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50 mil vidas. 50 mil histórias interrompidas pelo Covid-19

Posted by Cottidianos on 01:36
Segunda-feira, 22 de junho



William Bonner — Neste 20 de junho de 2020, as famílias de mais de 50.000 brasileiros estão enlutadas. Os mortos por coronavírus no nosso país somam 50.058, segundo o consórcio de veículos de imprensa. 964 em 24 horas. Mais de 1 milhão já se infectaram. São 1.070.139 doentes. De ontem pra hoje, as Secretarias Estaduais de Saúde totalizaram 30.972 novos casos de Covid-19.
Renata Vasconcelos —É um marco trágico na pandemia. Mais de 50 mil mortes. 50 mil. Uma nação se define como a reunião de pessoas que compartilham sentimentos, afetos, laços, cultura, valores, uma história comum. Empatia é capacidade que o ser humano tem de se colocar no lugar do outro, de entender o que o outro sente. Uma nação chora os seus mortos, se solidariza com aqueles que perderam pessoas queridas. 50 mil. Diante de uma tragédia como essa uma nação para, ao menos um instante, em respeito a tantas vidas perdidas. E o que o Jornal Nacional está fazendo agora diante destes rostos que nós temos perdido desde março
William Bonner — E é um sinal muito triste dos tempos que vivemos que a gente tenha que explicar essa atitude. Não pra imensa maioria do povo brasileiro, de jeito nenhum, mas pra uma minoria muito pequena, mas muito barulhenta pra quem o que nós fazemos, o jornalismo profissional deveria, senão fechar completamente os olhos para essa tragédia, pelo menos, não falar dela com essa dor. O JN já pediu, você lembra, que a gente parasse para respirar porque tudo vai passar. O JN já lembrou que as vidas perdidas não podem ser vistas só como números, e a gente repete mais uma vez: respira. Vai passar. A gente repete também: 50 mil não são um número. São pessoas que morreram numa pandemia. Elas tinham família: mães pais, filhos, irmãos, avós, famílias. Tinham amigos. Tinham conhecidos, vizinhos, colegas de trabalho, como nós aqui somos.  E nós como nação devemos um momento de conforto pra todos eles.
Renata Vasconcelos – E pra nós mesmos porque nós somos uma nação. Como Boner disse: Tudo isso vai passar. Quando passar, é a História com H maiúsculo que vai contar para as gerações futuras o que, de fato, aconteceu. A História vai registrar o trabalho valoroso de todos aqueles que fizeram de tudo para combater a pandemia, os profissionais de saúde em primeiro lugar.
William Bonner — Mas a História vai registrar aqueles que se omitiram, os que foram negligentes, os que foram desrespeitosos. A História atribui glória e atribui desonra. E História fica para sempre.

O trecho em parágrafo recuado acima foi a abertura do Jornal Nacional deste sábado, 20 de junho. E por que este blog o trouxe para abrir esta postagem? Por que ele contém implícito em si mesmo uma reflexão sobre como chegamos até aqui, e de como atingimos números tão altos, tanto de mortos, como de contaminados.
Como os apresentadores do JN destacaram, pensemos em pessoas com todo sentimento e vida que elas carregavam consigo. São 50 mil brasileiros vitimados pela doença. Porém, os números são, por si, muito frios. São dados. Estatísticas. Que servem apenas para abastecer os relatórios do órgãos oficiais.
Tenhamos em mente a cadeia de relações que essas pessoas construíram vida afora, seja entre os membros de sua família, de seu grupo de escola, de trabalho, de lazer, de oração, enfim a vida social que elas levavam e onde tinha a oportunidade de amarem se sentirem amadas. Pensem nesse emaranhado de relações que elas tinham e imaginaremos quantos milhares de brasileiros estão chorando alguma perda por causa do coronavírus.
Em um momento tão delicado como este que enfrentamos se, por um lado, sobra dedicação por parte dos profissionais de saúde que estão na linha de frente tentando salvar vidas, muitas vezes, pondo a própria vida em risco, se sobra dedicação por parte dos profissionais de imprensa que também tem que ir em busca de informação, arriscando-se também eles mesmos, por outro lado falta para muitos a capacidade de empatia, de se colocar no lugar do outro.
E essa falta de empatia vem, em primeiro lugar, daquele que deveria dar o exemplo, o presidente da República, Jair Bolsonaro, e transmitindo-se, por consequência a muitos de seus apoiadores.
Como todos sabemos, o presidente, desde o início dessa grave crise sanitária, vem negando-a, e, ao negá-la, se isenta, se omite na busca de solução para enfrentá-las.  Seus apoiadores, ao invés de seguirem as orientações dos órgãos de Saúde, seguiram às do presidente, e, por sua vez, também minimizaram a pandemia.
Não houve, por parte do presidente, nenhum empenho, o mínimo esforço em reunir os secretários estaduais de Saúde para discutir a questão. Nem os ministros da Saúde escaparam dessa frieza: Luiz Henrique Mandetta e depois Nelson Teich deixaram seus cargos por discordarem do posicionamento do presidente em relação a questão.
Muitos brasileiros também ainda não compreenderam de fato a gravidade da situação. Apenas para citar um exemplo, O Rio de Janeiro, onde o vírus ainda continua em franca expansão, os cariocas lotaram as praias neste primeiro domingo de inverno. Aglomeração acontecem também em várias outras cidades e capitais. No Rio, já são 8.875 mortes em decorrência da doença, e 96.133 casos. E assim, o Brasil vai se revelando cada vez mais incompetente no combate à pandemia.
Em meio a tudo isso e apesar de tudo isso há uma história sendo escrita, no qual cada negação da doença, cada descaso para vida humana, cada manifestação organizada contra o isolamento social, e atacando as instituições democráticas, em um momento em que o país mais precisava era o de uma união em torno de uma causa comum: o combate ao coronavírus, tudo isso, vai ser julgado pela história.
E como disse o editorial do JN “A História atribui glória e atribui desonra. E História fica para sempre”.
Neste domingo, 21, segundo dados divulgados pelo Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Connas) e pelo consórcio de veículos de imprensa mostram que já são 50.659 mortes por Covid-19 no Brasil e 1.086.990 casos confirmados. No mês que vem, quanto vidas terão sido perdidas para a doença? 100 mil? É assustador pensar assim, mas a doença não dá o menor sinal de decréscimo em sua macabra curva.
Em meio a tudo isso, o presidente Jair Bolsonaro, que é uma verdadeira fábrica de crises, começa, aos poucos, vai tornando-se vítimas dela. Aos poucos as máscaras vão caindo e os eleitores dele estão começando a se dar conta de que o “mito”, é, na verdade, uma farsa, um ídolo com corpo de ferro e pés de barro.
Na quinta-feira, 18, a PF prendeu o PC Farias da família Bolsonaro. Fabrício Queiroz foi preso em Atibaia, na casa de Frederick Wassef, agora, depois do escândalo, ex-advogado de Flávio Bolsonaro. Segundo o caseiro, Queiroz já estava lá havia um ano. Fabrício está envolvido, juntamente com o senador Flávio Bolsonaro, no esquema de desvio de dinheiro público na Assembleia Legislativa do Rio, quando Flávio ainda atuava como deputado estadual naquela casa legislativa.
Desde então, o presidente tem evitado falar com apoiadores como faz costumeiramente na saída ou chegada ao Palácio da Alvorada, residencial oficial do presidente.
Silencio também sobre as mais de 50.000 mortes pelo coronavírus.
É isso: Quem semeia ventos, um dia colhe tempestade.
Abaixo, segue uma homenagem deste blog ás vidas ceifadas pelo Covid-19 em forma de uma poesia chamada, A morte não é nada, escrita por Santo Agostinho.

