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Efeito Manada

Posted by Cottidianos on 13:08
Domingo, 23 de setembro




Prezados leitores, prezadas leitoras, boa tarde!
Em breve, este blog volta com um texto de autoria própria. Hoje gostaria de apresentar a vocês uma reflexão sobre a cena política brasileira, na qual os brasileiros se aproximam da escolha do líder da nação que governará o país pelos próximos quatro anos, bem como os integrantes do congresso nacional que estarão, em harmonia, ou em desarmonia com ele, nessa travessia.
A reflexão foi feita por Vinício Martinez. Vinício é Pós-Doutor em Ciência Política. Professor Associado da Universidade Federal de São Carlos – UFSCar/CECH.
Seu artigo foi escrito e publicado na Jus, no dia 09 do corrente mês, e gentilmente cedido para publicação neste blog.
Façam uma reflexiva leitura. Tenham um bom domingo e uma boa semana.

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Efeito manada


 Vinício Martinez

Toda eleição – ou todo processo político, como queiram – é bastante irracional, apelando-se ao emocional, às vezes ao primitivismo: “aquele que veio refundar a Nação”, “doem sua alma e seu ouro pelo país”. Os gladiadores diziam já no interior da arena: “aqueles que vão morrer te saúdam”.
Porém, esta eleição de 2018 caminha para ser inigualável na história política mundial. Lembrando-se que o fervor comocional de Hitler não veio em sua eleição, mas nos fatos seguintes que resultaram na Chancelaria.
Este ano, após o ataque com faca ao candidato do PSL, muitos esperavam um típico “efeito manada”: quando se segue, cegamente, para algum lado, para qualquer lado – como gnus fugindo de leões. Tanto pode ser o lado vencedor (como se viu no impeachment) quanto o perdedor: na torcida pelo mais fraco, pela visão da vítima.
A seguir pelas duas últimas pesquisas de intenção de voto, o efeito manada não se concretizou. No entanto, é preciso ter clareza de que o eleitor nacional (comocional) – abatido pelo analfabetismo funcional e político – declara, estufando o peito, que “não perde o voto”. O que isso quer dizer? Simplesmente que seu voto foi para o vencedor, não importando qual. Raramente, diga-se de passagem, vota-se a favor do Iluminismo.
A irracionalidade, como até o mais humilde dos eleitores sabe, tem seu complemento no irascível, ou seja, na ira primeva que deve comover e mover a política obscura. Daí que nossa ilustre eleição de 2018 também é um cobertor curto entre civilização e barbárie.
Esta ira nós vemos em gritos de guerra de candidatos, nas declarações públicas de que adversários (convertidos em inimigos) devem ser fuzilados, no apelo ao Deus que nos salvará de Satanás, nos posts e nos logos publicitários em que as mãos portam armas, em vídeos com balas de revólver que se transformam em flores. E por aí vai.
Some-se à pauta que prima em apregoar a violência – “violência se combate com violência” – a enorme crise existencial e material que nos acossa, e teremos um fermento de ódio depressivo e generalizado.  O incrível aumento na venda de remédios tarja preta contra ansiedade e depressão é, por si, revelador do que se afirmou aqui.
Ódio e depressão (e vice-versa), no caldo da eleição mais irracional possível, é o caminho do caos, da guerra total, da barbárie, da “guerra de todos contra todos” (no dizer de Hobbes) e de mais violência: contra quem pregou violência contra a violência, e sobre todos nós.
O cenário que se liga a isto é profundamente cultural. E começo dizendo assim: A MÃE QUER VER SEU FILHO VIVO! - O livro A Mãe, de Brecht, poderia ser útil nesta eleição. E isto implica em que a mãe prefere uma pauta política centrada na educação e na geração de emprego. Educação que retire seu filho das ruas e emprego que leve abstenção de álcool ou de drogas (i)lícitas ao pai.
Implícita a este arco da cultura, está a ideologia de que o povo brasileiro é pacífico. Esta falsa ideia é desbaratada pela leitura histórica ou pelo olhar – mesmo com viseira – nos referenciais do presente. Milhares de jovens são mortos todo mês, especialmente negros e pobres. Quantos estupros são praticados por hora no Brasil?
De qualquer modo, o povo quer acreditar na salvação de sua alma – em virtude da colonização católica – e começa sua trajetória pelo mantra de que é pacífico e cordial. Afinal, pessoas violentas não vão ao Paraíso: reino do “cordis”, do coração.
Enfim, a tônica da eleição, a fim de se evitar ou congelar o tal efeito manada – um dos mais incontroláveis vértices do fascismo – estaria em fazer um uso reverso (como engenharia política) desta ideologia pacifista.
As candidaturas que falarem calmamente, claramente, em tom absolutamente popular (dado o analfabetismo funcional), que suas propostas são positivas, teriam mais sucesso em reverter a tentativa de homicídio em seu favor.
A tríade seria: “Educação” (filhos vivos), “Trabalho” (pai abstêmio) e “Segurança”: expressão positiva, ao contrário de violência, que é negativa (negação da paz social).
Em eleição absurdamente irracional, recomenda-se usar a racionalidade. Neste caso, a Prudência (o valor) usaria da ideologia pacifista para um efeito positivo; contra o furor, a ira, a violência destrutiva, uma palavra de esperança. Esta é uma das lições de Maquiavel, o criador da Ciência Política: “o valor contra o furor”.
A política é violenta, por definição, porque se deve converter alguém contra sua vontade. No entanto, a saída não está em mais violência, mas, sim, na construção de instituições que canalizem a violência original: primitiva.
O Estado (violência institucionalizada) contra o “homem, lobo do homem” diria Hobbes: filósofo renascentista da política. - O direito serve para transformar as hordas em cidadãos. Pois é bem aqui que estamos, entre barbárie e civilização. No mais, é Ilha da Fantasia.


