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Juiz das garantias: Avanço ou retrocesso no Judiciário?

Posted by Cottidianos on 22:19

Domingo, 29 de dezembro
A justiça só é cega / Quando não quer ver
Quando a lei se nega / A se fazer valer
Para uns implacável / Para outros maleável
Ou até negociável
...
A impunidade / É um grave problema
É a face mais falha da sociedade
É o lado mais sujo do sistema
(Impunidade – Tribo de Jah)



Um lugar paradisíaco.  Desses que revigoram qualquer corpo e mente cansados. Um afago para o corpo e para a alma. Um lugar cercado pela beleza que resta do pouco que restou da exuberante Mata Atlântica. Areia branca e fofinha a se perde de vista: um fino tapete para pés cansados. A água morna em cor verde esmeralda convida a um suave mergulho. Acresça a tudo isso uma praia privatiza e teremos o cenária dos sonhos para se tirar uns dias de férias.
Este lugar é a Base Naval de Aratu, que fica localizada na Península de Paripe, na Bahia. Esse belo paraíso natural fica a apenas 42 km do centro de Salvador. É lá que o presidente, Jair Bolsonaro, está passando as férias.
Neste sábado, 28, foi o primeiro dia de férias do presidente no local. Ele chegou a praia de Inema por volta das 11h30min da manhã. Levou consigo a filha, Laura, de 9 anos, e mais uma comitiva de trinta pessoas. A primeira dama, Michele, ficou em Brasília, e vai passar a virada de ano com familiares. Michele deverá ser submetida a uma cirurgia nos próximos dias, mas segundo fontes oficiais não é nada grave.
O presidente deverá voltar aos seus compromissos em Brasília no dia 05 de janeiro. Descanso merecido, depois de um ano cheios de tensões e polêmicas, acusações, alfinetadas em adversários, e outras situações desagradáveis. Confusões essas, diga-se de passagem, criadas pelo próprio presidente e seus filhos.
Aratu, era um dos lugares favoritos da ex-presidente, Dilma Rousseff, e do ex-presidente Lula. Como vemos, o presidente tem muito mais em comum com Lula e Dilma do que podíamos imaginar. Por exemplo, nas bobagens que a ex-presidente dizia. Estocar vento foi apenas uma delas. Com uma diferença: as bobagens que Dilma dizia dizia eram do tipo piada de salão, a maior consequência delas é o riso. As bobagens que o presidente e seus diletos filhos falam, não. Essas preocupam, e muito.
Enfim, Bolsonaro viajou de férias, porém... Engraçado é que com Bolsonaro sempre tem um porém... Antes de viajar ele, como se diz no meio popular, “embaralhou o meio de campo” no judiciário ao criar a figura do juiz das garantias. Os tribunais e comarcas de todo o país devem estar quebrando a cabeça para saber como resolverão a questão agora transformada em lei.
O fato que provocou muitas discussões e uma avalanche de críticas, se deve ao fato de que o presidente, dia 24, véspera de Natal, sancionou a lei que reforma o Código Penal e o Código de Processo Penal, popularmente chamada de “pacote anticrime”, enviada ao Congresso pelo ministro Sérgio Moro. O texto inicial enviado por Moro entrou no Congresso cheio de vigor e saiu desidratado. O texto final foi publicado no Diário Oficial da União no dia 25, e entrará em vigor no dia 23 de janeiro do próximo ano.
O pacote anticrime era a “menina dos olhos” de Moro. Era a sua principal meta desde que assumiu o comando do Ministério da Justiça e Segurança Pública. Em fevereiro, o próprio ministro foi pessoalmente ao Congresso entregar as propostas. Grande parte delas, partes importantes foi soterrada, enterrada, sepultada, na votação que ocorreu na Câmara dos Deputados, na quarta-feira, 4, quando os deputados votaram o pacote anticrime com o placar de 408 votos favoráveis e 9 contrários, e duas abstenções.
Uma semana após ser aprovado na Câmara, na quarta-feira, 11, o plenário do Senado também aprovou o projeto, que seguiu para ser sancionado pelo presidente da República, o que foi feito na véspera de Natal.