***
A morte não é nada

A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me deem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.

Santo Agostinho




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Retrospectiva da insensibilidade

Posted by Cottidianos on 00:17
Segunda-feira, 15 de junho


Novamente, aqui falamos sobre o coronavírus e sua escalada assombrosa pelo mundo afora.

Já são 7.553.182 os casos confirmados em todo o mundo.  423.349 pessoas foram vitimadas pela doença, até agora.
É provável que todos nós nos sintamos participantes de um filme de ficção científica ou mesmo um filme de terror. Talvez até pensemos que estamos em sono turbulento e que, de repente, vamos acordar e nos dar conta de que tudo não passou de um pesadelo.
Mas acordamos todos os dias e vemos que isso não é um pesadelo. O melhor de ser ter um pesadelo é que ao despertarmos, o monstros e figuras assombrosas que neles havia esvoaçam para bem longe de nós. E, assim, podemos prosseguir os nossos afazeres costumeiros com tranquilidade. Aqui e acolá, no decorrer do dia, podemos até nos lembrar dele, mas basta colocar o pensamento em outra coisa, que as lembranças são afastadas novamente.
Infelizmente, o SARS-Covid 19, não é nenhum filme de ficção, nem de terror, e muito menos um pesadelo. Pior. Muito pior. É coisa real. Todos os dias abrimos os olhos e vemos que ele não desapareceu. Ao contrário, está por aí espalhando medo e insegurança.
Até mesmo os países que já estão com a situação controlada, temem uma segunda onda da doença. Vacina que o combata ainda não existe. Então, o melhor é não baixar a guarda. Todo cuidado é pouco.
Mas então, o leitor pode dizer: mas fulano de tal foi a praia, sicrano fez isso e aquilo. Deixa ele fazer. Problema dele. Avisado está todos os dias e todas e as horas. Os meios de comunicação transmitem, fartamente, os conselhos, orientações e dicas da OMS. Tem gente que não tem nem aí. Como diz o ditado “está pagando pra ver”. E nem de se dá conta de que o preço desse pagar pra ver pode ser a própria vida, ou de pessoas muito queridas, muito amadas.
No Brasil, já estamos, segundo dados obtidos pelo consórcio de imprensa, com 867.882 mil casos confirmados 43.389 mortes. Já ultrapassamos o Reino Unido, que era o segundo país em número de mortes por Covid-19. Triste realidade.
Mesmo com esse quadro tenebroso já está sendo promovida uma reabertura econômica, as ruas estão lotadas, ônibus, trens, e metrôs, idem. Até mesmo já tem pessoas acorrendo às praias, para aquele gostoso banho de sol como se estivéssemos longe de qualquer ameaça, e pessoas indo aos shoppings para aquele passeio descontraído para as compras.
O  Brasil não fez a lição de casa direito, logo no início. E a lição de casa era: fazer o isolamento social. Fez-se por aqui um arremedo de isolamento social. Um falso isolamento. Os governadores e prefeitos até que tentaram, mas muita gente não respeitou essas diretrizes.
Também descobrimos, para tristeza nossa, que muitos contratos para a comprar de respiradores para pacientes com Covid-19, e equipamentos de proteção individual para aqueles que estão na linha de frente dos hospitais, foram fraudados. Mais, uma vez, em meio a uma pandemia de graves proporções, alguns agentes públicos pensam de forma egoísta. Pensam mais no lucro que podem obter com a situação do que com o sofrimento alheio.
Agora, os números de casos tendem a explodir dentro das duas ou três próximas semanas, por causa de tanta irresponsabilidade de governantes e de parte da população que ainda acha que está tudo lindo e maravilhoso e que o coronavírus é uma gostosa brincadeira de esconde-esconde.
Grande parte da responsabilidade por toda essa incomoda situação, e os maus vem de quem deveria dar o exemplo: o governo federal. Mas este tem sido absolutamente ineficiente na condução da crise. Não há uma política de combate à doença.
Por aqui não se discutiu nem se fez uma ampla política de testagem. Os testes que foram feitos na população chegam a ser irrisórios diante do contingente populacional brasileiro. O Brasil foi um dos países que menos testes fez. Levando em consideração que a doença chegou, primeiro na China, e depois em países da Europa, tivemos tempo de ganhar o jogo, observando o que estava acontecendo por lá. Mas não aproveitamos desse olhar sobre a realidade para uma ação eficaz.
Ao contrário, o que vimos foi um presidente debochando da situação, e levando seus seguidores a fazer o mesmo. Em vez de se preocupar com a pandemia, de imprimir a situação um comando, um controle, o que o governo fez foi criar crises e mais crises.
O jornal da CBN – 1a edição, fez, na sexta-feira, 12 de junho, uma retrospectiva das atitudes do presidente diante da pandemia. Retrospectiva essa no qual esse blog se baseia para escrever este trecho compreendido entre o parágrafo seguinte desta postagem e o final desta postagem.
10 de março. Terça-feira. Estados Unidos da América
Os mercados na segunda-feira, 09 de março amanheceram assanhados. As bolsas de todo o mundo sofriam quedas, devido a fatores como a disseminação dos casos de coronoavírus e ao medo de que uma recessão acontecesse com a disputa do preço do petróleo entre Rússia e Arábia Saudita. A queda na bolsa de valores naquele dia foi de 7%. No dia seguinte, as bolsas subiram um pouco.
Naqueles dias, o presidente, Jair Bolsonaro, havia ido com sua comitiva aos Estados Unidos. Na terça-feira, 10, ele estava em um evento em Maimi. Naquele momento, o mundo já somava cerca de 4.000 mortos pela doença. Discursando para o público presente ao evento, Bolsonaro disse: “Obviamente temos no momento uma crise, uma pequena crise. No meu entender, muito mais fantasia, a questão do coronavírus, que não é isso tudo que a grande mídia propala ou propaga pelo mundo todo”.
16 de março. Segunda-feira. Brasil
Era de manhã e o presidente deixava o Palácio da Alvorada, sua residência oficial, e dirigia-se ao Palácio do Planalto. À apoiadores que se aglomeravam no local, ele disse: “Foi surpreendente o que aconteceu na rua até com esse superdimensionamento. Que vai ter problema vai ter, quem é idoso, (quem) está com problema, (quem tem) alguma deficiência, mas não é tudo isso que dizem. Até na China já praticamente está acabando”.
