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A gente quer comida, mas a gente também quer diversão e arte

Posted by Cottidianos on 02:23
Sábado, 30 de maio



Caros leitores, já imaginaram o que seria do mundo sem a luz multicolorida da cultura? Talvez fosse como um jardim sem rosas, um romance sem amor, um suco de limão sem açúcar, um parque de diversões sem brinquedos, e mais uma lista de cem coisas desinteressantes. O cinema, a música, o teatro, a dança, a pintura, a escultura, o desenho, a fotografia e outras tantas atividades estão para o mundo como o sol está para o universo.  Se, mesmo com todas as expressões artísticas a aldeia global está do jeito que está, imaginem sem elas? Certamente, viveríamos em um mundo cruel e insensível, no qual os homens não mais se suportariam uns aos outros.

Certamente, teríamos a mesma necessidade de comida, pois acho que a humanidade já nasceu se fartando em banquetes. Quem, em qualquer tempo, viveu sem fazer uso dessa necessidade básica? Ninguém. Mas, como diz a letra da música, Comida — um clássico hit dos Titãs — composta por Arnaldo Antunes, Sérgio Brito e Marcelo Fromer, “A gente não quer comida,  a gente quer comida, diversão e arte. A gente não quer só comida, a gente quer saída para qualquer parte”.

Os autores da canção perguntam no refrão: “Você tem sede de que? Você tem fome de que?” São as mesmas perguntas que eu agora faço a vocês. São duas indagações bem simples, mas que proporcionam mergulhos profundos.

A natureza dos homens é a mesma, são os seus hábitos que os mantêm separados”, diz o autor Roque de Barros Laraia, citando Confúcio, no livro, Cultura: Um conceito antropológico. E isso é a mais pura realidade. Nos dias atuais tem toda essa coisa de globalização, aldeia global, e etc. Os homens estão juntos, mas ao mesmo tempo separados, pois mesmo que eles consigam partilhar suas experiências e vivências, no mar da vida, todos estão geograficamente, em diferentes ilhas de cultura.  E quem ousasse tirar de cada uma dessas ilhas o que lhes é própria a esvaziaria de sentido e significado, e seus habitantes acabariam morrendo, como morre o peixe que é, abruptamente, arrancado de sua água mãe.  

Mas de onde surgiu todo esse mundo mágico chamado arte e cultura? Só pode ter sido do desenvolvimento do cérebro humano ao longo dos milênios. Pois as atividades culturais e artísticas estão ligadas as maravilhas que o homem consegue produzir através do pensar, da criatividade, da forma com que consegue transformar o mundo ao seu redor. Potes de tinta são apenas potes de tinta, até que o artista pegue o pincel e misture todas as cores e, dessa forma, crie um novo mundo imaginário. Barro é apenas e tão somente barro até que sejam transformadas por um escultor em algo que a que possa atribuir um sentido, um significado, percepções sobre o mundo.

Portanto, caro leitor, coma e beba cultura. Alimente o seu espírito. Escolha o prato cultural que mais gosta, seja cinema, música, dança, pintura, escultura, ou qualquer outro e deixe-se extasiar, se inebriar por esse manjar dos deuses. Saia de casa e vá ao encontro da arte e da cultura, ou simplesmente fique no conforto de sua casa e deixe a arte e a cultura vir ao seu encontro, através de um DVD, de um disco, ou de qualquer outro modo. O importante é você estar bem, sentir-se confortável.

Se você está em Campinas, divirta-se com as atrações da Virada Cultural, neste sábado (30), e domingo (31). São dois dias de atividade artísticas e culturais, no Largo do Rosário, na Estação Cultura, no Sesc e no Museu de Imagem e do Som (MIS). Há um pouco de cada coisa: música, dança, arte circense, teatro, cultura popular. Grandes nomes da música brasileira como o grupo Titãs e a cantora Elza Soares, estarão se apresentando na cidade.

Abaixo, segue programação da Virada Cultural, em Campinas.

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PROGRAMAÇÃO - 30 E 31 DE MAIO

Palco Estação Cultura

Praça Floriano Peixoto, s/nº - Centro (antiga Estação Ferroviária). Estacionamento gratuito na Rua Francisco Teodoro, 1050 , na Vila Industrial
Com Food Trucks, barracas de alimentação e cervejas especiais a partir das 14h nos dois dias

30/05

14h00 - Gu Siqueira e Offbeat (música)

A criatividade e o swing de Gu Siqueira e Offbeat abrem o Palco da Estação Cultura, na Virada Cultural Paulista de 2015. O grupo faz uma criativa mistura entre rock, música eletrônica e grooves. O show conta com as canções do álbum lançado ano passado, além de novas composições e releituras. A banda Offbeat é formada por Marfa Kourakina (baixo), Fernando Sagawa (saxofone, flauta e efeitos), Felipe Galvão (bateria) e Thiago Liguori (guitarras, teclados e samples).

15h00 - DJ Digão (música)  - sábado e domingo

A black music e a discotecagem da Virada Cultural ficarão por conta do campineiro DJ Digão (Arthur Amaral). O DJ trabalha somente com discos de vinil e com muita música com raízes negras, como o samba, o samba-jazz, a bossa nova, o sambalanço (samba-rock), o samba-funk, o soul, o funk, o afro beat, break beat, entre outros, desde 2004.

