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Elvis Presley: Infância e juventude de uma voz que o mundo não esqueceu – Parte II

Posted by Cottidianos on 00:13
Domingo, 11 de janeiro

Quando éramos crianças em Liverpool,
todos queríamos ser como Elvis Presley
(Paul McCartney)





Pretendia publicar essa segunda parte do texto, sem nenhuma introdução, uma vez que já havia feito isso na primeira parte. Porém, momentos antes de fazer esta postagem, minha inspiração me segredou as palavras a seguir, e achei que não devia guardá-las apenas para mim, mas que deveria compartilhar com vocês.

Há pessoas que vieram ao mundo com a missão de torná-lo mais belo, mais humano, mais fraterno. Cantando, pintando, desenhando cartuns, fazendo poesias e canções, ou no campo da ciência, desenvolvendo pesquisas que beneficiarão a toda a população do planeta, ou em qualquer outra atividade que eleve o espírito, elas são como faróis a iluminar o caminho dos irmãos em humanidade.

Outras pessoas, ao contrário, vieram ao mundo para torná-lo mais feio, mais desumano e mais egoísta. Espalhando o ódio, a maldade, a inveja, a opressão elas se tornam veneno mortal para a humanidade em crescimento.

Os primeiros são como trigos em flor, em campos doirados, que depois de colhidos, são recolhidos aos celeiros e, posteriormente, se tornam alimento nutritivo e vital. Os segundos são como ervas daninhas, que depois de arrancadas dos campos, não servem para mais nada, além de serem amarradas em feixes e colocadas no fogo para queimar.

***

Elvis Presley: Infância e juventude de uma voz que o mundo não esqueceu – Parte II


Tupelo Hardware Co.


No seu aniversário de 11 anos, Elvis foi com a mãe a uma loja de departamentos chamada Tupelo Hardware. Ia ganhar um presente de aniversário. Ele já conhecia a loja. Não tinha dinheiro para comprar nada, mas gostava de ir lá passear, ver as novidades. Eram sonhos de consumo que ficavam apenas na prateleira da loja. Os pais queriam dar-lhe um violão, que custava 12 dólares. Elvis argumentou. Queria uma espingarda calibre 22 — morava em uma área rural, era natural que quisesse caçar ou mesmo praticar tiro ao alvo — ou então uma bicicleta. Os pais não viam com bons olhos a ideia de compra-lhe uma arma, além disso, o dinheiro que o casal tinha só dava para comprar o violão e nada mais. Depois de muita conversa, Elvis foi convencido a levar o instrumento. Uma sábia decisão.

Naquele mesmo ano de 1946, a família mudou-se para Tupelo, que naquela época, tinha por volta de 6 mil habitantes, cidade grande, se comparada a pequena East Tupelo. O reverendo Frank Smith ensinou algumas lições básicas de violão a Elvis. Os tios, Vester Presley e Johnny Smith também lhe deram algumas dicas e logo Elvis já estava tocando todo tipo de música. Saia pelas ruas de Tupelo tocando country, blues, gospel, e nem se importava se o violão não tinha capa, nem se quebrava alguma corda, ele tocava do mesmo jeito. Percorrendo os arredores onde moravam negros, Elvis também aprendeu a tocar o blues. Desse modo, era como se o cantor estivesse recolhendo antecipadamente, a mistura musical que o tornaria um artista especial. 

Mississippi Slim

A vida escolar do garoto era sempre levada muito a sério, assim, os pais logo matricularam Elvis na Millan Junior High School. Coisas do destino, o segundo endereço onde os Presley habitaram em Tupelo ficava bem em frente a rádio WELO. A emissora apresentava, ao vivo, shows de música country para uma pequena plateia. Um dos contratados da emissora era o cantor Mississipi Slim. Slim era um cantor country, bastante conhecido na região. O irmão de Slim estudava com Elvis na Millan e convidou o novo amigo para participar dos shows. A partir daí, os dois eram presença constante aos eventos. A amizade com o irmão do Slim, facilitou a aproximação de Elvis com o cantor. Essa foi a primeira aproximação do futuro astro com um cantor profissional.

