Segunda-feira,
28 de julho
Na
última terça-feira (22), Dunga foi anunciado, oficialmente, como novo treinador
da seleção brasileira. O novo técnico foi o escolhido para substituir Luiz
Felipe Scolari, após o fracasso na Copa do Mundo, realizada no Brasil. È a
segunda vez que o técnico assume o comando da seleção. Em sua primeira passagem
pelo cargo, entre 2006 e 2010, Dunga foi demitido pela CBF, após a eliminação
da seleção brasileira no jogo contra a Holanda, pelas quartas de final, na Copa
de 2010, na África do Sul. Se analisarmos os dados estatísticos, a passagem de
Dunga pela seleção, não foi de todo ruim. Foram 60 jogos, com 42 vitórias, 12
empates e seis derrotas. Não sucesso, entretanto, ao comandar a seleção
olímpica, em Pequim, no ano de 2008. Vale destacar também, que enquanto esteve
à frente da seleção, o relacionamento dele com a imprensa foi bastante tenso. Após
quatro anos, quem sabe, ele não terá ficado mais humilde? Vamos esperar para
ver. O primeiro compromisso do novo técnico da seleção brasileira, já tem data
marcada e acontecerá nos Estados Unidos, em jogos amistosos, quando o Brasil
enfrentará Colômbia e Equador, respectivamente nos dias, 05 e 09 de setembro.
Neste
domingo (27), Dunga concedeu uma entrevista ao Fantástico, na pessoa de seus
apresentadores, Tadeu Schmidt e Renata Vasconcellos. Abaixo, compartilho esse
texto com vocês.
***
'Não
pode se emocionar muito', diz Dunga em entrevista para o Fantástico
Novo
técnico acredita que seleção brasileira deveria ter mais privacidade. Dunga
fala também sobre o seu relacionamento com a imprensa.
O
retorno do Dunga ao comando da Seleção, oficializado esta semana, pegou muita
gente de surpresa. Quem poderia imaginar
que ele, tão criticado na Copa da África, receberia outra chance?
Dunga
disse ao Fantástico que, na nova administração, vai exigir dos jogadores mais
foco e autocontrole. Um longo trabalho que começa agora para reconquistar a
confiança do torcedor.
Fantástico: Dunga, você
está tendo uma oportunidade que pouquíssimos profissionais têm, voltar à
seleção brasileira. O que nesse momento não sai da tua cabeça, que você quer
muito conseguir realizar?
Dunga: Eu quero começar logo os jogos,
assim acaba a polêmica.
Falta
pouco mais de um mês pro Dunga ficar na beira do campo, comandando a seleção
brasileira. Como ele fez de 2006 até o mundial de 2010. Depois disso, treinou o
Internacional por um ano e foi campeão gaúcho de 2013.
Fantástico: Como você se
preparou nesses quatro anos em que você ficou fora da seleção?
Dunga: Eu lia muito, via muitos jogos,
via treinamentos, acompanhava. Trocava muitas informações, principalmente com o
pessoal da Europa.
Como
vai ser a nova seleção do Dunga? O que ele não gostou de ver na última Copa dá
pistas.
Fantástico: Você disse
agora que não era para falar de terra arrasada, que não é assim.
"A
partir dessa Copa do Mundo, a gente não pode colocar como terra arrasada, teve
muitas coisas boas, teve outras que a gente tem que modificar", disse
Dunga na apresentação terça-feira.
Fantástico: Dá um exemplo
pra gente de uma coisa que você vai mudar.
Dunga:
O foco maior tem que ser a seleção brasileira. Quando você for dar entrevista,
você tem que dar entrevista com o chapeuzinho da seleção brasileira. Ou não dá.
É notório que quando as outras equipes vão lá, os caras vão com a cara limpa.
Então o Brasil tem que ir com essa cara limpa. O Brasil tem que ter o marketing
pelo futebol, pela qualidade.
Fantástico: Como assim?
Dunga: As pessoas têm que falar muito
mais do que eu faço no campo do que eu faço extracampo.
Fantástico: Então você
diria, durante a Copa, se você tivesse lá: “Ô, Daniel Alves, ô, Neymar, não
pinta o cabelo agora não”.