16h30 - Capa e Seus Grilos (música)

Traz para a Virada Cultural 2015 a mistura de ritmos da música brasileira. Apresenta músicas autorais como “O insatisfeito sorri”, “BateCatira”, “A gente chega lá”, “Fala de abeia”, “Mãe miscigenação”, além de releituras de grandes sucessos da música popular brasileira. A banda conta com um repertório de samba, samba-rock, e outros estilos. A banda teve início em 2008. Em 2012, lançou a turnê “Mãe Miscigenação”, nome do 1º álbum, que será lançando no segundo semestre de 2015.

18h00 - Ding Dong e a Batucada DezVinte 

Comemora os 10 anos de existência no palco da Estação. A Batucada DezVinte é um projeto que surgiu do encontro de um artesão de instrumentos de percussão, o Toshiro, com um batuqueiro, o Ding Dong. O encontro de batuqueiros foi consagrado com a chegada de Fernando Saci e Ruan Spínola. As reuniões eram aos sábados, na Rua Duque de Caxias, número 1020. Daí surgiu o nome do projeto. A formação da banda terá Marcio Joe (baixo e voz), Marcelo Modesto (guitarra), Cleberson Abade (teclado), Deco (DJ), Ana Sthel (ritmista). Além da banda oficial, haverá participações especiais de TC (Casa de Cultura Tainã), Bruna Volpi, Cesão (Saci Crioulo), Marília Correa e Dj Dumbo.

19h30 - Aureluce Santos

Conhecida como “dama do samba da cidade”, a sambista Aureluce Santos canta músicas autorais do seu CD Conquista. Interpretará canções de ícones do samba, entre os quais Noel Rosa, Cartola, Dona Ivone Lara, Clara Nunes. Aureluce nasceu em Campinas e, como a maioria das mulheres negras, trabalhou e criou os filhos. Grande intérprete de nomes do samba carioca e paulista e da MPB.

21h30 - Alabê Ketu Jazz (música)

O grupo estreia em Campinas na Virada Cultural e apresenta a percussão tradicional do candomblé da nação Ketu em uma roupagem jazzística. As composições são diálogos da percussão com o saxofone. Fundado por Antoine Olivier, percussionista francês que se radicou no Brasil, o grupo traz o batuque sagrado do Candomblé da nação Ketu em um cenário contemporâneo. Formado por quatro percussionistas e um saxofonista.

23h00 - Ieda Cruz & Nêga Madame convidam Gerson King Combo (música)

Ieda Cruz e Gerson King Combo começaram a parceria no final de 2010, quando viajaram pelo interior paulista com a caravana do circuito SESC de Artes. O trabalho de Ieda Cruz tem base no samba, no samba–rock e no samba-jazz, com forte influência da soul music, que no Brasil tem Gerson King Combo não só como principal representante, mas também como um dos precursores do estilo. O show de Ieda Cruz & Gerson King Combo passeia pelo groove dos principais sucessos de King Combo como “Mandamentos Black”, “Uma Chance”, “Funk Brother Soul” e “Deixa sair o suor”, e também por canções de James Brown e Tim Maia, unindo a poderosa voz de Gerson com suaves interpretações de Ieda.

Atrações entre os shows

Simulador de Stake com Oculus Rift – Game (sábado e domingo)
Game que simula altas aventuras no skate, em um passeio pelas ruas da cidade de Campinas.

Lambe-lambe Digital - Artes visuais (sábado e domingo). O Lambe Lambe Digital é um projeto de intervenção artística baseado nos antigos fotógrafos de pracinhas, chamados de “lambe-lambe”, muito popular até a década de 80, quando a fotografia ainda era muito utilizada na revelação com película. É a oportunidade de reviver a época dos fotógrafos “lambe-lambe” e sair com um “retrato” feito à moda antiga, em preto e branco, porém com toque de modernidade.

“As Presepadas de Damião”, teatro com o grupo Damião e Cia de Teatro

“As Presepadas de Damião - de como fez fortuna, venceu o Diabo e enganou a Morte com as graças de Jesus Cristo” é um espetáculo de rua baseado em contos populares de enganar a morte, encenado pelo grupo Damião e Cia de Teatro. Na trama, Damião, homem pobre e amigo da vadiagem, tem o destino transformado ao ser visitado por dois misteriosos viajantes – Jesus Cristo e São Pedro. Em agradecimento à sua hospitalidade, Damião recebe a prenda de três pedidos e acaba alterando o ciclo natural das coisas, ao impedir que a Morte cumpra sua sentença.

“Delírios Transitórios” , espetáculo de dança com Juliana Hadler e Mailson Silva


Coreografia que explora possibilidades do olhar transformado em gesto. Da respiração nasce um impulso, movimentos que desenham o espaço entre e ao redor dos corpos. A apresentação é com o duo de bailarinos Juliana Hadler e Mailson Silva. Ela com leveza e suavidade e ele com expressividade e força.

Jongo Dito Ribeiro - Cultura Popular

A Comunidade Jongo Dito Ribeiro, que existe desde 2002, é formada por jongueiros, pessoas e familiares que reconstituem a manifestação do Jongo em Campinas por meio de rodas com toque, canto e dança. O objetivo é compartilhar e continuar essa cultura ancestral.

“Danças Urbanas Locking” com o grupo Chemical Funk - dança

Divertido e inovador, “Danças Urbanas – Locking” envolve o espectador de forma dinâmica e descontraída, com coreografias e personagens. Por meio de esquetes lúdicas e educativas, o grupo Chemical Funk ilustra o surgimento e a trajetória da dança Locking, que atravessa décadas influenciando várias gerações.

