Tô nem aí
Segunda-feira,
28 de dezembro
“Tô nem aí, tô nem aí
Não
vem falar dos seus problemas
Que
eu não vou ouvir”
(Tô nem aí – Luka)
Falemos
do Rio de Janeiro, “Cidade Maravilha, purgatório da beleza e do caos”, como diz
a letra da canção de Fernanda Abreu.
Alguns
políticos, personalidades, astros e estrelas por lá parecem que perderam
completamente a noção. Basta dá uma olhada no noticiário político do Rio para
ver que isso é verdade. Para os políticos cariocas, auto intitulem-se eles,
cristãos evangélicos, ou católicos, o importante é ter muito dinheiro, não
importa se ele venha de negócios lícitos ou das transação ilícitas feitas nos
esgotos da corrupção.
Mas
não falemos de políticos cariocas, por enquanto. Deixemos eles quietos por ora.
O
coronavírus continua fazendo a festa no Rio de Janeiro, terra de gente
festeira, aliás, como o é todo o Brasil. Na terra do Cristo Redentor, do Pão de
Açúcar, e de praias de cartão postal, o bichinho malvado do coronavírus já
matou, até agora, 24.918 pessoas, infectou outras 421.069. Dessas, 391.223
conseguiram se recuperar.
Neste
domingo, 27, em apenas 24 horas registraram-se 13 mortes, e 994 novos casos.
Principalmente
quem trabalha na linha de frente nos hospitais, está bastante preocupado. No
sábado, 26, a taxa de ocupação de leitos de UTI para Covid-19 na rede pública,
SUS, era de 92% no munícipio. A taxa de ocupação nos leitos de enfermaria era
de 88%, não muito distante dos 92% citados anteriormente.
No
sábado, 23, a prefeitura do Rio cancelou a tradicional queima de fogos que
acontece todo ano — belíssimo espetáculo, diga-se de passagem — para evitar
aglomeração. O evento envolve, além da queima de fogos, shows com diversos
artistas. A multidão extasiada que se aglomera nas areias de Copacabana é outro
espetáculo à parte. Por causa da Covid, tudo isso não será possível nessa
virada de ano.
Porém,
conhecendo bem sua clientela, e não contente com a suspensão do réveillon em
Copacabana, a administração municipal também determinou outras medidas a fim de
que a população não corresse para a praia mesmo tendo sido cancelado os festejos.
Houve
então a proibição de carros estacionados na orla carioca e em ruas próximas logo
no primeiro minuto do dia 31. Também haverá bloqueio de transporte público com
direção à praia, e barreiras de fiscalização nos limites do munícipio para
evitar ônibus e vans fretadas com destino a orla,
Essas
medidas foram adotadas pelo presidente da Câmara, e atual prefeito em exercício,
Jorge Felipe, depois que Marcelo Crivela foi afastado por ordem da justiça por
suspeita de comandar um esquema de corrupção na prefeitura do Rio.
Enquanto
as autoridades e os profissionais de saúde estão muito preocupados com a saúde
pública no Rio de Janeiro, e com os estragos que o coronavírus ainda pode fazer
no estado, outros não estão nem aí.
Por
exemplo, no momento em que este texto é escrito, o jogador Neymar realiza uma
festa em sua mansão, em Mangaratiba, localizada na Costa Verde, do Rio de
Janeiro. A festa começou no sábado, 26, e durará cinco dias. Então, de 26 de
dezembro de dezembro até 1 de janeiro, Neymar e seus convidados nadarão numa
piscina de vinho, champanhe, cerveja, whisky, e sabe-se lá mais o quê.
Agora,
imaginem, alguém respeitando uso de máscara, álcool gel, e distanciamento
social num ambiente desses.
E
não é uma festa apenas para o seu núcleo familiar. Não. É um grande evento. Cheio
de luxo e ostentação, bem ao estilo Neymar Junior. Enfim, uma festa nababesca. Além
de toda bebida e comilança, a festa terá shows ao vivo. Nomes famosos da música
como por exemplo, Léo Santana, Ludmila, Grupo Menos é Mais, Harmonia do Samba,
Wesley Safadão, Alexandre Pires, Kevinho, Bruninho e David e Jeito Moleque,
estão entre os artistas que se apresentarão no evento.
Ora senhoras e senhoras, uma festa para 500
convidados, com shows ao vivo, convenhamos, não é uma festinha. Depois da
repercussão negativa, o jogador disse, até de uma forma irônica, que não, que
eram “apenas” 150 pessoas. Quantas pessoas haverá de fato, não se sabe, pois
ninguém estará lá para contar, e se se há alguém contando, com certeza, esses números
não serão divulgados à imprensa.
