0

Recordando os difíceis tempos da escravidão

Posted by Cottidianos on 05:10

Sexta-feira, 29 de novembro

“Há histórias que precisam ser contadas muitas vezes, para que nunca mais sejam imitadas”.


O texto a seguir é a fala de um antigo escravo brasileiro, que trabalhava nas lavouras de café. O personagem que dialoga com o leitor é fictício, porém, a vida difícil  que ele levava no cativeiro, é a mais pura realidade, se não fosse bem pior. Igualmente, são reais os castigos descritos pelo personagem. Talvez esse tenha sido o texto mais trabalhoso que publiquei até agora. Primeiro, o escrevi numa linguagem atual, mesclada com algumas palavras antigas. Mostrei o texto ao amigo Daniel Ferreira. Este indagou: “Porque você não escreve todo o texto numa linguagem antiga? Do modo que ele está me parece muito formal”. Achei coerente a observação de Daniel e refiz o texto. Procurei aproximá-lo da maneira como se expressavam os escravos. Ao final do texto, deixo um pequeno vocabulário, para o caso do leitor sentir dificuldade em compreender algumas palavras. A minha sugestão é de que deem uma olhada antes no vocabulário. Mas o processo de leitura é do leitor e ele começa por onde quiser. Não interferir nisso.


Imagem: http://www.curandocomoreiki.com/2012/04/mensagem-sobre-espiritualidade-de-pai.html


Nasci há muito tempo atrás, na época da escravidão, uma época de grande atraso moral na história da humanidade. Vim ao mundo numa dura cama de madeira, que mais parecida cama de pedra, em uma senzala, aí pelos interior de São Paulo. Chorei pela primeira veis no meio de uma noite fria e chuvosa. Sou fio de uma nega formosa que veio de longe, bem longe, de lá das terra da mãe áfrica. Meu pai era um mulato bonito e muito simpático. Eles se conhecero nas roça de café. Sabe seu moço, as coisas que vou dizer aqui, me doi muito o coração relembrá-las. Sinto uma grande tristeza em quando me alembro desses causo. Na verdade, gostaria de esquecê esses passado, mas num  posso: sofrida ou não, é a minha história. Quem renega a própria história parece mais é com uma árve de raíz podre, dessas que quarquer vento derruba. Além do mais, tenho um compromisso com a verdade, e a verdade deve sempre prevalecer. Só a verdade liberta o homi pra que ele marche seguro em direção à terra da promissão e da justiça. Pode acreditar, seu moço: Não pode inxistir  justiça onde não inxiste verdade.

Naquele tempo, no tempo em que nasci, num inxistia Lei. Quer dizer, se inxistia  eu não conhecia. Ela devia ficar nos lugarejo bem distante de onde eu vivia. Ali, naqueles pé de serra, o juiz e o delegado era os sinhô de ingenho. Eles mandava, os feitor obedecia e nóis sufria os castigo Sabe de uma coisa, seu moço: aquele povo tinha o coração mais duro do que as pedra que ficava nas encosta das serra. Acho que nunca soubero na vida, o significado de amor, bondade, fraternidade.  Por detrás dessas palavra se esconde muitos tesouro. Mas essas coisa a gente só compreende adespois que deixa essa casca, essa prisão, que é o corpo, e sobe pra o céu da glória.

As coisas que vou dizer aqui são muito forte, se você for fraco no sentimento, e quiser sair de perto, num faço caso, sei compreender vosmecê. Afinal, não é todo mundo que tem estomago forte para ouvir essas coisa.

Meu patrão, ou como se dizia naqueles tempo, “meu dono”, era um homi muito rico. A casa-grande da fazenda parecia mais um castelo do que uma casa. Eles vivia como se fosse famia de rei, de tão rico que era. As roupas que eles usava vinha tudo de longe, de um lugar que eles chamava Europa, disso eu também me alembro.  As gema que a Sinhá e as fia usava briava mais do que o sol.  Mais não se engane com tamanha riqueza e o jeito inducado daquela gente. Por detrás daquelas roupa fina que o Sinhô usava, e da fala mansa com que tratava as artoridade, se escondia um carrasco, um tirano da pior qualidade. Era um homem capaz praticar grandes atrocidade sem um tico de arrependimento. A crueldade daquele marvado eu tive a infelicidade de conhecer desde muito cedo.

Imagem: http://ojs.gc.cuny.edu/index.php/lljournal/article/view/1346/1426


Havia, no pomar da casa, um pé de figo cheio de fruto. Cada um mais bonito que o outro, já quase no ponto de ser coídos.  Eu era menino de tudo, se muito tivesse era uns cinco ano de idade.  Meu patrão me colocou ali de vigia. Disse que ficasse ali, e num deixasse nenhuma ave comer os figo. Não queria ver nenhum estragado. Meu deu  uma bassoura feita com gaio de arve pra que eu afastasse as ave com ela. Chegou um momento que veio ave demais pra duas mão só. Resultado: os figo ficou tudo furado pelo bico das ave.  O patrão chegou e, quando viu os fruto bicado, parece inté que saia faísca dos oio dele. Gritou muito comigo. Como eu num tava acostumado com aquilo, comecei a chorar. As coisa que ele fez  num parou por aí não. Ele chamou um escravo que passava ali perto e mandou que ele pegasse um bacaiau e me batesse. As pancada daquele bacaiau doía demais e eu gritava e chorava muito.  Minha mãe ficou só de longe vendo aquelas coisa, mas num podia fazer nada. Entonce, ela saiu devagarinho e foi chorar escondida, em algum canto da fazenda. E de noite ela ainda tinha que sê forte pra tratar das minha ferida.

