Sexta-feira,
24 de abril
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A
seguir, este blog apresenta a íntegra do pronunciamento do agora ex-ministro da
Justiça e da Segurança Pública, Sergio Moro, feito na manhã deste dia 24 de abril.
O texto foi extraído do site Globo.com.
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Íntegra
do Pronunciamento Sérgio Moro ao sair do governo
Bom
dia a todos. Quero cumprimentar não só os jornalistas, o pessoal da imprensa,
mas especialmente o pessoal do Ministério da Justiça e Segurança Pública aqui
presente, muitos também gostariam de estar aqui presentes, mas nós buscamos ao
máximo evitar aglomerações, não conseguimos totalmente, mas, enfim.
Primeiro
queria lamentar a realização dessa, eu pediria silêncio para falar sem
intervenção. Eu queria lamentar esse evento na data de hoje. Nós estamos
passando por uma pandemia, covid 19. Ontem, uma informação lamentável de 407
óbitos, 3.313 óbitos no total. Então, durante essa pandemia, infelizmente tendo
que realizar esse evento, busquei ao máximo evitar que isso acontecesse, mas
foi inevitável, então peço a compreensão de todos pela circunstância adversa,
mas não foi por minha opção.
Antes
de entrar no assunto específico, eu queria fazer só algumas reflexões gerais
para poder justificar minhas decisões. Antes de assumir o cargo de ministro da
Justiça e Segurança Pública eu fui juiz federal por 22 anos, tive diversos
casos criminais relevantes.
Desde
2014, em particular, nós tivemos a operação Lava Jato, que mudou o patamar de
combate a corrupção no país. Claro que existe muito ainda a ser feito, mas
aquela grande corrupção, que em geral era impune, esse cenário foi modificado.
Isso foi um trabalho no Judiciário, no Ministério Público, de outros órgãos e
na parte da investigação principalmente da Polícia Federal. Naquela, durante
esses anos, desde 2014 na Lava Jato, a gente sempre tinha uma preocupação
constante de uma interferência do Executivo nos trabalhos da investigação e
isso poderia ser feito de diversas formas.
Troca
do diretor-geral, assim que houvesse causa, troca do superintendente. Tivemos
no início da Lava Jato o superintendente Rosalvo Ferreira. Convidei aqui pro
ministério, fazendo um grande trabalho. Depois foi sucedido pelo
superintendente Valeixo, também nomeado diretor-geral da Polícia Federal,
fazendo também um grande trabalho. Houve essa substituição, mas essa
substituição na época foi pela aposentadoria do doutor Rosalvo e, enfim, foi
garantida a autonomia da Polícia Federal durante esses trabalhos lá de
investigação.
É
certo que o governo da época tinha inúmeros defeitos, aqueles crimes
gigantescos de corrupção que aconteceram naquela época, mas foi fundamental a
manutenção da autonomia da PF para que fosse possível realizar esses trabalhos,
seja de bom grado ou seja pela pressão da sociedade, essa autonomia foi mantida
e isso permitiu que os resultados fossem alcançados.
Isso
é até um ilustrativo da importância de garantir o Estado de Direito, o run of
law, a autonomia das instituições de controle e de investigação. Lembrando aqui
até um episódio que um domingo qualquer durante aquelas investigações lembro
que foi o superintendente Maurício Valeixo que recebeu uma ordem de soltura
ilegal do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, então condenado por corrupção,
preso. Essa ordem, emitida por um juiz incompetente. Depois isso foi
reconhecido nas demais instâncias, foi graças à autonomia dele, e o sentimento
da necessidade de cumprimento de dever que ele comunicou às autoridades
judiciárias e foi possível rever essa ordem de prisão ilegal, antes que ela
fosse executada, demonstrando empenho dessas autoridades e a importância da
autonomia das organizações de controle.
Final
de 2018, essa é história um pouco repetida, eu recebi o convite do então eleito
presidente da República Jair Bolsonaro, e já falei diversas vezes, é fácil
repetir essa história, porque é verdadeira.