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Profissionais da Violência

Posted by Cottidianos on 01:36
Terça-feira, 11 de setembro
A gente não sabemos escolher presidente
A gente não sabemos tomar conta da gente
A gente não sabemos nem escovar os dente
Tem gringo pensando que nóis é indigente

(Inútil – Ultraje a Rigor)

A gente sabe escolher presidente? É só dar uma olhada rápida para as escolhas que fizemos após a abertura democrática, para ver que não. Como eleitores, fizemos uma escolha pior do que a outra. Tudo bem que numa democracia as pessoas têm todo o direito de errar, e, conseqüentemente, pagar pelos seus erros obviamente... Mas acho que não precisávamos errar tanto.

Mas, de certa forma, não são os eleitores que estão errados. É todo um sistema político que não funciona bem, sistema esse que está profundamente entranhado numa cultura de pequenas corrupções que, como uma bola de neve, formou e legitimou o grande mar de lama de corrupção que vemos em Brasília, e nas casas legislativas, bem como em diversas repartições públicas de todo o país.
É o tal do jeitinho brasileiro de querer levar vantagem em tudo, e quem quer levar vantagem em tudo, passando por cima dos direitos da maioria, acaba não lucrando coisa alguma, e ainda trazendo para a nação um retrocesso no progresso moral e ético, bem como grandes perdas econômicas que se fazem sentir no plano individual e em um contexto mais geral.
Voltando ao fato de que não sabemos escolher presidente já reparou que, nos momentos turbulentos de nossa história, tendemos a escolher sempre salvadores da pátria? E o que fazem tais salvadores da pátria após conquistarem o voto dos eleitores e alcançarem o troféu almejado: a vitória nas urnas. Decepcionam, sempre. Lembram do Fernando Collor, que se apresentava como o caçador de marajás? Caçou algum deles? Não. Pelo contrário, foi caçado.
Depois vieram outros, defensores dos fracos e oprimidos. E o que estes fizeram? Depenaram a nação. Deram alguns centavos para o povo e, com o muito que sobrou, compraram carne da boa e da melhor... E fizeram um churrasco de primeira linha regado a bebidas caríssimas.
Tanto descaso para com a nação por parte de nossos políticos tem provocados efeitos nocivos sobre a nossa democracia. Em primeiro lugar, o povo não acredita mais na classe política. Há um sentimento de revolta para com essa classe por toda a nação. E isso tem levado a quadros preocupantes.
A coisa anda tão feia que tem gente flertando com a volta da ditadura com esperança de que a ordem seja restabelecida no país. Quem viveu uma ditadura aqui ou em qualquer lugar do mundo sabe que essa não é a melhor saída, o melhor remédio. Invocar a violência para viver uma cultura de paz é uma insensatez.
Nos tempos da cortina de ferro no Brasil, ainda havia uma juventude disposta a lutar e dar a vida pela liberdade. Era uma juventude consciente que sabia fazer uma melhor análise da realidade em que viviam... E não compravam gato por lebre. Aqueles jovens se tornaram uma pedra no calcanhar da ditadura. E como diz o ditado, água mole em pedra dura tanto bate até que fura... E aquela juventude rebelde, de certa forma ajudou a furar a pedra dura do regime feroz.
E a juventude de hoje? Ah, essa não seria pedra no calcanhar de regime algum de tão alienada que anda. Ela mesma, vítima do próprio sistema que lhes privou de uma educação mais apurada e do desenvolvimento do pensamento crítico, tornando-se dessa forma, ótimas massas de manobra nas mãos de políticos inescrupulosos.
Outra coisa que temos visto são os fortes radicalismos que tem tomado conta da cena política.
O presidente Lula, hoje preso em uma cela, em Curitiba, já foi alvo desse radicalismo. Ainda antes de se tornar prisioneiro, quando andava em campanha eleitoral antecipada, por diversas cidades brasileiras, teve dois dos três ônibus da caravana que o acompanhava atingido por tiros. Segundo a polícia, foram três os disparos que atingiram os veículos. Felizmente ninguém saiu ferido do episódio.
Neste 06 de setembro, véspera do feriado do Dia da Independência, foi a vez do candidato do PSL, Jair Bolsonaro. O candidato fazia campanha, em Juiz de Fora, Minas Gerais quando foi atingido, na barriga, por uma facada, desferida por Adélio Bispo de Oliveira, não filiado a nenhum partido político.
À polícia, Adélio disse que havia tomado tal atitude por discordar em diversos pontos de vista com Bolsonaro. Disse também que havia sido mandado por Deus para cometer tal violência. A PF ainda investiga o caso.
Bolsonaro, passou por cirurgia e está fora de perigo. E assim, o primeiro colocado nas pesquisas para a corrida presidencial passou por um grande susto.
Qualquer forma de violência é condenável. Todos têm o direito de votar em quem bem quiser e entender. Assim como os candidatos, em uma democracia, podem defender suas idéias, por mais esdrúxulas que possam parecer. É a democracia, essa faca de dois gumes, que tanto pode trazer felicidades como pode trazer lágrimas a um povo, dependendo das escolhas que esse povo venha a fazer. 
Há uma questão que foi bem analisada pela escritora, repórter, e documentarista, em artigo no jornal El País Brasil. No artigo, intitulado, Profissionais da violência, Eliane Brum faz uma análise das reações do candidato a vice na chapa de Bolsonaro, o general Hamilton Mourão, e as reações de Mourão ao ataque sofrido por Bolsonaro são tão preocupantes quanto o próprio atentado sofrido por candidato.
A seguir esse blog compartillha com os leitores o referido artigo de Eliane Brum.