A família Presley mudou-se novamente para outro bairro. Dessa vez, foram morar na North Green Street, próximo a Shakerage, um gueto negro, pelas ruas do qual, Elvis certamente andou, absorvendo um pouco mais da cultura negra e aumentando seu rico e diversificado repertório musical.

No ano de 1948 as cidades de East Tupelo e Tupelo fundiram-se num só município. Corria o mês de setembro daquele ano quando a família resolveu mudar-se mais uma vez. Foram, dessa vez sim, para uma grande metrópole. Em um sábado à noite. Vernon, ajudado por Elvis, embalou os poucos pertences que possuíam. Colocaram tudo em um Plymouth 37 e seguiram em direção à Memphis. Enquanto o carro rodava pela rodovia 78, um caldeirão de pensamentos e emoções deve ter passado pela mente do futuro astro. Devem ter vindo à sua mente os tempos difíceis e de extrema pobreza vividos em um passado recente. Deve também ter se lembrado do carinho e da solidariedade dos demais parentes, e das vezes em que todos se reuniam na pequena varanda em East Tupelo, para agradáveis conversas e também para cantar músicas gospels, country e blues. Deve ter lembrado também das amizades que fizera nas duas cidades, e das namoradinhas que teve. Agora, ficava tudo para trás, e ele trazia esses tesouros guardados consigo no baú do coração. Elvis tinha 13 anos, e em seu mundo de sonhos adolescentes nem imaginava que alturas o futuro o levaria. Alimentava o sonho de ser famoso, de viver de música, porém, nem desconfiava que a cauda do reluzente cometa do destino o levaria tão depressa a um universo de astros e estrelas reluzentes. 

Memphis, anos 50

A família chegou a Memphis no dia 12 de setembro. A educação escolar de Elvis foi o motivo de terem viajado em um sábado, dessa forma, o garoto não perderia um dia de aula sequer. Tudo na nova cidade era diferente, a começar pelo numero de habitantes: Memphis tinha cerca de 300 mil habitantes naquela época. Era a maior cidade do Tennessee. A única coisa que não havia mudado para a família era a situação de pobreza em que viviam. O novo endereço dos Presley era um casarão ocupado, exclusivamente, por famílias pobres. O prédio possuía 16 habitações e cada uma delas podia abrigar até 06 pessoas. O sistema de calefação e a rede elétrica eram completamente inadequados, o teto era muito alto. O banheiro era coletivo e os Presley o dividiam com mais três pessoas. A água que utilizavam para preparar a comida era tirada das torneiras desse mesmo banheiro. Havia sujeira por todos os lados e os ratos eram constantes visitas indesejáveis.

O que parecia maravilha e o sonho de uma vida melhor em Memphis passou a ser um pesadelo. Primeiro, Vernon não conseguiu de imediato um novo emprego. Depois tinha o fato de que, vindo de lugarejos no Mississipi, com pessoas de sotaque caipira e jeito caipira de viver, Elvis se sentiu engolido pela grande metrópole. Para piorar a situação sua timidez o impedia de fazer novas amizades e ele foi ficando mais fechado em si mesmo. Imediatamente, os pais o matricularam na Humes High School. No primeiro dia de aula, Vernon foi à escola deixar o filho e de lá foi fazer outras atividades na cidade. Ao chegar em casa ficou surpreso ao encontrar o filho trancado no quarto. Vernon, perguntou-lhe o que aconteceu. Elvis respondeu que tinha ficado perdido no meio tanta gente, e que achava que os outros alunos tinham caçoado dele. Deve ter sido grande o choque cultural que teve, pois, na Humes, estudavam 1.600 alunos. Isso era quase duas vezes mais toda a população de East Tupelo.