E
fui convidado a ser ministro da Justiça e da Segurança Pública. O que foi
conversado com o presidente, foi no dia 1º de novembro, foi que nós teríamos o
compromisso com o combate à corrupção e o crime organizado e à criminalidade
violenta. Inclusive, me foi prometido na ocasião carta branca pra nomear todos
os assessores, inclusive desses órgãos policiais, como Polícia Rodoviária
Federal e a própria Polícia Federal.
Na
ocasião, até aproveitando aqui um breve parêntese, pra desmistificar um dado,
foi divulgado equivocadamente por algumas pessoas que eu teria estabelecido
como condição pra assumir o Ministério da Justiça, uma nomeação ao STF.
Nunca
houve essa condição, até porque seria algo de aceitar um cargo de ministro da
Justiça pensando em outro, isso não é da minha natureza. Eu realmente assumi
esse cargo, fui criticado e entendo essas críticas. Mas a ideia era realmente
buscar um nível de formulador de políticas públicas aqui numa alta posição do
Executivo. De aprofundar o combate, levar esse maior em relação ao crime
organizado.
Tem
uma única condição que eu coloquei isso, eu acho não faz mais sentido manter em
segredo e pode confirmado tanto pelo presidente quanto pelo General Heleno.
Contribuí 22 anos para a previdência, entendia saindo da magistratura essa previdência,
pedi apenas, já que nós íamos ser firmes contra a criminalidade, especialmente
o crime o crime organizado, que é muito poderoso, se algo acontecesse, pedi que
a minha família não ficasse desamparada, sem uma pensão. Foi a única condição
que eu coloquei para assumir essa posição específica do Ministério da Justiça.
Permito-me
aqui dizer que o presidente concordou com todas, com esse compromisso, combate
à corrupção, combate à criminalidade violenta, combate à criminalidade
organizada, falou até publicamente que me daria carta branca. Eu já tinha uma
expertise por trabalhar com polícia, como juiz, evidentemente no combate à
criminalidade organizada, e aceitei porque entendo que realmente fazer com que
as coisas evoluíssem, e minha aceitação na época era que essa aceitação, que
essa aceitação ao convite foi muito bem acolhida pela sociedade.
E
também me vi como, estando no governo, como também garantidor, claro que
existem outras instituições importantes, Senado, Supremo Tribunal Federal,
Ministério Público, mas entendia, pelo meu passado de juiz e pelo compromisso
com Estado de Direito, eu também poderia ser um garantidor da lei e da
imparcialidade e da autonomia dessas instituições.
Dentro
do ministério, me permitam fazer... A palavra mote tem sido
"integração". Nós atuamos muito próximo das forças de segurança
estaduais, até mesmo municipais. Nós realmente trabalhamos duro contra a
criminalidade organizada, ouso aqui dizer, claro que tudo isso é sujeito a críticas
e segundas opiniões, mas que não ouve um combate tão efetivo contra a
criminalidade organizada como houve nessa gestão do Ministério da Justiça e
Segurança Pública. Trabalhamos não contra, mas com os governos estaduais.
Tivemos o caso, por exemplo, da transferência e isolamento das lideranças do
PCC, tivemos recentemente a prisão do da maior autoridade do PCC em liberdade,
20 anos foragido no exterior, graças a um trabalho de investigação eficiente da
Policial Federal.
Tivemos
recordes de apreensão de drogas, é importante tirar drogas das ruas. Tivemos
recordes de destruição de maconha no Paraguai, que é nosso principal
fornecedor. Números expressivos de apreensão de produto do crime, seja de
droga, seja de corrupção, principalmente pela Polícia Federal. Buscamos
fortalecer a Polícia Federal e a Polícia Rodoviária Federal nesse período, com
ampliação de concursos existentes.
Levamos
a Força Nacional a todo o território nacional. É uma instituição que, a meu
ver, deveria ser fortalecida. Nós estamos, lá no Congresso Nacional, com uma
emenda à Constituição para que possamos ter, com o tempo corpo próprio, sem
prejuízo dos mobilizados, sem prejuízo dos requisitados dos estados.
Ela
tem sido muito demandada e, às vezes, nós sentimos que não temos perna suficiente.
E ela atendeu diversas emergências de segurança pública nesse período. No
Ceará, mais de uma vez, espalhada em terras indígenas.