***
 Profissionais da violência
A reação de Mourão, o vice “faca na caveira” de Bolsonaro, aponta como o Brasil será governado em caso de vitória da chapa de extrema direita



 ELIANE BRUM
10 SET 2018 –


“Se querem usar a violência, os profissionais da violência somos nós”. A frase é do general Hamilton Mourão, candidato a vice-presidente na chapa de Jair Bolsonaro (PSL). Foi dita à revista Crusoé, após o ataque à faca contra o candidato na cidade de Juiz de Fora, em Minas Gerais, em 6 de setembro. É uma frase para se prestar toda atenção.
Os vices com freqüência têm chegado à presidência no Brasil. Mas o mais importante é o que a declaração nos conta sobre a chapa que, sem Lula, está em primeiro lugar nas intenções de voto para a disputa presidencial das eleições de outubro. O que significa um candidato a vice-presidente se anunciar como “nós” e como “profissional da violência” num momento de tanta gravidade para o Brasil?
Abalado pela brutalidade do episódio, Mourão poderia ter escolhido pelo menos duas variações que mudariam a intenção: “os profissionais da segurança” ou “os profissionais da proteção”. Palavras como segurança e proteção levariam à ideia de amparo e de defesa —e não à ideia de ataque, de retaliação e de confronto. Mas não. Mourão usou um “nós”— e usou “profissionais da violência”. Ao ser perguntado quem era o “nós”, o general disse que se referia “aos militares e ao uso da força pelo Estado”.
Mourão declarou ainda: “Eu não acho, eu tenho certeza: o autor do atentado é do PT”. No mesmo dia, o presidente do PSL, Gustavo Bebianno, afirmou ao jornal Folha de S. Paulo: “A guerra está declarada”.
É bastante revelador que um general da reserva, hoje político e candidato, se considere no direito de falar em nome do Estado, em plena campanha eleitoral para se tornar governo. A declaração de Mourão mostra que ele acredita falar pelos militares, como se os representasse e os comandasse. E como se os militares fossem uma força autônoma, uma espécie de milícia de Bolsonaro e de Mourão. E não o que a Constituição determina: uma instituição do Estado, paga com recursos públicos, subordinada ao presidente da República.
Ao fazer essa declaração, Mourão trata as Forças Armadas como se fossem a sua gangue e o país como se fosse a sua caserna. Alguém machucou o meu amigo? Vou ali chamar a minha turma para descer o cacete. E faz isso na condição de político e de candidato, como se o processo democrático fosse apenas uma burocracia pela qual é preciso passar, mas que pode ser atropelada caso se torne inconveniente demais.
Mais tarde, Mourão baixaria o tom, segundo ele a pedido do próprio Jair Bolsonaro. Uma orientação curiosa para um candidato que divulgou uma foto sua na cama do hospital fazendo com as mãos o sinal de atirar. No dia seguinte à agressão, durante entrevista à Globo News, o vice de Bolsonaro afirmou que, em caso hipotético de “anarquia”, pode haver um “autogolpe” do presidente, com o apoio das Forças Armadas.Ao comentar a convocação à violência por ele e outras pessoas da campanha, Mourão afirmou: “Realmente subiu um pouco o tom (no início), mas temos que baixar, porque não é caso de guerra”. Disse ainda que, se forem eleitos, vão “governar para todos, e não apenas para pequenos grupos”.
As declarações do vice de Bolsonaro no primeiro momento dão pelo menos duas informações sobre ele que vale a pena registrar. Mourão decide baixar o tom depois de elevar (muito) o tom. Poderia se pensar se é esse tipo de reação passional que se espera de um general, uma pessoa numa posição de comando ocupando o posto máximo da hierarquia do Exército, cujas ordens podem afetar milhares de vidas humanas. Pela trajetória de Mourão, a dificuldade de agir com racionalidade em momentos de tensão não parece ter afetado a sua carreira.
Neste momento, porém, Mourão é um político e candidato a vice-presidente. Diante da crise, representada pela agressão a Bolsonaro, aquele que quer ser vice-presidente do Brasil explode, confunde o seu lugar e o lugar das Forças Armadas, e bota gasolina na fogueira que deveria conter. E deveria conter não apenas por ser candidato, mas por responsabilidade de cidadão.
