Luzes e trevas
Domingo, 17 de abril
E
aqui estamos nós, em mais um domingo de Páscoa. Um dia de grande simbolismo. É
nele que Jesus Cristo mostra, com todo poder, que a morte não tem poder nenhum
sobre a vida. E é nesse ponto que todas as religiões se encontram com o
espiritismo. Afinal, é o que todos somos: um ser espiritual ilimitado e
infinito preso as limitações de um corpo humano e finito.
Os
espíritas costumam dizer que esse é um planeta de provação, para o qual fomos
enviados, porém que não é nosso destino final, mas apenas uma passagem para uma
vida plena. O Cristo também representa uma síntese disso. Afinal, ele veio a
terra passou por todas as provações pelas quais uma pessoa pode passar nessa
vida, a começar de seu nascimento, e depois retornou a um reino de glória
eterna, longe das glórias passageiras desse mundo.
Diz
os evangelhos que Cristo nasceu em manjedoura, entre animais e pastores, numa
noite iluminada por uma estrela enigmática, misteriosa, divina. Foi criado em
uma família pobre da Galileia. Assumiu uma missão que também não lhe permitia
grandes luxos, aliás, que não lhe permitia luxo nenhum. Andando para cima e
para baixo, muitas vezes, dormindo ao relento, junto com os seus discípulos.
Atraiu
a atenção da multidão pelos milagres que fazia, pelas palavras que dizia, e o
modo como as dizia, e pelas obras que realizava. Por tudo isso também atraiu a
inveja e ira dos sumos sacerdotes.
Estes,
por fim, tramaram para colocá-lo na cruz, e conseguiram, nem sem antes fazê-lo
sofrer toda sorte de humilhação e dores. E eis que, no terceiro dia, ele ressurge
glorioso.
Porém
para obter essa ressurreição gloriosa, Cristo elevou o espírito. E quando digo
elevou o espírito quero dizer também que ele não se entregou ao pessimismo, nem
praguejou contra aqueles que ironizavam dele, que o perseguiam, que tentavam
derrubá-lo de todas as maneiras, não se lamentou pela sua condição humana e por
levar uma humilde.
Nem
mesmo, no alto da cruz, olhando para seus algozes, ele praguejou, jurou
vingança, ou amaldiçoou qualquer deles. Ao contrário, olhando com misericórdia
para eles disse: “Pai, perdoai-lhes porque não sabem o que fazem”.
O
exemplo de Cristo é um ensinamento para nós que aqui estamos nessa via crucis,
nesse planeta de expiação. Se queremos um caminho aberto, uma estrada
iluminada, vivamos de cabeça erguida, não em sinal de arrogância, mas pela
certeza de que há um Deus que olha por nós e nos ajuda a caminhar, e que não
vai nos desemparar mesmo que a dor e a tristeza batam à nossa porta. Tudo isso
passará, e o sol voltará a brilhar com intensidade. Basta apenas que não nos
entreguemos ao pessimismo, à vingança, ao ódio, e a todos sentimentos
semelhantes que lançam os homens na escuridão e nas trevas.
Hoje,
os discípulos de Cristo estão por aí, em algum lugar da cidade, em alguma do
mundo fazendo o bem e a caridade para algum irmão necessitado. Na minha cidade,
na sua cidade, em qualquer cidade, é possível vê-los. Não dá para falar de
todos eles, mas dá para falar de um como exemplo, e aqui eu trago a figura do
Pe. Júlio Lancelotti, que faz um trabalho fenomenal em prol dos necessitados na
cidade de São Paulo.
E
justamente por ajudar àqueles que nada tem, nem mesmo a esperança, o Pe. Júlio
é amado por uns e odiado por outros. Muitos são os ataques que ele sofre em sua
missão por parte dos sumos sacerdotes do mundo moderno. A vivência do evangelho
incomodou os poderosos do tempo de Jesus, e incomoda também os dos tempos de
hoje.
Na
sexta-feira, 15, o Pe. Júlio participava de uma Via Sacra, como parte das
celebrações religiosas da Semana Santa, organizada pela Pastoral do Povo de Rua,
na região Central de São Paulo.