31/05

16h00 - Mestre Lumumba – música

Cantor, poeta e compositor, o Mestre Lumumba alia a força da música afro-brasileira com linguagem religiosa, poética, em ritmos percussivos e arranjos elétricos absolutamente dançantes. Nascido em Campinas, Lumumba vive hoje em São Luiz do Paraitinga. Importante figura da militância da cultura negra, o Mestre é personagem pulsante e ativa nos meios musicais do Brasil.

17h30 - Skafandros Orkestra – música

A Skafandros Orkestra traz para o público o ritmo e a atmosfera do ska jamaicano de raiz aliado a pitadas de brasilidade e regionalismo. O show propõe um diálogo entre a linguagem e o ritmo do ska e a música popular brasileira, como o baião de Gonzaga, o universo baiano de Caymmi, o mundo erudito de Villa-Lobos, além de arranjos inéditos.

19h30 - DJ Digão (música)

20h00 - Banda Reggae Spirit – música

Pioneira, a Reggae Spirit foi a primeira banda do gênero no interior de São Paulo e se mantém fiel às matizes jamaicanas, mas sem perder de foco a realidade e as mazelas nacionais. Segundo o vocalista e fundador da banda, Doc Miranda, a Reggae Spirit tem como principal referência a força do reggae de Bob Marley, mas busca na realidade brasileira seu ‘alimento’ e força criativa, retratando na música o dia a dia do país, com enfoque nas questões políticas, sociais e ambientais.

Nos quase 30 anos de estrada, a Reggae Spirit já dividiu o palco com bandas consagradas como Tribo de Jah, Cidade Negra, Planet Hemp, Trio Virgulino e outros, em encontros nos tributos a Bob Marley. A banda já participou de duas Viradas Culturais em Campinas, ambas no palco principal.

 21h00 - Abel Duërë e banda – música

O cantor angolano Abel Duërë e banda apresentam o show “Partido Negro” numa viagem musical que destaca personalidades negras pelas atitudes heroicas e revolucionárias ao longo da história brasileira desde a época da escravatura aos dias de hoje. São ritmos africanos como masemba, rebta, kilapanga, que influenciaram e deram origem aos ritmos afro-brasileiros como samba, maracatu, jongo, baião e outros, que fazem parte do caldeirão musical brasileiro.

Atrações entre os shows

Simulador de Skate – experiência sensorial

Uma experiência sensorial por meio de simulador de skate integrado com Oculus Rift, dando ênfase às sensações em descidas e em manobras. O equipamento é composto por prancha/skate articulada com detecção de pessoa em cima, captando os movimentos. Em uma pista em cidade no estilo “free style”, deve andar buscando executar manobras em locais definidos, para completar o circuito no menor tempo possível. As melhores pontuações serão gravadas em ranking, considerando tempo e grau de dificuldade nas manobras.

Núcleo de Artes Mágicas – mágica close up

O mágico Mauro Morenno estará circulando pela Estação Cultura durante a programação, em intervenções de mágica close-up – no qual o mágico apresenta números de mágica a um pequeno grupo de pessoas, bem próximo dos espectadores - em meio ao público presente, nos dias 30 e 31 de maio.

Bike Foguete – intervenção

Bike Foguete são bicicletas iluminadas e sonoras que vão invadir o espaço da Virada. Preconizado pelo Coletivo Nuvem Móvel do Rio de Janeiro, o projeto Bike Foguete chegou em Campinas em 2012, por meio de uma oficina em parceria com o Ateliê Aberto. O projeto consiste na construção de um sistema potente de som para bicicletas que, interligadas via rádio constroem uma plataforma sonora móvel singular capaz de comunicar todos os públicos. Quatro bicicletas são equipadas com um par de galões de água adaptados como caixa de som e um receptor.

Cia do Circo e Família Burg – arte circense

As Cia do Circo e Família Burg são duas famílias circenses. A Cia do Circo é formada pelas famílias Brede e Orteney, nascidos no Tihany Spetacular e Orlando Orfey, há mais de oito gerações. A Família Burg é uma companhia de palhaços de Campinas, formada por um trio de artistas associados à Cooperativa Brasileira de Circo. Reúne em seu repertório três espetáculos autorais e diversas montagens de comédias de circo-teatro.

Reisado Sergipano e Bumba Meu Boi do Guarujá – cultura popular

O Reisado é de origem portuguesa e instalou-se em Sergipe no período colonial. É uma dança popular festejada entre a véspera de Natal e o Dia de Reis, no período de 24 de dezembro a 6 de janeiro.

A Associação Folclórica Reisado Sergipano e Bumba Meu Boi do Guarujá foi criada no dia 1º de junho de 2007 por Ana Paula de Matos (filha do Mestre Zacarias) e o esposo Edmilson Epifânio Mendes (Mestre Edmilson), dando continuidade à tradição. O Grupo Reisado Mirim Mestre Zacarias de Matos foi fundado em 2011 em homenagem ao saudoso Mestre Zacarias, que faleceu no dia 16 de março do mesmo ano.

“O Rodar da Saia”, espetáculo do grupo de teatro TanzTeatro – teatro e dança

As questões “O que é o amor? Quando há solidão? O que é esperança? “ estão presentes no espetáculo de dança e teatro “O Rodar da Saia” do grupo Tanzteatro, fundado em 2014. No espaço circular de cena, como a roda de uma saia, em uma mistura de dança e teatro, os artistas buscam a intensidade e a profundidade das relações humanas.