É importante que Mourão tenha finalmente entendido que não se trata de uma guerra e tenha parado de encontrar inimigos entre as faces da população. Mas as declarações irresponsáveis já produziram um efeito cujas consequências são difíceis de prever. Como ele mesmo lembrou, “há um velho ditado que diz: as palavras, quando saem da boca, não voltam mais”.
O que Mourão faria com poder real diante das tantas crises que esperam um governante? Como governará essa dupla, caso eleita, um que invoca mais violência em palavras e outro que, recém operado após sofrer uma agressão, faz sinal de atirar? Como governarão, com sua lógica de guerra, na qual o inimigo não é outro exército, mas a parte da população que discorda deles?
A segunda informação que emerge das declarações é a rapidez e a leviandade com que Mourão julga e condena. De imediato ele responsabilizou o PT pela agressão à faca. Não havia —e não há— um único indício de que o autor da facada tenha qualquer ligação com o PT ou faça parte de um plano do partido. Adelio Bispo de Oliveira afirma ter agido sozinho e “a mando de Deus”. Declarar publicamente uma “fakenews” ou mentira, num momento de tanta gravidade para o país, também pode ter consequências imprevisíveis. Não adianta voltar atrás depois de ter afirmado uma mentira como “certeza” justamente na hora em que os ânimos estavam mais acirrados.
É importante observar como esse protagonista se comporta diante da crise, já que governar um país é lidar com várias crises todos os dias. Se sem poder de governo ele encontra culpados, para além do culpado que já está preso, e invoca publicamente a violência como reação imediata, o que fará caso tenha poder de governo e a possibilidade de convocar o que Mourão chama de “profissionais da violência” e a Constituição chama de “Forças Armadas”? Se, quando precisam convencer eleitores de que são a melhor escolha, os homens de Bolsonaro invocam a guerra dentro do próprio país, o que farão quando já não precisarem convencer ninguém?
É importante observar que não conseguem refrear seus instintos nas horas mais duras, mas também é importante acreditar no que dizem quando não são capazes de se conter. Tanto Bolsonaro quanto Mourão têm se esforçado para mostrar que são “profissionais da violência”. Ao pregarem que a população deve se armar, como se esta fosse a melhor estratégia para enfrentar a questão da segurança, é assim que se apresentam.
As declarações contra as mulheres, contra os negros, contra os indígenas e contra os LGBTs também são um exercício da violência que revela uma visão de mundo e a fortalece entre aqueles que dela comungam. Semanas atrás, Mourão chamou os negros de malandros e os indígenas de indolentes. Desta afirmação que saiu da sua boca ele não se arrepende. Como disse Eduardo Bolsonaro, um dos filhos do candidato: “Tem que botar um cara faca na caveira para ser vice”. Botaram.
No dia seguinte ao atentado, quando segundo ele mesmo o tom deveria baixar, o vice de Bolsonaro enalteceu o coronel Carlos Alberto Brilhante Ustra, um dos mais notórios torturadores e assassinos da ditadura civil-militar (1964-85). “Os heróis matam”, justificou ele na TV.
Sempre vale lembrar ao menos um episódio entre as tantas mortes e torturas ordenadas ou executadas pelo “herói” de Bolsonaro e de Mourão. O torturador Ustra levou os filhos de Amélia Teles, presa nos porões do regime, para que vissem a mãe torturada. Amelinha, como é mais conhecida, estava nua, vomitada e urinada. Seus filhos tinham quatro e cinco anos. A menina perguntou: “Mãe, por que você está azul?”. A mãe estava azul por causa dos choques elétricos infligidos em várias partes do seu corpo e também nos seios e na vagina. Este é o farol de Bolsonaro e Mourão, em primeiro lugar nas pesquisas para a presidência do Brasil, o que diz bastante também sobre os eleitores.