O
grupo saiu do Largo São Bento. No local existe uma base de Polícia Militar.
Passou pela rua Libero Badaró, e se dirigiu ao viaduto do Chá, parando diante
da sede da Prefeitura de São Paulo. No local, algumas pessoas em situação de
rua, falaram em microfones sobre a situação em que vivem e das violações que
sofrem.
Tudo
acontecia dentro dos padrões de uma cerimonia religiosa, quando apareceram por
lá uns policiais e abordaram o padre. Os PMs pediram seus documentos e
fotografaram sua carteira de identidade. Também o questionaram sobre a origem e
o destino final do ato religioso. O interessante é que o Pe. Júlio Lancelotti
não é nenhum anônimo, e ainda que fosse a atitude dos policiais pareceria
igualmente estranha, mas o padre já faz anos que trabalha com moradores de rua,
sem teto, drogados, e com todas aquelas pessoas que o sistema vomitou.
“O
que nos chamou a atenção foi que começamos no largo São Bento, onde há um posto
policial, mas só fomos abordados mais adiante. Pode ser uma atitude de praxe,
mas ficou parecendo uma atitude intimidatória”, disse o Pe. Júlio à
imprensa. Procurada pelos veículos de comunicação, a PM não se manifestou.
Enquanto
a PM de São Paulo abordava um padre pela realização de uma cerimônia religiosa
com moradores de rua, uma importante rodovia de São Paulo era interditada para
fazer os caprichos do rebelde sem causa e inconsequente. Obviamente, falo do
presidente Jair Bolsonaro.
A
importante Rodovia dos Bandeirantes foi interditada no sentido interior desde a
cidade de São Paulo até a cidade de Americana. Um total de quase 130km de
interdição. O ato aconteceu também no dia 15. Dia em que o feriado da Semana
Santa coloca muitas pessoas na estrada. Muitas delas tiram esse dia para ir
visitar os seus familiares nas cidades do interior e vice-versa.
E
lá se foi o presidente e sua moto, junto com sua legião de insanos seguidores
motoqueiros. Mais um ato eleitoreiro. Fazer campanha é uma coisa, governar é
outra completamente diferente. Infelizmente o presidente tem feito campanha
desde que foi eleito, e tem governado muito pouco ou quase nada. É o que
permite concluir quando se olha a agenda oficial do presidente na qual constam
sempre pouquíssimos compromissos de real interesse do estado brasileiro.
Mais
uma moticiata e mais dinheiro público gasto à toa. Quase 2.000 policiais foram
mobilizados para ajudar na segurança do presidente. Segundo a Secretaria de
Segurança Pública do Estado de São Paulo, o gasto dessa brincadeira foi de R$ 1
milhão de reais.
E
o que mais impressiona é que milhares de pessoas tenham acompanhado o ato.
E
por que impressiona? Será que essas pessoas não conseguem enxergar a situação
pela qual atravessa o país? A fome a carestia voltou com força total. O preço
dos combustíveis lá nas alturas, do gás de cozinha, também. Basta ir ao
supermercado, ao mercado, ou as feiras livres para ser ver que o mar não está
para peixe. A carne vermelha já saiu do cardápio de muita gente. Leite, iogurte,
queijo e outros itens também. Tomate, cenoura, com o preço lá nas alturas.
E
isso não é culpa da esquerda, como dizem os bolsonaristas. É culpa de uma
política econômica equivocada. Paulo Guedes e sua política econômica já foram
para o ralo há muito tempo. Ele permanece no ministério apenas como marionete
do presidente.
A
CPI da Covid já havia revelado a lambança que se deu no ministério da Saúde por
ocasião da compra de vacinas. Contratos suspeitos, vacinas superfaturadas. Pois
bem, nos últimos dias a imprensa tem revelado mais escândalos, dessa vez no
ministério da Educação de Milton Ribeiro. Por lá estava acontecendo forte
tráfico de influência O escândalo foi revelado através de áudio revelado pelo
jornal Folha de São Paulo. O escândalo no MEC envolve a participação de
pastores evangélicos.
