Sábado,
26 de novembro
Antes
apresentar o texto que é objeto dessa postagem, e que lhe serve de título, este
blog gostaria de fazer uma homenagem a um homem que deixou sua marca na
história da humanidade. Querendo ou não, concordando ou não, gostando o leitor ou
não, ele se tornou um rosto inconfundível, com uma história de vida mais ainda.
Hoje ele foi, partiu para a eternidade, e descobrirá que a vida é muito maior
que a ilusão que viveu, e a sede de poder que experimentou. Fidel Castro
prossegue agora seu caminho na eternidade. O líder político cubano faleceu às
1h29 (horário de Brasília), deste sábado, 26 de novembro. O anúncio da morte
dele foi feita pelo irmão dele, Raúl Castro, em um pronunciamento feito na TV
estatal cubana, para uma Cuba silenciosa, e, certamente, triste.
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Ex-ministro, Gedel Vieira Lima |
O
presidente Michel Temer perdeu o seu braço direito.
Coisa
boa é ter os braços que vieram com o nascimento. Porém, a tecnologia avançou
tanto que, na falta deles, pode-se colocar uma prótese que substitui os braços
naturais, e têm-se braços que cumprem perfeitamente a função daqueles
primeiros.
Na
política, não há braços naturais. Às vezes, é forçoso ficar sem as próteses, e alguns
até relutam em abandoná-las . Tentam até o fim e de todas as maneiras ficar com
elas, mesmo que sejam boas, mas
defeituosas.
Foi
o que aconteceu com o braço direito de Temer, o ministro Gedel Vieira Lima. Ele
teve que ser tirado do lugar do lugar, será substituído por outra prótese.
Aliás, em seis meses, essa já é a sexta que o presidente substitui. Por certo,
a qualidade das próteses em Brasília deve andar de mal a pior.
Gedel
Vieira Lima (PMDB), ministro-chefe da Secretaria de Governo, deixou o cargo na
sexta-feira (25). Não deixou por livre e espontânea vontade, nem muito menos o
presidente Temer o liberou do cargo por vontade própria. As circunstancias
nebulosas obrigaram o ministro a pedir para deixar o cargo, e ao presidente
Temer, aceitar, forçosamente, o pedido.
Quais
as circunstâncias que levaram a saída de Gedel, e que colocaram o governo no
centro de mais uma crise?
Vamos
começar do início, para que o fio da meada fique mais evidente.
O
pivô da crise foi o ex-ministro da Cultura, Marcelo Callero.
Em
maio, uma das primeiras atitudes de Temer como presidente foi extinguir o
Ministério da Cultura (MinC). O ato causou uma onde de protestos da classe
artística. Diante dessa pressão, o governo resolveu recriar o MinC. Marcelo
Callero foi então nomeado ministro para essa pasta. E o que havia sido
transformado em secretaria voltou a ser ministério. Nada mais justo.
Assim
que assumiu o comando do MinC, Callero foi informado por Jurema Machado, presidente
do Instituto do Patrimônio Histórico e Artístico Nacional (Iphan), de que havia
um empreendimento imobiliário na Bahia que estava despertando interesses
imobiliários. E, aproveitando a ocasião, Jurema alertou ao novo ministro de que
era possível que houvesse pressões políticas para liberar o empreendimento.
Ainda
em 2014, o Iphan da Bahia havia dado parecer favorável à construção de um
empreendimento imobiliário chamado La Vue Ladeira da Barra, com cerca de 100 metros
de altura, a ser construído em uma região histórica, e bastante valorizada de Salvador.
Ainda neste ano de 2016, e ainda sob o governo Dilma Rousseff, técnicos do
Iphan nacional se debruçaram sobre o projeto e chegaram à conclusão de que o
prédio comprometia a visibilidade de três prédios tombados, contrariando o
parecer do Iphan baiano.
Foi
em meio a essa polêmica que Marcelo Callero subiu no barco. Alguns dias após
assumir o Ministério da Cultura, Callero é então procurado por Gedel Vieira
Lima, que diz a ele que o Iphan nacional havia, absurdamente, contrariando o
parecer do Iphan da Bahia acerca de um empreendimento imobiliário a ser
construído, e que essa decisão deveria ser reanalisada.
Foi
sob essa queda de braço entre o Iphan nacional e o Iphan da Bahia que começaram
as pressões por parte de Gedel sob Callero, por telefone, e pessoalmente, por
pelo menos quatro vezes. A insistência era grande e incisiva por parte de Gedel
para que Callero apresentasse um parecer divergente do que o Iphan nacional
havia apresentado.
Apenas
em 28 de outubro, o ministro da Cultura entendeu o motivo de tanta pressão e
insistência de Gedel. Este havia comprado um apartamento no tal empreendimento.
Havia um interesse pessoal por trás de toda aquela pressão.
Marcelo
Callero é daqueles que tem um nome a zelar, e zela por ele, e logo pensou que
não iria chafurdar na lama por causa de outro ministro de Estado. Deixaria o
status de ministro, voltaria à condição de servidor público, diplomata de
carreira, mas não jogaria o nome no lixo.
E foi
o que fez.
Teria
ficado em silêncio, se não tivesse sido alertado pela mídia de que o governo
tentava macular sua imagem criando hipóteses inverídicas para sua saída do
MinC.
Para
proteger-se, resolveu contar tudo em uma entrevista dada à Folha de São Paulo, no
último dia 19 deste mês, e que foi o fato que jogou lama no ventilador. Todo mundo
ficou sabendo que ele havia saído do ministério porque fora pressionado por
Gedel para emitir um parecer técnico que somente favoreceria interesses pessoais
do ministro.
