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Rosário de mentiras

Posted by Cottidianos on 00:54

Segunda-feira, 19 de julho

 

“Quem vai pagar as contas
Desse amor pagão
Te dar a mão
Me trazer à tona prá respirar
Vai chamar meu nome
Ou te escutar”

(Caleidoscópio – Paralamas do Sucesso)

 

                                           Bolsonaro fala com jornalistas na saída do hospital


Fazia alguns dias que o presidente, Jair Bolsonaro, sofria de uma crise de soluços. Coisa incontrolável que se manifestou até em uma live que fez na quinta-feira 08 de julho. Os soluços também apareceram em um encontro que teve com Luiz Fux, presidente do STF. Enfim, em qualquer lugar que estivesse, os malditos soluços apareciam.

Ainda na noite de terça-feira, 13, o presidente conversava com apoiadores e disse a eles: “Estou sem voz, pessoal. Se eu começar a falar muito, volta a crise de soluço. Já voltou o soluço”.

Ele relacionava o problema a uma medicação que estava tomando por causa de um implante dentário que havia feito. Porém, como nem tudo que parece é, o problema causador dos soluços não era exatamente esse.

Na madrugada de quarta-feira, 14, o presidente começou a sentir fortes dores abdominais. Foi ao Hospital das Forças Armadas (HFA), em Brasília, para realização de exames. Lá os médicos diagnosticaram uma obstrução intestinal e avaliaram a possibilidade de uma transferência para São Paulo, para uma possível cirurgia.

De fato, ainda na quarta-feira, o presidente foi transferido para o Hospital Vila Nova Star, na zona Sul de São Paulo. Entretanto, como o presidente respondeu bem ao tratamento, não foi necessário fazer cirurgia de emergência. Como a evolução do presidente foi satisfatória, os médicos decidiram dar alta para ele na manhã deste domingo, 18, após quatro dias de internação.

Já na saída do hospital, Bolsonaro, tirou a máscara  ̶  aliás, nem no hospital ele usou o instrumento, pois foram divulgadas imagens dele, andando pelos corredores do hospital sem a máscara, e visitando outros pacientes. Bolsonaro aproveitou para conversar cerca de 30 minutos com jornalistas, e tirar fotos com apoiadores.

No dia 16 de julho, a Folha de São Paulo divulgou uma reportagem na qual mostrava um vídeo no qual o ex-ministro da Saúde, Eduardo Pazuello, negociava com intermediadores, vacinas por quase o triplo do preço.

O encontro com os intermediadores, revelou a Folha, deu-se através de uma reunião do então ministro Pazuello com o grupo formado por quatro empresários, no próprio ministério da Saúde, e fora da agenda oficial. A reunião aconteceu no dia 11 de março, no gabinete de Élcio Franco, que ocupava na época o cargo de secretário-executivo do ministério.

No vídeo divulgado pela Folha, Pazuello aparece dizendo: “Já saímos daqui hoje com o memorando de entendimento assinado e com o compromisso de celebrar, no mais curto prazo, o contrato para podermos receber essas 30 milhões de doses no mais curto prazo possível para atender nossa população”, diz Pazuello. A compra seria realizada diretamente com o governo chinês.

A Folha de São Paulo também obteve a proposta oferecida pela World Brands. A proposta definia que seriam oferecidos 30 milhões de doses do laboratório chinês, Sinovac, pelo preço de U$ 28 a dose. Até 10 dias após o fechamento do contrato teriam que ser depositados metade do valor total da compra, o equivalente a R$ 4,65 bilhões de acordo com a cotação do dólar na ocasião.

Toda essa empolgação destoa totalmente do comportamento do ministério da Saúde em relação a propostas feitas ao órgão pelo Instituto Butantã. Em 30 de julho, o Instituto Butantã enviou ao MS um ofício propondo que o órgão comprasse a vacina Coronavac. Eram 60 milhões a serem entregues em 2020, e 100 milhões em 2021. Silêncio por parte do ministério da Saúde.

Outros dois e-mails ainda foram encaminhados ao ministério 18 de agosto, e 07 de outubro, respectivamente. Os dois também não foram respondidos pelo ministério da Saúde. Porém, como os governadores sentiam o peso da Covid-19 em seus estados, pressionavam ao órgão pela compra das vacinas.

Em reunião com os governadores, em 20 de outubro, Pazuello anuncia que compraria 46 milhões de doses da Coronavac. Esse foi um dos episódios nos quais ficou bem claro para todo mundo que Pazuello não tinha nenhuma autonomia para desenvolver seu trabalho como ministro da Saúde, pois no dia 21 de outubro de 2020, Bolsonaro desautoriza Pazuello, dizendo que não seria efetuada a compra da vacina chinesa Coronavac. Foi então que Pazuello pronuncia a frase largamente reproduzia pela imprensa “É simples assim: um manda, o outro obedece”.

Depois o governo voltou atrás, e dois meses antes do encontro de Pazuello com os empresários, o governo já havia anunciado a compra de 100 milhões de doses da Coronavac, pelo Instituto Butantã, ao preço de U$ 10 a dose.