Um dia, a fia de uma escrava tava limpando os móve da sala, a menina tinha uns... Acho que ela devia uns sete ou oito ano, se num me faia a memoria, e sem querer dirrubou um vaso de porcelana que era muito caro. O vaso se espatifou todo no chão. A menina começou logo a churumingar, dizendo que havia sido sem querer, porém num teve jeito: O marvado pegou a menina pelos cabelo e arrastou ela pra fora de casa. Levou ela pru quintal e colocou as mão da coitada em cima de uma mesa de madeira, que sirvia pra as escravas fazer seus trabaio domestico. Ele pediu que trouxesse um martelo e, com essa ferramenta, cumeçou a quebrar os dedos da mão dela. Fez questão de quebrar um por um aqueles dedo miúdo.  A menina sufruia muito com as dor... E como chorava a coitadinha... Quanto mais ela dizia: “Sinhô, pelo amor de Deus, não faz isso comigo não!”, com mais força ele quebrava os dedo dela. Ninguém podia interceder por ela, até porque, se fizesse isso, também era castigado. Os gritos da menina chegava a cortava meu coração. Logo tratei de ir buscar lenha bem longe da casa pra não ter que ver, nem ouvir aquela coisa horrive. A menina era minha amiga, quando a gente podia, se divertia muito.

Fui crescendo e fui entrando no mundo de gente grande. Lá vi coisa muito pior.

Imagem: http://escola.britannica.com.br/assembly/143785/Escravos-carregando-cafe-gravura-de-Jean-Baptiste-Debret-1826


Pra começar as condição de vida e de trabaio era sofrida demais. A gente  saia pra trabaiá antes do sol se levantar e só vortava quando ele já tinha baixado.  O suor que escorria do corpo negro e cansado da gente, era testemunha das humiação que a gente passava. A gente comia e bebia muito poco. O cativo não  comia quando ele queira, nem bebia quando tava com sede. A hora de comer e de beber era a hora que o feitor achasse mió. Era assim nas lavouras de cana, nas lavoura de café, a gente era tratado pió que os animá, acho que muitos animá era mais bem tratado que a gente, era só espiá os cavalo do patrão. A gente num podia discansar da lida, de jeito nenhum. Se sentar pra descansar um pouco? Tava doido quem fizesse isso. Até pra engolir um pouco de comida, tinha que ser de pé. Ai de quem o feitor pegasse conversando com o companheiro do lado.

Me alembro que um dia, um companheiro que trabaiava do meu lado, tava quage desmaiando de tanta sede.  O homem não aguentou e foi até onde tava o feitor e pediu um gole d’água. Sabe o que o ingrato fez? Chamou ele de negro preguiçoso e mandou que amarrasse ele no tronco de uma árve e o chicoteasse. Só adespois de ver o sangue escorrendo pelas costas do escravo é que ele foi mandado de vorta pra terminar o serviço.

Ás véis ficava pensando naquele sufrimento todo que a gente passava. No fim das conta, o que fazia um homem sê maiô que outro? A cor da pele? Os homens não devia ser julgado pela cor da pele. Muito meno pelas religião,  ou quarquer outra coisa. O caráter de um homem é que devia dizer se ele era bom ou ruim. Um sistema onde os homi são tratado como bicho ou como mercadoria num é um sistema justo. Onde está o pogresso nesses caso? O monstro da escravidão, só teve força pra ficar vivo tanto tempo porque contou com o apoio daqueles que devia invitar isso: o tal de Estado e a Igreja. Mas qual nada, Estado e a Igreja era tudo farinha do mermo saco.

Imagem: http://rodrigoconstantino.blogspot.com.br/2013_06_01_archive.html


Cansei de ver político e padre, saindo da fazenda com os bolso cheio de moeda de ouro ou de prata. Aí é que está o X da questão. Os ricos e poderosos tinha dinheiro para oferecer. E nois, raça sofrida, o que tínha? A gente num podia oferecer era nada, só tinha muito trabaio e o corpo pra receber pancada.

Um dia, aquele escravo que pediu água ao feitor, aquele de quem falei antes, não teve mais força pra aguentar tanto sufrimento e resolveu fugir. O Sinhô, mandou uma milícia atrás dele e, tanto fizeram, que truxero ele de vorta. Amarraro o coitado no tronco fizero ele levar chicotada das dez hora da manhã, até o fim da tarde. O sangue dele escorria na terra como se fosse um rio.  Depois desse castigo feio, o marvado do patrão mandou amarar as mão e as perna dele jogaro o pobre coitado dentro de uma carroça.  Só vi quando a carroça partiu em direção a floresta.

Quando a milícia vortô já era de noite. Ninguém falô nada. Vinha todo mundo quieto. Mais tarde, deitado naquela cama dura da senzala, perguntei baixinho a um que dormia ao meu lado: “E aí? O que fizeram com ele”? O escravo respondeu baixinho: “O carrasco mandou jogar ele vivo dentro de um grande formigueiro de saúvas. Até agora meus ouvido escuta os grito do homi”. Um calafrio subiu e desceu pelo meu corpo. Naquela noite não consegui durmi.

Houve muitos casos de crueldade que ficaro guardados naquelas senzala. Num era de interesse de ninguém que isso ficasse conhecido. Nem o Estado e, muito menos, a Igreja. Apesar disso, não guardo ódio nem rancor dos meus algoz. No mundo espiritual, onde vivo hoje, ódio e rancor são como se fosse corrente pesada amarrada nos pé ou no pescoço. E com corrente em quarquer parte do corpo é difici se movimentá. Quando tava na terra, carreguei muita corrente de aço. Hoje, num quero mais saber desse peso não, nunca mais. Hoje, quero apenas a liberdade que o espírito me permite de ir pra onde eu quiser, andando pela cidade de luz, distribuindo a todos a bondade e a caridade.

Ainda antes de vortá pra lá, quero dizê a vosmecê que, quando vosmecê agride os irmão de humanidade, quando olha com preconceito pra quem quer que seja, vosmecê cria um campo de energia ruim que faz alembrar aquela gente cruel. Vou contar um segredo para vosmecês, e mais num posso falá: hoje quem carrega corrente pesada é aqueles que no passado, castigou e oprimiu os seu semelhante, sem levar em conta a lei do amor e da caridade.