No dia anterior, domingo 15, ele havia participado de uma manifestação em Brasília, contrariando as determinações do Ministério da Saúde, e provocando aglomerações.  O presidente também havia mantido contato com 11 pessoas da comitiva que haviam acompanhado na viagem aos Estados Unidos e que estavam contaminadas pela doença.
Áquela altura a doença já havia matado cerca de 5.735 pessoas em todo o mundo.
17 de março. Terça-feira
O Brasil registrava o primeiro caso de morte por coronavírus. Foi em São Paulo. A vítima era um homem de 62 anos que havia retornado de uma viagem ao exterior. Ele sofria de diabetes e hipertensão.
Naquele dia o presidente afirmou em entrevista à Rádio Tupi:
Eu faço 65 [anos] daqui a quatro dias".
O apresentador do programa pergunta em seguida:
"Vai ter bolo presidente?"
Vai ter uma festinha tradicional aqui. Até porque eu faço aniversário dia 21 e minha esposa dia 22. São dois dias de festa aqui. Emenda, dia 21, próximo de meia-noite ela me cumprimenta; logo depois eu a cumprimento”.
Além de falar que faria a festa de aniversário, Bolsonaro também atacou os governadores por estarem adotando medidas de isolamento: “Esse vírus trouxe uma certa histeria. Tem alguns governadores, no meu entender, posso até estar errado, que estão tomando medidas que vão prejudicar e muito a nossa economia”, e acrescentou: “A vida continua, não tem que ter histeria. Não é porque tem uma aglomeração de pessoas aqui e acolá esporadicamente [que] tem que ser atacado exatamente isso. [É] tirar a histeria. Agora, o que acontece? Prejudica”.
20 de março. Sexta-feira.
O Brasil já contabilizava 11 mortes por coronavírus, e 904 casos confirmados. O Ministério da Saúde declarava transmissão comunitária do vírus.
Em entrevista no Palácio do Planalto, Bolsonaro afirmou: “Depois da facada, não vai ser uma gripezinha que vai me derrubar não, tá ok? Se o médico ou o ministro da Saúde me recomendar um novo exame, eu farei. Caso o contrário, me comportarei como qualquer um de vocês aqui presentes”.
24 de março. Terça-feira
Depois de chamar o coronavírus de gripezinha em uma entrevista, Bolsonaro resolveu ir ainda mais longe, e em um pronunciamento à nação através de cadeia nacional de rádio e TV, ele voltou a afirmar que a doença era apenas uma “gripezinha”: “No meu caso particular, pelo meu histórico de atleta, caso fosse contaminado pelo vírus, não precisaria me preocupar, nada sentiria ou seria, quando muito, acometido de uma gripezinha ou resfriadinho, como bem disse aquele conhecido médico daquela conhecida televisão”.
26 de março. Quinta-feira
Bolsonaro chegava ao Palácio da Alvorada no fim da tarde daquele dia.
Ele foi questionado por jornalistas se o Brasil não corria o risco de a situação no Brasil se tornar semelhante à dos Estados Unidos, que naquele período totalizavam mais de 68 mil infectados por Covid-19, e mais de 1.031 mortos pela doença.
Bolsonaro respondeu: “Eu acho que não vai chegar a esse ponto [a situação dos Estados Unidos]. Até porque o brasileiro tem que ser estudado. Ele não pega nada. Você vê o cara pulando em esgoto ali, sai, mergulha, tá certo? E não acontece nada com ele. Eu acho até que muita gente já foi infectada no Brasil, há poucas semanas ou meses, e ele já tem anticorpos que ajuda a não proliferar isso daí”.
29 de março. Domingo.
Enquanto o presidente fazia piadas com o coronavírus, o número de infectados subia. Naquele dia 29 já eram 4.309 casos confirmados e 139 mortos.
Naquele domingo, o presidente — mais uma vez, contrariando as normas recomendadas pela OMS e pelo próprio ministra da Saúde, Luiz Henrique Mandetta — passeava pelo comércio de Brasília. Ele dava sua receita “eficaz” para os brasileiros enfrentarem o coronavírus: “Temos o problema do vírus, temos, ninguém nega isso aí. Devemos tomar os devidos cuidados com os mais velhos, as pessoas do grupo de risco. Agora, o emprego é essencial. Essa é uma realidade. O vírus tá aí, vamos ter de enfrentá-lo, mas enfrentar como homem, pô, não como moleque. Vamos enfrentar o vírus com a realidade. É a vida, todos nós vamos morrer um dia”.
12 abril. Domingo.
Contrariando o presidente, o coronaírus seguia pelo país executando seu macabro trabalho. Já eram aquela época 22.318 casos, e 1.230 mortos.
Aquele domingo era domingo de Páscoa. Em uma live pelo Facebook do qual participavam lideranças religiosas, o presidente afirmou: “Quarenta dias depois, parece que está começando a ir embora a questão do vírus, mas está chegando e batendo forte o desemprego. Precisamos lutar contra essas duas coisas”.
20 de abril. Segunda-feira.
Apesar de ter dito que o coronavírus estava indo embora, parece que o vírus não deu muito ouvidos ao que dizia o presidente, e insistiu em ficar no país. Naquele período, o número de casos confirmados já havia aumentado para 40.818, e 2.588 eram as vidas ceifadas pelo vírus.
Há apenas quatro dias o ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta havia sido demitido. Ele entrara em rota de coalizão com o presidente devido a visão de combate à doença que cada um tinha: Mandetta baseado na ciência, e o presidente, no achismo.
Naquele dia, o Ministério da Saúde havia divulgado, em um primeiro momento, que haviam ocorrido 383 mortes em 24 horas, o que elevaria o total das mortes para 2.875 óbitos. Na verdade, havia ocorrido 113 óbito naquelas 24 horas. Posteriormente, o ministério corrigiu o erro. Foi com base nos primeiros dados divulgados pelo MS que um jornalista questionou o presidente sobre o aumento no número de mortos:
Disse o repórter: “Presidente, hoje tivemos mais de 300 mortes. Quantas mortes o senhor acha que...
Ô, cara, quem fala de... Eu não sou coveiro, tá certo?”, disse o presidente interrompendo a pergunta do presidente.
O jornalista ainda tentou reformular a pergunta.
Mas Bolsonaro, novamente, usou de grosseria: “Não sou coveiro, tá?”, disse ele.
