Mais faíscas dos atos antidemocráticos
Terça-feira,
25 de abril
O
que é a vida? Eis uma pergunta que nos remete ao campo filosófico. Certamente
você encontrará centenas de autores e pensadores que a definem de forma
diferente, pois a definição de qualquer assunto ou coisa depende de nossa
cultura, da sociedade em que vivemos e das vivências que experienciamos nessa
jornada do viver.
É
mais fácil então refletirmos o que não é a vida. Então podemos afirmar, com
certeza, que aquilo que está nas redes sociais não é a vida. Deem uma olhada
nos perfis das pessoas que vocês seguem, dos seus amigos, dos famosos. Nelas
tudo é um sonho, uma fantasia. Nas imagens que postam as pessoas estão sempre
sorrindo, fazendo uma viagem maravilhosa, comendo uma comida gostosa, ou
exibindo um corpo perfeito. Tudo é linear nas redes sociais.
E
aqui arrisco uma definição acanhada do que seja a vida. Ela é um caminho que
nos leva sempre para a frente. Ninguém na vida pode caminhar para trás, mesmo
que queira. Mas apesar de ser esse caminho sempre para a frente, ele nem sempre
é linear. Às vezes vamos caminhando em linha reta, e de repente nos deparamos
com um terreno montanhoso, ou um lago para atravessar, ou até mesmo um deserto.
Isso
é o que torna a vida interessante. É justamente esses desafios que nos aparecem
em nosso caminho que nos leva, todos os dias, a botar o cérebro para funcionar
e escolher o melhor meio de sairmos de situações difíceis.
O
viver é como uma roda gigante. O destino dela é estar lá em cima e depois lá
embaixo, e depois em cima, embaixo de novo, e assim sucessivamente. Diferentemente
das redes sociais, na vida não há apenas os sorrisos felizes, há também os
momentos de tristeza e de angústia, as dúvidas e incertezas, o feio e o bonito.
Tomemos
como exemplo o delegado Anderson Torres. Na terça-feira, 30 de março de 2021
ele tomava posse como ministro da Justiça e Segurança Pública do governo
Bolsonaro. Antes disso, desde o ano de 1919, ele atuava como secretário de
Segurança Pública do Distrito Federal.
Nesse cargo até conseguiu diminuir os números referentes aos índices de homicídios.
Entre
2003 e 2005 ele esteve na Superintendência da Polícia Federal, em Roraima, onde
coordenou importantes investigações relacionadas ao combate ao crime
organizado. Em 2007 e 2008 lá esteve ele à frente do setor de Inteligência da
PF, ajudando no combate e repressão ao tráfico internacional de drogas e
lavagem de dinheiro.
E
no período de 2008 a 2011 estava sob a responsabilidade dele a parte técnica e
logística da Diretoria de Combate ao Crime Organizado da polícia federal e suas
congêneres regionais.
Olhando
para o currículo dele, nada mal. Excelente formação e currículo. Uma
autoridade. Um homem de poder, aumentado mais ainda pelo cargo de ministro da
Justiça e Segurança Pública que ocupou no governo Bolsonaro.
Depois
que acabou o mandato de Bolsonaro, Torres voltou ao cargo de secretário da
Segurança do DF a convite do governador Ibaneis Rocha. Rocha foi alertado por
ministros do STF para que não conduzisse Torres de volta ao cargo. Seria
problema. Ibaneis fez ouvidos de mercador e se deu mal.
E
onde está Anderson Torres hoje? Preso. Onde? Em uma cela improvisada dentro do
Batalhão de Aviação Operacional, órgão integrado ao 4º Batalhão da Polícia
Militar, no Gaurá, região administrativa do Distrito Federal. Quem mandava prender,
hoje está atrás das grades. Inclusive, os moradores da região fizeram um abaixo
assinado para que ele seja transferido para outro lugar.
Os
moradores alegam que a presença do ex-ministro no local está inviabilizando a
continuação do projeto social “Prevenindo com Arte”, que era desenvolvido no
local. O projeto atende cerca de 1,2 mil alunos gratuitamente. A base do
projeto é o oferecimento de 16 modalidades a crianças jovens e adultos.