Com a permissão de vosmecê, tenho que me retirar agora. Preciso ir pra outras terra. Visitar outros irmão.


Fique com Deus. Deus abençoe vosmecê.


***

PEQUENO VOCABULÁRIO



Adespois – depois
Andá – andar
Animá - animal
Arve – arvore
Bacaiau(bacalhau) - chicote
Briava – brilhava
Coídos - colhidos
Churumingar – chorar baixinho
Durmi - dormir
Difici – difícil
Entonce - então
Espiá - Olhar
Esquecê – esquecer
Falô - falou
Famia – familia
Fizero - fizeram
Humiação - humilhação
Homi – Homem
Horrive - horrivel
Ingenho- engenho
Inté – até
Inxistir – existir
Jogaro – jogaram
Maió – maior
Móve – móvel
Marvado – malvado
Mió – melhor
Oio – olho
Poco - pouco
Pru – para o
Pió – pior
Pogresso - progresso
Quarquer – qualquer
Quage - Quase
Roça- plantação
Sufria - sofria
Senzala – Alojamento onde viviam os escravos
Sirvia – servia
Trabaio – trabalho
Truxero - trouxeram
Vortava – voltava
Vosmecê - você
Vortá - voltar
Véis - vezes
Vortô - voltou






0

Flagrantes do bem

Posted by Cottidianos on 03:20
Quarta-feira, 27 de novembro

Imagem: http://www.portaisgoverno.pe.gov.br/web/sds/exibir_noticia?groupId=124015&articleId=763107&templateId=176917


Solidariedade: O que significa essa palavra que tem sido alvo de tantos debates, de tantas discussões?  Será que ela que tem sido pratica na mesma proporção em que é discutida? Há espaço para ela no mundo consumista e capitalista, no qual não se pode perder um segundo de tempo? Vamos começar nossa conversa visitando o Aurélio, Novo Dicionário da Língua Portuguesa. O que nos diz ele?  “Sentido moral que vincula o indivíduo à vida, aos interesses e às responsabilidades dum grupo social, duma nação, ou da própria humanidade/ Relação de responsabilidade entre pessoas unidas por interesses comuns, de maneira que cada elemento do grupo se sinta na obrigação moral de apoiar o (os) outro (os)”.  O dicionário nos dá outros significados, entretanto, no momento, só nos interessa esses dois.

Definições bonitas essas que o Aurélio nos apresenta, não? Muito lindas mesmo! Porém, como essas palavras se traduzem na prática, no dia-a-dia? Olhamos o dicionário e definimos a teoria. Vamos olhar agora as câmeras instaladas pela Secretaria de Defesa Social, da cidade de Recife, Estado de Pernambuco, no Nordeste brasileiro. Talvez elas nos deem uma definição mais prática.

Segundo definição do próprio site da secretaria, o órgão tem como missão institucional “Promover a defesa dos direitos do cidadão e da normalidade social, através dos órgãos de segurança pública, integrando ações do governo”. Dentre as medidas adotadas pela SDS (Secretaria de Defesa Social), está a instalação de câmeras no centro do Recife, com o objetivo de flagrar a ação de delinquentes. Os profissionais da secretaria tiveram uma grande surpresa. As câmeras, realmente, flagraram a ação de bandidos, mas também surpreenderam ao mostra o flagrante do bem.  As imagens foram mostradas numa TV local, sendo a repórter, Beatriz Castro, a autora da matéria.

Uma das cenas acontece em dia de chuva, quando um pedestre é atropelado e permanece caído na avenida. Alguns pedestres logo se juntam e forma uma barreira humana, todos com guarda-chuva, protegendo-o da chuva e, ao mesmo tempo, de sofrer outro acidente.

Em outra, o deficiente visual caminha pela calçada quando se depara com faixas e cavaletes no meio do caminho. A calçada estava interditada devido a obras que estavam sendo realizadas no local. Um transeunte que passava por ali na ocasião oferece ajuda e o deficiente visual consegue prosseguir seu caminho sem maiores impecilhos.  Outros indivíduos com a mesma dificuldade surgem pelas ruas do centro e a atitude dos passantes é a mesma: prestarem ajuda.  Está difícil subir à calçada quando se está em uma cadeira de rodas? Não é preciso se desesperar, logo aparecem uma, duas, três pessoas prontas a ajudar. Um homem, aparentemente embriagado, está deitado na escadaria de uma igreja.  Uma mulher que por ali passava se dirige até ele. Tenta acordá-lo por várias vezes, o homem não acorda. A carteira que ele segurava nas mãos era um alvo fácil para os ladrões. Ela retira a carteira das mãos dele e a esconde debaixo das costas do homem. Assim ficaria mais difícil para um passante mal intencionado pegar a carteira.   Sport Clube do Recife e Santa Cruz Futebol Clube do Recife são dois times rivais da cidade. Pois bem, durante um passeio de bicicleta, um torcedor vestido com camisa do Sport leva um tombo.  Ia passando na ocasião outro torcedor vestindo a camisa do time adversário que, sem pensar duas vezes o homem corre para ajudar àquele que precisava ser ajudado. Está certo ele: adversários em campo, quando a bola está rolando. Na rua dois seres humanos, sujeitos às mesmas intempéries da vida.  Esses casos são apenas uma gota d’água em meio ao oceano de solidariedade mostrada pelo povo do Recife.