Isso aconteceu no final da tarde, em frente ao Palácio da Alvorada. Pela manhã, no mesmo lugar, Bolsonaro já havia demonstrado sua falta de sensibilidade em relação a questão: “Levaram o pavor para o público, histeria. E não é verdade. Estamos vendo que não é verdade. Lamentamos as mortes, e é a vida. Vai morrer”.
28 de abril. Terça-feira.
Os números de casos confirmados no Brasil chegavam a 73.235, e atingiamos a triste marca do dos 5.083 mortes. Ultrapassando a china em número de mortos.
Na quarta-feira, 29, novamente em frente ao Palácio da Alvorada, um jornalista questionou Bolsonaro sobre o fato: “A gente ultrapassou o número de mortos da China por covid-19…
Ao que Bolsonaro respondeu com sua sensibilidade caraterística: “E daí? Lamento. Quer que eu faça o quê? Eu sou Messias, mas não faço milagre”.
19 de maio. Terça-feira.
O Brasil registrava naquele dia 271.885, e 17.983. Em apenas um dia haviam sido registrados 1.179 mortes.
O Ministro da Saúde, Nelson Teich, havia deixado o posto de ministro da Saúde há quatro dias. Foi nesse contexto que o presidente resolveu mandar o Ministério da Saúde mudar o protocolo da cloroquina, um remédio sem nenhuma comprovação cientifica contra o coronavírus.
Em entrevista ao jornalista Magno Martins, o presidente ainda fez piada sobre o tema: “Quem é de direita toma cloroquina, quem é de esquerda, Tubaína”.
03 de junho. Quarta-feira.
O Brasil contabilizava 584.562 casos confirmados, e 32.568 mortes.
O Ministério da Saúde começou então a atrasar o horário de divulgação de dados referentes ao Covid-19 das 19 para as 22 horas. Ao ser questionado por jornalistas sobre a mudança ele disse: “Acabou matéria do Jornal Nacional. Não vai correr às seis da tarde para atender a Globo. A TV funerária”.
Depois o presidente, na sua incapacidade de encontrar alguma solução plausível para enfrentar o coronavírus, resolveu fazer uma operação para tentar esconder os números referentes a doença. O ministério da Saúde tirou o site do ar, e passou a divulgar apenas as mortes diárias, e não os dados consolidados, como acontece nos outros países. Depois de muitas críticas e muita pressão, inclusive por decisão judicial do ministro Alexandre de Moraes, o site voltou e também o MS passou a divulgar os dados acumulados.
09 de junho. Terça-feira.
A tentativa de esconder números repercutiu muito mal. E o presidente resolveu justificar essa estratégia.
Queremos o número limpo que sirva para prognóstico e não que apenas sirva para inflar e dar notícias em órgãos de imprensa. Cada Estado que mandar os números será trabalhado e divulgar. Não queremos números mentirosos que servem para inflacionar essa questão, e de manchete para o jornal. Esses números têm que servir para alguma coisa e não para dar manchete de jornal”, disse o presidente.
O Brasil já registrava na ocasião 719.449 casos, e 37.840 óbitos.
11 de junho. Quinta-feira.
Quando os brasileiros achavam que já tinha visto todo tipo de absurdo, Jair Bolsonaro mostrou que sempre consegue surpreender a todos e tirar mais um coelho manco da cartola. À noite, durante uma transmissão ao vivo nas redes sociais, o presidente sugeriu a seus apoiadores que invadissem hospitais.
Tem um hospital de campanha perto de você, tem um hospital público, arranja uma maneira de entrar e filmar. Muita gente tá fazendo isso, mas mais gente tem que fazer, para mostrar se os leitos estão ocupados ou não, se os gastos são compatíveis ou não. Isso nos ajuda”.  E acrescentou “Tem dados que chegam, que a população reclama, que a pessoa tinha uma série de problemas e entrou em óbito. Não tinha contraído o vírus e aparece Covid-19. São dezenas de casos por dia que chegam nesse sentido. Tem um ganho político dos caras, só pode ser isso”, disse o presidente, sem apresentar nenhuma prova das afirmações graves que estava fazendo.
Mais uma vez o presidente foi de uma irresponsabilidade tremenda. Primeiro para com os profissionais de saúde que estão pondo suas vidas em risco, e segundo para os seus apoiadores que correm sérios riscos entrando, sem autorização, em hospitais onde estão internados pessoas com Covid-19. Mais uma vez ele mostrou que não tem dignidade para ocupar o cargo que ocupa.
Neste domingo, 14, o ministro Gilmar Mendes, através de seu perfil no Twiter em comentário a essa fala do presidente, escreveu: “Invadir hospitais é crime – estimular também. O Ministério Público (A PGR e os MPs Estaduais) devem atuar imediatamente. É vergonhoso - para não dizer ridículo - que agentes públicos se prestem a alimentar teorias da conspiração, colocando em risco a saúde pública”.
O Brasil é hoje o país que mais sofre com a doença depois dos Estados Unidos. E pensar que tudo poderia ter sido diferente se tivéssemos uma liderança que tivesse sabido chamar para si a responsabilidade no combate e no enfretamento da doença. Que tivesse sentado à mesa com governadores, prefeitos, médicos, enfermeiros, ministro da saúde, e com outros setores da sociedade e elaborado planos, e discutido testes, e reforçado a importância do isolamento social.
Mas, infelizmente, não temos líderes. Temos, sim, um menino mimado, com o coração frio que nem uma pedra de gelo, sentado numa cadeira presidencial, que flertar com atos antidemocráticos, que faz ameaças a democracia constantemente, e que ainda acabará, não apenas ajudando a enterrar milhares de brasileiros, mas também a economia, ao não se preocupar com as vidas humanas que, realmente, são quem sustentam as economias.
Há muito para se falar, por exemplo na preocupação que traz ao país, a ala mais radical do bolsonarismo, que se comporta como um rebanho enfurecido. E rebanho enfurecido, como todos sabem, não pensa coisa alguma. São cabeças vazias que agem apenas por impulso. Ou poderíamos dizer também que eles se comportam como aqueles zumbis de filmes de ficção que sofreram lavagem cerebral e perderam a capacidade de agir como ser humano, tornando-se bonecos de manipulação à serviço de forças maléficas.
Porém como esta postagem já se faz longa, deixemos esse assunto para próximas postagens. 


