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Passando a boiada

Posted by Cottidianos on 01:21
 Quarta-feira, 05 de agosto



Terror em Beirute

O mundo assistiu estarrecido as imagens da explosão ocorrida em Beirute, capital do Líbano nesta terça-feira, 04. Horripilantes. Aterrorizantes. Impressionantes. Não há palavras para descrever o fato ocorrido. Parecia cenas apocalípticas. Lembrou, de algum modo as bombas jogadas nas cidades japonesas de Hiroshima e Nagasaki, durante a Segunda Guerra Mundial, e também o 11 de setembro, nos Estados Unidos.
Nuvens de fumaça já chamavam a atenção na zona portuária de Beirute quando duas explosões, uma seguida da outra levantaram bolas de fogo que formavam uma gigantesca de coluna de fumaça amarelo alaranjada que podia ser vista a quilômetros de distância. O ensurdecedor barulho também se fez ouvir muito longe dali.
Um caos nas ruas da capital libanesa: paredes de prédios destruídas, vidros de janelas espalhados pelo chão, pessoas feridas, destroços bloqueando ruas. Cinzas e fumaças por todos os lados. Nervosas sirenes de ambulância percorriam as ruas da cidade em socorro aos feridos.
Segundo o ministro da Saúde daquele país, foram ao menos 78 mortos e quase 4.000 feridos.
Ao que tudo indica, trata-se de um acidente. Há eventual possibilidade de também ter sido um atentado, mas a primeira hipótese é a mais provável. Segundo, Hassam Diab, premiê do Líbano. O motivo de tanto estrago, segundo autoridades libanesas, foram 2.750 toneladas de nitrato de amônio: uma substancia usada em fertilizantes e em materiais explosivos.
É um explosivo altamente potente” afirma Reinaldo Bazzito, professor do Instituto de Química da Universidade de São Paulo. “Ele não explode sozinho. É preciso um gatilho muito grande para que uma explosão ocorra. No caso do Líbano, se for isso que aconteceu, acredito que a explosão pode ter sido causada pelo incêndio que estava ocorrendo antes”, acrescenta o professor.
E todo esse potencial explosivo estava armazenado no porto de Beirute, desde 2014, de maneira não segura.
O presidente do país, Michel Aoun, disse que a capital vai declarar estado de emergência pelas próximas duas semanas e acrescentou: “É inadmissível que um carregamento de nitrato de amônio, estimado em 2.750 toneladas, esteja em um armazém há seis anos, sem medidas preventivas. Isso é inaceitável e não podemos permanecer calados”.
Uma investigação está em curso e o Conselho Supremo de Defesa do Líbano afirmou que os responsáveis deverão enfrentar “punição máxima”.
É lamentável que além de enfrentar a pandemia do coronavírus, como todo mundo aliás tem enfrentado, os libaneses ainda tenham que passar por momentos tão difíceis. No Líbano são 5.062 casos confirmados de coronávirus e 65 mortes. Em 12 de maio, o país decretou o lokdown, o confinamento total do país, para frear o avanço da doença. Com uma população de 7.919,528 habitantes, pode-se dizer que o país obteve relativo sucesso no combate a pandemia.

Ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles

Passando a boiada

No cenário nacional, o país amanheceu em polvorosa com a notícia de que o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles queria mudar a meta para reduzir a devastação ambiental no Brasil. A reportagem/denúncia foi feita pelo jornal O Estado de São Paulo.
O documento obtido pelo jornal aponta que o ministro queria rever, reconsiderar, a meta de diminuir o desmatamento e os incêndios ilegais em 90% em todo o país. Essa meta é prevista no Plano Plurianual (PPA), elaborado pelo próprio governo e é vigente até o ano de 2023.
Em lugar disso, Ricardo Salles propõe que a preservação das florestas seja guiado pelo recém-criado programa Floresta + Amazônia, que defende a preservação de uma área específica da Amazônia, equivalente a 390 mil hectares de vegetação nativa. Um nada. Uma coisa insignificante diante do aumento das queimadas e desmatamentos e do que precisa ser protegido em termos de meio ambiente.
O ofício foi enviado à equipe do ministério da Economia, comando por Paulo Guedes, em 10 de julho. Os técnicos analisaram a proposta e viram que ela era insuficiente, e assim se manifestaram a respeito da proposta: “Tem-se que a meta proposta para o combate ao desmatamento e incêndio florestal no País objetiva proteger 0,07% da cobertura florestal amazônica com um projeto piloto de pagamento de serviços ambientais da floresta. Dessa maneira, acreditamos que o Programa Floresta+ é relevante, porém insuficiente”.
O que deixou todo mundo ainda mais surpreso foi o fato de o ministro da Economia, Paulo Guedes dizer, também nesta terça-feira, 04, que concordava com a proposta de Salles, contrariando assim parecer dos próprios técnicos do ministério da Economia.
Penso que os leitores e leitoras devem se recordar da famosa reunião ministerial ocorrida em 22 de abril na qual Ricardo Salles diz: “O Meio Ambiente é o mais difícil, de passar qualquer mudança infralegal em termos de infraestrutura, instrução normativa e portaria, porque tudo que a gente faz é pau no Judiciário, no dia seguinte. Então para isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só se fala de Covid, e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas”.
Ou seja, escandalosamente, o ministro queria se aproveitar de uma situação para driblar as regras legais e os acordos firmados anteriormente para dar carta branca para que as nossas florestas sejam cada vez mais devastadas, incendiadas, por bandidos que nenhuma preocupação e compromisso tem com a questão do meio ambiente.
Na verdade, o que Ricardo Salles está querendo fazer é a mesma coisa que dá um tiro no próprio pé. Ainda se fosse no pé dele próprio, não teria prejuízos para a nação, mais o tiro no pé nesse caso, seria o do país, e com isso, todos nós, brasileiros, sentiríamos a dor.
Recentemente, em junho deste ano, 29 fundos de pensão e investimentos, que juntos são responsáveis pela administração de quase 4,1 trilhão de dólares, o equivalente a 21,6 trilhões de reais, enviaram carta a 7 embaixadas brasileiras na Europa, Japão, e Estados Unidos, pedindo para que fosse marcada uma reunião para discutir o desmatamento na Amazônia.
Também em junho, 29 deputados do parlamento europeu em carta enviada ao presidente da Câmara dos Deputados, Rodrigo Maia (DEM-RJ), na qual afirmavam estar preocupados com o modo como a questão ambiental está sendo tratada no Brasil e de como as medidas que estão sendo tomadas nessa área podem ter o potencial de pôr em risco o meio ambiente brasileiro.
A palavra dos deputados europeus tem peso não apenas por serem eles do parlamento europeu, mas também por eles pertencerem a comissão de meio ambiente e também participarem de comitês que lidam com agricultura e comércio exterior.
Enfim, a pressão está vindo de todos os lados para que o Brasil cumpra sua parte no que diz respeito ao desmatamento, não apenas na Amazônia, mas em todo o território nacional. E ela vem de investidores, de ONGs nacionais e internacionais, e de diversos setores da sociedade.
E o governo continua fechando os olhos e os ouvidos a todos esses apelos.
Qualquer grande acordo mundial que vier no futuro, eu acho que essa questão vai estar sendo discutida, não tem como fugir dela”, disse o diretor-geral da Organização Mundial de Comércio, Roberto Azevedo, em evento que participou no Brasil.
Outra aberração que o ministro Ricardo Salles quer fazer, e está fazendo, é calar a voz da sociedade civil e tirar dela o poder de voto nos conselhos que discutem a questão do meio ambiente. Na verdade, os membros da sociedade civil estão bem mais consciente que o ministro quando se trata da questão da preservação ambiental, e ela seria um grande incomodo nesses conselhos. Ou seja, persona non grata em tais ambientes onde Ricardo Salles navega.
Enfim, ainda na noite de ontem, depois da repercussão negativa do fato, o ministério do Meio Ambiente recuou da insana tentativa de alterar a meta de reduzir o desmatamento e os incêndio ilegais no país em 90%. A volta atrás foi anunciada pelo ministério da Economia. Permanecerá o que está definido no Plano Plurianual, que é de reduzir os desmatamentos e incêndios ilegais em nossos biomas em 90% até 2023.
É preciso ficar de olhos para que o ministro Ricardo Salles, que não é amigo do meio ambiente, não vá por ai passando boiadas e mudando as regras num setor vital: o meio ambiente.
Afinal, o meio ambiente não é só riqueza econômica, ele, acima de tudo, um questão de sobrevivência, o cerne da própria vida humana. Destruam o meio ambiente e estarão destruindo o habita natural do bicho homem.

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