O texto final, na verdade é uma mistura das propostas enviadas por Sérgio Moro e das propostas enviadas anteriormente às de Moro pelo ministro do STF, Alexandre de Moraes, que também havia enviado ao Congresso propostas semelhantes às de Moro para reforma do Código Penal e de Processo Penal. Na redação final do texto, a Câmara dos Deputados acabou privilegiando as propostas enviadas por Moraes mais que as de Moro. Desde 2018, os parlamentares já analisavam a proposta de Moraes.
Como sabemos, pelo menos no Congresso, Moro é visto com certa reserva. Afinal, foi pelas mãos dele que passaram a condenação de muitos políticos influentes e outros tantos tiveram seus nomes investigados e citados. Ao que parece, ironia das ironias, aqueles que lutam contra o combate à corrupção não são bem vistos naquele ambiente parlamentar. Inclusive líderes do chamado centrão e de partidos de oposição o acusam de criminalizar a política.
O governo poderia ter sido um grande aliado de Moro na aprovação da proposta conforme constava do texto original, mas ao contrário, “pôs as barbas de molho”, isto é, não agiu com vontade necessária para que o projeto de Moro fosse aprovado na integra, ou pelo menos aprovado em grande parte. Foi o jeito então Moro ir, pessoalmente, ao Congresso defender sua proposta, mas com o cenário descrito no paragrafo anterior à sua espera naquele ambiente, ele não teve muito êxito. Rodrigo Maia, presidente da Câmara, o acusou de descumprir acordo com o governo que era priorizar as reformas, e de feito “cópia e cola” do projeto apresentado anteriormente por Alexandre de Moraes.
Enfim, o projeto anticrime foi aprovado, e algumas das alterações foram o aumento da pena máxima de 30 para 40 anos, aumento da pena de homicídio, ampliação da permanência de presos perigosos em presídios federais de 360 dias para três anos, proibição de saída temporária para presos por crime hediondo, sugestão da criação de um banco nacional de perfil balístico para melhorar a investigação de crimes.
Outros pontos do pacote anticrime esse blog foi buscar no site do Senado Federal, diz o texto publicado no site:
Embora o Congresso tenha retirado da proposta o excludente de ilicitude para agentes de segurança pública — no qual não responderiam por crime quando no exercício da função e dentro das suas prerrogativas —, um ponto que vem no texto é o que considera legítima defesa os atos de agentes que repelem agressão ou risco de agressão à vítima mantida refém durante a prática de crimes.
O texto também prevê aumento da pena por roubo quando for usada arma branca, como faca. Esse aumento pode ser de um terço até a metade da pena. Em caso de roubo quando houver uso de arma de fogo de uso restrito ou proibido, a pena pode ser aumenta em até a metade de sua duração. Para quem vende ilegalmente armas, a pena aumentou da faixa de quatro a oito anos para a faixa de seis a 12 anos.
Além disso, a lei aumenta a pena máxima de oito para 12 anos para servidores públicos que cometem o crime de concussão — exigir vantagem indevida, direta ou indiretamente, ainda que fora da função ou antes de assumi-la, mas em razão dela.
No quesito delação premiada, novas regras devem dificultar o uso das declarações e as medidas cautelares em favor do delator”  
Fonte: Agência Senado
Porém um dos pontos mais polêmicos foi a criação do juiz das garantias, e que provocou muitas críticas do próprio ministro da Justiça, Sérgio Moro, de associações de magistrados, e de diversos políticos contrários à medida.
De acordo com o Código de Processo Penal vigente, o juiz que acompanha a fase de investigação e produção de provas é o mesmo que julga e profere a sentença em um processo.
Esse procedimento muda com a redação da nova lei anticrime. Agora será um juiz a acompanhar a fase de investigação e a produção de provas. Ele permanecerá no caso até o momento em que a denúncia for apresentada ao Ministério Público. Esse será o papel a desempenhar na cena jurídica o juiz das garantias. A partir daí, entrará em cena um outro juiz que conduzirá o caso até o final. Caberá a ele analisar provas, ouvir testemunhas, e julgar os acusados. Esse juiz poderá inclusive, determinar o arquivamento do inquérito quando decidir que não há argumento suficientes para a investigação.
