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50 mil vidas. 50 mil histórias interrompidas pelo Covid-19
Posted by Cottidianos
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01:36
Segunda-feira,
22 de junho
William Bonner — Neste 20 de
junho de 2020, as famílias de mais de 50.000 brasileiros estão enlutadas. Os mortos
por coronavírus no nosso país somam 50.058, segundo o consórcio de veículos de
imprensa. 964 em 24 horas. Mais de 1 milhão já se infectaram. São 1.070.139
doentes. De ontem pra hoje, as Secretarias Estaduais de Saúde totalizaram 30.972
novos casos de Covid-19.
Renata Vasconcelos —É um marco
trágico na pandemia. Mais de 50 mil mortes. 50 mil. Uma nação se define como a reunião
de pessoas que compartilham sentimentos, afetos, laços, cultura, valores, uma
história comum. Empatia é capacidade que o ser humano tem de se colocar no
lugar do outro, de entender o que o outro sente. Uma nação chora os seus
mortos, se solidariza com aqueles que perderam pessoas queridas. 50 mil. Diante
de uma tragédia como essa uma nação para, ao menos um instante, em respeito a
tantas vidas perdidas. E o que o Jornal Nacional está fazendo agora diante
destes rostos que nós temos perdido desde março
William Bonner — E é um sinal
muito triste dos tempos que vivemos que a gente tenha que explicar essa
atitude. Não pra imensa maioria do povo brasileiro, de jeito nenhum, mas pra
uma minoria muito pequena, mas muito barulhenta pra quem o que nós fazemos, o
jornalismo profissional deveria, senão fechar completamente os olhos para essa
tragédia, pelo menos, não falar dela com essa dor. O JN já pediu, você lembra,
que a gente parasse para respirar porque tudo vai passar. O JN já lembrou que
as vidas perdidas não podem ser vistas só como números, e a gente repete mais
uma vez: respira. Vai passar. A gente repete também: 50 mil não são um número. São
pessoas que morreram numa pandemia. Elas tinham família: mães pais, filhos,
irmãos, avós, famílias. Tinham amigos. Tinham conhecidos, vizinhos, colegas de trabalho,
como nós aqui somos. E nós como nação
devemos um momento de conforto pra todos eles.
Renata Vasconcelos – E pra nós
mesmos porque nós somos uma nação. Como Boner disse: Tudo isso vai passar. Quando
passar, é a História com H maiúsculo que vai contar para as gerações futuras o
que, de fato, aconteceu. A História vai registrar o trabalho valoroso de todos
aqueles que fizeram de tudo para combater a pandemia, os profissionais de saúde
em primeiro lugar.
William Bonner — Mas a
História vai registrar aqueles que se omitiram, os que foram negligentes, os
que foram desrespeitosos. A História atribui glória e atribui desonra. E
História fica para sempre.
O
trecho em parágrafo recuado acima foi a abertura do Jornal Nacional deste
sábado, 20 de junho. E por que este blog o trouxe para abrir esta postagem? Por
que ele contém implícito em si mesmo uma reflexão sobre como chegamos até aqui,
e de como atingimos números tão altos, tanto de mortos, como de contaminados.
Como
os apresentadores do JN destacaram, pensemos em pessoas com todo sentimento e
vida que elas carregavam consigo. São 50 mil brasileiros vitimados pela doença.
Porém, os números são, por si, muito frios. São dados. Estatísticas. Que servem
apenas para abastecer os relatórios do órgãos oficiais.
Tenhamos
em mente a cadeia de relações que essas pessoas construíram vida afora, seja
entre os membros de sua família, de seu grupo de escola, de trabalho, de lazer,
de oração, enfim a vida social que elas levavam e onde tinha a oportunidade de
amarem se sentirem amadas. Pensem nesse emaranhado de relações que elas tinham
e imaginaremos quantos milhares de brasileiros estão chorando alguma perda por
causa do coronavírus.