Os aparelhos de segurança que serviriam para capturar imagens de furtos, roubos e acidentes acabaram mostrando uma faceta que não era esperada por quem cuida da segurança pública e que está  acostumado a presenciar a violência dos grandes centros.  Em apenas dois meses, as equipes de observação, registraram cerca de 600 flagrantes do bem.  
Se fosse matemática, a solidariedade social seria uma conta de multiplicar. Ela cria uma reação em cadeia. Quando recebemos ajuda de alguém nos sentimos estimulados a devolver a boa ação. Sejamos, portanto, cada um de nós, um agente multiplicador da solidariedade nos pequenos gestos, nas pequenas ações, pois se não conseguirmos mudar o mundo, pelo conseguiremos modificar uma parte da realidade que nos cerca. E cada um fazendo um pouco, todos juntos terão feito muito. É como um feixe de varas. Junta não se pode quebra-las, enquanto que separadas qualquer um, e com pouco esforço, as quebra facilmente.

Para terminar, deixo para vossa reflexão uma fábula de Jean De La Fontaine:

***

O Velho e seus três filhos

A união faz a força. Quem diz não sou, mas sim o escravo frígio, que outrora escreveu o que abaixo transcrevo, e se alguma inserção acrescentei, não foi por querer tornar meu o que é dele somente. Essa vã pretensão teve Fedro, não eu, que só quis adaptar nossos costumes de hoje ao texto original. Vejamos o que fez um pai quis mostrar, aos filhos, que a união é um bem mesmo essencial.

Sentindo, a morte próxima, um velho chamou seus filhos: ­_ “Meus queridos meninos” _ Falou _ “vede o feixe de varas que tenho na mão? Tentai quebra-lo e haveis de ver que é esforço vão.”

O mais velho o tomou, tentou e desistiu.

_ “Outro mais forte que o tente.” _ O segundo sorriu, tomou do feixe, fez muita força, mas nada.

O caçula, por fim, também vê fracassada a sua tentativa. O feixe resistiu e nenhuma das varas rachou ou partiu.

_ “Vou mostra-vos, agora” _ diz o velho pai _ “como é fácil rachar estas varas. Olhai.”
Seria troça? Não, pois o pai os encara, depois põe-se a rachar o feixe, vara a vara, enquanto diz: _ “Se fordes juntos como um feixe, resistireis a tudo, depois que eu vos deixe.”

Enquanto o mal durou, ele nada disse; mas faltando bem pouco para que partisse, chamou-os e falou: _ “Chegou, enfim, o meu dia. Meu pedido atendei: vivei em harmonia. Dai-me a vossa palavra, é só que que me interessa.”

A chorar, os três filhos fazem-lhe a promessa. O pai os abençoa e morre nos seus braços. A herança que lhes deixa é cheia de embaraços: um credor os penhora, aparece um processo; tudo isso os três irmãos enfrentam com sucesso. Pena que durou pouco essa união tão rara. O que o sangue juntou, o interesse separa. Muita inveja e ambição os desunem de vez. Recorre-se a partilha e, contra todos três, se levantam protestos e contestações; sucedem-se querelas e condenações; as terras são perdidas para os confrontantes, os bens para os credores, e a riqueza de antes aos poucos se desfaz, até nada sobrar. Unidos pelo infortúnio, os três a lembrar da palavra que ao velho pai haviam dado outrora e de um feixe de varas que jogaram fora...
***
À quem interessar assistir a reportagem completa, tratada neste artigo, segue link para o site do Youtube:




0

Ele é o cara

Posted by Cottidianos on 01:50
Segunda-feira, 25 de novembro

“Em um dado dia, uma dada circunstância, você acha que tem um limite. Você então tenta ir para esse limite e você toca esse limite, e você pensa: ‘Ok, este é o limite’. Logo que você toca esse limite, algo acontece e, de repente, você pode ir um pouco mais longe. Com o poder da sua mente, sua determinação, seu instinto, e a experiência também, você pode voar muito alto.”
Ayrton Senna

Imagem: http://thecarnagereport.blogspot.com.br/2013/03/sebastian-vettel-breaks-formula-one.html


Gostava muito de assistir a Fórmula 1 quando o saudoso Ayrton Senna, com maestria, corria pelos autódromos do mundo. Era gostoso ver o Hino Nacional Brasileiro tocando, enquanto Ayrton recebia o troféu e fazia a festa com champagne... E foram muitas as garrafas dessa bebida abertas no podium. Naquela época, assistia a todas as corridas. Não perdia nenhuma. Lembro-me, nitidamente, de sua última corrida. Assistia, confortavelmente, sentado no sofá da sala, a corrida que acontecia no circuito de Imola, na Itália, durante o Grande Prêmio de San Marino - nessa época, ainda morava no Distrito de Capela, em Ceará-Mirim, no Estado do Rio Grande do Norte. De repente, o carro saiu da pista e bateu no muro de proteção. O alvoroço foi geral, médicos correram até lá. Quando vi o helicóptero pousando no autódromo e levando o piloto, desacordado, para o hospital, senti que o caso era grave, muito grave. Depois disso, o que se viu foi o Brasil e o mundo chorarem a morte de um grande piloto e um ser humano excepcional. Depois que Ayrton se foi, a Fórmula 1, para mim, ficou um pouco vazia. Não tinha mais a mesma graça, o mesmo sentido. Voltei a me interessar pelo esporte quando um inglês arrojado entrou na pista: Lewis Hamilton.  Hamilton foi campeão da categoria em 2008. Após essa vitória, Hamilton foi traído por uma inimiga: sua própria ansiedade. Talvez por isso, não esteja desenvolvendo sua carreira da forma como se esperava. Não esqueço também do grande vencedor alemão, Michael Schumaker.

Em 2007, durante o Grande Prêmio dos Estados Unidos, cujo vencedor foi Lewis Hamilton, estreava na fórmula 1, um alemão fenomenal: Sebastian Vettel. Vettel, naquela ocasião, entrou na corrida para substituir o titular Robert Kubica, que não podia correr porque havia sofrido um grave acidente no Canadá, uma semana antes. O estreante cruzou a linha de chegada na oitava posição e conquistou seu primeiro ponto na Fórmula 1. A primeira vitória aconteceu no grande prêmio da Itália, em 2008. A partir daí a carreira do alemão foi meteórica, não por oportunismo, mas por puro talento. Ele evolui a cada ano. Segue em frente e não dá mínima para as críticas, como diz o ditado popular: “Os cães ladram, a caravana passa”.  O mais interessante no piloto alemão, é que ele, não apenas vence corridas. Ele acumula recordes.

