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Os Pôncio Pilatos da cena política
Posted by Cottidianos
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Terça-feira,
26 de junho
O caro leitor, ou leitora, já deve ter ouvido,
ou até mesmo feito uso dessa expressão popular: Lavo minhas mãos. Ela é muito
usada por aqueles que desejam isentar-se de uma responsabilidade, em outras
palavras, omitir-se.
A conhecida expressão popular tão usada por
muitos, surgiu em um momento crucial na vida de um personagem imensamente
popular na história da humanidade: Jesus Cristo, e funcionou como região
fronteiriça entre a liberdade e a condenação de um homem justo à morte na cruz.
Sendo que a morte na cruz era usada na antiguidade para condenar àqueles que
haviam cometido faltas graves.
Apesar de este não ser este um antigo que
discorra sobre religião, permita o leitor, que se faça nele um breve mergulho
neste momento tão importante da história cristã.
Nos longínquos dias em que se sucederam os
fatos referentes à paixão, morte, e ressurreição de Cristo a popularidade deste
personagem, vinha crescendo vertiginosamente e isso estava incomodando bastante
os líderes religiosos daquela época. Aliado a isso, os milagres que o mestre
Jesus fazia e, principalmente, as coisas que ele dizia, eram motivo de
preocupação para os líderes religiosos, uma vez que os ensinamentos e as ações
de Cristo poderiam, por sua vez, inibir os ensinamentos, as ações, e,
principalmente, as influências exercidas por eles, junto à população.
Por tudo isso, os opositores de Cristo,
procuraram — como se procura agulha no palheiro — um motivo para tirá-lo da
cena, e, enfim, conseguiram.
Era época de Páscoa e Jesus havia sido
preso. Agora ele estava no Palácio de Pâncio Pilatos, governador da Judéia, e
por este era interrogado. Também, preso e condenado, estava um fora da lei
muito conhecido, chamado Barrabás. Era
costume, por ocasião de Páscoa, o governador soltar um preso à pedido dos
chefes dos sacerdotes.
Entre um inocente e um fora da lei, eles
escolheram ser benévolos para com o fora da lei.
Já naquela época os interesses pessoais e políticos
falavam muito mais alto que o senso de justiça. Pilatos, então, não querendo
manchar sua reputação perante aos chefes dos sacerdotes e principalmente, junto
ao imperador de Roma, Tibério César, colocou sua carreira política acima daquilo
que se espera de um governante justo.
Dessa forma, querendo evitar problemas, para
sua administração, mesmo sabendo que estava diante de um inocente, pediu que
lhe trouxessem uma bacia com água e, lavando as mãos disse: “Estou inocente do
sangue deste justo. Lavo minhas mãos. Fique o caso convosco“, entregando, em
seguida, Jesus para ser martirizado.
E assim, mesmo sabendo que condenava um
inocente, Pilatos entregou Jesus aos seus algozes para que o chicoteassem,
zombassem, cuspiam-lhe na face, e o crucificassem.
Já
faz algum tempo que o eleitor brasileiro mostra tendências de que pode adquirir
o mal de Pôncio Pilatos, qual seja: uma tendência em omitir-se, lavar as mãos.
Esse fato aconteceu mais uma vez neste domingo (24) no estado do Tocantins. Naquele
estado, foram realizadas eleições fora de época para governador. Realizada em duas
etapas, a disputa levou para o segundo turno os candidatos Mauro Carlese (PHS)
e Vicentinho (PR). Na eleição realizada no último domingo, Carlese levou a
melhor, tendo sido eleito o novo governador do Tocantins.
No
Tocantins aconteceu o seguinte. Em 2014 foram eleitos para o governo daquele
estado, Marcelo Miranda (MDB), governador, e Claúdia Lelis (PV),
vice-governadora. A chapa formada por eles foi eleita com mais de 360 mil
votos. Entretanto, em 22 de março deste ano, o TSE (Tribunal Superior
Eleitoral), chegou à conclusão de que a chapa havia sido eleita a partir de
doações ilegais para a campanha eleitoral dos dois candidatos em 2014. Em consequência
disso, os dois tiveram os mandatos cassados.
O
TSE exigiu ainda que os dois deixassem os cargos imediatamente, e convocou
novas eleições com primeiro turno realizado no último 03 de junho. Interinamente,
assumiu o cargo o presidente da Assembleia Legislativa, Mauro Carlese (PHS).