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Esperança

Posted by Cottidianos on 00:44
Sexta-feira, 12 de junho



Acho que todos tem acompanhado os protestos contra o racismo no Estados Unidos. No início do mês vi, nos noticiários televisivos, a filha de George Floyd, o homem negro morto por um policial branco nos Estados Unidos.
Uma menininha de apenas seis anos de idade.
Ela estava participando de uma dessas manifestações sentada nos ombros do tio. Tinha ido com a família visitar o local onde o pai havia sido morto, e que havia sido transformado em memorial.
Curiosamente, ela não estava triste, ao contrário, demonstrava uma alegria, que pode, na atual circunstância, ser entendida como orgulho. E, de cima dos ombros do tio, olhando a multidão ao redor, ela dizia, com orgulho: “Meu pai mudou o mundo!”.
Fiquei tão esperançoso que isso, realmente, signifique uma mudança...
Espero, pequena Gianna, que a morte de seu pai tenha servido para mudar algo na sociedade norte-americana, e que essa mudança respingue nos outros países do globo terrestre, inclusive no Brasil, onde muitas vidas negras também são tiradas em abordagens policias violentas e preconceituosas.
Pois assim como o Covid-19 já vitimou milhões de pessoas mundo afora, também o vírus do racismo também já matou milhões de negros em todo o mundo, a começar pelos nossos irmãos africanos que foram roubados da África, sua terra e seu chão, e jogados mundo afora nas piores condições. Esse vírus maldito chamado racismo continua matando negros e também roubando deles sonhos e esperanças de uma vida melhor.
Na tarde da terça-feira, 9, George Floyd foi enterrado em Houston, no Texas, ao lado da mãe.
No dia 25 de maio, enquanto tinha o pescoço sob o joelho do policial, em momento de agonia, enquanto dizia ao policial que não conseguia respirar, foi pela mãe que ele chamou.
Os gritos de Floyd devem ter ecoado na eternidade, e a mãe dele, certamente, deve ter vindo em seu auxílio e, se não conseguiu tirar o joelho do policial de cima do pescoço de seu amado menino — pois para as mães os filhos serão sempre meninos e meninas a precisar de cuidados, não importando a idade que tenham — certamente, com muito carinho, ajudou o filho a atravessar a porta que divide os mundos material e espiritual.
E lá se foi ele para sua nova e eterna jornada.
Boa sorte em seu novo mundo, em sua nova vida.
E que de lá, jogue luz sobre seu povo, sobre o povo negro, e faça o mundo entender que uns não são melhores que outros por causa da cor de suas peles. Que negros e brancos podem caminhar juntos, sim, em direção a um mundo mais fraterno, mais humano, e mais justo.