Dunga: Sem dúvida, acho que tem que
ser concreto. Ou antes ou depois. Eu tenho que pensar na Copa do Mundo. Os
problemas que eu tenho de contrato, de marketing, de família eu resolvo antes
de chegar na seleção ou depois. Trinta dias não vai mudar.
Fantástico: O que você não
repetiria, por exemplo, que foi feito na Copa do Brasil?
Dunga: Isso é uma polêmica, né? Eu
acho que num certo momento, a seleção brasileira tem que ter uma privacidade.
Fantástico: Mas o que
dizer dos holandeses, dos alemães que tiveram toda aquela liberdade, pareciam
estar bem à vontade, inclusive nos momentos de lazer e de treino?
Dunga: Perfeito. Só que eles tinham
essa privacidade quando eles saíam fora do muro deles. Aí eles tinham essa
exposição da mídia. O treinamento deles teve pouco.
O
treinador quer orientar os jogadores com relação a alguns comportamentos. Como,
por exemplo, a emoção na hora do hino à capela.
Dunga: Se criou isso do hino nacional
desde a Copa das Confederações, que acabava o hino e o torcedor continuava
cantando. Isso mais ou menos introduziu dentro da seleção brasileira. Que é
legal, mas quem tá ali dentro não pode se emocionar muito. Tu tem que criar uma
barreira. Essa exposição acho que deve ter atrapalhado um pouquinho.
Fantástico: Faltou
equilíbrio emocional em alguns momentos dessa Copa?
Dunga: É difícil de dizer porque tu
não tá lá diariamente. Talvez tenha se sentido um pouco essa ansiedade que
criou a expectativa de que o Brasil tinha que ganhar de qualquer forma. E não é
assim.
Fantástico: A comissão
técnica anterior vendia o favoritismo da seleção. O Felipão e o Parreira
falavam do favoritismo da seleção. Você não faria o mesmo?
Dunga: Você tem que jogar com as
palavras. Vamos jogar pra ganhar. É diferente de você: vamos ganhar. Quando
você fala afirmativo não tem outra forma.
Fantástico: Você faria
diferente, então?
Dunga: Cada um é cada um. Eu ia falar
que o Brasil ia jogar pra ganhar, que a gente joga em casa, é favorito, como
sempre o Brasil é.
Fantástico: Dunga, que
nota você daria ao técnico Luiz Felipe Scolari?
Dunga: O cara foi campeão do mundo
cara, campeão do mundo não se discute. Você paga pelas suas decisões, bem ou
mal. E ele teve a hombridade de chegar e é isso, eu que estou aqui pra tomar as
decisões e tomei.
Se
a seleção começou a Copa com algum favoritismo, foi embora humilhada. Dunga
estava no Mineirão quando o Brasil foi derrotado por 7 a 1 pela Alemanha.
Dunga: Eu senti o que o torcedor, o
que todo mundo sentiu. Ninguém estava acreditando. Era um apagão. Ninguém
acreditava.
Fantástico: Um técnico
consegue, na hora de um jogo como esse, prever isso que vai acontecer? Perdemos
o controle?
Dunga: Ninguém espera, acho que
ninguém tá preparado pra isso. Até porque você sabe os jogadores que tem em
mãos, que você trabalhou, jamais você iria imaginar esse tipo de coisa. Eu acho
que até o treinador tá perplexo. Impossível.
Mas,
para o novo técnico, faltou uma chacoalhada naquele momento.
Dunga: Se não tiver um pra dá-lhe um
berro. E uma coisa assim que tem que ter em qualquer grupo, qualquer grupo, não
tem jeito, eu não tenho que ficar melindrado de chamar atenção de mandar para
aquele país. Não, não tem esse negócio, porque se eu não te mandar outro vai
perder e eu também vou perder, então não! Acho que isso tá faltando um pouco no
futebol em geral do Brasil moderno, quando tem essa exposição na mídia, essa
grande exposição, então todo mundo tá muito com dedinho para chamar atenção do
outro.
Fantástico: Você diria que
o futebol brasileiro está no pior momento da sua história?
Dunga: Não, não seria tão crítico
assim. Porque nós temos jogadores na Europa, temos qualidade. Nós temos que
apagar esse resultado com a Alemanha, que foi uma coisa atípica. Que não vai
acontecer.