Turma de Elvis na Humes Hihg School

Aos poucos, o garoto foi se acostumando com a escola e com a cidade. Vernon começou a trabalhar e Gladys também, dessa forma, as coisas melhoraram um pouco. Elvis também percebeu que precisava ajudar em casa de algum modo, e arranjou um emprego como cortador de grama, um ofício que, naquela época, era realizado apenas por negros. Elvis não teve vergonha de desenvolver a atividade por dois motivos: primeiro, porque precisava e segundo: a sua condição de extrema pobreza fazia sentir na pele a situação de exclusão também experimentada pelos negros.

Incomodado com as péssimas condições de saúde e higiene em que viviam no casarão, Vernon pediu ajuda do governo. Funcionários da Promoção Social foram até sua casa e constataram que ele falava a verdade. A Promoção Social recomendou que eles fossem morar em Lauderdale Courtis. O local também era destinado a pessoas de baixa renda, mas já era bem melhor, mais limpo e mais organizado que o casarão onde viveram. Mais uma vez, os ventos do destino aproximavam Elvis da música e da diversidade cultural. Perto dali ficava a Beale Street, uma rua onde os negros tocavam e cantavam seus blues, e onde ficavam lojas de roupas destinadas ao público negro. Na Beale ficava a loja Lansky Brothers sonho de consumo dos negros que possuíam um pouco mais de dinheiro. Elvis costumava passear por lá e ficar admirando as vitrines sonhando em vestir aquelas roupas. A especialidade da loja eram roupas de cores extravagantes como ternos amarelos, calças pretas com listras cor de rosa, camisas verde brilhante, sapatos brancos e coisas desse tipo.
A Memphis dos anos 50 era perfeita para quem gostava de boa música. Era frequentada tanto pelo pessoal do country, quanto pelo pessoal do R&B e também do blues. Nas rádios também uma havia uma boa diversidade de bons programas em todos os estilos. Enfim, naqueles anos, a cidade comia, bebia e respirava música e, nesse ambiente propício, o gosto de Elvis pela música negra aumentou ainda mais.

A família retomou as idas à igreja. Elvis amava os grupos gospels e, em Memphis, podia ver e ouvir os melhores. Grandes talentos da música gospel como os Statesmen e os Blackwood Brothers, se apresentavam com frequência no Ellius Auditorium — um local com capacidade para cerca de 5.000 pessoas. Os ingressos eram vendidos a preços populares e o Ellius ficava completamente lotado para essas apresentações.

Elvis Presley

O jovem Elvis não se contentava apenas em assistir aos shows, procurava aproximar-se dos artistas frequentando os bastidores, assim conseguia fazer boas amizades, que perduraram até o fim de sua vida. Um desses grandes amigos conquistados foi J. D. Sumner, excelente baixo dos Blackwood Brothers. O jovem era dessas pessoas que deixam sua marca, que não passam despercebidas em lugar algum e Sumner logo notou a ausência dele em alguns shows. Quando ele reapareceu, o baixista perguntou:

— Por onde tem andado, rapaz. Perdeu o entusiasmo pela nossa música.

— Não, Sr. Sunner, de modo algum. Só não venho vê-los quando não tenho os 50 centavos para comprar o ingresso.


J. D Sumner

Comovido, Sumner passou a facilitar a entrada do jovem pela porta dos fundos sempre que vinham cantar no Ellius Auditorium. No futuro, a situação se inverteria e era Sumner que entraria pelos fundos para assistir aos shows de Elvis. Sumner, um dos cantores de vozes mais graves do mundo, segundo o Livro dos Recordes, fazia parte, nesse período, dos  Sunshine Boys. O baixo começou sua carreira cantando no Sunny South Quartet and Dixie Lily Harmoneers. Após sua saída desse primeiro grupo, passou a cantar com os  Sunshine Boys, grupo no qual cantou de 1949 a 1954. Posteriormente fez parte também de outros grupos como o Blackwood Brothers, Stamps Quartet, Masters V. Após o fim do Masters V, em 1988, reformulou os Stamps, grupo do qual fazia parte, quando morreu, em 1998.