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Desafiando o perigo

Posted by Cottidianos on 00:40
Sexta-feira, 12 de junho

Rua Treze de Maio, Centro de Campinas, SP

Dados divulgados pelo consórcio formado pelos veículos formado pelos veículos de comunicação, Estadão, G1, O Globo, Extra, Folha, e UOL, divulgados na noite desta quinta-feira, 11, revelam que o Brasil já soma 41.058 mortes pelo coronavírus, e 805.649 pessoas infectadas. Em 24 horas foram registrados 1.261 novo óbitos, e 30.465 casos confirmados da doença.
A circulação do vírus está desacelerando nas capitais e rumando para o interior do país. Esse fenômeno começou a ocorrer entre o final de maio e o começo de junho. E isso é muito preocupante. Muitas cidades do interior nem mesmo dispõem de leitos de UTI.
Porém, em meio a todo esse quadro preocupante, muitas cidades e capitais resolveram promover uma reabertura, inclusive com reaberturas de espaços de grande circulação de pessoas como por exemplo, os shoppings e os comércios de rua.
Depois de críticas ao presidente Jair Bolsonaro, ferrenho defensor da reabertura completa da economia, e negacionista também da triste realidade do Covid-19, muitos governos e prefeitos resolveram ceder à pressão dos empresários e reabriram a economia. Talvez os governadores e prefeitos, assim como o presidente, também esteja de olhos nas próximas eleições que devem acontecer mais para o final do ano.
O resultado foi o que vocês viram na foto acima, em uma das ruas do centro Comercial de Campinas, São Paulo.       Bastou reabrir o comércio para que o povo corresse para ocupar os espaços públicos.
Segundo dados registrados até o presente pelo portal da prefeitura de Campinas, no município foram registrados, até agora, 3.337 casos confirmados de conoravírus, e 130 óbitos.
Essa movimentação não é apenas privilégio de Campinas, não, mas também tem acontecido também em grandes capitais como Rio e São Paulo. Isso, claro, leva também a aglomerações nos trens, ônibus, e metrôs, além da aglomeração nas ruas e lojas.
Como se vê, a grande maioria dos brasileiros ainda não se deu conta de que está vivendo em um momento de grave perigo, no qual o mundo luta contra o inimigo invisível, cuja a única arma para o qual dispõem até o momento são: isolamento social, e cuidados com a saúde. E será assim, enquanto não houver um remédio eficaz, uma vacina que realmente cure da doença.
Se os governos municipais e estaduais promoveram uma reabertura da economia e as pessoas precisam voltar às suas atividades rotineiras, que o façam então com segurança, usando máscaras, mantendo o distanciamento recomendado pela OMS, e lavando as mãos com água e sabão, ou passando álcool gel nelas.
O problema é que muita gente tem saído de casa, famílias inteiras tem saído de casa, sem necessidade. Hoje mesmo, reportagem exibida no Jornal Nacional, mostrava o caso de um idoso que tinha saído de casa para comprar um presente para a filha. Ele do grupo de risco.
Como este senhor mostrado na reportagem do JN há muitas pessoas que estão brincando com a doença. Não é momento de sair para procurar para mimos, não é momento de ir desesperado às ruas em busca do supérfluo. É momento de preservar o bem maior: a vida. Sair de casa, ok, mas apenas em casos de necessidade.
E a falta e consciência deságua em irresponsabilidade na organização de festas clandestinas que estão acontecendo em vários estados brasileiros. Quando a polícia descobre vai lá e reprime, e quando a polícia não descobre onde essas festas acontecem?
Por tudo isso, a situação do Brasil em relação ao coronavírus tende a piorar nos próximos dias e semanas. Em relação ao avanço da doença o país está como um carro de fórmula 1 em pleno campeonato: acelerando sempre. E como o piloto não é bom, a tendência é bater no muro de proteção, capotar na pista e está feito o desastre.
Em relação a outros países o Brasil está numa corrida de cavalos, enquanto os outros países avançam na frente no combate à doença, o Brasil amarga a última posição. 


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Vidas negras importam

Posted by Cottidianos on 01:43
Quarta-feira, 03 de junho

Salve, meus irmãos africanos e lusitanos, 
do outro lado do oceano
O Atlântico é pequeno pra nos separar
Porque o sangue é mais forte que a água do mar
Racismo, preconceito e discriminação em geral
É uma burrice coletiva sem explicação

(Racismo é burrice - Gabriel, O pensador)

Charge/cartoom Junião


Penso que o mundo deve estar girando mais devagar de tão tenso que está o clima em todo o planeta. É coronavírus. É hipocrisia. É medo. É preconceito. Coitado do mundo! Se pudesse se sacudir como um cão raivoso e expulsar de seus pelos todas as pulgas, acho que ele faria isso, sim.
Ao dizer isso, me lembro de um verso de Raul Seixas e Paulo Coelho, na canção, As Aventuras De Raul Seixas Na Cidade De Thor,
Buliram muito com o "praneta",
“O "praneta" como um cachorro eu vejo,
Se ele já não "guenta" mais as pulgas, se livra delas
no "saculejo"!”
Outro verso dessa mesma canção também serve para introduzir os assuntos que seguem:
Tá "rebocado" meu "cumpadi"?
Como os donos do mundo piraram?
Eles já são carrascos e vítimas do próprio mecanismo
que criaram!