Domingo (24), no Grande Prêmio Brasil de Fórmula 1, quem recebeu a bandeirada primeira? Errou, se você não respondeu Sebastian Vettel. Aliás, isso foi uma constante durante toda a temporada.

Na largada o que se viu foi uma série alucinante de ultrapassagens. Vettel, da Red Bull, havia conseguido mais uma polepsoition nos treinos classificatórios, porém numa excelente manobra o, também alemão, Nico Rosberg, da Mercedes, assumiu a liderança. Sesbastian logo mostrou que não estava para brincadeiras e, já no final da primeira volta, ultrapassou Rosberg. A partir daí, Sebastian Vettel voou na pista como um falcão real, deixando para trás seus oponentes, seguindo livre, de asas abertas, para sua nona vitória consecutiva. E assim, a temporada da Formula 1, do ano de 2013, encerrava, com chave de ouro, mais um emocionante capítulo. E nesse capítulo, o personagem principal foi o alemão Sebastian Vettel. O cara é um fenômeno. Vettel, aos 26 anos de idade, é o mais jovem tetracampeão da história da Fórmula 1; com nove vitórias consecutivas, igualou  recorde de Alberto Ascari, que nas temporadas de 1952 e 1953, também havia vencido nove vezes; igualou com Michael Schumaker o número de 13 vitórias em uma mesma temporada. Mas, a ser primeiro em tudo, Vettel já se acostumou faz tempo. Em 2006, pela Sauber, foi o primeiro piloto a testar um carro de fórmula 1; Em 2007, ainda com 19 anos, foi o piloto mais jovem a pontuar em uma corrida; aos 23 anos, tornou-se o mais jovem piloto a conquistar um título munidal e, assim, o alemão vem colecionando primeiros lugares desde que estreou na Fórmula 1.
Vettel é um apaixonado pelo automobilismo.Velocidade e ronco de motores, é com ele mesmo. Mas essa paixão e esse brilho que agora despontam em toda a intensidade, vem de muito longe. Nascido em 3 de julho de 1987, na cidade alemã de Heppenheim, uma cidade de cerca de 26 mil habitantes, a oeste da Alemanha.  É filho de uma dona de casa e de um piloto amador. O automobilismo era paixão da família. Nobert, o pai, competia na categoria amadora, em eventos de Kart e corridas nas montanhas. A família possuía um trailer e todos iam juntos assistir as competições. A irmã Stephanie, quatro anos mais velha que ele, também pilotava Kart. O pequeno Vettel ganhou seu primeiro kart em um dia de natal. O brinquedo foi o suficiente para manter o menino entretido, tão entretido que era difícil difícil tirá-lo do Kart para  que ele fizesse as refeições. Ele não largava o brinquedo de jeito nenhum. O pai, percebendo ali, o início de uma grande paixão, construiu uma pequena pista de Kart no quintal de casa. O espaço era tão limitado que, para conseguir uma volta completa, Norbet tinha que molhar o piso e, o pequeno Vettel, era obrigado a pilotar de lado com a traseira derrapando, com isso Nobert conseguia com que o filho reduzisse o raio das curvas.

Aos cinco anos entrou pela primeira vez numa pista de verdade. Mas só pode competir para valer aos oito anos. Vettel é um campeão diferente. Esbanja alegria e simpatia. Não se coloca num pedestal. Quando das viagens, é comum vê-lo ajudando os companheiros de equipe a retirar as malas das esteiras. Fora das pistas costuma circular em uma van, usando jeans, de forma bastante descontraída. E olha que ele fatura 12 milhões de euros por ano.
O ambiente da velocidade é altamente competitivo e, algumas vezes, exige uma frieza do piloto que faz com que ele esqueça aquele ar de menino bonzinho. Antes que alguém queira jogar pedras em Vettel, é bom lembrar que isso também aconteceu com Ayrton Senna, Michael Schumaker, dentre outros campeões. Ainda este ano, no Grande Prêmio da Malásia, Vettel sofreu fortes críticas da imprensa, dos colgas pilotos e da própria equipe, quando desobedeceu uma ordem da Red Bul e ultrapassou o companheiro de equipe Mark Weber. Aconteceu o seguinte, Weber liderava a prova e Vettel vinha logo atrás. O resultado satisfazia a equipe que, não querendo correr riscos desnecessários, pediu que os dois diminuíssem o ritmo da corrida para, dessa forma, manterem as posições. O que o campeão fez? Ignorou a ordem da equipe e ultrapassou Weber, venceu a prova e garantiu a liderança no campeonato. Mark Weber ficou irritadíssimo com Vettel. Vettel, em um primeiro momento, pediu desculpas pelo ocorrido, depois assumiu uma posição mais firme. “Não me desculpo por ganhar. Creio que isso é porque me contrataram para ser o primeiro lugar e por isso estou aqui. Me encanta correr e foi isso que fiz”, disse ele na ocasião. Foi uma atitude egoísta? Sem dúvida que foi. Mas assim é o ambiente da Fórmula 1, e quem  discordar, procure outra modalidade.

Outras críticas vieram, como a de Alonso, de que as vitórias de Vettel se deviam ao carro que tinha e não, necessariamente, ao seu talento. Se for só isso, então podemos concluir que esse carro do Vettel faz milagres.

Os comentaristas da Fórmula 1, acham que Vettel deixa a competição menos interessante, pelo simples fato que de que não existe, no momento, adversário à sua altura. Não concordo. Se é assim, os outros que tratem de melhorar para poder acompanha-lo.