Armar-se é uma das principais plataformas da campanha de Bolsonaro-Mourão, o capitão da reserva e o general da reserva. E é preciso levá-los a sério. Não só porque Bolsonaro e Mourão lideram as intenções de voto, mas porque é legítimo que os eleitores queiram votar em “profissionais da violência” para governar o Brasil. É possível discordar de quem aposta em “profissionais da violência”, mas o direito de escolher uma pessoa que invoca a violência é legítimo numa democracia.
Há muita gente clamando por “civilização” contra o que nomeiam de “barbárie” que atravessa o Brasil, às vésperas de uma eleição em que o candidato em primeiro lugar nas pesquisas está na prisão e é proibido pelo judiciário de se candidatar e o candidato em segundo lugar leva um facada durante um evento de campanha e precisa passar por uma cirurgia.
Mas o que chamamos de civilização tem sido sustentado pela barbárie cotidiana contra os negros e os indígenas. A civilização sempre foi para poucos. A novidade que uma chapa Bolsonaro-Mourão apresenta é a suspensão de qualquer ilusão. Não é por acaso que alicerçam sua prática antiga, tão velha quanto o Brasil, nas redes sociais, o espaço onde toda a possibilidade de mediação foi rompida e os bandos se fecham em si mesmos, rosnando para todos os outros.
A barbárie dos “profissionais da violência” sempre sustentou a civilização de uns poucos. O que Bolsonaro e Mourão dizem, como “profissionais da violência” que são, é que já não é preciso fazer de conta. Neste sentido, rompem o mesmo limite que a internet rompeu, ao tornar possível que tudo fosse dito. E também ao dar um valor ao dizer tudo, mesmo que este tudo seja o que nunca deveria poder ser dito, já que é necessário um pacto mínimo para a convivência coletiva e o compartilhamento do espaço público.
Ao representar a velha boçalidade do mal expressada na novidade das redes, Bolsonaro-Mourão são os representantes mais atuais deste momento. Eles sabem que a guerra não existe no Brasil. O que sempre existiu foi o massacre. São os mesmos de sempre que continuam morrendo, como os camponeses de Anapu nas mãos dos pistoleiros da grilagem e as crianças das comunidades do Rio em cujas cabeças as balas explodem.
Ao inventarem uma guerra para encobrir o massacre, Bolsonaro e Mourão inventam também a ideia de que as armas serão iguais e acessíveis para todos, bastando para isso o “mérito” de passar em eventuais testes e o “mérito” de ser capaz de pagar pelas melhores. Conheceremos então o discurso da meritocracia aplicado às armas.
Bolsonaro e Mourão sabem muito bem que não haverá igualdade ao armar a população. Se Bolsonaro, o “profissional da violência”, teve alguma sorte na tragédia, é a de que Adélio Bispo de Oliveira era um amador e era pobre. Ele tinha apenas uma faca e nenhum plano para depois. Se ele fosse um “profissional da violência” como Mourão, Bolsonaro não teria tido a chance de fazer o gesto de atirar na cama do hospital, depois de ser salvo pelo SUS, sistema público de saúde que ele não se esforça para defender.
Marielle Franco, a vereadora do Rio pelo PSOL, não teve esta sorte. Seus assassinos arrebentaram sua cabeça com arma de alto calibre e uso restrito e até hoje, seis meses depois, não se conhece nem a identidade do executor nem a do mandante. Negra, lésbica e favelada, Marielle está no lado dos que morrem e cujas mortes permanecem impunes. Marielle está no lado dos massacrados, não dos que massacram.
Mas não é sorte o que Bolsonaro teve ao ser atacado por um amador. Tanto ele quanto Mourão sabem o que dizem quando reivindicam serem “os profissionais da violência”. Eles são. Resta saber se a verdade da maioria dos brasileiros é também esta: a de desejar profissionais da violência comandando o país onde vivem.
Se a maioria dos brasileiros mostrar nas urnas que quer esse tipo de político no poder, então é isso que escolheram. Faz parte do processo democrático que as pessoas se responsabilizem por suas escolhas e as consequências que delas resultam. Se você chama “profissionais da violência” para comandar o país onde você e sua família vivem, você deve saber o que terá.