Para
Dunga, o desempenho no mundial não significa que o futebol brasileiro esteja
ultrapassado.
Dunga: Não é que o Brasil esteja
defasado. O problema do Brasil é que os jogadores com 14, 16 anos, 17 anos
começam a sua formação e já vão pra Europa. Se nós pegarmos esses jogadores que
foram pra Europa nenhum deles é titular absoluto na sua equipe. Então o Brasil
começa a perder nesse aspecto.
Fantástico: Dunga, no
caminho pra cá, todo mundo parou para conversar comigo e com a Renata. E muita
gente quis perguntar. Topa responder o pessoal?
Dunga: Topo.
Menino: Eu queria saber qual vai ser a
formação e se ele vai convocar o Fred.
Dunga: A formação ainda ela vai
acontecer com o passar dos amistosos, dos jogos, a gente tentar achar uma
formação.
Fantástico: Tática ideal.
Dunga: Os jogadores ideal. Quanto ao
Fred, é um grande atacante, não teve o resultado esperado por todos na Copa do
Mundo. Na outra Copa vai estar com 34 anos, 35, vai ser difícil, né? Então vai
depender muito do momento dele lá na frente.
A
primeira convocação de Dunga será para o amistoso contra a Colômbia, em 5 de
setembro.
Fantástico: Adianta um que
vai ser uma surpresa pra seleção! Tem um mês já da convocação. Um mês.
Fantástico: A lista da
primeira convocação você já tem ela pronta?
Dunga: Não. Tenho três jogadores em
cada posição.
Fantástico: Então diz um
pra gente. Dois, vai! Além do Neymar.
Dunga: Não, vocês vão pesquisar. São
jogadores jovens que tão na Europa, que tão tendo bom rendimento. A gente tá
seguindo né juntamente com os jogadores brasileiros também.
Dunga: Tu não pode em nenhum momento
se comprometer e também sabe criar o friozinho na barriga. Ele tem que ficar
até o último dia, até o último segundo esperando o nome dele sair.
Uma
jovem torcedora tem outra pergunta pro Dunga.
Menina: Dunga, você vai chamar o David
Luiz?
Dunga: Vou escalar todos aqueles
jogadores que tiverem aptos. E tiverem realizando aquilo que nós desejarmos.
Ninguém tem lugar garantido na seleção. E volto a repetir: fantástico essa
integração de torcedor com jogador. Mas o torcedor tem que entender que o
jogador tem que jogar por eficiência, por capacidade. Não porque ele vende uma
imagem que é bonita, é legal.
Fantástico: Então, Emily,
tá garantido não.
Mas
o Dunga dá algumas dicas sobre futuros convocados. São jogadores que, segundo
ele, poderiam ter sido chamados para a Copa este ano.
Dunga:
O Cruzeiro foi campeão brasileiro tinha bons jogadores, o Atlético de Madrid
tinha bons jogadores que poderia tá também, mas será que ia mudar o resultado?
O
Felipe Luis que era do Atlético de Madrid e foi para o Chelsea e o Miranda, que
continua no Atlético, por pouco não jogaram a Copa. Estavam na lista de sete
jogadores que poderiam substituir um dos 23 convocados que se machucassem. O
Everton Ribeiro foi eleito o craque do brasileirão do ano passado. Estariam aí
algumas pistas?
Fantástico: O Neymar é o
pilar da seleção?
Dunga: É a referência mundial.
Fantástico: Então a
seleção continua tendo o Neymar, joga em função do Neymar?
Dunga: Eu diria diferente. Não jogar
em função do Nyemar. Mas o Neymar jogar em função da seleção. O Brasil vai
criar uma estrutura pra que ele possa ser o diferencial.
Fantástico: O Neymar
disse, numa entrevista pra gente, pro Fantástico, que muitas vezes os jogadores
aprendem errado nas categorias de base. Você concorda?
Dunga: Num certo ponto de vista, sim.
Nós temos que dar subsídios pro menino de 14 anos dele gostar de futebol, dele
gostar de estar dentro de campo. Nós temos que dar açúcar na boca dele,
chocolate na boca dele, gostar de futebol. Se eu começo com 14 anos só parte
tática, com 18 anos ele já tá saturado.