Nele,
o então ministro da Educação, Milton Ribeiro, em reunião com prefeitos, diz: “A
minha prioridade é atender primeiro os municípios que mais precisam e, em
segundo, atender a todos os que são amigos do pastor Gilmar”, o ministro
diz ainda que a questão do pastor Gilmar foi um pedido especial do presidente
da República.
As
reuniões dos prefeitos com o ministro Milton Ribeiro eram facilitadas pelos
pastores Gilmar Santos e Airton Moura, que, em troca, pediam propina. O
prefeito Gilberto Braga, da cidade de Luis Domingues, no Maranhão, disse que o
pastor Airton Moura cobrou o pagamento de propina no valor de R$ 15 mil e uma
barra de ouro para que as demandas do munícipio fossem atendidas junto ao
Ministério da Educação.
O
presidente defendeu Milton Ribeiro enquanto pode, mas teve que exonera-lo
depois diante da repercussão negativa do caso. Para o lugar de Milton Ribeiro.
Quem assumiu a pasta foi Victor Godoy que, durante a gestão de Milton Ribeiro,
ocupava o cargo de secretário-executivo da pasta. Godoy é engenheiro de redes
de comunicação e formada pela Universidade de Brasília (UnB). Na gestão de
Milton Ribeiro ocupava o cargo de secretário-executivo da pasta.
Outros
que estão se fartando nessa lambança promovida pelo presidente são os
militares. Em 2020, durante a pandemia o Exército já havia comprado R$ 1 milhão
de comprimidos de cloroquina, medicamente sem eficácia comprovada contra a
covid-19.
Semana
passada surgiram novas revelações de que os militares compraram 35 mil
comprimidos de Viagra, remédio usado para disfunção erétil. Foram comprados
também 60 próteses penianas, e remédios para calvície. Só aí já foram outros
milhões de reais que saíram dos cofres públicos, e quem paga essas
extravagancias somos todos nós com o dinheiro que pagamos pelos impostos.
Sem
dúvida que há aí nessas compras realizadas pelas Forças Armadas algo de muito
errado. Por que comprar tantos remédios de cloroquina quando se sabia que não
tinha eficácia contra a covid? E os remédios para disfunção erétil? E próteses
penianas? Tudo isso soa muito estranho.
Ainda
em relação ao MEC, outra denuncia veio á tona que foi a das escolas fakes.
Deputados e senadores da base governista anunciaram a seus eleitores que o
governo havia liberado a construção de 2 mil novas escolas. O problema é que
falta dinheiro no orçamento para terminar 3.500 escolas que foram começadas e
que estão ainda por terminar de ser construídas.
O
Fundo Nacional de Desenvolvimento da Educação (FNDE), realizou uma licitação
para compra de ônibus com preços superfaturados. Os veículos que o FNDE licitou
custam no mercado cerca de 270,6 mil, mas a previsão de preço na licitação é de
480 mil cada ônibus. O total superfaturado é de R$ 232 milhões. A licitação
iria ocorrer no dia 05 de abril, e só não ocorreu porque o Tribunal de Contas
da União (TCU) suspendeu o pregão eletrônico para a compra dos 3.850 ônibus.
Enfim,
esse é o governo que se elegeu prometendo acabar com a corrupção, e cujos
eleitores fanáticos dizem que essas denúncias de corrupção são tudo invenção da
mídia. Pobre gado.
Para
terminar, não poderia deixar de lembrar nesse domingo de Páscoa do sofrimento
pelo qual atravessa o povo ucraniano imposto por um tirano russo.
Biden tem dito que Vladimir Putin é um criminoso de guerra, que é um genocida. Ora, Biden está certíssimo. Vamos dar nome aos bois. Wladimir Putin é sim um criminoso de guerra e um genocida. Baixou nele o espírito das trevas de Hitler e estamos por um fio de uma terceira guerra mundial mais horrível que as duas primeiras pela possibilidade do uso de armas nucleares. Que o poderoso Deus nos livre desse horror.
Encerro este texto com as palavras com as quais o Papa Francisco começou sua homília neste domingo 17 de abril, domingo de Páscoa: “Muitos escritores evocavam assim a beleza das noites iluminadas pelas estrelas. Ao contrário, as noites de guerra são atravessadas por rastos luminosos de morte”.
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