Eliane Brum é escritora, repórter e documentarista. Autora dos livros de não ficção Coluna Prestes - o Avesso da Lenda, A Vida Que Ninguém vê, O Olho da Rua, A Menina Quebrada, Meus Desacontecimentos, e do romance Uma Duas. Site: desacontecimentos.com Email: elianebrum.coluna@gmail.com Twitter: @brumelianebrum/ Facebook: @brumelianebrum



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Maestro Urban: O adeus a um guerreiro

Posted by Cottidianos on 00:22
Quinta-feira, 06 de setembro


E o pó volte à terra, como o era,

e o espírito volte a Deus, que o deu

(Eclesiastes 12:7)





Ganhar presentes?!! Quem não gosta?
Crianças, moços, velhos, todos regozijam de alegria quando recebem um deles. Se for criança e recebe uma bola, já se põe a brincar e a correr pelo quintal, ou pelo jardim, ou por qualquer lugar que seja propício a que uma bola role. Se for menina e recebe uma boneca já se põe a enfeitá-la, e dar-lhe conselhos, e beijá-la, e abraçá-la, como se fosse uma zelosa mãe. E assim, todos têm o seu modo e o seu prazer de usar o que foi ganho.
Há brinquedos individuais e brinquedos coletivos. Há aqueles que se recebe e é possível trancar-se em quarto e brincar horas a fio, sem necessitar da presença de outro ser humano. Isso é mais do que verdade, principalmente, nesse nosso tempo cheio de parafernálias eletrônicas. Nesse mundo atual, o individualismo torna-se mais forte e mais evidente.
Há também aqueles passatempos que fica meio sem graça se os desfrutamos sozinhos, apenas nós e o folguedo. Para esses passatempos, o ideal é que tenhamos a companhia de outro — ou outros — de nosso semelhante para que possamos trocar experiências, darmos risadas, superarmos os desafios, se for o caso de um jogo, por exemplo.
A arte de viver é semelhante a um presente que nos é dado pelo Deus Altíssimo. Quando viemos ao mundo, melhor ainda, quando fomos gerados, ou talvez mesmo antes disso, fomos agraciados com esse dom, esse folguedo, esse passatempo chamado vida. E ao nascermos, nos tornamos, nós mesmos, um presente, primeiro para a família que nos acolheu, e depois, gradativamente, para os grupos sociais, aos quais, por afinidades, nos aproximamos, e deles passamos a fazer parte.
Porém, diferentemente de qualquer outro brinquedo que possa ser trocado entre um ser humano e outro, que tem caráter duradouro, e que não se exige devolução, nem que seja pedido de volta o que foi dado — seria até mesmo uma grande indelicadeza, tais atitudes — a vida que nos é dada como presente pelo Altíssimo tem caráter de empréstimo.
E qual a característica principal de um empréstimo? A devolução daquilo que foi ofertado, de preferência, estando a coisa ou objeto, em estado ainda melhor do que quando foi oferecido.  Quem empresta algo, de modo subliminar, está dizendo: “É meu. Não é seu. Estou te fazendo dono deste bem por algum tempo, após o que, pedirei de volta aquilo que me pertence. Portanto, faze tu, bom uso e zela por este tesouro que agora te oferto”.
E a vida é um daqueles tipos de presente que para ser bem usado, precisa ser compartilhado. Quem se tranca no quarto do tempo e passa a brincar de viver sozinho, isolado do mundo, e daqueles que o cercam, acaba descobrindo que não aproveitou o dom que lhe foi ofertado. E disso resulta tanta coisa indesejável... Depressão é apenas um exemplo.
Ao contrário, quanto mais compartilhamos vida e distribuímos alegria, tanto mais ela se renova, e tanto mais felizes seremos. Passamos a ser, nós mesmos, o presente para nossos pais, nossos filhos, nossos amigos, e para aqueles que nos rodeiam e que tem contato conosco, de uma forma ou de outra.
Infelizmente, há pessoas que esquecem, ou que abandonam a idéia, a graça de ser presente, e passam a ser uma pedra no caminho da família, dos amigos, dos funcionários, ou de quem quer que se aproxime dele ou dela. Esse tipo de indivíduo torna-se como uma espécie de bola de ferro atada à perna do outro.
Nesse caso, o avanço na caminhada torna-se lento. Não se vai à frente com um sorriso no rosto quando se tem uma bola de ferro atada ao pé, nem quando se é a bola de ferro no pé de alguém. Resultado disso é que o caminho da evolução torna-se mais árduo, mais espinhoso.