Temer,
como em casos anteriores custou a demitir Gedel, mesmo com todas as provas e
evidências da prática de tráfico de influência por parte de seu articulador
político. Aliás, a prática de proteger corruptos em nossos governos parecer ser
uma coisa normal e corriqueira. A impressão que dá é que ser honesto é um desserviço
à nação, e que o político, ou servidor público, pra ser bom e fiel ao governo
tem, necessariamente, que ser desonesto.
A entrevista
foi publicada na Folha, em uma quinta-feira. Na segunda (21), a Comissão de
Ética da Presidência da República votou pela abertura de um procedimento para
apurar se Gedel Vieira Lima, havia violado legislação sobre conflito de
interesses em imóvel avaliado em R$ 2,5 milhões.
Em
uma manobra do próprio governo, o conselheiro, José Saraiva, pediu vistas do
processo com a desculpa de analisar melhor o processo. O pedido de vistas
ficaria então parado até o mês de dezembro. Isso era uma clara estratégia do
governo de protelar a situação o mais que pudesse. Até lá o fato já teria sido
esquecido, os ânimos já teriam serenado. Era o governo Temer tentando salvar a
pele de um corrupto.
Entretanto,
no final da tarde do dia 24, em depoimento à Polícia Federal, e também revelado
pela Folha, Callero afirmou que foi pressionado pelo Michel Temer no sentido de
encontrar uma “saída” para o caso do empreendimento na Bahia, e de interesse de
Gedel Vieira Lima. Nesse depoimento, Callero afirmou que havia sido chamado ao
Palácio do Planalto, e que ouviu da boca do próprio presidente da República,
que a decisão do Iphan nacional contrariando parecer do Iphan da Bahia, estava
causando dificuldades operacionais em seu gabinete, e que isso estava irritando
Gedel. Callero ouviu ainda de Temer que encaminhasse o caso a Advocacia Geral
da União (AGU), uma vez que na AGU, a ministra Grace Mendonça encontraria uma
solução. A atitude do presidente muito entristeceu o ministro da Cultura, que
diante de todo esse quadro requereu a saída do MinC.
A revelação
de Callero de que tinha sido pressionado por Temer pegou muito mal no governo. E
diante de mais esse escândalo, foi impossível ao presidente segurar Gedel no
governo. Gedel pediu demissão nesta sexta (25).
E porque
Temer perdeu seu braço direito com a saída de Gedel, a quem tanto queria
proteger?
Em
primeiro lugar, Gedel é articulador político de muita habilidade, e conhecedor
dos meandros e artimanhas na Câmara dos Deputados, e do Senador Federal. Ela já
foi deputado então fica mais fácil conhecer muita gente por lá. Em segundo
lugar porque, mais do que nunca, Temer iria precisar de toda essa habilidade de
articulação que Gedel possui. Há projetos importantes em tramitação como, por
exemplo, a Proposta de Emenda Constitucional que limita os gastos públicos, e a
eleição para presidente da Câmara.
Numa
tentativa de mostrar alguma moral, e de mostra que quer conter a crise, Temer
diz que vetará qualquer proposta de anistia ao caixa dois de campanha
eleitoral, que é uma coisa que os Srs. deputados e senadores tanto desejam. O que
representa uma mudança brusca, pois esse não era o entendimento do presidente,
anteriormente. A interlocutores, Temer havia dito que sancionaria por completo,
o texto que os deputados aprovassem. De uma hora para outra, o presidente muda
de ideia. Não é que o presidente tenha ficado do lado da sociedade brasileira,
nada disso. Ele só quer amenizar e suavizar a própria situação, que, aliás, não
é nada boa com as revelações de Callero.
Fica
a pergunta: que governabilidade e credibilidade tem o governo Temer, se em apenas seis meses, já saíram seis de
seus ministros, o que dá uma média de um ministro por mês?
Em
maio, Romero Jucá, ex-ministro do Planejamento, deixou o governo após escutas
telefônicas revelaram o seu desejo de sepultar a Operação Lava Jato. Ainda em
maio, foi a vez do ministro da Transparência, Fabiano Silveira, que não se
mostrou nada transparente. Também em escutas telefônicas, ele foi flagrado
aconselhando Renan Calheiros, presidente do Senado, sobre como se defender das
garras da Lava Jato. Em Junho, foi a vez de Henrique Eduardo Alves deixar o
governo por suspeita de ter recebido doações ilegais para campanha eleitoral. Em
setembro saiu o ministro Fábio Medina Osório, da Advocacia Geral da União. Ele se
desentendeu com o Ministro Eliseu Padilha. Fábio queria ter acesso a inquéritos
da Lava Jato que envolvesse políticos com foro privilegiado. Posteriormente, em
entrevista a imprensa, Fábio afirmou que o governo Temer queira abafar a Lava
Jato. Este mês, caíram Marcelo Callero, que diz ter sofrido pressão por parte
do ministro Gedel Vieira de Lima, e este último pela repercussão negativa que o
teve o caso.
Afinal
de contas: de que lado está o nosso presidente, os nossos deputados, e os
nossos senadores? À exceção de muito poucos de nossos políticos, a maioria, com
certeza, está se lixando para a sociedade brasileira. A única coisa que eles
estão pensando é em defender os próprios interesses... E salvar a própria pele.
E quando saírem as delações da Odebrecht então? Quem restará de pé... Esperemos
pra ver, pois debaixo dessa ponte ainda rolara muita lama podre.