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Incoerências de um presidente

Posted by Cottidianos on 01:02
Domingo, 26 de abril

Há muitas incongruências no governo de Jair Bolsonaro. Por exemplo, algum dos que leem este artigo saberia explicar algumas destas questões:
Primeira questão.
 Por que um homem que se elege presidente de uma nação com o lema de campanha: Brasil acima de tudo, Deus acima de todos, permite que seja montado, dentro do próprio Palácio do Planalto, e no mesmo andar onde despacha, um tal de Gabinete do Ódio?
O tal gabinete funciona no terceiro andar do Palácio do Planalto, que por sinal é o mesmo andar onde o presidente faz os seus despachos, e é operado pelo seu filho, o vereador Carlos Bolsonaro. A função do departamento é produzir fake news para destruir reputações de inimigos do presidente e de seus filhos. E por inimigos, entendamos aqui aquelas pessoas que ousam pensar diferente — coisa absolutamente normal em uma democracia, palavra que bem poderia ser definida como respeitar os contrários governando para todos — e que ostentam posições e pontos de vistas contrários ao governo, ou a família Bolsonaro. Sim, porque, em se tratando do atual mandato presidencial fica até difícil estabelecer o que são coisas do governo e o que são coisas da família.
E o que faz um vereador do Rio de Janeiro trabalhando em Brasília? Com tantos problemas e dificuldades que o estado do Rio de Janeiro enfrenta nas áreas de saúde, educação e segurança, seria até justificável se o vereador estivesse em Brasília fazendo algum serviço que merecesse o nome de nobre, ao contrário administrar um gabinete onde se dissemina o ódio e a mentira não parece ser algo digno de receber o nome de atividade nobre.
O presidente se diz evangélico, vive rodeado de pastores desse segmento religioso, inclusive tendo adotado um lema de campanha que remete a esfera da religiosidade. Agora imaginem, Jesus Cristo, o ícone máximo do cristianismo perseguindo minorias, negando a questão ambiental, não dando aos direitos humanos a devida importância que eles merecem, disparando sua metralhadora de mágoas contra aqueles que simplesmente pensam diferente dele, e se aliando a milicianos, seres que oprimem e fazem sofrer às populações dos morros cariocas, tanto quanto os traficantes de drogas.
Por qualquer ângulo que se façam estas reflexões é absolutamente impossível ver Jesus Cristo agindo de tal forma. Definitivamente não seria o mesmo Jesus apresentado pelos evangelhos.
Segunda questão.
Porque um candidato que se elege tendo como base um discurso de luta contra a corrupção, chama para ser ministro de seu governo um juiz que foi o principal ícone dessa luta ao dar sentenças condenatórias que mandaram vários poderosos para trás das grades, inclusive um ex-presidente e depois forçar a demissão desse ministro. Sim, pois, apesar de ter partido de Sérgio Moro a iniciativa de pedir a demissão, as situações armadas pelo presidente levaram a um caminho que só restou a Moro o pedido de demissão.
E essa situação tensa entre presidente e ex-ministro da Justiça e da Segurança Pública já vinha se desenhando faz tempo, tendo diversas vezes o presidente desautorizado seu auxiliar, mesmo após dizer que ele tinha carta branca no governo.
Por muitas vezes pareceu que Moro havia entrado no esquema, pois por muito tempo se calou, silenciou diante de fatos que mostravam, claramente, a quem olhava para a cena política com atenção quais eram de fato as reais intenções do presidente. Mas, ao que parece, Moro estava apenas tendo paciência. Muita paciência. Mas, como diz o ditado popular: Paciência tem limites.
Alguém também poderia explicar porque um presidente resolve demitir um comandante geral da Polícia Militar sem nenhum motivo aparente, sem nenhuma causa real e justificável pela qual ele pudesse ser demitido?
Essa é fácil, não é? Afinal o próprio Moro respondeu quando de seu anúncio da saída do governo. O presidente queria um delegado da PF e um ministro da Justiça a quem ele pudesse controlar, e lhes determinar quais operações deveriam prosseguir e quais deveriam parar. Simples e assustador assim.
Terceira questão.
O mundo todo atravessa uma violenta crise de sanitária que, por sua vez, terá profundos reflexos na economia. No Brasil não é diferente. Até o presente momento os dados divulgados por fontes oficiais nos dão conta de que há no país 58.509 casos confirmados, e 4.016 mortes. E a equação dessa curva no Brasil ainda está em ascensão. Isso sem contar os casos subnotificados que devem ser muitos uma vez que o país não fez testagem em massa da população.
E em meio a essa pandemia tem gente sofrendo e muito. Milhares de famílias chorando seus mortos. Pacientes, médicos e enfermeiras tombando, vítimas da doença. O que faz o presidente? Vira a costas a tudo isso e mira apenas uma coisa: seus próprios interesses pessoais e eleitoreiros. E passa a atacar aqueles que, possivelmente, serão seus adversários na campanha presidencial de 2002, e esquece que há um país que sofre, onde há falta de materiais essenciais de proteção nos hospitais. Diz ele que está preocupado com a economia, como todos nós estamos, mas ao que parece a preocupação dele é consigo próprio e com os filhos.
A respostas aos três questionamentos apresentados acima parecem desembocar numa só questão: a preocupação do presidente em proteger aos filhos, e quiçá a si mesmo de investigações sobre corrupção.
Reportagem da Folha deste sábado, 25, revela que a investigação da Polícia Federal identificou o vereador Carlos Bolsonaro (Republicanos-RJ) como um dos articuladores do esquema criminoso das fake news. Segundo os investigadores, Carlos é um dos mentores do grupo que fabrica fake news e que age para intimidar e ameaçar autoridades públicas na Internet. O inquérito corre em segredo de Justiça no Supremo Tribunal Federal.
Há ainda outras investigações que atingem diretamente os filhos e o entorno do presidente que é a que investiga o senador Flávio Bolsonaro no esquema das rachadinhas quando ele era deputado estadual no Rio de Janeiro, e mais recentemente o inquérito que foi aberto para apurar a organização de movimentos que defendem a volta da ditadura militar e do AI-5.
Como se vê há motivos de sobra para o presidente estar desesperado, dando às costas para crise do coronavírus, e procurando um delegado geral da Polícia Federal e um ministro da Justiça que tenha relações muito próxima com ele e com os filhos. Esse tipo de coisa em uma democracia é inaceitável.

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