O espetáculo O Rodar da Saia tem direção e coreografia de Mariana Flores. Para esta montagem, o elenco de bailarinos-atores é formado por Mariana Flores, Beatriz Falivene, Mariana Zago e Peterson. A trilha original foi composta para o espetáculo e será executada, ao vivo, pelo maestro e compositor Jairo Silveira e André Lorenze ao violino.

“Doente Imaginário”, espetáculo da Cia Roldana - teatro

O espetáculo “O Doente Imaginário”, da Cia Roldana de Teatro, conta a história de Argan, um velho hipocondríaco que quer, a todo custo, casar a filha Angélica com um médico, para também garantir tratamento em domicílio. Porém, a moça está apaixonada pelo jovem Cleanto, um rapaz de origem humilde e sem qualquer ligação com a medicina. A Cia Roldana utiliza uma linguagem descontraída nessa comédia de Molière, cheia de confusões. Diversão para a família.

VJ Robson Victor - música

O VJ Torna foi vencedor da primeira edição brasileira do Campeonato Brasileiro de VJs e campeão mundial no quarto Word Championship, realizado na Hungria. Trabalha atualmente com o mercado corporativo e artístico. Ministra workshops em vários festivais brasileiros e faz intervenções artísticas e projetos culturais em todo o Estado de São Paulo. Em seus sets, o VJ Robson Victor comanda a imagem em sincronia com o som.

Bateria Alcalina e União Altaneira – música

Da união de diferentes grupos artístico-culturais - união da Bateria Alcalina (samba e ritmos afro-brasileiros), Bateria Pública (samba), Semente de Esperança (capoeira e dança), músicos de Campinas e São Paulo, artistas circences e artistas plásticos da Unicamp (Universidade Estadual de Campinas) - surgiu, no fim de 2006, o Bloco Cultural União Altaneira, que mistura elementos de diversas manifestações carnavalescas brasileiras,

Além do samba, interpreta ritmos afro-brasileiros adaptados para a formação de bateria de escola de samba. Os integrantes cantam e dançam os diferentes estilos, transmitindo não só a cultura do samba, mas desenvolvendo de maneira ampla a musicalidade afro-brasileira.

O Carimbó das Caixeiras Nascentes – dança

O espetáculo interativo é inspirado nas danças maranhenses da Festa do Divino Espírito Santo, no momento do serramento do mastro, quando as caixeiras (mulheres que tocam caixa acompanhando os rituais da festa) festejam tocando, cantando e dançando músicas tradicionais de sua cultura.

Largo do Rosário

30/05

18h00 - Observação da Lua Cheia – Largo do Rosário

O céu estrelado e a Lua Cheia poderão ser observados pelo telescópio com orientação do astrônomo do Observatório Municipal “Jean Nicolini”, Júlio Lobo, no sábado, 30 de maio, no Largo do Rosário. O astrônomo responderá às perguntas do público sobre os mistérios do astros. Se o tempo estiver nublado ou chuvoso, não haverá observação.

19h30 - Kretynos (música)

Formada em 1996, a banda tem Maks Tiritan (voz e guitarra), Fernando Chama (guitarra), Carlos Rebello (baixo) e João Pim (bateria) entre os integrantes. O grupo Kretynos leva o seu rock alternativo ao palco externo para exibir Demétrio, Cachorro sem Dono e Artificial, além de faixas do próximo trabalho.

21h00 - Felipe Catto (música)

O cantor gaúcho chamou atenção pelo raro timbre vocal, o de contratenor. Após se mudar para São Paulo, ele foi conquistando um público fiel e agora se prepara para lançar o segundo disco da carreira. O show da Virada trará o repertorio do seu primeiro disco "Fôlego". A interpretação da faixa "Saga" é dos pontos altos do show, que começa às 21h do sábado no palco externo.

22h30 - Yusa (música)

A cantora, compositora e multi-instrumentista cubana Yusa se tornou uma das grandes figuras da música atual. Ela apresenta uma fusão de rock, soul, rumba e trova cubana. Com conexões ancoradas na herança africana e caribenha, ela regressa ao Brasil após parcerias musicais consolidadas com Lenine, Filipe Catto e Tulipa Ruiz. Às 22h30 do sábado, também no palco externo.

23h59 - Elza Soares (música)

Fechando a noite de shows de sábado, a cantora Elza Soares se apresenta acompanhada pelos DJs Ricardo Muralha e Bruno Queiroz. O show para a Virada é “A Voz e a Máquina”, onde ela põe a sua voz rascante e poderosa a serviço de “Cálice”, de Chico Buarque e Gilberto Gil; “Brasil”, de Cazuza; e “Chega de Saudade”, de Vinicius de Moraes e Tom Jobim.

31/05

14h00 - Danças Circulares

No domingo, o público no Largo do Rosário poderá participar da Dança Circular, coordenada pela arte-educadora Mairany Gabriel. Os participantes se dão as mãos formando uma roda e participam dessa atividade lúdica, que propõe a interação entre as pessoas de maneira leve e alegre.

15h30 - Silva

Após o elogiado álbum de estreia, Claridão (2012), o capixaba lançou o segundo disco da carreira no ano passado. Trata-se de Vista pro Mar. Menos denso que o antecessor, o trabalho lista a faixa-título, Entardecer e Janeiro. Acompanhado por Rodolfo Simor (guitarra e synth) e Hugo Coutinho (bateria), Silva toca estas e outras canções.