Já
no futebol profissional - e na seleção - a tática tem papel importante.
Dunga: O futebol não mudou. O que
decide o futebol é talento. O que decide é qualidade técnica.
Em
2010, a seleção que dirigia foi eliminada pela Holanda. Dunga tem lembranças
amargas desse jogo.
Dunga: Eu não gosto de colocar a culpa
em ninguém tá, mas o juiz japonês deu o primeiro cartão amarelo pro Michel
Bastos. Ele anulou um gol do Robinho. Pênalti no Cacá. Então, pô... E o pior
disso: encontrei ele no aeroporto no Rio, tive que cumprimentar ele.
Fantástico: E ele falou
alguma coisa?
Dunga: Não, só veio falar comigo
perguntou se eu lembrava dele e eu falei que não.
Fora
de campo, Dunga diz que nos últimos anos trabalhou para melhorar a relação com
a imprensa, coisa que não aconteceu na primeira passagem dele pela seleção.
Fantástico: O que você
fez, especificamente?
Dunga: Você conversar com as pessoas
que estão ao teu redor, pessoas que já foram do futebol e outras não, e eles te
dar alguns toques importantes. Principalmente quando o cara fizer uma pergunta
que é maldosa e eu ter a paciência de pensar e responder. E não ser gaúcho na
ponta da faca e responder na hora. E que algumas respostas você não precisa nem
dar, porque não vai mudar a opinião da pessoa.
Esta
semana foi noticiado que Dunga teria sido agente do jogador Ederson, em 2004,
antes de virar treinador.
Fantástico: Você nega que
tenha exercido o papel de agente de jogador?
Dunga: Em 2004 eu parei de jogar
futebol. Me foi procurado por uma pessoa do Rio Grande do Sul pra mim
apresentar um investidor da Europa, eu vim apresentei o investidor da Europa.
Por
essa apresentação, Dunga recebeu mais de R$ 400 mil.
Fantástico: Isso não é um
agenciamento?
Dunga:
Não, porque eu fiz uma apresentação. Isso aí fora da negociação, aí o clube
negociou diretamente com o empresário.
Mais
uma pergunta da torcida: Gostaria de perguntar se ele vai continuar com a mesma
estilista da outra vez, pois o destaque dele é nas roupas que ele aparecia no
campo.
Dunga: A minha filha, nunca. Ela é
estilista feminina. Não é masculina. O que eu coloquei alguma vez é que ela me
dava algumas sugestões que comprava, mas não era ela que me vestia. Por mais
que você fale pro pessoal, não é minha filha, ela é estilista feminina,
continuam dizendo.
Fantástico: Isso nunca
existiu?
Dunga:
Nunca existiu.
Fantástico: Mas a gente
viu a mudança. Qual vai ser o Dunga nessa nova passagem pela seleção. O Dunga
fashion ou o Dunga mais... Nessa última apresentação estava mais tradicional.
Dunga: Vai depender do momento.
Fantástico:
Dunga, você teme a desconfiança da torcida brasileira?
Dunga: Eu não temo, ela tem. Ela não
existe comigo, ela existe com todos os treinadores. Mais ou menos ela existe. O
que pode mudar é o resultado dentro de campo.
A
primeira pessoa que veio falar com a gente no aeroporto do Rio mandou uma
mensagem não muito legal pro Dunga.
Fantástico: A gente vai
falar com o Dunga. Quer perguntar alguma coisa pra ele?
Senhora: Não. Não queria
que ele fosse escolhido, não.
Fantástico: O que você
diria pra ela?
Dunga: Que eu vou mudar a opinião
dela! Que a gente possa se encontrar, que tu possa encontrar ela e ó, eu estava
errado.
Fantástico: Depois de tudo
isso que a gente conversou o Dunga deixou de ser o Zangado?
Dunga: Não, porque eu sempre fui o
zangado. Trocaram o meu nome, não era Dunga era Zangado.
Fantástico: Erraram o seu
apelido?
Dunga: Erraram o meu apelido.
Fantástico: O Dunga não
vai passar a ser o Feliz?
Dunga: Sendo Dunga já tá bom né. Feliz
tu já quer o extremo. Saiu do Zangado pro Feliz. Vai ficar no meio: Dunga.