É impossível não voltar os olhos para os Estados Unidos da América no presente momento. E não um olhar qualquer, mas um olhar com o coração apertado, e até com lágrimas nos olhos. Não são apenas gritos contra um homem negro morto por um policial branco. É mais que isso. É aquela dor que vem se estendendo por décadas sob camadas de humilhação e preconceito. Daquelas dores que ficam no coração como cinzas de um vulcão que parece extinto e, de repente... Bum... Explode... E libera as larvas da magoa de se ver diminuído por séculos.
E então esse problema já não é mais um problema de negros, mas de brancos, e de toda uma sociedade. É preciso curar essas feridas. É preciso evoluir. Onde está o progresso material se não há um progresso moral? Como avançar e ser o melhor do mundo, se ainda não se resolveu as questões mais básicas do ser humano como, por exemplo, o respeito e a igualdade?
Essa questão do racismo contra o povo negro não é apenas uma questão enraizada na sociedade americana. Questão enraizada. Raiz. Raiz deve ser aquela que dá vida. Que mantém a planta viva. Mas não é esse o caso das duas raízes em questão: racismo e preconceito. Ao contrário das raízes que trazem vigor à planta, à base da sociedade, essas raízes matam. Assassinam sonhos, esperanças, desejos, realizações.
O pior é que essas raízes do mal estão espalhadas por todo o mundo. É comum ver em estádios de futebol de países ditos de primeiro mundo, os atletas sofrerem racismo enquanto exercem a arte do lúdico, que traz alegria aos corações. Mas os gritos de discriminação que se fazem ouvir por parte de alguns torcedores doem bem lá no fundo da alma.


A tragédia que tem incendiado os Estados Unidos e inspirado protestos semelhantes pelo mundo todo aconteceu em Minneapolis.
Um homem negro, George Floyd, 46 anos, morreu na segunda-feira, 25 de maio. Estava detido e algemado por um policial branco. O policial pressiona o joelho contra o pescoço de Floyd. “Não consigo respirar”.
Faço uma pausa nessa narrativa para perguntar ao leitor, leitora, qual a coisa mais importante na vida para uma pessoa? Dinheiro? Amor? Posição social? Viagens? Sonhos? Bens materiais? Força de vontade? Saúde? Vamos, podem elencar mais alguns, se assim o desejarem.
Escolheu sua resposta. Sinto dizer que a coisa mais importante na vida de uma pessoa não é nenhuma das listadas acima. Pode-se viver sem qualquer delas tranquilamente. Na vida tudo se arranja. Para tudo se dar um jeito de tocar o barco.
A coisa mais importante da vida de uma pessoa é o ar que respiramos. É ele que nos traz a vida ao nascermos, e, com essa primeira respiração, quando o ar entra nos pulmões, vem o choro. Ao final da vida, é quando uma pessoa cessa de respirar que se diz que ela morreu. Tente ficar sem ar apenas por alguns segundos. Consegue? Logo bate o desespero, e tudo a que os pulmões almejam, suplicam, imploram, é por um pouco de ar.
Então, dizendo dessa forma, o policial privou Floyd daquilo que ele mais precisava naquele momento: o ar.  Coisa, que de tão preciosa, não se paga por ela em lugar algum do mundo. Tem ar aos montes para todo mundo. Cruel. Crudelíssima a atitude do policial.
O nome dele? Desse assassino cruel disfarçado de policial? Derek Chauvin.  
O fato aconteceu na segunda, 25 de maio, e na sexta-feira, 29, o chefe do Desparamento de Segurança Pública de Minessota, Johns Harrington, anunciou que Derek havia sido preso. Acusado de assassinato em 3o grau, tipificado como homicídio culposo. Diz-se do homicídio culposo que é aquele quando não há intenção de matar.
Foi uma acusação injusta contra Derek. Creio que o leitor irá concordar com essa afirmação. Se uma pessoa passa vários minutos sufocando outra, há nisso uma intenção ou não de matar? É obvio que quando se sabe que, sem o ar, uma pessoa não sobrevive por muito tempo, como então não haverá intenção de matar por parte de quem comete tal ato?
Então, Derek não deveria ter sido acusado de homicídio culposo, mas sim por homicídio doloso, quando há intenção de matar. Espera-se que a justiça americana corriga essa falha com o decorrer do processo.
Desde então os Estados Unidos, de costa a costa, foram tomados por intensas manifestações que nunca mais tinha se visto desde os tempos do grande Martin Luther King. King mudou a sociedade americana com a sua visão de mundo. Espera-se que parte da sociedade americana, especificamente aquela que acredita que uma raça é superior a outra, abra os olhos e entenda que essa atitude não é cristã, nem muito menos humana.
O país avançou muito nessa questão da década de 60 para cá, mas é preciso ainda muito mais mudanças na mentalidade da supremacia branca. É tanto que vez ou outra, acontece com outros negros o mesmo que acontece com Floyd e a pena, quando ela existe para os policias brancos, é muito branda.
Além disso, o preconceito vai muito mais além do que a cor da pele simplesmente. O racismo também está expresso na falta de oportunidades, nos lugares destinados aos negros para habitarem, geralmente, em periferias, onde a estrutura é bem inferior aos bairros brancos.
Minneapolis, em Minessota, por exemplo, é a quarta pior área dos Estados Unidos para negros morarem, e com maiores disparidades entre negros e brancos em vários indicadores sociais.
E estão assim as coisas por lá. Desde o dia 25, os Estados Unidos foram tomados por protestos e manifestações gigantescas. Em meio a tudo isso, um presidente que não está sabendo lidar com a situação. Quem diria que Donald Trump, na sua corrida pela reconquista da cadeira presidencial, iria se deparar com uma questão bem mais delicada e mais enraizada que o coronavírus?
E, ao que parece, os ânimos dos norte-americanos não vão arrefecer assim tão fácil, mesmo sendo estabelecidos toques de recolher, desobedecidos pelos manifestantes, e com o presidente ameaçando colocar o Exército nas ruas para conter os protestos.
Como foi dito acima, a questão racial não é problema apenas dos Estados Unidos, mas de todo o planeta onde tenha povo negro.
Aqui no Brasil não é diferente. Vez ou outra e quase sempre, as manchetes de jornais estampa notícias de policiais que mataram negros de forma covarde. Tipo aquela coisa de atirar primeiro e perguntar depois.
Vidas negras no Brasil também não importam para a polícia.