Na Humes High School Elvis começou a ter problemas e suas notas começaram a baixar. Ele era considerado um jovem tranquilo. Apesar da forte relação de dependência que sempre manteve com a mãe, ele o tipo de personalidade forte. Era dessas pessoas que parecem nadar contra a correnteza. Em um tempo em que os adolescentes usavam cabelos curtos e lisos, a moda escovinha, Elvis usava cabelos grandes ostentando um grande topete, regado a muita brilhantina, e com costeletas. Enquanto eles usavam roupas sóbrias, Elvis gostava de roupas de cores extravagantes e não convencionais. Também evitava usar calças jeans. Por causa desses comportamentos, era ridicularizado pelos demais estudantes. Hoje se usa para isso o nome de bullying.

Certa vez, na escola, um grupo de estudante o cercou e, à força, queriam cortar o seu cabelo. Já estavam com a tesoura em punhos, quando chegou Bobby West, que era mais conhecido com Red West por causa de seu cabelo ruivo. Red expulsou os valentões e salvou Elvis do vexame. A partir desse episódio, surgiu entre os dois uma grande amizade que perdurou até os últimos anos de vida de Elvis, quando fatos desagradáveis fizeram com fosse a amizade entre eles fosse desfeita, deixando Elvis muito chateado e magoado.

Certo dia, uma das professoras da Humes fez um piquenique com a turma de Elvis, que devido ao bullying que sofria por causa do seu jeito diferente de ser e de viver, passou a ser cada vez mais introvertido, levou seu violão. Enquanto o restante da turma, sorria, brincava, se divertia, contava piadas em alegre confraternização, Elvis se afastou do grupo, pegou o violão e começou a tocar e cantar para si mesmo. Aos poucos, foi sendo rodeado pelos colegas de turma, atraídos pelo jeito diferente de cantar, de tocar e pela carga de sentimento que ele imprimia às músicas. Quando percebeu, a turma toda já estava envolta dele fascinada pela sua voz suave e pelas deliciosas notas que saiam do violão.

De longe, a professora observava tudo isso e percebeu que, por trás daquele garoto tímido e introvertido, escondia-se alguém com um dom especial. Ficou estudando um jeito de fazer com que o jovem vencesse aquela timidez. Resolveu então inscrevê-lo em um show de talentos que ocorreria na escola. Havia espaço para várias modalidades de artes; canto, dança, instrumentos musicais.

No dia do show, mais de 1.000 estudantes estavam no auditório da Humes. Elvis cantou novamente Old Shep, e emocionou a todos. Nesse concurso de talentos, só tinha de direito de apresentar o bis, o aluno que fosse o mais aplaudido. Elvis foi o mais aplaudido e no bis cantou Could Ice Fingers. Ficou muito entusiasmado e falou para a professora “Eles gostaram de mim! Gostaram mesmo de mim!”.

Cine Loew's State

Em novembro de 1950, Elvis começou a trabalhar como lanterninha no cine Loew’s State. Era um emprego perfeito para quem gostava de cinema e um emprego bem melhor que o anterior, de aparador de grama. Trabalhava das sete ás dez da noite e recebia 13 dólares por semana. Entretanto, o jovem não ficou muito tempo nessa função. Foi demitido, pois, ao invés de acompanhar os clientes no cinema, ficava sentado vendo os filmes.

Em 1953, os Presley tiveram que se mudar do condomínio Lauderdale. Gladys arranjou um emprego em um hospital, a renda da família melhorou, ultrapassando o teto estabelecido pelo governo para morar no condomínio. Eles foram morar em um apartamento mais caro, no centro da cidade. Elvis já tinha terminado o colegial e arranjou o seu primeiro emprego estável na Precision Tool Company, na linha de montagem, ganhando 65 dólares por semana. Mas não ficou muito tempo lá. O que ele queria mesmo era trabalhar como caminhoneiro, a exemplo do pai.