Porém, chega um dia, em que, tendo sido cumprida nossa missão aqui neste pedaço de chão, o criador pede a sua criatura a devolução do presente... E lhe dá outro maior e mais belo que o primeiro: a vida eterna.
E nós, em nossa limitação, choramos e lamentamos, e muitas vezes, até nos revoltamos contra o criador por ele ter tirado aquele ou aquela que era como um presente divino no meio de nós. Esquecemos de lembrar que, talvez, quem deixou esta vida e retornou aos braços daquele que permitiu sua vinda a este plano material, pode ter lhe revestido de bênçãos ainda maiores do outro lado do caminho.
Na terça-feira (4), foi a vez de o Deus altíssimo chamar de volta a si, o presente chamado Oswaldo Antonio Urban, mais conhecido como Maestro Urban, um homem que dedicou sua vida à música, e dela fez uma missão. O maestro Urban — por sua vez, grande admirador do gênio das Américas, o maestro Carlos Gomes — estava bem próximo de completar 99 anos. 26 de outubro era a data de seu aniversário.
Este blog dedicou algumas matérias a esse guerreiro: A força de um guerreiro – 1ª parte; A força de um guerreiro – 2ª parte; Harmonia dos Salmos: Gotas de música e poesia no deserto da vida; Uma fortaleza chamada maestro Urban; Salmos: Um divino legado do Rei David para a humanidade.
Na abertura da entrevista, A força de um guerreiro 1a parte, este blog escrevia: “Maestro Urban é uma dessas pessoas que sabem aproveitar bem a vida. Gente, que na sabedoria de seu coração, sabe que a vida é para ser vivida em toda a sua intensidade, que diante das dificuldades não se senta em algum lugar e chora. Ao contrário, quanto mais dificuldades apareçam, maior é a vontade de lutar. Pelo que eu conheço do Maestro, penso que o segredo dele seja ocupar sempre a mente com coisas boas. Do alto de seus 93 anos, ele está sempre em atividade: rege dois corais, compões músicas para os corais cantarem, lê bons livros, cultiva o amor familiar”. Depois disso, Urban não mudou muita coisa nas características descritas acima. Sempre lutando, fazendo projetos, acreditando na vida, mesmo quando as limitações impostas pela idade se fizeram sentir de modo mais notório.
Nascido na cidade de Leme, São Paulo, aos 26 de outubro de 1919, ele adotou Campinas como cidade do coração, quando para cá se mudou ainda na adolescência. Foi maestro, compositor, professor. Era também advogado, sendo um dos fundadores do curso de Direito da Pontifícia Universidade Católica de Campinas, e também aluno daquela primeira turma, cuja formatura se deu em 18 de março de 1957.
O maestro foi regente de diversos corais durante sua vida. Atualmente regia dois corais: O Coral Pio XI — formado por vozes masculinas, e o Coral Vozes amigas — formado por vozes mistas. A última apresentação que reuniu os dois corais aconteceu no dia 26 de agosto, na Paróquia São Paulo Apóstolo, no bairro Vila Itapura, em Campinas, São Paulo.
No fim da tarde desta quarta-feira (5), parentes e amigos se reuniram para o último momento com o maestro Urban, cujo corpo foi velado, no cemitério Flamboyant. A beira da sepultura daquele triste fim de tarde, o corpo que é pó desceu à sepultura para encontrar as suas origens, enquanto o espírito alçava voos mais altos em direção ao Deus criador, que havia chamado de volta o seu presente.

O corpo de Urban desceu à sepultura ouvindo algo que lhe foi muito peculiar em toda a sua vida: aplausos. Ainda à beira da sepultura, a cerimonialista da equipe do cemitério proclamou uma bela mensagem de Santo Agostinho, que fala deste momento de passagem do plano material para o plano espiritual, e que este blog reproduz abaixo:

***
A morte não é nada (Santo Agostinho)

“A morte não é nada.
Eu somente passei
para o outro lado do Caminho.

Eu sou eu, vocês são vocês.
O que eu era para vocês,
eu continuarei sendo.

Me dêem o nome
que vocês sempre me deram,
falem comigo
como vocês sempre fizeram.

Vocês continuam vivendo
no mundo das criaturas,
eu estou vivendo
no mundo do Criador.

Não utilizem um tom solene
ou triste, continuem a rir
daquilo que nos fazia rir juntos.

Rezem, sorriam, pensem em mim.
Rezem por mim.

Que meu nome seja pronunciado
como sempre foi,
sem ênfase de nenhum tipo.
Sem nenhum traço de sombra
ou tristeza.

A vida significa tudo
o que ela sempre significou,
o fio não foi cortado.
Porque eu estaria fora
de seus pensamentos,
agora que estou apenas fora
de suas vistas?

Eu não estou longe,
apenas estou
do outro lado do Caminho…

Você que aí ficou, siga em frente,
a vida continua, linda e bela
como sempre foi.”

Santo Agostinho


***


Urban Conductor: Farewell to a Warrior
Posted by Cottidianos on 00:22
Thursday, September 6

"And the dust return to the earth as it was,
and the spirit returns to God who gave it"
(Ecclesiastes 12: 7)