Carlese
seguiu no governo interino até 06 de abril devido ao fato de o “bondoso” ministro
do STF, Gilmar Mendes, ter acolhido petição apresentada pelos advogados de
Marcelo e Claúdia e, em decisão liminar, ter suspendido a decisão do STF, proferida em março. Enquanto
os recursos eram julgados os dois ocupantes do cargo voltaram ao poder, tendo
Carlese que sair do cargo.
Em
17 de abril, o TSE negou os recursos apresentados pelos advogados de defesa do
governador e da vice-governadora, decidindo manter a cassação da candidatura
dos dois. Além disso, suspendeu a ordem temporária dada por Gilmar Mendes. Também
foi confirmada a data das eleições para o dia 03 de junho.
Fechando
a questão sobre quem ficaria no comando político do estado, Mauro Carlese foi
eleito governador com 368.553 (75,14% dos votos válidos). O outro candidato,
Vicentinho, obteve 121.908 votos (24,86% dos votos validos).
O
que chamou a atenção, entretanto, foi a quantidade de eleitores do estado do
Tocantins que lavaram as mãos na eleições deste dia 24 de junho. 51,83% dos
eleitores, simplesmente, não escolheu nenhum candidato em segundo turno.
Se
esses eleitores fossem, de fato, um candidato ao governo teriam vencido Carlese
e Vicentinho, pois a soma dos votos brancos, nulos, e abstenções somou o total
de 527.868, enquanto que a soma dos votos conquistados pelos dois candidatos
que concorreram ao pleito foi de 490.461. No primeiro turno, quase a metade dos
eleitores não havia votado em nenhum candidato.
Além
do Tocantins, outros 7 outros municípios voltaram às urnas no domingo para
escolher novos prefeitos pelo mesmo fato que motivou a eleição fora de época no
Tocantins: os vencedores das eleições municipais de 2016 tiveram seus mandatos
cassados pela Justiça Eleitoral. Os 7 municípios a realizarem eleições
suplementares para prefeito e vice-prefeito foram: Em Minas Gerais; Santa
Luzia, Itanhomi, e Timóteo. No Rio de Janeiro; Cabo Frio e Rio das Ostras. Outros
dois municípios foram: Moju, no Pará, e Santa Cruz das Palmeiras, em São Paulo.
Esse
fato preocupante, que é a omissão dos eleitores, já havia sido notado nas
eleições suplementares para governador e vice-governador no Amazonas em 2017,
quando quase 50% dos eleitores de lá não compareceram, no segundo turno, para
escolherem algum candidato.
Nas
eleições municipais para prefeito em 2016, o número de abstenções, votos
brancos e nulos superaram os votos dos candidatos eleitos em cidades como Rio
de Janeiro, Belo Horizonte, e Porto Alegre.
Nas
eleições presidenciais de 2014, o eleitor já dava sinais de que seguiria essa tendência
de lavar as mãos. Naquele ano, o número de eleitores que não escolheu nenhum
candidato chegou a 27,7% dos votos.
Será
que o que aconteceu no Tocantins no domingo passado é uma previa do que
acontecerá nas eleições de outubro? Será mais um recado dos eleitores para os
candidatos e partidos que fingem em não entender o que se passa na cabeça do
eleitor?
Adianta
alguma coisa o lavar as mãos? Omitir-se?
É
certo que, diante de tantos escândalos e assaltos aos cofres públicos, é grande
o desanimo do eleitorado brasileiro com a classe política, mas adianta alguma
coisa cruzar os braços e fingir que nada acontece? Ou que se fingir de estatua
irá resolver os graves problemas que o país atravessa?
Triste
o país em que a escolha de seus representantes se dá pelo menos pior. Entre dois,
escolher aquele que é menos ruim. Tem sido assim no Brasil. Porém aquele que se
abstém, ao contrário do que ele mesmo pensa, também está se posicionando
politicamente da pior forma possível. Pode ser, por intermédio de seu
desinteresse, seja eleito o pior e não o menos o ruim, e isso, será péssimo
para todos.
Fazer-se
de Pôncio Pilatos e lavar as mãos é perigoso, pois enquanto o eleitor se omite,
cruza os braços, finge não participar do processo político, os chefes dos
sacerdotes modernos do mundo político continuam a incitar a condenação de
muitos inocentes Brasil afora à morrer na cruz do abandono e do sofrimento,
enquanto eles, chefes dos sacerdotes modernos se fartam em banquetes de
corrupção e se alimentam de suas práticas desumanas, corruptas e miseráveis.