17h00 The Baggios

Formado no Sergipe, o duo de rock e blues já está na estrada há dez anos. Julio Andrade (guitarra e voz) e Gabriel Carvalho (bateria) sobem ao palco para apresentar músicas do elogiado álbum Sina (2013), que traz letras baseadas em personagens folclóricos de uma cidade interiorana. O material do CD e DVD Dez Anos Depois também entra na apresentação.

18h30 - Titãs

Já no dia 31, domingo, é a vez da banda de rock Titãs agitar o público de Campinas. No show, músicas recentes e clássicos se misturam no repertório que também contará com Mario Fabre (bateria) como músico convidado.

MIS-Campinas

Nos dias 30 e 31 de maio, o MIS – Campinas estará com uma programação especial para a Virada Cultural Paulista. Serão duas sessões de cinema com exibições de dois filmes: no sábado (30), às 22h, e no domingo (31), às 17h. A entrada é gratuita. A sala comporta 40 espectadores.

Filmes:

“Um dia... e logo depois um outro” - Direção de Nando Olival e Renato Rossi

Com Cláudia Liz, Gustavo Engracia e Márcio Ribeiro. A história retrata o dia a dia numa borracharia. Classificação: 12 anos. 1997. 9 min.

“Moto-perpétuo” – Direção de Caio Guerra

Com Antonio Aurrera e Gabriel Francomaro Lima. Leonardo, um violonista obcecado, tenta criar uma máquina para virar as páginas da partitura de forma automática, para tocar seu instrumento eternamente. Johan, seu filho e menino prodígio que aprendeu sozinho a ler e interpretar partituras, é o único a contestar o sonho do moto-pertétuo. 2013. 8 min.

Sesc Campinas

30/05

18h00 - Outra Cia de Dança - Nadifúndio, com Outro (dança)

Intervenção coreográfica livremente inspirada no universo poético de Manoel de Barros, propondo uma reflexão sobre a potência das coisas que não levam a nada.

19h00 - Otelo e a Loira de Veneza ou o Pancadão da Traição – Cia Lona de Retalhos

20h00 - Samba da Laje

O grupo apresenta um repertório de samba de raiz.

31/05

10h30 - Cia Giz de Cena toca pra dançar – Jam de dança e música

Os participantes são levados, embalados e impulsionados ao movimento pelas músicas tocadas e cantadas ao vivo, numa grande brincadeira dançada, cantada e improvisada, em que crianças de todas as idades experimentam movimento e som.

11h30 - Trixmix Cabaret Pocket

Por sua longa duração, os cabarés são eventos frequentemente associados à boemia e à noite, características em comum com a Virada Cultural. Neste mini-cabaré há números de magia, malabarismo, dança, humor e teatro de bonecos.

15h30

O auto do bumba-meu-boi com grupo cupuaçu
O grupo atua na criação, pesquisa e difusão de toques, cantos e ritmos da cultura popular brasileira. O Auto tem na dança e na música os elementos que conduzem a reconstrução da narrativa mítica do Boizinho-de-São-João, convidando crianças e adultos para momentos de trocas.

16h30 - Gangorra e Maurício Pereira (música para crianças)

Gangorra é o projeto de música infantil dos músicos e compositores Vange Milliet e Paulo Lepetit (mais conhecidos pelo trabalho com a banda Isca de Polícia), que acompanhava Itamar Assunção, com parceria de Maurício Pereira, cujos temas refletem o cotidiano, o universo e os questionamentos das crianças. Questões como os papéis dos gêneros feminino e masculino em nossa sociedade ou a utilidade do umbigo, aparecem de maneira divertida nas canções.

Fontes: assessorias de imprensa da Secretaria de Estado da Cultura e Prefeitura de Campinas

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Um golaço contra a corrupção no mundo do futebol

Posted by Cottidianos on 00:31
Quinta-feira, 28 de maio

Foi um gol de anjo, um verdadeiro gol de placa
E a magnética agradecida se encantava
Filho maravilha, nós gostamos de você
Filho maravilha, faz mais um pra gente vê
(Fio Maravilha – Jorge Ben)



Hoje foi um dia de alegria para o futebol mundial.

Digo “dia de felicidade” pois quando vilões que estão infiltrados em instituições sérias são descobertos, como diz o ditado popular “pegos com a boca na botija”, isso é motivo para ser comemorado e não para ser lamentado.

Há muito havia indícios de corrupção na FIFA. Creio que a grande surpresa em tudo isso, seja o fato de esse golaço contra a corrupção no mundo do futebol tenha vindo dos Estados Unidos, um país no qual o futebol é um esporte que apenas há pouco tempo começou a ser visto com maior interesse. Quem assina esse gol espetacular são o FBI, a Receita Federal Americana e o departamento de justiça dos Estados Unidos.

O que todos os amantes desse esporte tão apaixonante que é o futebol esperam é que hoje tenha sido virada uma página antiga cheias de práticas viciosas tenha sido virada e que um novo recomeço seja possível sem a utilização de esquemas fraudulentos.

Abaixo, compartilho matéria publicada no site do jornal El País/Brasil

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Sete dirigentes da FIFA são detidos na Suíça por corrupção

SANDRO POZZI - Nova York

O Departamento de Justiça dos Estados Unidos, em uma manobra sem precedentes, coordenada com o FBI e a agência tributária, revelaram nesta quarta-feira em uma concorrida entrevista à imprensa no Brooklyn os detalhes da ação legal contra nove dirigentes da FIFA e cinco empresários implicados em uma trama de corrupção que durou 24 anos, formada para o enriquecimento com o futebol. As autoridades norte-americanas esperam que esse caso sirva para marcar um novo “começo” nas entidades que dirigem o esporte.