Criamos
o Seop, Secretaria de Operações Integradas. Seop desenvolveu um programa
chamado Olhos e Vigia. Talvez um dos primeiros programas efetivos de controle
de fronteiras, e trabalha com forças de segurança estaduais. Investimos em
inteligência com centro de fusão. Várias outras áreas do Ministério da Justiça
tiveram, a meu ver, um bom ganho de efetividade: área do consumidor, área de integração,
área do Senajus
No
momento, o Ministério da Justiça está voltado principalmente para o combate da
pandemia. Isso prejudicou um pouco os planos em curso, embora continuassem, mas
estamos cuidando principalmente de epidemia, de vacinação, de coordenação das
forças de segurança, com o plano nacional de segurança.
Enquanto
o Coaf esteve no Ministério da Justiça, eu não pedi que o Coaf viesse, mas foi
proposto que ele fosse colocado na estrutura do Ministério da Justiça. Nós o
fortalecemos, depois ele acabou sendo transferido para outros órgãos, onde tem
presente que a estrutura fortalecida se manteve, acho que isso é muito
positivo, também é um órgão de inteligência importantíssimo, que nós devemos
inclusive aumentar sua estrutura e melhorar o seu funcionamento.
Tivemos
o projeto de lei anticrime, que foi a principal mudança legislativa durante o
nosso período de gestão, várias alterações, facilitações, o Depen fez também um
trabalho fantástico, o Ministério Público, a Senad, desculpe aqui, um pouco
cansativo, todas essas reflexões.
O
projeto de lei anticrime poderia ter avanços maiores, infelizmente não foi
aprovado em sua totalidade, mas ainda assim na minha avaliação ele representou
um grande avanço. Eu lembro aqui, num dos primeiros projetos que nós fizemos,
no Ministério da Justiça, logo no início, foi uma campanha motivacional pros
servidores e o tema era "faça a coisa certa sempre".
Então,
esse sempre foi o mote, sempre foi a palavra, frase de ordem do Ministério da
Justiça e Segurança Pública, faça a coisa certa, não importa as circunstâncias,
arque com as consequências, isso faz parte. Com tudo isso, nós conseguimos
resultados expressivos, alguns deles eu já mencionei, como as questões de
combate ao crime organizado.
Mas
nós tivemos aqui, permito-me dizer, uma redução expressiva da criminalidade em
2019. Tudo bem, já tinha uma queda em 2018, mas em 2019 nós tivemos uma queda
em percentuais sem precedentes históricos, menos 19% de assassinatos, outros
crimes caíram percentualmente até mais, de maneira até mais significativa.
Mais
de 10 mil brasileiros deixaram de ser assassinados. Claro, é um resultado
compartilhado com os estados, com os municípios, onde tem combate à violência,
ninguém tem dúvida disso, ninguém quer invocar esse mérito específico de
maneira exclusiva, até por que a proposta do Ministério da Justiça sempre foi
integração. O que importa é o resultado, não quem leva a medalha no final. Mas
é muito significativo, isso me deixa muito feliz, que nesse primeiro ano nós
tivemos resultados assim tão positivos para queda de violência, que é uma
grande aspiração da população brasileira.
Mas,
enfim, esse é um trabalho que é permanente e duradouro. Bem, em todo esse
período tive apoio do presidente Jair Bolsonaro em vários desses projetos,
outros nem tanto, mas a partir do segundo semestre do ano passado passou a
haver uma insistência do presidente na troca do comando da Polícia Federal.
Isso inclusive foi declarado publicamente pelo próprio presidente.
Houve
primeiro um desejo de trocar o desejo de trocar um superintendente da Polícia
Federal do Rio de Janeiro. Sinceramente não havia nenhum motivo pra essa
substituição, mas, conversando com o superintendente em questão, ele queria
sair do cargo por questões exclusivamente pessoais.
Então,
nesse cenário, acabamos concordando, eu e o diretor-geral, em promover essa
troca com uma substituição técnica, com uma substituição de um indicado pela
polícia. Agora tem que fazer uma referência bastante rápida. Eu não indico
superintendente da Polícia Federal. Única pessoa que indiquei na Polícia
Federal foi o diretor o Maurício Valeixo.
