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Metamorfose
Posted by Cottidianos
on
15:22
Sábado,
23 de novembro
“Eu prefiro ser
Essa
metamorfose ambulante
Do
que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Do
que ter aquela velha opinião formada sobre tudo
Sobre
o que é o amor
Sobre
o que eu nem sei quem sou”
(Metamorfose Ambulante – Raul Seixas)
Gugu Liberato |
A
raça humana, principalmente os ocidentais, sempre encararam a morte como um
tabu, a até mesmo a tem em conta de grande tristeza. Entretanto, se pensarmos
bem, e para quem acredita, a vida não termina quando o corpo material desce à
sepultura ou entra nos fornos dos crematórios. Ela nada mais é que um processo
de metamorfose, e nesse processo tudo se transforma... e para melhor.
Apenas
relembrando a origem e breves conceitos da palavra para nos situarmos melhor
dentro da ideia. Metamórṗhosis é uma
palavra derivada do grego (meta) mudança
e (morpho)
da forma.
Em
biologia, metamorfose é o nome dado ao processo de desenvolvimento
pós-embrionário, que ocorre em diversas classes de animais. Resumindo: na
primeira fase, um embrião é formado dentro de um ovo, quando a casca do ovo se
parte e nasce o embrião, este transforma-se em larva, depois a lava
transforma-se em pupa, que é a fase em que o animal sofre suas transformações
mais profundas. Após essas fase surge o animal em sua fase adulta e definitiva.
Alguns
animais sofre uma metamorfose incompleta, outros, ao contrário, sofrem uma
metamorfose completa.
Um
dos processos de metamorfose mais perceptíveis a nós, talvez seja o da borboleta.
Muitas vezes, quando vemos uma delas voando pelos jardins, pulando de flor,
espalhando néctar, lindas, leves, coloridas, tal qual bailarinas em alguma
apresentação de um maravilhoso balé, nem nos damos conta de que aquela
borboleta já foi uma limitada e feia lagarta, arrastando-se pesadamente nos
galhos e folhas de alguma planta.
Assim
também não é nossa existência terrena? Sobre nós não recaem todos os dias o
peso das preocupações e das ansiedades pelas coisas que passaram e pelas que
ainda estão por vir como se fosse um ciclo interminável que nos faz passar pela
vida pesadamente como as lagartas?
Depois,
entramos no casulo chamado morte e dela saímos com um corpo novo, cheio do
esplendor das possibilidades infinitas que nos permite voar de estrela em
estrela, de universo em universo, espalhando o doce néctar das flores em
espaços etéreos de paz e harmonia. Como tudo o que é novo, a alma assusta um
pouco, tem dificuldades de usar o novo corpo, as novas e infinitas
possibilidades, mas tudo é uma questão de aprendizado. Aliás, essa é uma coisa
que nunca se encerra. Por que mais que saibamos, nunca saberemos tudo.
Se
algum de vocês tivesse a oportunidade de perguntar a uma borboleta se ela sente
saudades do tempo em que era lagarta, o que acham que ela responderia? Sim ou
não?
Para
quem se vai para as moradas eternas é tempo de recomeçar a vida de outra forma
e em outro lugar. Quem fica, chora e lamenta. Obviamente a saudade, o convívio
que se teve por anos a fio, e muitos outros fatores fazem com que as lágrimas
escorram pelas faces de olhos que ainda não são capazes de contemplar a beleza
das flores e o esplendor dos jardins que existem do lado de lá.
Nesta
sexta-feira, 22, foi a vez de Gugu Liberato, 60 anos, um dos mais queridos e
talentosos apresentadores da TV brasileira, passar por esse processo de metamorfose,
de passar da matéria ao espírito, de transmutar-se de um ser em outro, habitando
em outro plano.
Sabe
aquele ditado popular que diz: “a morte só quer uma desculpa”. Foi, mais ou
menos assim com o Gugu. Na quarta-feira, 20, o apresentador estava em sua casa,
em Orlando, Estados Unidos, quando o ar condicionado apresentou problemas.
Coisa simples. Conserto rápido. Deve ter pensado o apresentador. E lá se foi
ele para o sótão fazer, ele mesmo, o conserto.