“A
suspensão das aulas tem causado um prejuízo incalculável na saúde física, mental
e na qualidade de vida dos alunos. Além dos transtornos pela ausência de
interação social, que pode ocasionar estresse e ansiedade, agravando o estado
de saúde dos que se apoiam nas atividades do projeto, de forma terapêutica”,
dizem os moradores no abaixo assinado.
Anderson
Torres está preso desde o dia 17 de janeiro sob a acusação de omissão e
conivência nos antidemocráticos que culminaram na destruição de patrimônio dos
Três Poderes da República. Ele estava de férias nos Estados Unidos e foi preso
quando voltou ao Brasil.
Na
quinta-feira, o ministro do STF Alexandre de Moraes negou o pedido de revogação
da prisão preventiva dele feito pelos advogados de defesa. “Nesse momento da
investigação criminal, a razoabilidade e proporcionalidade continuam justificando
a necessidade e adequação da manutenção da prisão preventiva”, disse o
ministro. Antes disso, Moraes havia autorizado pedido da PF para que o acusado
fosse ouvido sobre as operações da Polícia Rodoviária Federal durante as
últimas eleições, em especial, as do segundo turno. No segundo turno, as
operações da PRF foram mais intensas nos estados onde o então candidato Lula
havia vencido as eleições no primeiro turno. O depoimento foi marcado para esta
segunda-feira, 24.
Entretanto,
o ex-ministro não depôs. Os advogados dele pediram que o depoimento fosse
adiado. Segundo eles, a psiquiatra que acompanha Anderson havia atestado que
ele não tinha condições de ir a qualquer audiência por questões médicas durante
uma semana. “Ocorre que, após ter ciência do indeferimento do pedido de
revogação de sua prisão preventiva, o estado emocional e cognitivo do
requerente, que já era periclitante, sofreu uma drástica piora”, escreveram os
advogados no pedido.
Os
advogados podem estar dizendo a verdade: que, por questões psicológicas,
Anderson Torres não tem condições de prestar depoimento, ou o acusado pode
estar usando de estratégia e ganhando tempo para ver o que vai dizer sobre as acusações
que pesam sobre ele.
Quem
deve estar muito preocupado com o estado de ânimo de Anderson Torres é Jair
Bolsonaro. Muito preocupado. O jornalista Guilherme Amado, escreveu em sua
coluna no jornal Metrópoles que, uma vez por semana, um aliado de Bolsonaro
monitora o estado de ânimo do ex-presidente. O objetivo, é descobrir se Torres
permanece firme na intenção de não fazer delação premiada.
Segundo
esse aliado o ex-ministro está abatido, e chora todos os dias por ver uma
possibilidade de ser posto em liberdade. Ele sente-se abandonado por Bolsonaro
e diz que se tornou o bode expiatório dos atos de 8 de janeiro. Se Anderson
Torres fala, a casa cai para Bolsonaro. Afinal, é evidente que ele foi o
responsável pelos atos que culminaram no 8 de janeiro, e por tramar um golpe.
Falta apenas uma prova contundente. E essa bomba pode ser Anderson Torres. Foi
na casa dele que foi encontrada uma minuta golpista que até hoje o ex-ministro
não deu explicações convincentes do que essa minuta estava fazendo na casa dele.
Por
falar nisso, a novela trágica do oito de janeiro ganhou novos capítulos na
semana passada.
Novas
imagens do 8 de janeiro, divulgadas com exclusividade pela CNN Brasil na semana
passada, mostram que Marcos Gonçalves Dias, ministro do Gabinete de Segurança Institucional,
estava no Palácio do Planalto no dia do ataque. Nos vídeos divulgados pela
emissora ele aparece entre os manifestantes golpistas e circulando pelo local.
Numa
das imagens registradas por duas câmeras às 16h29min, caminha sozinho pelo terceiro
do Palácio do Planalto, onde fica o gabinete presidencial. Ele tenta abrir duas
portas e depois entra no gabinete. Minutos depois, o ministro aparece caminhando
pelo corredor com alguns golpistas. Pelas imagens é possível que indica a saída
de emergência a um grupo de vândalos.