Não
é meu papel fazer indicações de superintendentes e assim tem sido no ministério
como um todo. Eu sempre tenho solicitado, dado autonomia ao pessoal que
trabalha comigo. A palavra certa não é subordinado, é equipe, pra que eles
façam as melhores escolhas. Assim se valorizam os subordinados, desculpa,
equipe, e as escolhas técnicas, eu tinha notícia quando eu assumi aqui o
Ministério da Justiça de que havia rumores de que a Polícia Rodoviária Federal
tinha algumas superintendências com indicações políticas. Eu escolhi o
diretor-geral Adriano Furtado, aqui presente, ele pode testemunhar o que eu
disse pra ele na ocasião que eu falei 'escolha tecnicamente'.
O
que não é aceitável de maneira nenhuma são essas indicações políticas. Claro
que às vezes existem indicações positivas, mas quando se começa a preencher
esses cargos técnicos, principalmente de polícia, por questões políticas
partidárias, provavelmente o resultado não é bom para a corporação inclusive. O
presidente no entanto passou a insistir também na troca do diretor-geral. O que
que eu sempre disse ao presidente? 'Presidente, eu não tenho nenhum problema em
trocar o diretor-geral da Polícia Federal, mas eu preciso de uma causa. E uma
causa normalmente relacionada a uma insuficiência de desempenho, um erro grave.
E, no entanto, o que eu vi durante todo esse período, até pelo histórico do
próprio diretor -geral, que é um trabalho bem feito.
Várias
dessas operações importantes de combate ao crime organizado. Operações também
de combate à corrupção que foram relevantes. Poderiam até ter mais operações.
Mas, normalmente essas operações elas maturam durante algum tempo e ano passado
em particular nós ficamos aí quatro meses sem poder movimentar inquéritos
envolvendo lavagem de dinheiro, por uma decisão judicial. Isso também
prejudicou um pouco os trabalhos.
Mas
o trabalho vinha sendo feito e até a queda dessas estatísticas criminais era um
indicador relevante de que o trabalho estava sendo positivo. E há uma questão
do nome; tem outros bons nomes pra assumir o cargo de diretor da polícia
federal. Há outros delegados igualmente competentes. O grande problema de
realizar essa troca, primeiro: havia uma violação a uma promessa que me foi
feita inicialmente, que eu teria carta branca. Em segundo lugar não havia um
causa para essa substituição, e estaria claro que estaria ali havendo uma
interferência política na polícia federal que gera um abalo na credibilidade,
não minha, minha também, mas também do governo, desse compromisso maior que
temos que ter com a lei. ... E entra em impacto também, na minha opinião, na
própria efetividade da polícia federal. E ia gerar uma desorganização. Não
aconteceu durante a lava-jato, a despeito de todos os problemas de corrupção
dos governos anteriores. Houve até um episódio em que foi nomeado um diretor no
passado, com intuito de interferência política e não deu certo, ficou pouco
mais de 3 meses.
A
própria instituição rejeitou a essa possibilidade, e o problema é que nas
conversas com o presidente e isso ele me disse expressamente que não é só troca
do diretor geral, haveria também intenção de trocar superintendentes, novamente
o superintendente do RJ, outros superintendentes provavelmente viriam em
seguida o Superintendente da polícia federal de pernambuco sem que fosse me
apresentado uma razão uma causa para realizar esses tipos de substituições que
fossem aceitáveis. Muito tempo pelo presidente busquei postergar essa decisão
às vezes até sinalizando que poderia concordar no futuro com essa possibilidade
e até num primeiro momento pensando não de repente pode ser feito pode ser
alterado mas cada vez mais me veio a sinalização de que seria um grande
equívoco realizar essa substituição.
Ontem,
conversei com o presidente, houve essa insistência do presidente. Falei ao
presidente que seria uma intervenção política, e ele disse que seria mesmo.
Falei que isso teria um impacto para todos, que seria negativo, mas para evitar
uma crise durante uma pandemia, não tenho ai vocação para ??, muito pelo
contrário, acho que o momento não é apropriado pra isso, eu sinalizei, vamos
substituir o Valeixo por alguém que daria continuidade, alguém com perfil
absolutamente técnico e que fosse uma sugestão minha também. Na verdade, nem
minha, uma sugestão da própria polícia federal.