Enquanto
fazia o reparo, Gugu caiu de uma altura de 4 metros. Sofreu uma lesão na cabeça
que provocou sangramento intracraniano. Foi levado ao Orlando Health Medical
Center. Porém, chegou à unidade médica em estado neurológico tão grave que não
foi indicado pelos médicos que o atenderam qualquer procedimento cirúrgico.
Ainda
enquanto estava em estado de observação foi constatada ausência de atividade
cerebral. Após a morte do apresentador, a assessoria de imprensa dele divulgou
nota, reproduzida abaixo na íntegra.
Este é um momento que jamais
imaginamos viver. Com profunda tristeza, familiares comunicam o falecimento do
pai, irmão, filho, amigo, empresário, jornalista e apresentador Antônio Augusto
Moraes Liberato (Gugu Liberato), aos 60 anos, em Orlando, Florida, Estados
Unidos.
Nosso Gugu sempre viveu de maneira
simples e alegre, cercado por seus familiares e extremamente dedicado aos
filhos. E assim foi até o final da vida, ocorrida após um acidente caseiro.
Ele sofreu uma queda acidental de
uma altura de cerca de quatro metros quando fazia um reparo no ar condicionado
instalado no sótão. Foi prontamente socorrido pela equipe de resgate e admitido
no Orlando Health Medical Center, onde permaneceu na Unidade de Terapia
Intensiva, acompanhado pela equipe médica local.
Na admissão deu entrada em escala
de *Glasgow de 3 e os exames iniciais constataram sangramento intracraniano. Em
virtude da gravidade neurológica, não foi indicado qualquer procedimento
cirúrgico. Durante o período de observação foi constatada a ausência de
atividade cerebral. A morte encefálica foi confirmada pelo Prof. Dr. Guilherme
Lepski, neurocirurgião brasileiro chamado pela família, que após ver as imagens
dos exames em detalhes, confirmou a irreversibilidade do quadro clínico diante
de sua mãe Maria do Céu, dos irmãos Amandio Augusto e Aparecida Liberato, e da
mãe de seus filhos, Rose Miriam Di Matteo.
Ainda não temos detalhes sobre o
traslado para o Brasil. Informações sobre velório e sepultamento serão passadas
assim que tudo estiver definido.
Ele deixa três filhos, João Augusto
de 18 anos e as gêmeas Marina e Sophia de 15 anos.
Atendendo a uma vontade dele, a
família autorizou a doação de todos os órgãos.
Gugu sempre refletiu sobre os verdadeiros
valores da vida e o quão frágil ela se revela. Sua partida nos deixa sem chão,
mas reforça nossa certeza de que ele viveu plenamente. Fica a saudade, ficam as
lembranças - que são muitas - e a certeza que Deus recebe agora um filho
querido, e o céu ganha uma estrela que emana luz e paz.
E
assim, de forma trágica, um acidente doméstico pôs fim a uma das carreiras mais
brilhantes da TV brasileira.
Nascido
em São Paulo, em 10 de abril de 1959, Antônio Augusto Liberato dos Santos
começou a trabalhar cedo. Aos 12 anos de idade, já era office-boy em uma
imobiliária da capital paulista. Depois exerceu as atividades de auxiliar de
escritório. Também desempenhou as funções de coroinha, ajudando os padres na
missa da paróquia.
Porém,
enquanto fazia tudo isso, é para a televisão, para uma oportunidade de
trabalhar nela, que estavam voltados os olhos e o coração de Gugu. E para isso,
ele teve que ser insistente, persistente, uma vez que não conhecia ninguém no
meio televisivo.
Já
aos 14 anos, ele escrevia cartas ao apresentador Silvio Santos, sugerindo
programas e dando ideias para os já existentes. Enviava-as pelo correio. Nunca
recebeu respostas à essas correspondências. Desapontado, resolveu entregar as
cartas pessoalmente. O pessoal da TV nem ao menos deixou ele chegar perto de
Silvio Santos.
Em
1973, Silvio apresentava um programa na TV Globo, chamado Programa Silvio Santos. Segundo informações obtidas no site MemóriaGlobo, o Programa Silvio Santos era apresentado por ele, e desde 1962,
integrava a grade de programação da TV Paulista. Em 1965 Roberto Marinho
comprou a TV Paulista, o programa passou a ser exibido pela Globo apenas para a
cidade de São Paulo. O longo programa — tinha 8 horas de duração — só passou a
ser exibido também para o estado do Rio de Janeiro, a partir de julho de 1969.