Elvis soube que surgiu uma vaga para trabalhar como motorista de entrega da Crown Eletric Company. Não teve dúvidas, foi até o escritório da empresa, pleitear a vaga. A sra Tipler, esposa do dono da companhia, James Tipler. O visual de Elvis já era um cartão de visitas. Você poderia vê-lo em meio a uma multidão e ainda assim reconhecê-lo sem dificuldades. Depois de uma breve entrevista, a Sra. Tipler foi até a sala do marido e lhe disse:

— James, aí fora está um garoto muito gentil e educado que está querendo trabalhar aqui. Vou pedir para ele entrar, mas não se assuste com o modo com o qual ele está vestido, ok?”

Ela resolvera prevenir o marido, pois sabia que se pedisse para o jovem aspirante a função de motorista, sem antes tecer esse comentário, o marido, certamente, expulsaria o jovem do escritório. Elvis passou a dirigir uma caminhonete Ford e logo conquistou os donos da empresa, tanto pelo seu profissionalismo — aprendera com a mãe a ser perfeccionista — quanto pela sua forma gentil e educada de tratar as pessoas, coisa que também aprendeu com os pais. A Sra. Tipler notou que o rapaz tinha um extremo cuidado com os cabelos, bastava ter uns cinco minutos de folga e lá estava ele penteando os cabelos. Ela notou também que o violão era companheiro inseparável do rapaz. Às vezes, na hora do almoço, ele comia o mais rápido possível, só para ter mais tempo de ficar em baixo de uma árvore tocando violão. A Sra Tipler o desencorajava:

— Elvis, não leve muito a sério essa coisa de música, de ficar tocando violão. Isso é bom para distrair, mas não leve isso muito a sério, dizia ela. Elvis apenas sorria, exibindo uma de suas marcas já quando famoso: um sorriso nos lábios, tendendo para o lado esquerdo, algo entre irônico e atraente. Ele já estava acostumado com aqueles comentários. Em casa, seu pai dizia a mesma coisa. 


Memphis Recording Service

Dirigindo a caminhonete da Crown, Elvis passava em frente ao Memphis Recording Service, uma filial da gravadora Sun Records, cujo dono também era Sam Philips. No verão de 1953, Elvis olhou com mais atenção o cartaz que dizia: “NÓS GRAVAMOS TUDO. EM QUALQUER LOCAL. A QUALQUER HORA”

O caminhão da Crown começou a passar por ali com mais frequência. Sam Philips, ao ver aquela movimentação, pensou: “Pelo número de vezes que esta caminhonete da Crown passa por aqui, os negócios da companhia devem estar indo muito bem”. Na verdade, era Elvis tentando criar coragem para entrar no estúdio e fazer uma gravação. 
Em dia quente do mês de julho, na hora do almoço, Elvis estacionou a caminhonete em frente a estúdio, criou coragem e resolveu gastar os 4 dólares, preço da gravação do acetato com duas músicas.

Sam Philips não estava e o rapaz foi atendido pela secretaria, Marion Keisker. Marion olhou aquele tipo estranho com intensos olhos azuis, cabelo grande recheado de brilhantina, roupas extravagantes, costeletas e muito educado.

— Gostaria de fazer uma gravação, disse o rapaz.

— Já temos outros candidatos na frente. O Sr. pode sentar e aguardar sua vez.

Marion ficou observando Elvis e o achou muito diferente dos outros rapazes. Resolveu puxar conversa com ele:

— Você é cantor.

— Sou, sim.

— Que tipo de música você canta?

— Qualquer tipo de música.

— Você imita alguém?

— Não, imito ninguém.