O encontro de Pazuello com os empresários desmente sua fala na quando foi inquirido na CPI da Covid. Quando esteve frente a frente com os senadores, o ex-ministro disse que não havia negociado compra de vacinas diretamente com ninguém, pois um ministro jamais deveria negociar ou receber uma empresa. “Pela simples razão de que eu sou o dirigente máximo, eu sou o 'decisor', eu não posso negociar com a empresa. Quem negocia com a empresa é o nível administrativo, não o ministro. Se o ministro... Jamais deve receber uma empresa, o senhor [senador Renan Calheiros] deveria saber disso”, disse ele, todo cheio de empáfia, aos senadores.

Nos bastidores, a coisa, porém, era outra, a ponto de um dos integrantes da reunião, a quem Pazuello chama de John, agradecê-lo pela oportunidade de estar sendo recebido, e dizer que outras parcerias poderiam ser feitas, tantas eram as portas que o então ministro da Saúde estava abrindo para o grupo.

Após a reunião, um dos assessores de Pazuello teria alertado a ele das irregularidades: proposta era incomum, estava acima do preço, e a empresa não era representante oficial da fabricante das vacinas. Por esse motivo ou por outro, o fato é que o negócio não prosperou.

Tivesse prosperado, teria ocupado o posto de vacina mais cara adquirida pelo governo, posto hoje ocupado pela Covaxin, cujo contrato está suspenso. E que tem dado tantas dores de cabeça para o governo.

Na segunda-feira, 12, ao sair de uma reunião com o presidente do Supremo Tribunal Federal, Luiz Fux, Bolsonaro conversou com jornalistas. No meio da conversa, quando um deles fez uma pergunta que Bolsonaro não gostou, ele ficou irritado, pediu para interromper a entrevista e, praticamente, forçou os jornalistas a rezarem a oração do Pai Nosso.

Nada contra rezar o Pai Nosso, aliás, uma belíssima oração, mas penso que isso na presente situação, é mostra de um certo desequilíbrio. Imaginem se todos os entrevistados ao se defrontarem com uma pergunta difícil de algum jornalista, parassem a entrevista e fizessem uma oração. Sei não. Para mim isso não é religiosidade, é fuga.

Na entrevista que deu hoje, pela manhã, aos jornalistas, Bolsonaro não rezou um Pai Nosso, mas desfiou um rosário inteiro... de mentiras. Aliás, essa é essência do presidente: a mentira, a confusão, o caos. Coloquem o presidente em um ambiente no qual reine a paz e a união e ele murcha como balão inflável quando é estourado.

Na matéria intitulada: Vacina, cura da covid e fraude na urna: Bolsonaro mente ao sair do hospital, os repórteres do portal Uol Notícias, Igor Mello e Wanderley Preite Sobrinho, elencaram uma série de quatorze mentiras e meias verdades ditas por Bolsonaro na entrevista, frases essas que, me permitam, reproduzir algumas delas. Depois, se o leitor, leitora, quiser conferir a matéria completa pode passar lá no site do Uol.

Covaxin: “Não paguei, não comprei” - Verdadeiro

A CPI daqui fica o tempo todo me acusando de corrupto. Eu não comprei, eu não paguei. E quem paga é alguém lá do ministério, é todo dia uma narrativa.

Ele afirmou que o governo não gastou "um centavo" com a Covaxin, o que é verdade. O que ele não contou é que o Ministério da Saúde já havia reservado R$ 1,6 bilhão para a compra da vacina, negócio que só foi cancelado depois que o escândalo ganhou o noticiário.

Voto não é auditável - Falso

Eu não entendo, por exemplo, porque não querem voto auditável. Será que esse voto eletrônico que é usado no mundo todo é tão confiável assim? Por que essa briga? Nós queremos transparência nas eleições. Não existe [sic] eleições sem transparência, isso é fraude”.

Ao contrário do que afirma Bolsonaro, a votação por meio das urnas eletrônicas já é auditável, permite recontagem de votos e garante segurança, segundo especialistas. Nunca houve nenhuma denúncia comprovada de fraudes nas eleições no Brasil desde a implantação do sistema eletrônico.

Fraude na eleição - Falso

Eu posso adiantar uma das coisas importantes, existe uma estatística... Eu errei, 271, né? Melhor, 231 vezes a apuração do segundo turno de 2014, dá Aécio, Dilma, Aécio, Dilma, Aécio, Dilma? E toda vez que a Dilma ganha é por uma margem maior do que quando o Aécio ganha. É possível jogar uma moedinha pra cima, 231 vezes e ela alterar cara e coroa? É impossível. Então nós temos que resolver uma só possibilidade de fraude, tem que combater isso aí. Deveria ser, isso aí, a Bíblia do TSE, e não o contrário.”

Em diversos momentos ao longo dos últimos anos, Bolsonaro disse que houve fraudes na contagem dos votos nas eleições presidenciais de 2018 — quando ele venceu Fernando Haddad (PT) no segundo turno — e de 2014, quando Dilma Rousseff (PT) se reelegeu após disputa acirrada com Aécio Neves (PSDB). Não há provas disso.