Eu
sinalizei com o nome do atual diretor -executivo da polícia federal, Disney
Rosseti, eu nem tenho uma grande familiaridade com Rosseti, mas é uma pessoa de
carreira, de confiança e como eu disse, essas questões não pessoas, são
preferências pessoais. São questões que tem que ser decididas tecnicamente. Fiz
essa sinalização, mas não obtive resposta. Presidente tem a preferência por
alguns nomes que seriam da indicação deles, não sei qual que vai ser exatamente
a escolha, foi ventilado nome do, de um delegado que passou mais tempo no
congresso do que na ativa na Polícia Federal. Foi indicado, sugerido o nome do
atual diretor da Abin, tem até um bom nome dentro da Polícia Federal.
Mas
o grande problema é que não é tanto essa questão de quem colocar. Mas por que trocar?
E permitir que seja feita a interferência política no âmbito da polícia
federal. O presidente me disse mais de uma vez que queria ter uma pessoa da
confiança pessoal dele, que ele pudesse ligar, que ele pudesse colher
informações, relatórios de inteligência. Seja diretor, seja superintendente. E
não é o papel da polícia federal prestar esse tipo de informação.
As
investigações têm que ser preservadas. Imaginem se, durante a Lava Jato, o
ex-presidente Lula, a ex-presidente Dilma ficassem ligando para a Polícia
Federal em Curitiba para colher informações. A autonomia da Polícia Federal,
com respeito à autonomia da aplicação da lei, seja a quem for, é um valor
fundamental que temos que preservar dentro de um Estado de Direito. O
presidente me disse isso expressamente, e eu não entendi apropriado.
Então,
o problema não é quem entra, mas por que alguém entra? E se esse alguém, sendo
da corporação, aceitando substituição do atual diretor-geral, que impacto que
isso vai ter na corporação, a uma proposta dessa espécie, eu fico na dúvida se
vai conseguir dizer não a outros temas.
Há
uma possibilidade que se afirmar que o Mauricio Valeixo gostaria de sair. Mas
isso não é totalmente verdadeiro. O ápice da carreira de qualquer policial
federal, de todo delegado federal é a direção-geral da Polícia Federal, e ele entrou
com uma missão. Claro que depois de tantas pressões para que ele saísse de
fato, ele até manifestou a mim: 'Talvez seja melhor eu sair pra diminuir essa
cisma e nós conseguirmos realizar uma substituição adequada'. Ele sairia para
alguma adidância, mas
nunca isso voluntariamente, mas decorrente dessa pressão que, a meu ver não
seria apropriada. E o grande problema, uma substituição que seja orientada por
causas que possam ser sustentadas, não haveria nenhum problema específico.
Presidente
também me informou que tinha preocupação com inquéritos em curso no Supremo
Tribunal Federal, em que a troca também seria oportuna, da Polícia Federal, por
esse motivo. Também não é uma razão que justifique a substituição, até algo que
gera uma grande preocupação.
Enfim,
eu sinto que tenho o dever de tentar proteger a instituição, a Polícia Federal,
e por todos esses motivos, ainda busquei uma solução alternativa, para tentar
evitar uma crise política durante uma pandemia, acho que o foco deveria ser o
combate a pandemia, mas entendi que eu não podia ai deixar de lado esse meu
compromisso com o Estado de Direito.
A
exoneração que foi publicada, eu fiquei sabendo pelo "Diário
Oficial", pela madrugada. Eu não assinei esse decreto. Em nenhum momento
isso foi trazido, em nenhum momento o diretor-geral da Polícia Federal
apresentou um pedido formal de exoneração.
Depois
ele me comunicou que ontem à noite recebeu uma ligação dizendo que ia sair a
exoneração a pedido e se ele concordava. Ele disse, como é que eu vou concordar
com algo, uma coisa, eu vou fazer o quê, se ele já está sujeito a exoneração a
pedido, a exoneração ex-ofício. Mas o fato é que não existe nenhum pedido que
foi feito de maneira formal. Sinceramente fui surpreendido, achei que isso foi
ofensivo, vi que depois a Secom confirmou que houve essa exoneração a pedido,
mas isso de fato não é verdadeiro. Pra mim, esse último ato também é uma
sinalização de que o presidente me quer fora do cargo, não me quer presente
aqui no cargo.
