”.
Diversas
pessoas foram testadas para manipular o boneco. Mas nenhuma delas agradou. Certo
dia, por acaso, Tom pegou o fantoche e passou a brincar com os seus companheiros
de trabalho. Tom fazia parte da produção do programa. A turma dava risadas com
a brincadeira. Ana ficou olhando a cena, e um sorriso de felicidade iluminou
seu rosto. Havia achado a pessoa que daria vida ao Louro José. E essa pessoa
era Tom Veiga.
Ela
não pensou duas vezes. Chamou Tom e lhe disse: “Amanhã, você entra como Louro José”. O rapaz quase caiu para trás.
Ficou apavorado. Tentou argumentar dizendo que não tinha o menor jeito para
estar em frente as câmeras. Não adiantou. O argumento da loira foi mais forte. “E quem disse que você precisa aparecer?”,
perguntou ela.
E
assim foi. Discreto, nunca chamou a atenção para si. Nunca foi notícia. Apenas deu
vida a um personagem de sucesso, que, certamente, marcou a TV brasileira.
Este
mesmo que vos escreve, nunca havia visto o rosto do Tom. Apenas vim conhece-lo
ontem. Conheci seu personagem, o adorável Louro José, e com ele me divertia. Às
vezes ficava pensando quem seria aquele que dava vida ao papagaio. Ou melhor,
que emprestava a ele sua alma.
E
assim, a alma do papagaio voou. Seguiu seu destino. Não existirá Louro José sem
Tom Veiga. Sem ele, o papagaio passa a ser um corpo inerte.
Assim
também, havia uma alma que alimentava esse cara carismático, talentoso, e
brilhante ator, chamado Tom Veiga. E essa alma se libertou do seu pesado
involucro humano, e, como aquela garça branca que vi voar sobre o lago no
Parque Ecológico, alçou voo para os céus da liberdade. Viverá seu novo corpo,
sua nova vida. A vida de plenitude e em plenitude.
Siga
em paz amigo — permita-me te chamar de amigo, mesmo sem te conhecer, afinal
você invadia minha casa todas as manhãs através da telinha, e me trazia alegria
— Seja feliz em sua nova morada, em seu novo lar. Acho que o lar celeste
recebeu tantas pessoas este ano e que estavam tristes por ter deixado a vida
terrena, que o Criador resolveu te chamar para alegrar outras pessoas, para
divertir outro público.
Seja
feliz.
Se algum dos
caros leitores e leitoras, desejar ver o programa Mais Você, exibido hoje por
Ana Maria Braga, em homenagem a Tom Veiga, segue o link para acesso.
https://globoplay.globo.com/v/8988667/
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