O cara ainda tem muito tempo de Fórmula 1 pela frente. Pela curva ascendente que vem desenhando nos circuitos mundo afora, os outros pilotos que corram para alcança-lo.

0

Lobos em pele de cordeiro

Posted by Cottidianos on 05:50
Sábado, 23 de novembro


Na tarde de quarta-feira (20), enquanto o país celebrava o Dia da Consciência Negra, uma caravana de deputados federais, resolveu ir ao Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, visitar consciências corruptas.

Era um grupo de 26 deputados do PT (Partido dos Trabalhadores), que juntamente com o governador do Distrito Federal, Agnelo Queiroz, foram à penitenciária visitar os colegas presos. Foram prestar-lhes um ato de solidariedade. O encontro durou cerca de 30 minutos, e ocorreu em uma sala reservada, na qual estava presente, José Genoino (que aguarda uma decisão do STF, sobre o seu pedido de prisão domiciliar, devido a problemas de saúde), José Dirceu e Delúbio Soares.


Do lado de fora do presídio acontecia outra manifestação de apoio aos políticos presos. Era a militância do PT, que também se haviam organizado em caravana. O curioso, ou será melhor dizer trágico? É que, entre esses militantes, havia funcionários da Prefeitura e da Câmara Municipal de Goiânia, que resolveram faltar ao trabalho para juntar-se ao “ato de solidariedade”, na Papuda. Entre os servidores públicos que lá estavam, havia dois funcionários do gabinete do vereador Carlos Soares (PT), irmão do ex-tesoureiro do PT, Delúbio Soares, que se encontra preso naquela penitenciária.  No dia seguinte, quinta-feira (21), os presidiários receberam novas visitas, desta vez foram oitos senadores, dentre eles o senador Eduardo Suplicy, e três deputados, todos do PT.


Quando vi aquela caravana de políticos indo a penitenciária visitar um grupo de criminosos, que tantos males causaram a nação, fiquei pensando. Primeiro, que esse grupo de condenados, agiu com cinismo desde o início até o fim do processo, talvez pelo fato de não acreditarem na justiça. Talvez acreditassem que sairiam ilesos dos crimes que praticaram. Marcos Valério, considerado o operador do mensalão, era de um cinismo sem tamanho. Até mesmo ao descer do avião, em Brasília, teve a audácia de chamar o policial que o acompanhava de incompetente, apenas pelo fato de o policial ter hesitado por alguns segundos, quanto aos procedimentos a serem adotados naquele momento. Segundo, que esse dinheiro que o desviou dos cofres públicos, fez falta em algum lugar. Certamente em áreas de fundamental importância para o progresso de uma nação, como educação, saúde, segurança pública.

Respondam-me, excelentíssimos deputados e senhores militantes de partidos: Quem prestará solidariedade aos alunos e professores das escolas públicas que ficaram sem dinheiro para a realização de pesquisas e compra de equipamentos? Quem prestará solidariedade aos pacientes nos leitos dos hospitais que carecem de médicos que os atendam e de remédios que aliviem suas dores? Quem será solidário às vitimas da violência nos grandes centros e também nas pequenas cidades?

E ainda, quem será solidário com a nação brasileira, que clama por um judiciário mais eficiente, que anseia por ver, em suas casas legislativas, políticos que levantem a bandeira da honestidade e da justiça?

Agora esses políticos presos, se colocam na condição de vítimas, dizem que não aceitarão humilhações, e coisas mais. Seus partidários até já falaram em abrir processo contra o presidente do STF por crime de responsabilidade, assim como tentaram cassar o mandato do procurador-geral a República, Roberto Gurgel, quando este pediu a condenação dos mensaleiros. É visível que há um grupo de poderosos que tentam, a todo custo, armar diques no caudaloso rio da justiça.

Entretanto, se há esse pequeno grupo de poderosos querendo colocar entraves ao avanço do processo democrático, há também uma poderosa nação brasileira que anseia por um Brasil no qual os ideais de justiça, liberdade e igualdade, sejam vividos em toda a sua plenitude.



0

Uma vitória do judiciário brasileiro

Posted by Cottidianos on 02:05
 Quinta-feira, 21 de novembro

Imagem: http://www.radiobetel98fm.com.br/novo/2013/09/18/supremo-tribunal-decide-o-futuro-do-mensalao/

Há uma semana o STF (Supremo tribunal Federal) realizava uma sessão histórica: a sessão que determinou a prisão de alguns condenados no escândalo do mensalão. Foi a primeira vez que a justiça brasileira mandou para a prisão, uma elite formada por pessoas do meio político e empresarial. “Temos milhares de condenados por pequenas quantidades de maconha e pouquíssimos condenados por golpes imensos”, disse Luiz Roberto Barroso, ministro do Supremo, em uma das sessões daquele colegiado. Palavras que vem ao encontro da afirmação de Joaquim Barbosa, presidente do Supremo e relator do caso, durante a referida sessão: “Para ser preso no Brasil é preciso ser muito pobre e mal defendido”.

Á exceção de alguns poucos casos, até hoje, na história do judiciário brasileiro só se tem notícia de políticos que foram parar na cadeia, durante o regime militar. A prisão deles, nesses casos, era por motivos políticos e não por terem praticado atos criminosos. Disso, podemos concluir que eram presos políticos, uma característica encontrada nos regimes ditatoriais. O grupo condenado na ação penal 470, e que já se encontra detido no Complexo Penitenciário da Papuda, em Brasília, são políticos presos, característica inerente aos regimes democráticos. Se José Genoino e José Dirceu, afirmam de si mesmos que são prisioneiros políticos, ou perderam a memória ou querem manipular a opinião pública. É bom ficar atento a esses detalhes. Afinal, os dois sabem exatamente o que é ser um preso político, pois ambos estiveram nessa condição durante o regime militar. Dois políticos influentes que passaram da condição de heróis durante a luta pela resistência ao regime militar, à condição de criminosos em tempos de plena democracia.