Apesar da medida ser elogiada por grandes nomes do meio jurídico, e até por ministros do STF, ela, na verdade, é uma espécie de pegadinha. O que deu celeridade nas investigações da Lava Jato e que mandou tanta gente importante para a cadeia foi o modelo vigente, no qual o juiz acompanha o caso do início ao fim.
Já imaginou se fosse necessário dois juízes a acompanhar o mesmo processo, como naquelas provas de revezamento em que um atleta passa o bastão para outro? Certamente, os processos iriam demorar bem mais, pois até que o novo juiz se inteirasse inteiramente do caso isto levaria um pouco mais de tempo.
Outro aspecto a ser considerado são os custos para o Judiciário. Em grande parte das comarcas brasileiras, principalmente, naquelas afastadas dos grandes centros urbanos a falta de juízes já e uma realidade. Como contar com dois juízes onde não há nenhum, precisando vir alguém de outra comarca para suprir a necessidade?  Haverá abertura de concursos públicos para esta função?
E porque a pressa em fazer valer a instauração do juiz das garantas, uma medida que afetará profundamente o judiciário de todo o país, e não apenas de uma comarca ou outra? Os tribunais estão todos de recesso. Voltam dia 08 de janeiro. Os prazos processuais estão suspensos até dia 20 de janeiro. Certamente não dará tempo de implantar essas medidas. E aí, como fazer? Como agir?
Em resposta às críticas, Bolsonaro foi muito polido nas redes sociais, seu meio de comunicação preferido: “Na elaboração de leis, quem dá a última palavra sempre é o Congresso. Não posso sempre dizer NÃO ao parlamento, pois estaria fechando as portas a qualquer entendimento”, escreveu ele. Esse, definitivamente, não é o Bolsonaro. Se ele quisesse, poderia ter vetado esse ponto da lei. Afinal, ele não é de levar em consideração a opinião de ninguém, conforme demonstrado já em dezenas de vezes.
Então por que não disse não? Talvez, mais uma tentativa de proteger o filho, Flávio Bolsonaro, familiares e amigos? Quem sabe?
Lembremos que, recentemente, o Ministério Público deflagrou uma operação de busca e apreensão em endereços ligados a Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, e outras pessoas ligadas aos dois, inclusive amigos e familiares de Queiroz, seu ex-assessor na Alerj. Logo após a realização da operação, Flávio foi às redes sociais criticar o juiz, Flávio Itabaiana, que conduz as investigações do caso.
Flávio Itabaiana, 27a Vara Criminal do Rio de Janeiro, é conhecido como juiz linha dura. Com a medida do juiz das garantias já passando a vigorar no dia 23 de janeiro, ele só poderá atuar no processo que apura a conduta de Flávio Bolsonaro como deputado estadual no Rio de Janeiro, e de Fabrício Queiroz, seu assessor naquele época, até a formalização da denúncia no MP.
A figura do juiz dos garantias não é nenhuma novidade, pelo menos não no Congresso, ela já ronda aquela casa legislativa desde 2009, quando, naquela época, já se discutia um novo Código de Processo Penal. A figura do juiz das garantias foi incluída no pacote anticrime, sancionado pelo presidente, pelo deputado Marcelo Freixo (PSOL), que fazia parte do grupo de trabalho que analisou as propostas do pacote anticrime.
A figura do juiz das garantias, tidas por muito como “avanço civilizatório” é na verdade um entrave, um obstáculo, um empecilho, para aqueles que desejam uma justiça mais ágil e mais célere. E também para aqueles que desejam ver morto, ou pelo menos, sem força, o monstro da corrupção que insiste em reinar em nosso país.
Por outro lado, ficam felizes, Lula, Dilma, Jair Bolsonaro, Flávio Bolsonaro, Marcelo Freixo, os deputados e senadores que estão na mira da Lava Jato, e tantos outros. Será que os brasileiros estarão começando a descobrir que Bolsonaro, Dilma, e Lula tem muito mais em comum do que o gosto pela paradisíaca Base Naval de Aratu?

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Caso Queiroz volta a preocupar os Bolsonaro

Posted by Cottidianos on 17:23

Terça-feira, 24 de dezembro


Quedas e tombos, quem não está sujeito a eles?