Sem
deixar de apresentar seu programa dominical, Silvio Santos passou por diversas
emissoras de rádio e televisão. O apresentador deixou a Globo em 1976, e seguiu
sua própria trilha de sucesso, inclusive montando seu próprio grupo de
comunicação.
Gugu
resolveu se inscrever em uma gincana do programa, apenas com o firme propósito
de entregar a bendita carta. Entregou. Novamente, não obteve resposta.
O
adolescente não deu o braço a torcer. Voltou ao programa, novamente para
participar da gincana, e entregou uma segunda carta. Dessa vez, Silvio Santos
reconheceu o insistente jovem e lhe fez uma proposta: “Você quer trabalhar
comigo?”. Imaginem se a resposta seria negativa. Gugu foi trabalhar com Silvio
Santos, e, aos 14 anos já era assistente de produção de programas comandados
por Silvio na Record e na extinta TV Tupi, e, aos 19 anos já era exercia o
cargo de produtor.
Uma
dúvida ainda pairava, se era realmente isso que queria, e Gugu foi cursar
odontologia. O coração falou mais alto e ele voltou a televisão. Em 1981, seguiu junto com o patrão para o
recém-fundado SBT (Sistema Brasileiro de Televisão).
Sua
primeira chance em frente às câmeras foi quando, em 1981, participou como
jurado do humorístico, Alegria 81.
Ainda naquele ano, estreou como apresentador quando fazia entradas ao vivo em
intervalos dos filmes da Sessão Premiada,
ocasião em que distribuía brindes aos telespectadores.
A
luz do sucesso brilhou em definitivo para ele quando passou a apresentar, ainda
na década de 80, o programa Viva a noite:
um programa de variedades que ia da música ao ocultismo. Além do sucesso de
audiência, Viva à noite (1982 a 1992)
Gugu também apresentou no SBT, programas de bastante audiência, tais como; TV Animal (1988-1982); Passa ou Repassa (1988-1994); Sabadão Sertanejo (1991-1996); Domingo Legal (1993 a 2009).
Em
2009, Gugu trocou o SBT pela Record. Neste canal televisivo o Programa do Gugu não alcançou o êxito esperado.
O contrato entre Gugu e a Record foi rompido em 2013. Ele ainda voltou a
emissora em um programa de temporada chamado, Gugu, que mesclava variedade com reportagens.
Em
2018 rendeu-se aos formatos modernos de programas televisivos e comandou o
primeiro “Power Couple Brasil” uma
competição entre casais, e depois um concurso de calouros chamado “Canta Comigo”. A segunda temporada deste
programa, previamente, grava ainda está no ar.
Em
1987, Gugu quase foi para a Globo. Chegou a assinar contrato com a emissora
carioca. Gravou alguns programas piloto, mas estes não chegaram a ir ao ar.
Silvio Santos não deixou que seu pupilo se fosse.
O
empresário e comunicador pagou uma alta multa rescisória e Gugu ficou no SBT.
Claro, teve o salário multiplicado e outras vantagens. Foi aí que a Globo
trouxe Fausto Silva. Fausto trabalhava na TV Band e era um apresentador pouco
conhecido. Saiu de lá para ser o rei das tardes de domingo na Globo, fazendo
concorrência com o programa apresentado por Gugu, no SBT.
A
marca de todos os programas apresentados por Gugu era a alegria. Era impossível
não se envolver com a alegria transmitida pelo apresentador em seus programas,
alegria aliada a um grande carisma. Não é à toa que quando souberam de sua
morte todos os grandes nomes da comunicação brasileira, e artistas famosos que
apresentaram-se em seus programas, falaram dele com grande carinho e emoção.
Gugu
se foi. Cumpriu sua missão aqui nesta Terra. Foi um presente que Deus nos deu
por empréstimo, e chegou a hora de chama-lo de volta.
Era
lagarta, agora virou borboleta a voar nos esplendores da eternidade. Ele agora
vive a completude de sua metamorfose.