Após a vitória de Dilma, uma auditoria solicitada pelo PSDB constatou que não houve fraude na eleição de 2014. Sobre 2018, Bolsonaro repetidas vezes disse ter provas de que houve irregularidades no pleito, mas nunca apresentou as evidências.

O governo federal também já admitiu, por meio de pedidos de Lei de Acesso à Informação, que a Presidência da República não possui documentos que comprovariam a suposta fraude.

Vacina aprovada é experimental? - Falso

Quando se aponta determinado nome de vacina, o povo não quer tomar. Faça um trabalho no tocante a isso. Agora, a vacina ainda em fase experimental ou não é? É. É uma autorização emergencial por parte da Anvisa [Agência Nacional de Vigilância Sanitária.

Como em outras vezes em que falou a esse respeito, o presidente mentiu. As vacinas contra a covid-19 não estão em fase experimental porque, no Brasil, diferentes imunizantes receberam o aval da Anvisa depois de passar por análises de segurança, qualidade e eficácia. Mesmo aquelas com autorização para aplicação emergencial passaram por esse tipo de teste.

Além das frases já citadas, Bolsonaro falou muito mais. A maioria das coisas que disse, são verdadeiros absurdos.

Em referência a cloroquina, ivermectina, remédios sem eficácia comprovada contra a Covid, Bolsonaro disse que falar em cura da covid, o faz, ele e a turma dele, criminosos. Todo mundo sabe que a ivermectina e cloroquina são eficazes para os males para os quais foram fabricadas, não contra a Covid, apenas o presidente e seus sectários é que não sabem disso.

Ah, o presidente também colocou mais um remédio nessa lista. Ele falou da Proxalutamida, um medicamento usado no tratamento de tumores que tem relação com a testosterona, como o câncer de próstata. O medicamente ainda está em estudo e ainda não tem um estudo publicado a respeito dele.

Em sua conta no Instagram, o senador Otto Alencar, que é médico, publicou o seguinte texto sobre o medicamento citado pelo presidente: “Proxalutamida é uma medicação antiandrogênico que inibe a ação dos hormônios masculinos (testosterona), usada para alguns tipos de câncer. Não use, afeta a libido e não tem eficácia. Delírio do capitão ex-cloroquina. O correto é: procure o seu médico ou tome vacina”, escreveu ele.

O alto nível de conhecimento e de sabedoria do presidente também lhe permitiu, também na entrevista de hoje, dizer pérolas como essa: “O que mais mata de covid em primeiro lugar é quem tá com obesidade. Em segundo lugar, quem está tomado pelo pavor ou pelo pânico”.

O presidente também aproveitou a conversa para defender o governo e o fiel escudeiro, Eduardo Pazuello, das acusações de corrupção que pipocam na CPI da Covid.

O presidente não poderia deixar passar a oportunidade de criticar o ex-presidente Lula. Ele colocou em dúvida a popularidade de Lula, que aparece como favorito nas pesquisas de intenção de voto como candidato capaz de derrotar Bolsonaro nas urnas.

Ou seja, no universo do presidente, pobre universo, só terá um cenário possível em 2022: a vitória dele nas urnas. Qualquer resultado contrário, mesmo com tendo ratificado pela maioria da população vai ser encarada por ele e pelos seus seguidores, ironicamente apelidados de “gado”, como fraude. E é aí que mora o perigo.

Não poderia deixar aqui de citar também dois fatos bem importantes sobre os quais não pretendo me estender, mais que vale a pena deixar um registro.

A CPI da Covid  ̶  que tem mostrado as mutretas, os rolos do governo na compra dos imunizantes, além do que já sabíamos, que era a má condução da pandemia  ̶  entrou em recesso. Recesso parlamentar, conforme artigo 57 da Constituição Federal que diz que o Congresso deve se reunir de 02 de fevereiro a 17 de julho, e de 1o de agosto a 22 de dezembro.

Porém os senadores que integram a comissão já disseram que, mesmo com o recesso eles continuarão debruçados sobre os documentos que já estão em mãos da CPI, e fazendo diligências, inclusive, internacionais.

Outro assunto que vale destacar é a aprovação, no apagar das luzes do recesso, por parte do Congresso Nacional da aprovação do fundo eleitoral de R$ 5,7 bilhões para as eleições de 2022.

O país com as contas públicas operando em déficit, com toda a problemática de crise da saúde provocada pelo coronavírus, desemprego, inflação, e os nobres deputados e senadores destinam ao fundo eleitoral uma quantia bilionária para o fundo. Um aumento de 185% em relação ao que os partidos tiveram nas eleições municipais de 2020, que foi de R$ 2 bilhões. E quase o triplo do que foi concedido em 2018. Na ocasião o fundo eleitoral foi de R$ 1,8 bilhão.

Esse é o nosso Congresso. Agora perguntem se os governistas que condenavam a velha política votaram a favor ou contra o esse ponto absurdo da Lei de Diretrizes Orçamentárias aprovado na quinta feira (12). Votaram a favor. Mais uma prova de que eles nunca representaram uma nova política. Lobos em pele de cordeiro.  


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