Ainda em relação a José Genoino, é sabido que ele aguarda uma decisão do presidente do STF, sobre um pedido de prisão domiciliar. A alegação é que o deputado tem graves problemas cardíacos, o que parece ser verdade. Na manhã dessa quinta feira, Genoino foi transferido do presídio da Papuda, para o IC-DF (Instituto de Cardiologia do Distrito Federal), também em Brasília. Suspeita-se que o prisioneiro tenha tido um princípio de infarto. Após o ocorrido, Joaquim Barbosa, determinou que fossem feitos novos exames periciais em José Genoino, a fim de que se esclareça se, para que o tratamento seja bem sucedido, é imprescindível que o preso esteja em sua residência ou algum hospital. Exames anteriores já haviam atestado que o deputado tem doença grave e necessita de cuidados especiais. Joaquim Barbosa é rigoroso e quer tomar decisões bem fundamentadas. Em minha opinião, acho que o presidente do Supremo deveria conceder essa prisão domiciliar, uma vez que, pelo que tenho acompanhado nos noticiários, o deputado realmente tem problemas de saúde. E também em benefício da lisura do processo iniciado. Imaginemos que Genoíno tenha complicações em relação à saúde e venha a falecer dentro do sistema prisional. Os “mensaleiros” passariam todos da condição de criminosos à condição de mártires. Isso seria, de fato, um retrocesso nos resultados alcançados.


                                                                         Ministro Joaquim Barbosa
Imagem: http://veja.abril.com.br/blog/ricardo-setti/tag/joaquim-barbosa/

A decisão do STF representa ainda uma vitória da justiça brasileira e um grande avanço democrático. Vejamos o que diz um trecho da reportagem especial sobre o caso da prisão dos “mensaleiros”, publicada na revista Época, edição de 18 de novembro de 2013, assinada por Flávia Tavares e Leandro Loyola: “Nos últimos anos, criaram-se leis, aprimoraram doutrinas jurídicas, surgiram novos juízes capazes de compreender o que faltava para garantir punições criminais. Em 2001, esse movimento resultou na extinção da capacidade do Congresso de bloquear investigações de deputados e senadores no Supremo. Poucos lembram, mas até então, era preciso que o Congresso autorizasse qualquer processo contra parlamentares na corte. Em seguida, entrou no ar a TV Justiça, que trouxe transparência e as devidas cobranças – aos julgamentos do supremo. Assumiram ministros que eram diferentes, que pensavam diferente. Um deles era Joaquim, um juiz inspirado pela severa cultura legal dos Estados Unidos. Não fosse ele o relator do caso do mensalão, será que o julgamento teria chegado a bom termo? Veio ainda a Lei da Ficha Limpa e o endurecimento da lei de crimes financeiros. Fatos como esse demonstram que o Brasil estava, finalmente, preparado para enfrentar um processo como o mensalão”. Lembremos que, recentemente a Câmara dos Deputados apresentou uma Proposta de Emenda Constitucional, conhecida como PEC-37, que se tivesse sido aprovada seria um retrocesso democrático. A medida limitaria o poder de investigação do Ministério Público Federal e também das policias civil e federal. Isso representaria um passaporte para a ilegalidade. Devemos reconhecer que o MP tem desenvolvido um trabalho de fundamental importância  na investigação de casos de corrupção de grande repercussão dentro e fora do país. As manifestações populares nas ruas do Brasil, em junho deste ano, conseguiram que a emenda fosse derrubada. Submetida à votação, a medida teve 403 votos contrários, 9 a favor e duas abstenções.

Querendo reviver o caso do deputado Donadon, que recebeu condenação, foi preso e, ainda assim teve seu mandato preservado pelos colegas de parlamento, Henrique Eduardo Alves, presidente daquela casa, contrariou uma decisão do Supremo. O STF havia determinado que a cassação dos mandatos dos políticos condenados no mensalão, seria automática. Henrique Alves quer, novamente, em caso semelhante ao de Donadon, que a questão seja submetida à apreciação da Câmara. Com essa atitude, o presidente da Câmara junta lenha para fazer queimar na fogueira das vaidades. Quer mostrar quem manda mais. Essa atitude, contraria, não apenas o Supremo, mas também, grande parte da opinião pública. Entre a cruz e a espada, fico com o bom senso do ministro do supremo Marco Aurélio de Melo, que disse em entrevista à imprensa; “Eu não concebo que alguém com os direitos suspensos possam estar no exercício do mandato”. Será que o ilustre parlamentar, Henrique Alves, não vê, que quando contrária uma decisão do Supremo e também da opinião pública, quem perde com isso é jogo democrático?

É bom lembramos também que, antes de estourar o escândalo do mensalão, a figura central do governo, depois do Presidente Luís Inácio Lula da Silva, era o ministro da Casa Civil, José Dirceu. Era ele o homem de ferro do governo e uma das principais lideranças do partido. Estava sendo preparado para ser Presidente do Brasil. Já pensaram o que seria o Brasil sob o comando de José Dirceu?

***

A respeito dos temas do mensalão e do caso do deputado Natan Donadon, publiquei neste blog os artigos:
Túnel do tempo do mensalão: há oito anos –
Democracia Humilhada



0

Embaraços diplomáticos

Posted by Cottidianos on 04:50
Segunda-feira, 18 de novembro


                                                                              Henrique Pizzolato
Imagem: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/ex-diretor-do-bb-condenado-no-mensalao-nao-fugiu-diz-advogado-20121001.html

Além das prisões já efetuadas, é possível que Joaquim Barbosa, presidente do STF (Supremo Tribunal Federal) peça ainda a prisão de mais sete réus condenados, envolvidos no escândalo do mensalão. Faz parte desse grupo, dois deputados federais: Valdemar da Costa Neto do PR/São Paulo e Pedro Henry, do PP do Mato Grosso. É possível que também seja pedido a prisão de Roberto Jeferson, do PTB. Dentro em breve, Barbosa pode pedir ainda o início do cumprimento das penas de condenados que escaparam da prisão cumprirão penas alternativas. É o caso do ex-deputado José Borba, de Emerson Palmiere, ex-tesoureiro do PTB e Enivaldo Quadrado, ex-sócio da corretora Bonus Banval.  

