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Greta Thunberg: Uma pirallha do barulho

Posted by Cottidianos on 18:51

Domingo, 15 de dezembro


Ela tem tradição. A primeira edição dela foi publicada em 1923. Já são quase 97 anos informando com credibilidade. Uma senhora revista. Falo da americana Times. A Times é um dos veículos de comunicação semanal de maior circulação em todo o planeta.  Além dos Estados Unidos, é publicada também na Europa e na América Latina. A edição do semanário publicada em Londres cobre o Oriente Médio e a África. Uma edição também é publicada em Hong Kong. No Canadá a Times editada em Toronto.  Segundo informação do Wikipédia Brasil, a Times “tem a maior circulação do mundo para uma revista semanal de notícias e tem um público de 26 milhões de pessoas, 20 milhões das quais baseadas nos Estados Unidos. Em 2012, teve uma tiragem de 3,3 milhões de exemplares, tornando-se a 11ª revista de maior circulação nos Estados Unidos e a segunda de circulação semanal, atrás da People”.
Foi essa revista de peso que, semana passada, concedeu o título de personalidade do ano, a ativista sueca, Greta Thunberg.
É impressionante como os ataques verbais a jovem ativista vem acontecendo com certa frequência.
Semana passada mesmo, depois que já era tornado público o fato de que ela fora eleita personalidade do ano pela revista americana começaram a circular notícias de que a publicação americana já concedeu o prêmio a pessoas que de boas e santas não tinham nada, como por exemplo, o alemão Adolf Hitler, o soviético Josef Stalin e o iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini. E é verdade. Apesar das polêmicas escolhas, a informação é verídica, segundo checagem feita pelo site AFP Brasil.
Obviamente, tudo isso faz parte da linha editorial da revista, cujo critério não é escolher heróis ou vilões, mas as pessoas que dentro de um determinado ano, tiveram maior impacto nas notícias, que foram destaque dentro do meio noticioso, seja para o bem ou para o mal.
Oxalá seja louvado, esse foi ano foi a vez da ativista sueca ter forte destaque nos noticiários do mundo todo. Que bom a pessoa a quem a revista concedeu o prêmio este ano caminha na claridade, lutando por causa justa e de interesse no bem estar de toda a humanidade.
Assim como uma casa não se constrói do dia para a noite, como num passe de mágica, assim também as convicções forte e ideias arejadoras não surgem do nada. Para construir uma casa é preciso planejamento, alicerce, colocar tijolo por tijolo, e assim por diante. Para formar convicções forte a respeito de algum tema também é preciso uma ideia aqui, outra acolá, uma conversa, as notícias que nos chegam pelo meios de comunicação impressos, pelo rádio, pela TV, ou pela Internet. Tudo isso e, principalmente, as reflexões que brotam do íntimo da consciência de cada um vão formando ideais e princípios que mudam o mundo.  
A paixão da jovem de 16 anos pela causa ambiental começou na escola. Tinha ela 11 anos quando foi apresentada a crise climática por um de seus professores. Certo dia, o professor resolveu levar para a sala de aula um vídeo para ser exibido aos alunos e que mostrava as consequências terríveis para o clima do planeta se algo não fosse feito, com urgência, para conter os efeitos das alterações climáticas. E aquele vídeo deve ter impressionado grandemente a menina.
Naquela noite, ela deve ter tido pesadelos no qual apareciam geleiras derretendo, cidades sendo inundadas pelo elevação do nível dos oceanos, ursos polares famintos, maremotos, terremotos, furacões, tsunamis, e tantos outros monstros semelhantes.
A estudante foi então sugada por um túnel de tristeza que a levou a um estado depressivo. Quase não tinha vontade de falar, alimentava-se muito pouco, a vida social dela ficou ameaçada. Obviamente, os pais ficaram preocupados.
Foi por essa época que a família começou a formar os hábitos que Greta tem hoje: hábitos alimentares mais conscientes, como evitar o consumo de carnes, por exemplo. Também passaram a cultivar os próprios vegetais, além de instalarem painéis solares em casa, e a dar preferência a outros meios de transporte que não o avião.
A depressão passou, mas de tudo isso, como uma fênix que renasce das cinzas, emergiu uma adolescente profundamente preocupada com a questão climática.
A ativista, Greta Ernman Thunberg, nasceu em 3 de janeiro de 2003. O interessante é a família da ativista está toda centrada no ramo do entretenimento. A mãe, Malena Ernmam, é cantora de ópera. O pai, Svante Thunberg, é ator. O avó paterno, Olof Thunberg, é ator e diretor, e a avó paterna, Mona Anderson, é atriz. Dessa árvore genealógica pautada no entretenimento nasceu um rebento de ativista. Assim é a vida: imprevisível.
Em agosto do ano passado, a jovem sueca, resolveu fazer uma greve diferente: uma greve escolar. Todas as sextas-feiras, ela deixava a mochila com material escolar e, ao invés de ir à escola, ela ia para a frente do Parlamento sueco, em Estocolmo. Ficava lá, segurando cartaz com apelos ambientalistas, na tentativa de convencer os políticos suecos a tomarem consciência da importância da luta para conservar vivo o planeta.
E quem disse que “uma andorinha só não faz verão” estava errado, pelo menos no caso de Greta. Seu gesto chamou a atenção da imprensa e logo sua greve escolar passou a ser transmitida pelos canais de comunicação, atravessou fronteiras, e inspirou o movimento global “Sextas-feiras para o futuro”.
Em março deste ano, aquela menina parada na frente do parlamento sueco, com um grito solitário a favor do planeta, viu que não estava mais sozinha.  No dia 15 daquele mês, o movimento “Sextas-feiras para o futuro”, liderado por Greta, fez uma grande mobilização global que atingiu cerca de 123 países. Era a juventude exigindo que os adultos prestassem mais atenção e levassem mais a sério a questão das mudanças climáticas que põe em risco todo o planeta.