Receive gifts?!! Who doesn't like it?
Children, young men, old men, all rejoice in joy when they receive one of them. If you are a child and receive a ball, you are already playing and running around in the yard, or the garden, or anywhere that is likely to cause a ball to roll. If you are a girl and you receive a doll, you will start to decorate her, give her advice, and kiss her, and hug her like a jealous mother. And so, everyone has their way and their pleasure in using what has been gained.
There are individual toys and collective toys. There are those who receive and it is possible to lock yourself in a room and play for hours without the presence of another human being. This is more than true, especially in our time full of electronic paraphernalia. In this present world, individualism becomes stronger and more evident.
There are also those hobbies that get kind of bland if we enjoy them alone, just us and the fun. For these hobbies, the ideal is that we have the company of another - or others - of our fellow so that we can exchange experiences, laugh, overcome challenges, if it is the case of a game, for example.
The art of living is similar to a gift given to us by the Most High God. When we came into the world, even better, when we were raised, or perhaps even before that, we were bestowed with this gift, this fun, this pastime called life. And as we were born, we became ourselves a gift, first to the family who welcomed us, and then, gradually, to the social groups to which we, by affinities, approached and became part of them.
However, unlike any other toy that can be exchanged between a human being and another that has a lasting character, and that no return is required, nor is it asked to return what was given - it would even be a great unkindness, such attitudes. - the life given to us by the Most High is on loan.
And what is the main feature of a loan? The return of what was offered, preferably with the thing or object, in an even better state than when it was offered. The subliminal lender is saying, “It's mine. It's not yours. I am making you master of this good for some time, after which I will ask back what belongs to me. Therefore do thou good use, and watch over this treasure which I now offer unto thee. ”
And life is one of those kinds of gifts that to be used well, need to be shared. Those who lock themselves in the room of time and start playing alone, isolated from the world, and those around them, find that they have not taken advantage of the gift offered to them. And that results in so much undesirable ... Depression is just an example.
On the contrary, the more we share life and distribute joy, the more it renews itself, and the happier we will be. We become ourselves the gift to our parents, our children, our friends, and those around us who have contact with us in one way or another.
Unfortunately, there are people who forget, or abandon the idea, the grace of being present, and become a stumbling block in the path of family, friends, employees, or anyone who approaches him or her. This type of individual becomes like a kind of iron ball tied to the other's leg.
In this case, the advance in walking becomes slow. You don't go ahead with a smile on your face when you have an iron ball tied to your foot, or when you are the iron ball in someone's foot. As a result, the path of evolution becomes harder, thornier.
However, there comes a day when, having fulfilled our mission here on this piece of ground, the creator asks his creature for the return of the present ... And gives him another greater and more beautiful than the first: eternal life.
And we, in our limitation, weep and mourn, and often even rebel against the Creator for taking away one or the other as a divine gift among us. We forget to remember that perhaps those who have left this life and returned to the arms of the one who allowed their coming to this material plane may have clothed them with even greater blessings across the way.
On Tuesday (4), it was the turn of the Most High God to call back to him, the gift called Oswaldo Antonio Urban, better known as Maestro Urban, a man who dedicated his life to music, and made it a mission. The conductor Urban - in turn, great admirer of the genius of the Americas, conductor Carlos Gomes - was very close to complete 99 years. October 26 was the date of his birthday.
This blog devoted a few articles to this warrior: The Strength of a Warrior - Part 1; The strength of a warrior - Part 2; Harmony of Psalms: Drops of music and poetry in the desert of life; A fortress called maestro Urban; Psalms: A divine legacy of King David to humanity.
At the opening of the interview, The Strength of a Warrior Part 1, this blog wrote: “Maestro Urban is one of those people who know how to enjoy life well. People, who in the wisdom of their hearts, know that life is to be lived in all its intensity, that in the face of difficulties does not sit somewhere and weeps. On the contrary, the more difficulties appear, the greater the will to fight. From what I know of the Maestro, I think his secret is to always occupy the mind with good things. From the height of his 93 years, he is always active: conducting two choirs, composing songs for choirs to sing, reading good books, cultivating family love. ” After that, Urban didn't change much in the features described above. Always struggling, doing projects, believing in life, even when the limitations imposed by age were most noticeably felt.
orn in the city of Leme, São Paulo, on October 26, 1919, he adopted Campinas as a city of the heart, when he moved here as a teenager. He was conductor, composer, teacher. He was also a lawyer, one of the founders of the Law School of the Pontifical Catholic University of Campinas, and also a student of that first class, whose graduation took place on March 18, 1957.
The conductor was conductor of several corals during his life. Currently conducting two choirs: The Pio XI Coral - formed by male voices, and the Friendly Voices Coral - formed by mixed voices. The last performance that brought together the two choirs took place on August 26, at the São Paulo Apostle Parish, in the Vila Itapura neighborhood, in Campinas, São Paulo.
In the late afternoon of Wednesday (5), relatives and friends met for the last moment with maestro Urban, whose body was veiled, in the Flamboyant cemetery. At the grave's edge of that sad evening, the dust body descended to the grave to find its origins, while the spirit soared higher toward the creator God, who had called back his gift.
Urban's body descended to the grave hearing something very peculiar to him all his life: applause. Still on the brink of the grave, the cemetery staff ceremonialist proclaimed a beautiful message from St. Augustine, who speaks of this moment of transition from the material to the spiritual plan, and which this blog reproduces below:
 ***
 
Death is nothing (St. Augustine)
 
“Death is nothing.
I just passed
to the other side of the Path.
 
I am me, you are you.
What I was to you,
I will still be.
 
Give me the name
that you always gave me,
talk to me
as you always did.
 
You keep on living
in the world of creatures,
Im living
in the world of the Creator.
 
Do not use a solemn tone
or sad, keep laughing
what made us laugh together.
 
Pray, smile, think about me.
Pray for me.
 
May my name be pronounced
as always was,
no emphasis of any kind.
No trace of shadow
or sadness.
 
Life means everything
what she always meant,
the wire was not cut.
Because I would be out
of your thoughts,
now that i'm just out
from your sights?
 
I'm not far away
I'm just
across the way…
 
You who stayed there, move on,
life goes on, beautiful and beautiful
as always was."
 
St. Augustine

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