Acresça-se
às centenas de convidados do Neymar, os garçons, pessoal da limpeza, recepcionistas,
montadores de som, palco, e luz, motoristas, e outros funcionários que por lá
estarão, teremos então um grande multidão em Mangaratiba. Coisa absolutamente
normal para os padrões do Neymar, mas inimaginável em tempos de uma pandemia
que já vitimou mais de 190.000 brasileiros, e mais de 1.700.000 mortes no mundo
todo.
Agora
pensem, fazer uma festa tão luxuosa e cheia de ostentação em meio a tanta dor e
sofrimento, quando as autoridades repetem e recomendam incontáveis vezes, para
as pessoas seguirem os protocolos sanitários, e evitarem aglomerações.
Comemorar
o quê? Em meio a tudo isso, a festa do Neymar parece um deboche. As frases
ditas por um conhecido personagem do meio político e do qual já falamos
diversas vezes cabem, perfeitamente, nesse momento na boca do Neymar: “E daí?”,
“Eu não sou coveiro?” “É só uma gripezinha”.
O
condomínio onde a festa será realizada fica localizado num terreno com área de
10 mil metros quadrados. A mansão é composta por seis suítes, quadra de tênis,
espaço gourmet, adega climatizada subterrânea. Apenas nela cabem 3 mil garrafas,
sistema de som integrado. Além disso, ainda há uma moderna academia, sauna a
vapor, spa com jacuzzi aquecida, sala de massagem, e vaga para lancha de grande
porte.
E
a prefeitura de Mangaratiba, o que diz disso? A administração municipal disse
que não foi comunicada oficialmente da festa realizada pelo jogador do Paris Saint-Germain.
Ou seja, o jogador não teve consideração para com ninguém: nem para com os
habitantes da cidade, nem muito menos para com as autoridades municipais.
Sobre
o assunto, uma fonte da prefeitura de Mangaratiba, disse à CNN: “Não há como legislar em um evento
particular, mas se o Neymar faz uma festa aqui (Mangaratiba), ele está ferindo
seriamente princípios sanitários, os decretos em vigor e as recomendações da
prefeitura para se realizar festas em residências com apenas pequenos núcleos
familiares. A população está insatisfeita com a festa e com a repercussão
envolvendo o nome da cidade. O evento é um desrespeito sanitário, absurdo total”.
As
recomendações da prefeitura de Mangaratiba, que tem 44 mil habitantes, e apenas
um hospital público, além de três unidades básicas de saúde, é que população
local e turistas usem máscaras, álcool gel, e mantenha distanciamento social, e
que tenham bom senso e não realizem eventos públicos ou privados que provoquem
aglomeração.
A
prefeitura também anunciou que fará barreiras sanitárias no acesso à cidade
entre os dias 29 de dezembro a 04 de janeiro para que apenas moradores da
região possam entrar, ou hospedes com estadia comprovada.
Mas
de que adianta tudo isso se o astro do futebol já colocou meio mundo de gente
lá dentro?
Também
é de se imaginar que os moradores da cidade estejam bastante insatisfeitos com
a realização do evento. Num momento em que todos tentam se proteger da doença,
ver um entra e sai de gente não deve ser nada agradável.
O
jogador proibiu a entrada de celulares na festa para evitar que as imagens
feitas com eles possam ir parar nas redes sociais. Ele também instalou
isolamento acústico nas paredes da casa para que os vizinhos não possam
reclamar do barulho. Mas alguém avisa pra ele que, dessa vez, os vizinhos estão
preocupados é com a transmissão da Covd-19, e que proibir celular e isolamento
acústico não são medidas sanitárias contra a doença.
Neymar,
sem dúvida é um profissional de grande talento dentro de campo, mas fora dele,
continua dando provas de ainda não passou da fase de menino mimado que só olha
para seu próprio umbigo. Um cara que vive no mundo da lua e que esquece de
olhar para baixo para ver a realidade que o circunda. Acho que veio bem a
calhar a foto em que Neymar está vestido de astronauta, desejando Feliz Natal!
Astronauta vive onde? No mundo da lua.
Mais
uma festa do Covid com champanhe.
Pelas
atitudes inconsequentes que já começamos a ver neste fim de ano, janeiro poderá
ser, para os brasileiros, um mês bastante sombrio com aumento do número de
casos e mortes por Covid. E olha que nem data nacional de vacinação contra a
Covid-19 temos ainda.
Se as críticas ao jogador vierem pesadas, do Brasil e do exterior, elas, certamente, estarão cobertas de razão.