Por tudo isso, Greta Thunberg tem sido muito criticada, atacada por alguns líderes mundiais, como Donald Trump, e Jair Bolsonaro.
No início da tarde de sábado, 07, dois índios da etnia Guajajara foram mortos às margens da BR-226, no munícipio de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão. O local fica a 500 quilômetros da capital, São Luís.
No dia domingo, 8, Greta fez uma crítica à morte dos índios, e disse que os povos indígenas no Brasil estavam sendo mortos por defenderem a floresta. Na terça-feira, 10, Bolsonaro foi questionado, em frente ao Palácio da Alvorada, por jornalistas, sobre se ele estava preocupado com a morte dos índios e os comentários de Greta. Ao que o presidente respondeu: “Como é, índio? Qual o nome daquela menina lá? Não, lá de fora, lá. Aquela Tabata, não. Como é? Greta. A Greta já falou que os índios morreram porque estão defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Uma pirralha”.
O interessante em Greta é que ela sempre responde às críticas de seus adversários com bom humor, e com a jovialidade que lhe é própria da idade. Respondendo ao comentário de Bolsonaro, na capa de sua rede social, ela mudou o status para “Pirralha”.
Após saber que Greta tinha sido escolhida pela Times como personalidade do ano, o presidente brasileiro voltou a atacar a jovem sueca. “Tem até uma pirralha que tudo o que ela fala à nossa imprensa, a nossa imprensa, pelo amor de Deus, dá um destaque enorme. Ela está agora fazendo o seu showzinho lá na COP25. Mas tudo bem. Eu acredito que nós temos, ao trabalhar em equipe, meios de mudar o Brasil”.
A ativista também foi criticada por Donald Trump. Após saber da escolha da Times para personalidade do ano, Trump escreveu no Twitter: “Ridículo. Greta deve trabalhar seu problema de gestão da raiva e depois assistir a um bom filme com algum amigo. Relaxe, Greta, relaxe”.
Como havia feito com Bolsonaro, Greta usou de ironia para responder a outra ironia, e respondendo a Trump, ela mudou seu status no Twitter e escreveu: “Uma adolescente trabalhando no controle da sua raiva. Atualmente descansando e assistindo a um filminho com um amigo”. É como diz o ditado: “Enquanto os cães ladram a caravana passa”.
Lembrando que, em setembro deste ano, o filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo, também havia publicado uma foto fake da ambientalista. Na foto original a ativista faz uma refeição, enquanto viaja em um trem, com paisagens ao fundo. Na foto fake montada por Eduardo Bolsonaro, ao invés da paisagem, aparecem crianças africanas pobres, sentadas na calçada de algum povoado. Lutar pelo meio ambiente não é coisa de pirralha, mas montar foto fake com quem se dedica a essa causa, isso sim, é coisa de pirralho.
Na verdade, os críticos de Greta são pessoas que, ideologicamente, tem o mesmo perfil. E as críticas a sua escolha pela Times como personalidade do ano, tem muito de “dor de cotovelo”. Tipo aquela história: “Por que ela e não eu?”
Tratando mais especificamente do caso brasileiro, é evidente o descaso e o desprezo que tem o presidente Jair Bolsonaro para com a questão ambiental. Ele não está nem aí se a floresta está sendo queimada, ou desmatada, ou que índios estejam sendo assassinados. O importante é que os que desmatam ilegalmente a Amazônia, e os que ilegalmente exploram as reservas indígenas estejam beneficiados.  São vastos as falas do presidente estimulando essas ações.
Na terça-feira, 10, o presidente assinou uma Medida Provisória, que regulariza a questão fundiária. A medida precisa da aprovação do Congresso, em até 120 dias, para virar lei. Segundo o governo, as novas regras simplificam e modernizam o processo de regularização fundiária.
Segundo a reportagem Porque Bolsonaro se irrita tanto com Greta, de autoria de Antonio Carlos Prado e Gilherme Sette, publicada pela revista Isto É no último dia 13, A MP tem um bonito nome “mas esconde uma armadilha: a de dar aos grileiros as terras que eles roubaram a partir de 2014. A medida será bombardeada no Senado, conforme já anunciou o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, mas chega a ser inacreditável a iniciativa do ex-capitão a favor da grilagem: é presentear o ladrão com o produto de seu roubo”, diz trecho da reportagem Na verdade, a MP da regularização fundiária parece mais um prêmio aos grileiros que invadem e desmatam a floresta do que propriamente um avanço como pretende o governo.
Para Brenda Brito, pesquisadora do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a MP está associada aos interesses da bancada ruralista no Congresso. “Se o Congresso Nacional aceitar essa MP, será cúmplice de mais uma anistia ao roubo de terra pública, já que quem invadiu após 2011 sabia que estava cometendo um crime. Vai reforçar a mensagem de que invadir e desmatar são ações que merecem ser premiadas ao em vez de punidas”.
Diz uma lei da natureza que os semelhantes se atraem. Greta e Bolsonaro não são em nada semelhantes no campo das ideias. Ideologicamente falando, na questão ambiental, a ativista sueca Greta Thunberg é a luz, aquela que vem exortar os homens a preocuparem-se com o futuro do planeta, que é, afinal, nossa casa comum. Sem planeta Terra e sem seus recursos, não existe raça humana. Bolsonaro, ao contrário, é o representante das trevas, aquele que prega o atraso e a destruição dos recursos naturais, e dos povos que lutam por essa causa.
É por isso que Bolsonaro não suporta aquela pirallha de apenas 16 anos, escolhida como personalidade do ano pela Times. É ela é o seu oposto. O seu avesso.

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