Alguns são graves, gravíssimos, como foi o caso do acidente que vitimou o apresentador, Gugu Liberato, em 22 de novembro deste ano.
Outros são coisinhas à toa. Tombinhos dos quais o sujeito levanta-se rapidinho, e ainda sacode a poeira, como foi o caso do tombo que o presidente, Jair Bolsonaro, levou na noite desta segunda-feira, 23, segundo relatos oficiais, em um dos banheiros do Palácio da Alvorada.
Nesse caso, não havia poeira para sacudir, a não ser que o banheiro estivesse em reformas, o que não era o caso. Nada demais. Apenas um susto, e o presidente foi liberado na manhã desta terça-feira, 24, pela equipe médica do hospital onde passou  a noite, porém com a recomendação de repouso. Vale lembrar que o presidente passou por uma cirurgia no abdômen quando foi vítima de uma facada quando estava em campanha pela presidência ainda no ano passado. Em decorrência desse fato, o presidente já precisou ser submetido a outras quatro cirurgias.
Por falar nisso, esse é um fato ainda envolto nas nevoas do mistério. Apenas se sabe quem foi o autor da facada, Adélio Bispo, entretanto, muitas coisas ainda estão soltas, como as peças de um quebra-cabeças a ser montado. Não se sabe, por exemplo, quem foi o mandante, se é que houve, quem pagou os advogados caríssimos que defenderam Adélio. Até delação premiada o homem não aceitou fazer, sustentando a versão de que agiu sozinho.
Voltando ao momento presente e ao tombo que o presidente levou na noite de segunda, segundo relatos da Folha, já nesta manhã, o presidente foi visto caminhando e conversando com funcionários nas dependências do Alvorada. Foi apenas um susto.
Susto grande e que tem rondado a Família Bolsonaro como um fantasma que se recusa a ir embora deste mundo, assombrando, especialmente, o filho zero 1, Flávio Bolsonaro, é essa escandalosa relação dele com o ex-assessor, Fabricio Queiroz, no caso das “rachadinhas” quando ele ainda era deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
Na manhã de quarta-feira, 18, o Ministério Público-Rio de Janeiro, cumpriu 24 mandados de busca e apreensão em endereços ligados a Flávio Bolsonaro, Fabrício Queiroz, e de familiares de Ana Cristina Siqueira Vale, ex-mulher do presidente Jair Bolsonaro.
É a primeira vez que a PF faz uma operação ostensiva no caso a fim de investigar as denúncias de lavagem de dinheiro e peculato quando Flávio era deputado estadual pelo Rio de Janeiro.
A operação foi deflagrada apenas três semana após ter sido destrava pelo Supremo Tribunal Federal. Em Julho, a troca de informações entre o Coaf e o Ministério Público havia levado o presidente do STF, Dias Toffolli, a paralisar as investigações. Instaurado em Julho de deste ano, o inquérito corre em sigilo, e busca apurar se o deputado praticou os crimes de lavagem de dinheiro e peculato durante o seu mandato como deputado na Alerj.
Flávio Bolsonaro e Fabrício Queiroz são suspeitos de praticar o esquema de “rachadinha” no gabinete do parlamentar na Alerj. Esta prática ilegal funciona da seguinte forma: um prestador de serviços, ou até mesmo um servidor público, repassa ao parlamentar parte do salário recebido pelo serviço prestado ao próprio parlamentar.
Com isso, o político age de má fé duas vezes: uma quando se aproveita de alguém que está precisando do emprego e topa entrar no esquema, e outra quando lesa os cofres públicos. Também pode entrar no esquema funcionários fantasmas: alguém que nunca deu expediente no gabinete de um deputado, por exemplo, mas recebe o salário como se desempenhasse funções naquela repartição pública, com o compromisso de também devolver parte do salário ao parlamentar. É mais uma das tantas formas de corrupção que assolam o nosso país.
