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Tragédia em Petrópolis

Posted by Cottidianos on 22:45

Segunda-feira, 21 de fevereiro



Não há como não começar a postagem de hoje sem deixar de falar da tragédia que se abateu sobre Petrópolis, cidade da região serrana do Rio de Janeiro.

Ocorrências frequentes no oceano pacífico, os tsunamis são a ameaça que vem dos mares. É como se, de repente, a água do mar recuasse e avançasse com fúria sobre cidades, vilas e povoados. Coisa de assustar. Muitos países já enfrentaram esse monstro, e muitas vidas já foram levadas pelas águas bravias.

Nesse início de ano, algumas regiões e cidades brasileiras tem experimentado uma espécie de tsunami diferente: o tsunami que vem do céu. Bahia, Minas, viveram esse drama, e agora mais intensamente Petrópolis. 


Na terça-feira, 15, os céus parecem ter ficado cheio de fúria, e derramado de uma vez um intenso volume de água sobre Petrópolis. Para se ter uma ideia, choveu em 3 horas o equivalente ao esperado para o mês de fevereiro. “Choveu fevereiro inteiro mais um terço de fevereiro”, diz Carine Gama, meteorologista da Clima Tempo. Segundo os meteorologistas, a chuva concentrou-se em determinadas áreas da cidade, o que evitou uma tragédia ainda maior.

Parte da encosta do Morro da Oficina desabou, levando junto consigo muita lama, árvores, e tudo o mais que encontrava pela frente, soterrando casas, e matando dezenas de pessoas soterradas pelo mar de entulho e lama que desceu morro abaixo. As imagens são realmente, impressionantes, e o desespero das pessoas que observavam o fato de outro ponto da cidade é como se elas estivessem vendo cenas de um filme de terror.

Outra cena chocante foi a que mostra dois ônibus que transitava por uma avenida que fica à beira do rio. De repente, a água começa a subir de uma maneira absurda, e começa a invadir o ônibus, arrastando-os para dentro do rio. Alguns passageiros conseguiram se salvar. A maioria, não. Depoimento de um sobrevivente dado ao programa Fantástico exibido nesse domingo, 20, explicou porque as pessoas não saíram dos ônibus antes.

O sobrevivente, que fazia cinco anos pegava aquela condução e fazia aquele mesmo trajeto, explicou que, como as chuvas fortes são bastante comuns na cidade, o motorista sempre parava o veículo em algum ponto e, motorista e passageiros, esperavam que a tempestade passasse para depois prosseguirem a viagem. Isso também foi feito dessa vez. Porém, em vez da tempestade tornar-se mais amena, ela tornou-se mais violenta, e o nível da água começou a subir de uma forma incomum. Infelizmente, nem todos os que estavam nos ônibus conseguiram sobreviver para contar a história.

Tânia Ferreira da Silva, mãe de Daniela, uma passageira que estava dentro de um desses ônibus, estava em casa fazendo uns serviços domésticos quando recebeu uma ligação da filha.

Mãe, estou dentro do ônibus, não sai de onde você está, está chovendo muito, dizia a moça. E pedia para a mãe não sair de onde estava por causa da forte chuva.

Depois, Daniela fez uma chamada de vídeo e mostrou a água entrando no ônibus. Passados mais alguns minutos, a moça fez outra chamada de vídeo para a mãe mostrando que o volume de água estava muito mais forte, e diz:

Mãe, o ônibus está balançando para caramba!

Filha, sobe em cima do banco, não fica desesperada.

Mãe, está todo mundo nervoso!

Daniela ainda conseguiu postar um story na rede social no qual dizia: “Gente, pelo amor de Deus, orem por todos nós dentro do ônibus, todo mundo está em pânico!”

Depois disso, Tânia não conseguiu mais falar com Daniela.

É triste ver pessoas da comunidade, sem nenhuma experiência de resgate, desesperadamente pegando pás, e cavando na tentativa de encontrar seus parentes e amigos soterrados. Em números atualizados até esta noite, até agora, já são 176 mortos na tragédia. Mais de 100 ainda estão desaparecidos.

Não é a primeira vez que a região serrana do Rio fica face a face com a morte. Em 11 de janeiro de 2011, uma chuva torrencial caiu sobre as cidades de Nova Friburgo, Petrópolis, e Teresópolis, deixando 900 mortos e 100 desaparecidos, naquela que ficou conhecida como a maior tragédia climática da história do Brasil. Naquela época, vários munícipios foram atingidos, desta vez, a bomba d’água explodiu toda sobre Petrópolis, fazendo desta o maior tragédia climática da história da cidade.

As cenas que se seguiram nos dias após as chuvas daquele 11 de janeiro, pareciam as cenas de um filme de Hollywood: pessoas mortas por todos os lados, bombeiros escavando os escombros na tentativa de localizar pessoas com e sem vida, muita lama e destruição por toda a parte. As cenas de agora não muito diferente das testemunhadas naquela época.

Em todas essas tragédias climáticas que acontecem na região serrana do Rio, e nas demais que ocorrem Brasil afora, há muito do fator aquecimento global, que tem nos feitos testemunhar desastres que vão de um extremo a outro, mas também tem muito a ver com a incompetência e do descaso dos nossos governantes para com as populações que moram em áreas de risco.

Por exemplo, quando aconteceu a tragédia em 2011, os governantes prometeram uma série de medidas, muitas delas não foram cumpridas até hoje. Grande parte dos recursos destinados a recuperação e melhora dessas áreas vão parar no bolso de ladrões de colarinho branco.

Enquanto isso, serviços de recuperação de encostas, plantio de árvores nas margens de rios, e programas de política habitacional, recebem investimento zero, ou quase nenhum nessas áreas.

Reportagem da Folha de São Paulo nos faz saber que o governo do Rio usou apenas metade das verbas destinadas a prevenção de tragédias no Rio de Janeiro. De acordo com o Portal da Transparência, apenas 47% do previsto no orçamento para programa de prevenção no orçamento para programa de prevenção e resposta a desastres foram usadas pelo governo de Claúdio Castro.

O governo do Rio reservou para essa finalidade um total de R$ 192 milhões de um total de R$ 407,8 milhões disponíveis.

Enquanto a população fica à deriva, vivendo em áreas de risco, sem a devida proteção do Estado, a gente vê os políticos do Rio de Janeiro navegando no mar de lama da corrupção. Basta olhar e vê os governantes do Rio presos, ou afastados do governo acusados de corrupção.

Hoje mesmo, domingo, 20, o portal Globo.com traz uma reportagem na qual afirma que a Secretaria de Obras do RJ ficou por anos muitos anos à mercê de uma organização criminosa que cuja especialidade era fraudar licitações, superfaturar material de construção, e desviar dinheiro público.

Essas conclusões foram resultado de um trabalho de investigação do Ministério Público Federal, constatado pela Justiça que mostram que o órgão que deveria cuidar em melhorar a infraestrutura do Rio, inclusive nessa questão das encostas de morros, foi transformado num gabinete onde se pagava e recebia propina. Desse ninho de ratos também saia bastante dinheiro clandestino que irrigavam a campanha do então PMDB.

Então, caros leitores e leitoras, não dá para colocar a culpa em fenômenos naturais como a chuva e o mau tempo. Chover, chove sempre. Não tem ser humano que impeça a chuva de cair. Mas os nossos governantes podem sim, melhorar a infraestrutura das cidades e nelas, o melhoramento da vida das populações que vivem em áreas de risco.


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