Essa
precipitação de realização da exoneração, não vejo muita justificativa. Eu
tenho até outras divergências, tive outras divergências com o presidente da
República durante essa permanência aqui. Tive muitas convergências, recebi
apoio do presidente em diversas ocasiões importantes, assim como dei apoio ao
presidente em público em várias circunstâncias, tive pontuais divergências mas
eu acho que como ministro estou numa relação que eu tenho que preservar também
a questão da hierarquia.
Mas
não vou aqui falar dessas outras divergências, isso fica pra uma outra ocasião.
De todo modo, o meu entendimento foi que eu não tinha como aceitar essa
substituição. Há uma questão envolvida também da minha biografia como juiz, a
lei, o Estado de Direto, a impessoalidade no trato das coisas com o governo
E
eu vivenciei isso na Lava Jato. Seria um tiro na Lava Jato se houvesse
substituição de delegado, de superintendente naquela ocasião, então eu não me
senti confortável, tenho que preservar a minha biografia, mas acima de tudo eu
tenho que preservar o compromisso que foi o compromisso que eu assumi
inicialmente com o próprio presidente que nós seríamos firmes no combate à
corrupção, crime organizado e criminalidade violenta.
E
um pressuposto necessário para isso é que nós temos que garantir a lei o
respeito à lei própria autonomia da polícia federal contra interferências
políticas. certo o presidente indica ele tem essa competência ele indica o
diretor geral mas ele assumiu um compromisso comigo inicial de que seria uma
escolha técnica que eu faria essa escolha e o trabalho vem sendo realizado
poderia ser alterado o diretor geral desde que tivesse uma causa consistente
não tem uma causa consistente e percebendo que essa interferência política pode
levar a relações impróprias entre o diretor geral entre os superintendentes com
o presidente da república não posso concordar. Eu um pouco sobre o futuro de
todo modo eu agradeço.
Agradeço
ao presidente da República, a nomeação que foi feita. Atrás, acho que nós
tínhamos um compromisso e eu fui fiel a esse compromisso. Acho que estou sendo
fiel a esse compromisso num momento em que eu me encontro aqui dentro do
Ministério da Justiça.
No
futuro, eu vou começar a empacotar minhas coisas e vou providenciar que o meu
encaminhamento, a minha carta de demissão. Eu infelizmente não tenho como
persistir com o compromisso que eu assumi ser ter condições de preservar a
autonomia da Polícia Federal para realizar seus trabalhos. Ou sendo forçado a
sinalizar um concordância com uma interferência política na Polícia Federal,
cujos resultados são imprevisíveis.
Espero
que independente da minha saída, seja feita a escolha de um ou até a própria
manutenção do diretor geral atual, já que o pedido de exoneração não existe.
Mas não havendo essa possibilidade que seja feita uma escolha técnica, sem
preferencias pessoais.
Que
também e a instituição, dá pra se confiar na PF, a PF tem um histórico. Ela vai
também resistir a qualquer espécie de interferência política.
Que
seja indicado alguém que possa realizar um trabalho autônomo, independente,
alguém que não concorde em trocar superintendentes ou delegados por motivos não
justificados. O meu futuro pessoal, após disso, eu abandonei esses 22 anos de
magistratura. Infelizmente é um caminho sem volta. Mas quando eu assumi, eu
sabia dos riscos, vou descansar um pouco. Nesses 22 anos foi muito trabalho.
Em
especial, durante todo esse período da Lava Jato, praticamente não tive
descanso e nem durante o exercício do cargo de ministro da justiça e segurança.
Vou
procurar mais adiante um emprego. Não enriqueci no serviço público. Nem como
magistrado nem como ministro. E quero dizer que independentemente de onde eu
esteja eu sempre vou estar à disposição do país pra ajudar o que quer que seja,
ajudar nesse período da pandemia com outras atitudes. Mas, enfim, sempre
respeitando o mandamento do ministério da justiça e segurança pública nessa
gestão que é fazer a coisa certa sempre. Muito obrigado.