No total, foram arrolados 47 delitos contra os acusados, incluindo subornos, chantagens, fraude e conspiração para lavagem de dinheiro. Entre os acusados estão Jeffrey Webb e Jack Warner, atual e antigo presidente da Concacaf, a confederação que representa a FIFA na América do Norte, América Central e Caribe. O total da fraude chega a 150 milhões de dólares (450 milhões de reais), sob a forma de subornos para a obtenção de contratos vinculados aos direitos internacionais dos torneios e promoção em geral do esporte.

Loretta Lynch, que há poucas semanas estreou como procuradora-geral dos Estados Unidos, afirmou em coletiva de imprensa que se tratava de uma trama corrupta, com “raízes profundas”, que operou de modo sistemático “durante pelo menos duas gerações”. Afirmou ainda que os acusados “abusaram de seu poder e posição de confiança para se apropriarem de milhões de dólares em subornos e por meio de chantagem”. Em sua opinião, esse tipo de atitude causa danos enormes ao esporte.

As principais vítimas, disse ela, são as jovens ligas nos países em vias de desenvolvimento que se beneficiam das receitas geradas pelos direitos do futebol. E também centenas de milhões de seguidores desse esporte no mundo, que o apoiam. Por isso ela acredita que os responsáveis por essas práticas têm de ser submetidos agora à Justiça e espera que a ação legal envie uma clara mensagem. Pediu também à FIFA que faça uma supervisão “mais honesta”.

O futebol ganhou, desse modo, destaque no noticiário do dia nos EUA, mas não precisamente pelos motivos que se espera de um esporte que aspira a deixar de ser minoritário no país. Na coletiva de imprensa estiveram presentes cerca de 300 jornalistas e meia centena de câmeras. No ato participaram outros pesos-pesados do Governo norte-americano, como o novo diretor do FBI, James Comey, e o responsável pelas ações criminais da agência tributária, Richard Weber.

Na primeira hora da manhã, a pedido das autoridades norte-americanas, foram detidos em Zurique sete dos acusados de participar diretamente na trama ou como conspiradores, dirigentes da FIFA ou donos de empresas de marketing que se beneficiaram pessoalmente graças ao negócio desses direitos: Eduardo Li, Julio Rocha, Costas Takkas, Eugenio Figueredo, Rafael Esquivel e José María Marín. "Ninguém está acima da Lei”, repetiu o diretor do FBI. Em paralelo, foi inspecionada a sede da Concacaf em Miami.

Comey recordou que o futebol é o maior esporte do mundo e explicou que essa trama de corrupção atentava contra os princípios sobre os quais se sustenta. Lamentou especialmente que esse tipo de pagamento ilícito se tenha convertido em uma forma de fazer negócio no seio da FIFA. Como observou Weber, “os próprios líderes da organização enganaram os membros que se supunha que eles representassem”. “A corrupção, a evasão fiscal e a lavagem de dinheiro não podem ser os pilares de nenhum negócio”, acrescentou.

Charles Blazer, antigo secretário-geral da confederação americana, aparece citado como uma das seis pessoas que cooperaram com as autoridades para poderem esquematizar o caso e admitiu sua culpa na trama. Também José Hawilla, proprietário da empresa Traffic Group, com sede no Brasil. Além disso, as autoridades norte-americanas deixaram claro que as acusações anunciadas não devem ser vistas como o ponto final dessa investigação que assola o futebol.

A investigação por parte das autoridades norte-americanas se desenrolou durante 12 anos. Lynch espera agora que os detidos possam ser extraditados para ir a julgamento nos EUA. Ela garante que eles “serão submetidos a um julgamento justo”. Citou, mais especificamente, como os acusados usaram sua posição para “encher os bolsos” com eventos como a Copa América de 2016 e a Copa do Mundo na África do Sul.

Com essa trama, explicou, influenciaram em decisões que vão desde a transmissão de partidas pela televisão, a escolha dos lugares de realização de torneios e até a escolha de quem dirige a FIFA. “Em vez de promover o esporte, exploraram sua posição em troca de dinheiro de empresas que buscavam fazer contratos com a FIFA”, repetiu o promotor nova-iorquino Kelly Currie ao explicar o funcionamento do esquema fraudulento. Esses subornos foram pagos por meio de intermediários.

“Esta é a Copa do Mundo da Fraude e hoje mostramos a eles o cartão vermelho”, disse o responsável pela agência tributária, que afirmou que “os fãs desse esporte” não deveriam ter de se preocupar com a conduta corrupta dos diretores da FIFA”. Para Comey, o problema de fundo é que o cinismo que o caso mostrou domina o negócio do futebol, depois de décadas de suspeitas. Mas até agora eles não encontraram provas para poder agir.

Durante a madrugada, agentes suíços prenderam os envolvidos em seus quartos do hotel de cinco estrelas Baur aur Lac, um edifício de luxo com vista para os Alpes e o Lago de Zurique, onde os dirigentes se reúnem para seu encontro anual, que começa na sexta-feira e no qual haverá eleições para a presidência da FIFA.

 “É um dia triste para o futebol”, disse Ali Bin Al Hussein. Depois de pedir as chaves na recepção, os agentes se dirigiram aos quartos para efetuar as prisões. O jornal diz que um alto cargo da FIFA (que não identificou) foi conduzido pelas autoridade a uma saída pelos fundos para deixar o hotel, permitindo-lhe levar a sua bagagem.