Essa investigação foi iniciada em julho de 2018. Em dezembro daquele ano uma reportagem feita pelo jornal o Estado de São Paulo, revelou que um relatório do Conselho de Controle de Atividades Financeiras (Coaf) havia encontrado movimentações atípicas na contas de Fabrício Queiroz. Entre saques e depósitos, havia sido movimentada a quantia de R$ 1,2 milhão entre 2016 e 2017. Entre 2014 e 2015, já haviam passado pela conta de Fabricio outros R$ 5,8 milhão. A conta também estava recheada por centenas de depósitos feitos por assessores que prestavam serviços no gabinete de Flávio Bolsonaro.
É muito dinheiro para ser movimentado para um assessor que recebia um salário de R$ 23 mil.
Muitos desses assessores entram na categoria dos funcionários fantasmas, como é o caso de Ana Cristina, que nunca chegou nem a retirar o crachá funcional para adentrar as dependências da Alerj.
Flávio Bolsonaro afirma que nunca agiu de forma ilegal, embora a lógica mostrada pelas investigações o desdigam. Pelos dados mostrados pela PF e pelo MP fica bem claro o círculo vicioso do dinheiro: a quantia saia da conta dos assessores, passava pela conta do Queiroz, e depois voltava para Flávio.
De qualquer modo, é provável que essa investigação, mesmo que venha a comprovar culpa de Flávio Bolsonaro, não resulte em punição para ele. Ele agora é senador, e o senador não vai julgá-lo culpado por um ato praticado quando ele ainda era deputado. É como se a nova condição política do filho do presidente o resgatasse de qualquer ilícito praticado no passado. Coisas da justiça e da política brasileira que a gente fica às vezes sem entender a lógica e a coerência de tais julgamentos.
Para finalizar este artigo, este blog diz: “não acreditem em políticos e muito menos em suas promessas”, elas, as promessas servem apenas para tapar o sol com a peneira ou para fazer afagos à bases eleitorais dos candidatos. Depois de eleitos elas são facilmente esquecidas.
Por exemplo, logo após a campanha eleitoral, em fins de novembro de 2018, Bolsonaro disse em sua conta no Twitter, que, em seu governo, não editaria nenhum indulto de Natal. O indulto representa uma espécie de perdão a pena e que geralmente é concedido próximo ao Natal.
Fui escolhido presidente do Brasil para atender aos anseios do povo brasileiro. Pegar pesado na questão da violência e criminalidade foi um dos nossos principais compromissos de campanha. Garanto a vocês, se houver indulto para criminosos neste ano, certamente será o último”, escreveu ele na ocasião.
Apenas nessa fala já se vão, pelo menos, duas promessas não cumpridas: uma foi a de “pegar pesado” no combate à violência e a criminalidade. Esses quesitos, inclusive, o combate a corrupção, que também foi uma de suas promessas de campanha, ficaram muito abaixo do esperado, em alguns momentos, inclusive, Bolsonaro, afastou quem tentou se empenhar na luta contra a corrupção.
Por exemplo, agora mesmo, depois da operação de busca e apreensão em endereços de envolvidos no caso Queiroz, o presidente disse em relação ao Ministério Público: “Todo poder tem que ter uma forma de sofrer um controle. Não é do Executivo, é um controle”. Ora, um presidente que se elegeu com a bandeira da luta contra a corrupção, agora quer calar o órgão que busca um país mais transparente e livre da corrupção. Isso é, no mínimo, estranho.
Outra das promessas descumpridas por Bolsonaro em sua publicação no Twitter, em novembro de 2018, foi a de não editar mais indultos de Natal. Ele, que disse que, aquele o indulto de fins de 2018, seria o último, mas acabou de conceder mais um perdão natalino. Nesta segunda-feira, 23, o presidente assinou decreto com as regras para o indulto de Natal deste ano. O texto autoriza perdão da pena para agentes de segurança pública condenados por crimes culposos praticados durante o exercício da profissão. Crimes culposos são aqueles praticados sem intenção.
Um decreto de Natal nunca havia sido concedido a uma categoria em especifico, e essa é novidade desse decreto. O indulto deste ano também vale para militares das Forças Armadas que tenha praticado crimes não intencionais em operações de garantia da Lei e da Ordem. O texto foi publicado nesta terça, 24, e passa a valer a partir desta data. A justiça terá que ser acionada para que seja concedida a soltura de cada beneficiado, uma vez que o decreto não tem efeito automático.