João Pedro

Recentemente, a polícia atirou em um jovem negro em uma comunidade carioca. Foi no dia 18 de maio, no complexo do Salgueiro. Naquele dia, os policiais foram até o local em busca de criminosos. Cercaram a área pelo solo, e também pelo ar.
Quando começou aquela confusão, João Pedro, um jovem negro, de 14 anos, cheio de sonhos e uma vida inteira pela frente, estava em companhia de outros seis amigos, em casa de um tio dele. Era também um dia segunda-feira, como aconteceu com George Floyd.
De repente, começou o tiroteio. Barulho de helicóptero, policiais na rua, e aquela confusão toda. Obviamente, os jovens, receosos, buscaram fugir do local, em busca de abrigo e proteção. Aliás, como é costumeiro aos moradores dos morros cariocas quando se deparam com essas situações nada agradáveis.
Foi então que o pior aconteceu. Os policiais entraram na casa do tio de João Pedro. Já chegaram atirando. Mais de 70 disparos. Um tiro pelas costas, a parte posterior das costas, na altura das costelas, do lado direito, tirou a vida do jovem João Pedro.
A polícia chegou lá de uma maneira cruel, atirando, jogando granada, sem perguntar quem era. Se eles conhecessem a índole do meu filho, quem era meu filho, não faziam isso. Meu filho é um estudante, um servo de Deus. A vida dele era casa, igreja, escola e jogo no celular”, disse o pai do jovem adolescente em entrevista à imprensa.
Esse foi apenas um dos muitos casos de covardia e operações policiais desastrosas que a imprensa noticia. E os que ficam embaixo do pano? Aqueles que não são noticiados pela imprensa? E que são muitos. Muitas as histórias de preconceito e discriminação que acontecem com os negros, não apenas nos morros cariocas, mas em todo o Brasil.
O problema por aqui é que o racismo é mais cruel, por ser mais brando. As pessoas dizem: Ah, mas eu não sou racista. Não é racista dizendo de boca, mas as atitudes mostram exatamente o contrário. Por aqui o preconceito também se expressa, não apenas pela cor da pele, mas também pela falta de oportunidades, pelo modo de agir das forças policiais, que é diferente dependo do lugar em que estão. Se é em bairro de ricos e brancos o tratamento é um. Se é um bairro de negros e pobres o tratamento é completamente diferente.
Falando desse assunto, não tem como deixar de citar o presidente da Fundação Cultural Palmares, Sérgio Camargo. A Fundação Palmares foi criada para lutar pelos direitos e autoafirmação do povo negro, mas, atualmente tem se desvirtuado muito desse objetivo, melhor dizendo, o tem renegado.
Sérgio de Camargo, que é negro, tem tomados muitas decisões, expressado muitas opiniões que descaracterizam o escopo inicial da Fundação Palmares.
No dia 30 de abril, ele teve uma reunião com assessores. A reunião ocorreu para tratar do desaparecimento do celular corporativo de Camargo. Ao ser cobrado pelo ressarcimento do aparelho, ele muito irritado, disse que o celular tinha desaparecido no período em que ele esteve afastado do cargo por causa de uma decisão judicial.
Ele diz aos assessores que havia deixado e celular numa gaveta, e que alguém havia sumido com aparelho com o intuito de prejudica-lo. Nesse momento ele, mais uma vez ofende o movimento negro e desqualifica o patrono do movimento, Zumbi dos Palmares.
As frases horripilantes citadas abaixo foram ditas por Sérgio Camargo durante a reunião:
Eu exonerei três diretores nossos (...). Qualquer um deles pode ter feito isso. Quem poderia? Alguém que quer me prejudicar, invadir esse prédio para me espancar, invadir com a ajuda de gente daqui... O movimento negro, os vagabundos do movimento negro, essa escória maldita”.
Esses filhos da puta da esquerda não admitem negros de direita. Vou colocar meta aqui para todos os diretores, cada um entregar um esquerdista. Quem não entregar esquerdista vai sair. É o mínimo que vocês têm que fazer”.
Não tenho que admirar Zumbi dos Palmares, que, para mim, era um filho da puta que escravizava pretos. Não tenho que apoiar agenda consciência negra. Aqui não vai ter, vai ter zero da consciência negra. Quando cheguei aqui, tinham eventos até no Amapá, tinha show de pagode no dia da consciência negra”.
É hora mesmo de destruir os muros da intolerância e do preconceito. É hora de dizer não ao racismo brando que impera na sociedade brasileira. É hora de dizer não aos posicionamentos do Sr. Sérgio Camargo. É hora de gritar aos quatro cantos do mundo que sim, VIDAS NEGRAS IMPORTAM.
Chamei o poeta, místico, e louco, Raul Seixas para iniciar esse texto e o chamo novamente para finalizá-lo com mais um verso da canção, As Aventuras De Raul Seixas Na Cidade De Thor:
Tem gente que passa a vida inteira,
Travando a inútil luta com os "galhos",
Sem saber que é lá no tronco que tá o coringa do
Baralho!



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