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Lições de vida

Posted by Cottidianos on 01:01
Quarta-feira, 27 de maio

Minha jangada vai sair pro mar,
Vou trabalhar, meu bem querer,
Se Deus quiser quando eu voltar,
Do mar,
Um peixe bom, eu vou trazer...
Meus companheiros também vão voltar,
E a Deus do céu vamos agradecer
(Suíte de Pescador – Dorival Caymmi)


Caríssimos leitores, entre o final de abril e o início deste mês, escrevi sobre a Rede Globo e seu fundador, Roberto Marinho. Durante essas pesquisas, descobri uma carta que Roberto Marinho escreveu para o filho, Roberto Irineu. Quis apresentá-la logo em seguida a referida postagem, mas só agora o faço. E o faço por encontrar nela um pai zeloso com a educação dos filhos, apresentando a eles bons livros e bons filmes, enfim, coisas que alimentam o espírito. Vemos na carta, um Roberto Marinho, preocupado em dar aos filhos elementos que os ajudem a enfrentar a vida com coragem e humildade.

Quando recebeu a carta, Roberto Irineu Marinho tinha 15 anos. Igual a todo jovem dessa idade, também ele era cheio de sonhos e projetos de futuro. O jornalista e empresário, Roberto Marinho, acabava de voltar de uma viagem que fizera aos Estados Unidos. Através de palavras carinhosas de pai amoroso, ele fala ao filho a respeito do livro, O Velho e o Mar, de Ernest Hemingway, e do filme A Grande Olimpíada, e usa, tanto este quanto aquele, para traçar um paralelo entre as duas formas de entretenimento para definir o valor da vida.

O livro citado por Roberto Marinho eu já havia lido, e achei uma bela e profunda história. O filme, não. Até tentei procurar na Internet, mas não obtive sucesso.

Acho que o saudoso jornalista e empresário foi muito feliz nas exortações que faz aos filhos, pois, o que é a vida, senão um mar agitado no qual navegamos, lutando pela sobrevivência, buscando pescar o peixe nosso de cada dia?

Não seria a vida também uma grande maratona, na qual todos nós corremos em busca de um lugar ao sol?

Seja pescando ou participando dessa grande maratona, há que se ter sempre um espírito forte e decidido. As lutas são grandes, enormes, às vezes, colossais, mas não podemos jamais desistir dela. Alguns se entregam a essa luta por ambição, outros por causa de um ideal, mas, quase sempre, é a necessidade que nos move. É preciso saber ganhar e perder, pois nem sempre na vida se consegue as primeiras colocações, nem se pesca o maior peixe, pois, a maratona é diária e o mar é eterno, e a luta é constante. Cabe a nós, desejosos de vitória, de sucesso e felicidade, sermos persistentes, sempre, sempre e sempre.

Pelo fato de a carta ter sido escrita em 1963, há algumas palavras que podem dificultar a compreensão total dela, por isso, apresento, ao final, um pequeno glossário. As palavras apresentadas no glossário estão destacadas, em itálico, na carta.

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Carta de Roberto Marinho para Roberto Irineu – 13/02/1963

Meu querido Roberto Irineu:

Ontem, assisti a um filme e, durante as duas horas em que estive no cinema, evoquei coisa da minha vida e lembrei-me também de meus filhos. O filme era a GRANDE OLIMPÍADA, que seria um excelente belo documentário sobre o grande acontecimento esportivo, que se verifica de quatro em quatro anos, se não fosse, antes de tudo, uma extraordinária demonstração do valor humano, na sua ânsia de competir e vencer.

Creio que V. ainda não leu O VELHO E O MAR, e que talvez não tenha visto o filme do Spencer Tracy no papel do velho e obstinado Santiago. De longos e longos anos de curtimento ao sol, a luta insana no mar nem sempre dadivoso, tinham-lhe vincado o rosto, e até mesmo curvado um pouco a espinha, mas não conseguiram abater o espírito do velho pescador e muito menos a sua fé inquebrantável no dia de amanhã. É por isso que ele, isolado no seu pequeno barco, afastou-se tanto da costa, para perseguir o peixe das suas esperanças. Afinal, depois de tantas horas, ele consegue fisgar a presa almejada, que procura libertar-se, ora mergulhando no seu elemento, ora dando grandes e desesperados saltos. São mais de quinhentos quilos a dominar. A linha corre-lhe nas mãos, fazendo-lhe profundos sulcos de sangue. Mas o velho pescador luta desesperadamente durante uma noite inteira e, afinal, consegue recolher o monstro já cansado. Enceta a viagem de volta, mas novas provações o esperam, no ataque dos tubarões à sua presa. A única arma que ele tem à mão são os remos com que procura desatinadamente atingir os monstros enfurecidos, que acabam por deixar ao exangue pescador apenas o esqueleto do peixe que foi a grande mera da sua vida.

Você lerá algum dia esse livro de Hemingway, para verificar que o velho Santiago é de certo modo um modesto, mas heroico personagem dessa Olimpíada, porque ele, como os atletas nas pistas, lutou ao paroxismo para vencer.

E é esse espírito de luta, dom velho pescador ou dos flamantes atletas, do cientista que vai ao fundo abissal do oceano ou do astronauta que desvirgina o espaço sideral, que anima a humanidade a vencer, a progredir, porque a vida, meu querido Robertinho, é justamente essa luta pela conquista de um ideal ambicioso ou por um simples lugar ao sol.