Um dos capítulos que merece atenção especial nessa questão é fuga de Henrique Pizzolato, ex-diretor do Banco Central do Brasil, condenado a 12 anos e sete meses de cadeia. Pizzolato, aproveitando-se do fato de possuir dupla cidadania e do vacilo que deram as autoridades brasileiras, fugiu para a Itália. Agora, é improvável que Justiça Brasileira o traga de volta, falando na linguagem jurídica, que seja extraditado.

Vários fatores concorrem para que isso não aconteça. O Tratado de Extradição assinado entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana, diz em seu artigo VI que “Quando a pessoa reclamada, no momento do recebimento do pedido, for nacional do Estado requerido, este não será obrigado a entrega-la”. Ora, na Itália, Pizzolato é tão italiano quanto eu sou brasileiro. Não acredito que o governo italiano entregue um dos seus cidadãos para que cumpra pena em outro país.

Além disso, brechas na lei podem ser usadas para manter Pizzolato por lá. Uma dessas brechas está no segundo item, do artigo V, desse tratado que diz que a extradição  tampouco será concedida: “Se houver fundado motivo para supor que a pessoa reclamada será submetida a pena ou tratamento que de qualquer forma configure uma violação dos seus direitos fundamentais”. As péssimas condições dos presídios brasileiros podem ser usadas como argumento de que o foragido permaneça na Itália.

A verdade é que esses episódios embaraçosos entre Brasil e Itália vêm acontecendo há algum tempo. Primeiro, foi o caso do ex-banqueiro, Salvatore Cacciola, condenado em primeira instância por crimes contra o sistema financeiro, em 1999. No ano 2000, o MP (Ministério Público) pediu a prisão do então banqueiro, com receio de que ele fugisse do país. O pedido de prisão de Cacciola foi atendido e ele ficou trinta e sete dias na prisão. Foi quando o então Ministro do STF, Marco Aurélio Mello, concedeu liminar que o libertava da prisão. Logo depois essa liminar foi revogada. O problema é que Cacciola aproveitou esse vacilo das autoridades, foi de carro até o Paraguai, de lá pegou um avião para a Argentina e, da Argentina, pegou tranquilamente um voo para a Itália. Como ele possuía dupla nacionalidade, o governo italiano não concedeu ao governo brasileiro, o pedido de extradição. Ficou seis anos na Itália, e foi preso pela Interpool, quando passeava pelo Principado de Mônaco, em 2008. Só então foi trazido de volta ao Brasil.

Outra “pedra no sapato” na relação entre os dois países é caso do italiano Cesare Battisti. Battisti, ex-militante que foi condenado a revelia em seu país com pena de prisão perpetua pelo assassinato de quatro pessoas entre 1977 e 1979. Antes de sua condenação na Itália, Battisti fugiu para onde a França, em 1981. Em 2007, foi revogada sua condição de refugiado na França e ele veio para o Brasil. Preso no Rio de Janeiro, foi enviado a Brasília, onde ficou detido na penitenciária da Papuda, para fins de extradição. Em 2009, governo brasileiro, na pessoa de seu Presidente, Luís Inácio Lula da Silva, concedeu ao fugitivo italiano, status de refugiado político. A decisão repercutiu muito mal na sociedade brasileira e, ainda mais, nas autoridades italianas. Instalou-se uma crise diplomática entre os dois países. À época o governo italiano chegou a chamar de volta o seu embaixador no Brasil.

Hoje(18), no início da tarde, o Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, reuniu-se com técnicos do Ministério da Justiça para analisar formas de trazer de volta o réu brasileiro.

Agora, por revezes do destino, é a Itália quem abriga um condenado brasileiro. Depois de tudo isso alguém ainda acredita que o governo italiano se mostre favorável ao pedido de extradição de Battisti?  

Na continuação desse texto, trago a vocês, o comentário do jornalista Alexandre Garcia, feito hoje no Telejornal Bom Dia Brasil, exibido pela Rede Globo de Televisão.

“Entre os condenados estão deputados, que têm mandato. A Constituição diz que perderá o mandato quem sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado, como era o caso do deputado Natan Donadon.

A Câmara Federal reagiu pelo plenário e, em votação secreta, Donadon não teve o mandato cassado. Está no presídio e sai com escolta policial da prisão para o plenário.

Agora está na mesma situação o deputado José Genoíno, e podem estar em breve os condenados Valdemar Costa Neto, Pedro Henry e João Paulo Cunha. Enquanto a Câmara não aprovar o voto aberto para cassar mandato, há o risco de repetir Donadon.

Seria menos constrangedor para a Câmara ter ouvido o Supremo, na conclusão de que bastaria um decreto legislativo para livrá-la de uma bancada de meia dúzia de apenados, que perderam direitos políticos, sendo chamados de excelência.

Henrique Pizzolato, condenado por peculato por 11 a zero, afirmou que iria buscar na Itália um novo julgamento. Além de Pizzolato, os ex-dirigentes petistas Dirceu, Genuíno e Delúbio alegam que são prisioneiros políticos, condenados por um tribunal de exceção. Mas oito dos onze ministros do Supremo foram nomeados por Lula e Dilma, e com isso dizem que o Brasil, governado pelo seu partido deles, tem presos políticos, como Cuba”.


Copyright © 2009 Cottidianos All rights reserved. Theme by Laptop Geek. | Bloggerized by FalconHive. Distribuído por Templates