A polícia no Brasil anda tão violenta... Se antes ela atirava para depois averiguar, essa parece ter se tornado a regra amparada pela lei... Será que desresponsabilizar agentes de segurança pública ajuda no combate a violência ou atrai ainda mais violência?
Talvez sejamos obrigados a concordar com o jornalista, Thiago Amparo, em seu artigo para a Folha, publicado nesta terá, 24, sob o título Bolsonaro arrisca ao transformar indulto em afago a policiais. Diz o jornalista no artigo: “Simbolicamente, pode-se ler o indulto natalino de Bolsonaro como uma versão póstuma do projeto de excludente de ilicitude, morto no Congresso Nacional

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Greta Thunberg: Uma pirallha do barulho

Posted by Cottidianos on 18:51

Domingo, 15 de dezembro


Ela tem tradição. A primeira edição dela foi publicada em 1923. Já são quase 97 anos informando com credibilidade. Uma senhora revista. Falo da americana Times. A Times é um dos veículos de comunicação semanal de maior circulação em todo o planeta.  Além dos Estados Unidos, é publicada também na Europa e na América Latina. A edição do semanário publicada em Londres cobre o Oriente Médio e a África. Uma edição também é publicada em Hong Kong. No Canadá a Times editada em Toronto.  Segundo informação do Wikipédia Brasil, a Times “tem a maior circulação do mundo para uma revista semanal de notícias e tem um público de 26 milhões de pessoas, 20 milhões das quais baseadas nos Estados Unidos. Em 2012, teve uma tiragem de 3,3 milhões de exemplares, tornando-se a 11ª revista de maior circulação nos Estados Unidos e a segunda de circulação semanal, atrás da People”.
Foi essa revista de peso que, semana passada, concedeu o título de personalidade do ano, a ativista sueca, Greta Thunberg.
É impressionante como os ataques verbais a jovem ativista vem acontecendo com certa frequência.
Semana passada mesmo, depois que já era tornado público o fato de que ela fora eleita personalidade do ano pela revista americana começaram a circular notícias de que a publicação americana já concedeu o prêmio a pessoas que de boas e santas não tinham nada, como por exemplo, o alemão Adolf Hitler, o soviético Josef Stalin e o iraniano aiatolá Ruhollah Khomeini. E é verdade. Apesar das polêmicas escolhas, a informação é verídica, segundo checagem feita pelo site AFP Brasil.
Obviamente, tudo isso faz parte da linha editorial da revista, cujo critério não é escolher heróis ou vilões, mas as pessoas que dentro de um determinado ano, tiveram maior impacto nas notícias, que foram destaque dentro do meio noticioso, seja para o bem ou para o mal.
Oxalá seja louvado, esse foi ano foi a vez da ativista sueca ter forte destaque nos noticiários do mundo todo. Que bom a pessoa a quem a revista concedeu o prêmio este ano caminha na claridade, lutando por causa justa e de interesse no bem estar de toda a humanidade.
Assim como uma casa não se constrói do dia para a noite, como num passe de mágica, assim também as convicções forte e ideias arejadoras não surgem do nada. Para construir uma casa é preciso planejamento, alicerce, colocar tijolo por tijolo, e assim por diante. Para formar convicções forte a respeito de algum tema também é preciso uma ideia aqui, outra acolá, uma conversa, as notícias que nos chegam pelo meios de comunicação impressos, pelo rádio, pela TV, ou pela Internet. Tudo isso e, principalmente, as reflexões que brotam do íntimo da consciência de cada um vão formando ideais e princípios que mudam o mundo.  
A paixão da jovem de 16 anos pela causa ambiental começou na escola. Tinha ela 11 anos quando foi apresentada a crise climática por um de seus professores. Certo dia, o professor resolveu levar para a sala de aula um vídeo para ser exibido aos alunos e que mostrava as consequências terríveis para o clima do planeta se algo não fosse feito, com urgência, para conter os efeitos das alterações climáticas. E aquele vídeo deve ter impressionado grandemente a menina.
Naquela noite, ela deve ter tido pesadelos no qual apareciam geleiras derretendo, cidades sendo inundadas pelo elevação do nível dos oceanos, ursos polares famintos, maremotos, terremotos, furacões, tsunamis, e tantos outros monstros semelhantes.