Porque os trabalhadores, britando a pedra ou afagando o asfalto nas ruas da cidade, dessorando ao sol nos dias mais causticantes, suando a camisa nos escritórios, nas oficinas, nas locomotivas, nos porões dos navios, - também disputam a sua olimpíada, não em busca de glórias esportivas, mas do sustento das suas famílias. O mesmo ânimo dos atletas para alcançar a meta da vitória, eles o empregam na luta quotidiana pela sobrevivência, pelo pão de cada dia.

Mas, Robertinho, as atletas que, na maior corrida de revezamento da história, levam da Grécia para Roma, através dos desfiladeiros, dos campos e das avenidas, dos mares e as montanhas, o fogo sagrado, chegam ao seu destino. A pira do grande estádio é acesa. Os jogos olímpicos de 1960 começam. Atletas de todo o mundo, gente de todas as cores, raças e religiões, estão irmanados no ideal olímpico do barão Pierre de Coubertin, fundador das modernas olimpíadas: o importante não é vencer, mas competir. As provas se sucedem. Nas pistas, nas piscinas, no oceano, cada centímetro é bravamente disputado. É tal o esforço pela vitória que há atletas que chegam trôpegos, desmaiando assim que transpõe a meta. Há esportistas que realizam grandes façanhas, mas que choram como crianças, depois da vitória ou da derrota.

Mas eis que vai ser corrida a maratona, que é a prova olímpica por excelência, evocativa da façanha de um soldado ateniense que correu 22 milhas, de Maratona (cidade da Grécia) a Atenas, para dar a notícia da vitória das suas armas contra os persas. Cumpriu a sua missão e morreu. Centenas de corredores lançam-se à grande empreitada. Os mais luzidos corredores, selecionados nos seus países de origem, empregam – se cautelosamente. Sabem que precisam resguardar as suas forças para a interminável porfia. Mas um dos corredores junta-se ao atleta que comanda o pelotão e não mais o larga. É um preto e corre descalço. O narrador da GRANDE OLIMPÍADA esclarece que se trata de um etíope. A corrida prossegue.

Muitos corredores vão ficando para trás, mas o representante da Abissínia ganha terreno, acelerando o ritmo da corrida. E ali nas ruas da orgulhosa Roma de César e de Mussolini, ele derrota, com os seus pés descalços, os atletas de todo o mundo, inclusive os corredores italianos... Lembrei-me da invasão da Abissínia. Nessa época, Mussolini, endeusado pelos estadistas mais famosos de então, clamava pelo espaço vital, que dizia necessitar para a expansão do seu país. Por isso, e alegando razões históricas, lançou as suas tropas blindadas, a sua aviação poderosa, toda a força das suas armas contra a pobre e indefesa Abissínia. Aí eu cometi um erro. Feito comendador por Mussolini, cortejado pela embaixada daquele grande país, ferveu-me o sangue dos avós maternos, e coloquei O GLOBO ao lado do invasor contra a pequena nação, cujos filhos — descalços como o corredor da Maratona — jogaram as suas flechas contra a blindagem dos aviões que semeavam a morte e a desolação.

Por muitos anos lembrar-me-ei daquela cena admirável da chegada do corredor etíope, que assumiu aos meus olhos o simbolismo de uma lição na história, e trouxe-me a recordação de um ato de que me penitencio.

As Olimpíadas continuam... São os ginastas, homens e mulheres que fazem verdadeiro balé sobre as barras... Os lançadores de peso, de martelos, de dardos... Os saltos ornamentais, em trampolim, as lutas grego-romanas, as regatas a vela no lago de Castel Gandolfo... E a prova das nações, que também me trouxe recordações. Em 1947 e 1948 eu estava em plena forma e tinha ganho a maioria das provas de tipo olímpico, aqui disputadas. Nas vésperas da escolha do team hípico que devia ir às Olimpíadas de Londres, a Federação Hípica resolveu que todos deviam submeter-se às eliminatórias. Achei a resolução injusta. Além do mais, viria desgastar os cavalos com que contava para a Prova das Nações. Neguei-me a participar das eliminatórias e com esse gesto, que hoje julgo pouco esportivo, perdi a única oportunidade que me foi oferecida para participar das Olimpíadas.

De qualquer forma, meu filho, também eu me julgo um pouco participante dessa outra olimpíada que disputamos a vida toda, por um ideal, uns, por ambições outros, por necessidade quase todos, mas que constitui a essência da vida: lutar, disputar, vencer se possível, mas sempre sabendo perder.

Nesse terreno V. já me deu uma grande alegria, quando participou de Kart. O seu “bólido” andou franquejando, mas V. bem atrás dos outros concorrentes, soube conservar o mesmo ânimo e o mesmo sorriso, até o final. Isso é que é essencial, meu querido Roberto Irineu...

Quero que V. e o Paulinho — já que o Joaozinho e o Zezinho estão doentes —vejam a GRANDE OLIMPÍADA. Vocês vão divertir-se e possivelmente recolher exemplos úteis para o futuro.

Um beijo do

Roberto.

Rio, 13/2/1963
***
Vocabulário

Encetar – Começar, principiar

Paroxismo - A maior intensidade de um acesso, dor etc.

Flamante – Brilhante, resplandecente.

Abissal – Relativo a grande profundidade do oceano.

Dessorando – Enfraquecendo.

Luzido – Esplendoroso, pomposo, vistoso.

Porfia – Competição, disputa.



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