Em
outra imagem é possível ver o major do Exército, José Eduardo Natale, cumprimentando,
e dando algumas garrafas de água mineral para um grupo de golpistas.
As
imagens derrubaram o ministro Gonçalves Dias que pediu desligamento do governo,
na quarta-feira, 19, após a divulgação das imagens. Em depoimento a Polícia Federal,
ele afirmou que estava orientando os invasores para que fossem para o segundo
andar, onde seriam presos.
Porém,
imagens mostradas por outro ângulo, mostram que não era bem isso que acontecia
naquele momento. Os vídeos mostram que os golpistas continuavam a quebradeira
no segundo andar, e que as primeiras prisões somente aconteceriam algum tempo
depois.
Quanto
ao major José Eduardo Natale, que aparece dando água aos golpistas, ele disse
que apenas fazia um gerenciamento de crise.
As
imagens divulgadas pelo CNN são fruto de gravação de 22 câmeras do circuito
interno do Palácio do Planalto, feitas do dia 08 de janeiro. Ao todo, foram
analisadas mais de 160 horas de gravação.
O
governo bem que tentou preservar o ministro Gonçalves Dias. No início de
fevereiro, o jornal Folha de São Paulo tentou acessar a integra das imagens do
circuito interno do Palácio do Planalto para o dia 08 de janeiro, através da
Lei de Acesso à Informação, mas o pedido foi negado, alegando risco para a
segurança das instalações presidenciais.
Gonçalves
Dias alegou que não era razoável divulgar informações que expusessem métodos de
ação, equipamentos de segurança, e procedimentos operacionais, e recursos
humanos da segurança presidencial.
Na
ocasião foram liberadas apenas imagens editadas que mostravam a destruição feitas
pelos vândalos, mas que não permitiam analisar de forma mais detalhada a ação
do GSI.
Diante
de tudo isso, o ministro do Supremo Tribunal Federal, Alexandre de Moraes,
determinou a quebra de sigilo das imagens daquele domingo terrível, e determinou
também que a PF ouça todos os servidores do GSI que estavam no prédio no momento
da invasão. Moraes é o relator do inquérito dos atos golpistas do dia 08 de
janeiro.
A
divulgação das novas imagens envolvendo o ministro do Gabinete de Segurança
Institucional no Palácio do Planalto, entre os golpistas, no dia 8 de janeiro,
deu munição para que a oposição pressionasse para a criação da CPI dos Atos Antidemocráticos,
coisa que a oposição vinha insistindo, e o governo tentando barrar.
Agora,
governo e oposição querem a criação da CPI. Nos próximos dias assistiremos a uma
queda de braço para ver quem fica com relatoria e presidência da comissão. Particularmente,
acho que a oposição tem mais a perder com essa CPI do que o governo. Para mim,
eles estão dando um tiro no pé.
Afinal,
não foram os apoiadores de Lula que entraram nas dependências dos Três Poderes
de depredaram tudo. Nem muito menos foi Lula que passou 4 anos incentivando a
violência e pregando um golpe de Estado.
Logo
após os atos golpistas daquele inesquecível domingo, já começaram a circular
nos grupos bolsonaristas a tese de a depredação só havia ocorrido porque havia
infiltrados da esquerda no meio da manifestação, e que foram eles, os
apoiadores do presidente Lula, os responsáveis pelo quebra-quebra. Esquecendo-se,
porém, de dizer que os próprios bolsonaristas haviam gravado, ao vivo, tudo o
que acontecia na Praça dos Três Poderes, e dentro das instalações deles.
É
uma tática da extrema-direita, não apenas no Brasil, mas no mundo, transformar
as vítimas em culpado.
E assim vamos seguindo, nesse tumultuado início do governo Lula, que aliás, continua falando asneiras, e depois pedindo desculpas. Acho que Lula precisa de um assessor direto que o impeça de falar tanta besteira. Mas disso, falaremos em outra postagem.