A estudante foi então sugada por um túnel de tristeza que a levou a um estado depressivo. Quase não tinha vontade de falar, alimentava-se muito pouco, a vida social dela ficou ameaçada. Obviamente, os pais ficaram preocupados.
Foi por essa época que a família começou a formar os hábitos que Greta tem hoje: hábitos alimentares mais conscientes, como evitar o consumo de carnes, por exemplo. Também passaram a cultivar os próprios vegetais, além de instalarem painéis solares em casa, e a dar preferência a outros meios de transporte que não o avião.
A depressão passou, mas de tudo isso, como uma fênix que renasce das cinzas, emergiu uma adolescente profundamente preocupada com a questão climática.
A ativista, Greta Ernman Thunberg, nasceu em 3 de janeiro de 2003. O interessante é a família da ativista está toda centrada no ramo do entretenimento. A mãe, Malena Ernmam, é cantora de ópera. O pai, Svante Thunberg, é ator. O avó paterno, Olof Thunberg, é ator e diretor, e a avó paterna, Mona Anderson, é atriz. Dessa árvore genealógica pautada no entretenimento nasceu um rebento de ativista. Assim é a vida: imprevisível.
Em agosto do ano passado, a jovem sueca, resolveu fazer uma greve diferente: uma greve escolar. Todas as sextas-feiras, ela deixava a mochila com material escolar e, ao invés de ir à escola, ela ia para a frente do Parlamento sueco, em Estocolmo. Ficava lá, segurando cartaz com apelos ambientalistas, na tentativa de convencer os políticos suecos a tomarem consciência da importância da luta para conservar vivo o planeta.
E quem disse que “uma andorinha só não faz verão” estava errado, pelo menos no caso de Greta. Seu gesto chamou a atenção da imprensa e logo sua greve escolar passou a ser transmitida pelos canais de comunicação, atravessou fronteiras, e inspirou o movimento global “Sextas-feiras para o futuro”.
Em março deste ano, aquela menina parada na frente do parlamento sueco, com um grito solitário a favor do planeta, viu que não estava mais sozinha.  No dia 15 daquele mês, o movimento “Sextas-feiras para o futuro”, liderado por Greta, fez uma grande mobilização global que atingiu cerca de 123 países. Era a juventude exigindo que os adultos prestassem mais atenção e levassem mais a sério a questão das mudanças climáticas que põe em risco todo o planeta.
Por tudo isso, Greta Thunberg tem sido muito criticada, atacada por alguns líderes mundiais, como Donald Trump, e Jair Bolsonaro.
No início da tarde de sábado, 07, dois índios da etnia Guajajara foram mortos às margens da BR-226, no munícipio de Jenipapo dos Vieiras, no Maranhão. O local fica a 500 quilômetros da capital, São Luís.
No dia domingo, 8, Greta fez uma crítica à morte dos índios, e disse que os povos indígenas no Brasil estavam sendo mortos por defenderem a floresta. Na terça-feira, 10, Bolsonaro foi questionado, em frente ao Palácio da Alvorada, por jornalistas, sobre se ele estava preocupado com a morte dos índios e os comentários de Greta. Ao que o presidente respondeu: “Como é, índio? Qual o nome daquela menina lá? Não, lá de fora, lá. Aquela Tabata, não. Como é? Greta. A Greta já falou que os índios morreram porque estão defendendo a Amazônia. É impressionante a imprensa dar espaço para uma pirralha dessa aí. Uma pirralha”.
O interessante em Greta é que ela sempre responde às críticas de seus adversários com bom humor, e com a jovialidade que lhe é própria da idade. Respondendo ao comentário de Bolsonaro, na capa de sua rede social, ela mudou o status para “Pirralha”.
Após saber que Greta tinha sido escolhida pela Times como personalidade do ano, o presidente brasileiro voltou a atacar a jovem sueca. “Tem até uma pirralha que tudo o que ela fala à nossa imprensa, a nossa imprensa, pelo amor de Deus, dá um destaque enorme. Ela está agora fazendo o seu showzinho lá na COP25. Mas tudo bem. Eu acredito que nós temos, ao trabalhar em equipe, meios de mudar o Brasil”.