Enfim entraram no estúdio de gravação. Elvis escolheu duas músicas para gravar: My hapiness e That’s When Your Heartaches Begin. Marion gostou da voz de Elvis e, enquanto, copiava as músicas para o acetato, fez também uma cópia para ela, embora tenha achado somente um pedaço de fita amarrotada, mesmo assim gravou nessa fita parte da primeira música e a segunda por completo. Enquanto fazia as cópias, Marion lembrou-se de que Sam costumava dizer que seu sonho era encontrar um branco que cantasse como negro, com o mesmo sentimento com que os negros entoavam as canções. Marion achava que o rapaz que acabara de gravar o acetato, se enquadrava nessa categoria.

Assim que Sam Philips apareceu na gravadora, Marion correu para lhe mostrar a novidade. Sam ouviu atentamente e disse, sem demonstrar grande interesse:

— Sem dúvida o rapaz é bom, mas ainda precisa ser melhor trabalhado. Podemos aproveitá-lo em outra oportunidade.

Elvis, Scooty e Bill


Em janeiro de 1954, quatro dias antes do seu aniversário, Elvis apareceu no estúdio para gravar mais duas músicas. Dessa vez, Sam o atendeu. Gravaram Casual Love affair e I’ll never stand in your way.

— Você canta bem, rapaz, deixe seu contato.

— Desculpe Sr. Sam, mas a Srta Marion já anotou da outra vez. Devido a educação recebida pelos pais, Elvis costumava tratou as pessoas por Sr. e Sra. Não importavam se eram da mesma idade que ele ou mais velhos.

Mesmo assim, Sam anotou novamente o contato do rapaz e prometeu que ligaria para ele.

Elvis seguiu sua vida normal namorando, ganhando dinheiro como motorista da Crown e perseguindo seu sonho de ser cantor. No mês de abril daquele ano de 1954, fez um teste para entrar no Songfellows, que era a divisão juvenil do quarteto gospel Blackwood Brothers, porém foi reprovado no teste. Disseram-lhe que ele não era bom cantor gospel.

Oito meses depois da primeira visita de Elvis ao Memphis Recording Service, chegou às mãos de Sam, uma bonita balada, chamada Without You. O dono do estúdio de gravação queria gravar imediatamente com o cantor original, mas não foi possível localizá-lo. Marion sugeriu então que ele chamasse Elvis. Telefonaram para o jovem e ele veio correndo ao estúdio. Gravaram a canção, mas Elvis estava nervoso e o resultado não foi o esperado. Sam gostou do rapaz, viu que ele tinha talento, mas resolveu dispensá-lo em chama-lo em outra oportunidade.

Foi então que Sam sugeriu que ele procurasse que procurasse Scotty Moore, que fazia parte da banda country Starlite Wranglers. Scooty chamou também o baixista Bill Black para a reunião. A princípio, os dois veteranos não viram nada de diferente em Elvis, além do seu visual extravagante, mas combinaram de se encontrar novamente, dessa vez, no estúdio de Sam Phillips.

Encontraram-se novamente no dia 06 de julho de 1954... E, naquele encontro, surgia uma enorme revolução na música norte-americana. Começaram as gravações com as baladas Habor Lihgts e I Love you because. Em um dos intervalos, Elvis que não podia ver um violão quieto começou a tocar de forma frenética o blues That’s All Rigth Mama, de Arthur Crudup. Scooty e Bill entraram na brincadeira. Sam Philips também e, da cabine de gravação, pediu que os rapazes repetissem que ele gravaria. Haviam encontrado a música do lado A do disco, para o lado B, brincaram de transformar o country Blue Moon of Kentucky, de Bill Monroe, em um blues.

Assim, aquela divertida e alegre sessão de gravação, mudaria a vida de todos naquela sala, principalmente, de Elvis Presley e Sam Phillips, revolucionaria as bases da música americana... E o mundo veria surgir no cenário musical uma voz inesquecível.

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