Em
um momento tão delicado como este que enfrentamos se, por um lado, sobra dedicação
por parte dos profissionais de saúde que estão na linha de frente tentando
salvar vidas, muitas vezes, pondo a própria vida em risco, se sobra dedicação
por parte dos profissionais de imprensa que também tem que ir em busca de
informação, arriscando-se também eles mesmos, por outro lado falta para muitos a
capacidade de empatia, de se colocar no lugar do outro.
E
essa falta de empatia vem, em primeiro lugar, daquele que deveria dar o
exemplo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, e transmitindo-se, por consequência
a muitos de seus apoiadores.
Como
todos sabemos, o presidente, desde o início dessa grave crise sanitária, vem
negando-a, e, ao negá-la, se isenta, se omite na busca de solução para enfrentá-las. Seus apoiadores, ao invés de seguirem as
orientações dos órgãos de Saúde, seguiram às do presidente, e, por sua vez,
também minimizaram a pandemia.
Não
houve, por parte do presidente, nenhum empenho, o mínimo esforço em reunir os
secretários estaduais de Saúde para discutir a questão. Nem os ministros da
Saúde escaparam dessa frieza: Luiz Henrique Mandetta e depois Nelson Teich
deixaram seus cargos por discordarem do posicionamento do presidente em relação
a questão.
Muitos
brasileiros também ainda não compreenderam de fato a gravidade da situação.
Apenas para citar um exemplo, O Rio de Janeiro, onde o vírus ainda continua em
franca expansão, os cariocas lotaram as praias neste primeiro domingo de
inverno. Aglomeração acontecem também em várias outras cidades e capitais. No Rio,
já são 8.875 mortes em decorrência da doença, e 96.133 casos. E assim, o Brasil
vai se revelando cada vez mais incompetente no combate à pandemia.
Em
meio a tudo isso e apesar de tudo isso há uma história sendo escrita, no qual cada
negação da doença, cada descaso para vida humana, cada manifestação organizada
contra o isolamento social, e atacando as instituições democráticas, em um
momento em que o país mais precisava era o de uma união em torno de uma causa
comum: o combate ao coronavírus, tudo isso, vai ser julgado pela história.
E
como disse o editorial do JN “A História atribui glória e atribui desonra. E
História fica para sempre”.
Neste
domingo, 21, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de
Saúde (Connas) e pelo consórcio de veículos de imprensa mostram que já são 50.659
mortes por Covid-19 no Brasil e 1.086.990 casos confirmados. No mês que vem,
quanto vidas terão sido perdidas para a doença? 100 mil? É assustador pensar
assim, mas a doença não dá o menor sinal de decréscimo em sua macabra curva.
Em
meio a tudo isso, o presidente Jair Bolsonaro, que é uma verdadeira fábrica de
crises, começa, aos poucos, vai tornando-se vítimas dela. Aos poucos as
máscaras vão caindo e os eleitores dele estão começando a se dar conta de que o
“mito”, é, na verdade, uma farsa, um ídolo com corpo de ferro e pés de barro.
Na
quinta-feira, 18, a PF prendeu o PC Farias da família Bolsonaro. Fabrício
Queiroz foi preso em Atibaia, na casa de Frederick Wassef, agora, depois do escândalo,
ex-advogado de Flávio Bolsonaro. Segundo o caseiro, Queiroz já estava lá havia
um ano. Fabrício está envolvido, juntamente com o senador Flávio Bolsonaro, no
esquema de desvio de dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio, quando
Flávio ainda atuava como deputado estadual naquela casa legislativa.
Desde
então, o presidente tem evitado falar com apoiadores como faz costumeiramente
na saída ou chegada ao Palácio da Alvorada, residencial oficial do presidente.
Silencio
também sobre as mais de 50.000 mortes pelo coronavírus.
É
isso: Quem semeia ventos, um dia colhe tempestade.
Abaixo,
segue uma homenagem deste blog ás vidas ceifadas pelo Covid-19 em forma de uma poesia
chamada, A morte não é nada, escrita
por Santo Agostinho.
***
A
morte não é nada
A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.
Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.
Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.
Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.
Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.
Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.
Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.
A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?
Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…
Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.
Santo
Agostinho
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