A ativista também foi criticada por Donald Trump. Após saber da escolha da Times para personalidade do ano, Trump escreveu no Twitter: “Ridículo. Greta deve trabalhar seu problema de gestão da raiva e depois assistir a um bom filme com algum amigo. Relaxe, Greta, relaxe”.
Como havia feito com Bolsonaro, Greta usou de ironia para responder a outra ironia, e respondendo a Trump, ela mudou seu status no Twitter e escreveu: “Uma adolescente trabalhando no controle da sua raiva. Atualmente descansando e assistindo a um filminho com um amigo”. É como diz o ditado: “Enquanto os cães ladram a caravana passa”.
Lembrando que, em setembro deste ano, o filho do presidente Jair Bolsonaro, Eduardo, também havia publicado uma foto fake da ambientalista. Na foto original a ativista faz uma refeição, enquanto viaja em um trem, com paisagens ao fundo. Na foto fake montada por Eduardo Bolsonaro, ao invés da paisagem, aparecem crianças africanas pobres, sentadas na calçada de algum povoado. Lutar pelo meio ambiente não é coisa de pirralha, mas montar foto fake com quem se dedica a essa causa, isso sim, é coisa de pirralho.
Na verdade, os críticos de Greta são pessoas que, ideologicamente, tem o mesmo perfil. E as críticas a sua escolha pela Times como personalidade do ano, tem muito de “dor de cotovelo”. Tipo aquela história: “Por que ela e não eu?”
Tratando mais especificamente do caso brasileiro, é evidente o descaso e o desprezo que tem o presidente Jair Bolsonaro para com a questão ambiental. Ele não está nem aí se a floresta está sendo queimada, ou desmatada, ou que índios estejam sendo assassinados. O importante é que os que desmatam ilegalmente a Amazônia, e os que ilegalmente exploram as reservas indígenas estejam beneficiados.  São vastos as falas do presidente estimulando essas ações.
Na terça-feira, 10, o presidente assinou uma Medida Provisória, que regulariza a questão fundiária. A medida precisa da aprovação do Congresso, em até 120 dias, para virar lei. Segundo o governo, as novas regras simplificam e modernizam o processo de regularização fundiária.
Segundo a reportagem Porque Bolsonaro se irrita tanto com Greta, de autoria de Antonio Carlos Prado e Gilherme Sette, publicada pela revista Isto É no último dia 13, A MP tem um bonito nome “mas esconde uma armadilha: a de dar aos grileiros as terras que eles roubaram a partir de 2014. A medida será bombardeada no Senado, conforme já anunciou o presidente da Casa, Davi Alcolumbre, mas chega a ser inacreditável a iniciativa do ex-capitão a favor da grilagem: é presentear o ladrão com o produto de seu roubo”, diz trecho da reportagem Na verdade, a MP da regularização fundiária parece mais um prêmio aos grileiros que invadem e desmatam a floresta do que propriamente um avanço como pretende o governo.
Para Brenda Brito, pesquisadora do Instituto do Homem e do Meio Ambiente da Amazônia (Imazon), a MP está associada aos interesses da bancada ruralista no Congresso. “Se o Congresso Nacional aceitar essa MP, será cúmplice de mais uma anistia ao roubo de terra pública, já que quem invadiu após 2011 sabia que estava cometendo um crime. Vai reforçar a mensagem de que invadir e desmatar são ações que merecem ser premiadas ao em vez de punidas”.
Diz uma lei da natureza que os semelhantes se atraem. Greta e Bolsonaro não são em nada semelhantes no campo das ideias. Ideologicamente falando, na questão ambiental, a ativista sueca Greta Thunberg é a luz, aquela que vem exortar os homens a preocuparem-se com o futuro do planeta, que é, afinal, nossa casa comum. Sem planeta Terra e sem seus recursos, não existe raça humana. Bolsonaro, ao contrário, é o representante das trevas, aquele que prega o atraso e a destruição dos recursos naturais, e dos povos que lutam por essa causa.
É por isso que Bolsonaro não suporta aquela pirallha de apenas 16 anos, escolhida como personalidade do ano pela Times. É ela é o seu oposto. O seu avesso.

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