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Ventos novos, novas esperanças

Posted by Cottidianos on 03:07

Sexta, feira, 21 de dezembro

No novo tempo, apesar dos castigos

Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
(Novo Tempo – Ivan Lins)




Caros leitores, caras leitoras, desde julho de 2013 com postagens ininterruptas, este blog suspenderá as postagens por um mês.  Mas antes gostaria de deixar a todos vocês umas breves palavras.
Mais um ano vai se aproximando do final e mais um ano se anuncia no horizonte. Na verdade, tudo continua a mesma coisa: o dia entregará o bastão à noite para que ela possa continuar o trabalho da criação; os homens e mulheres de boa vontade — e até mesmo aqueles que não têm nenhuma boa vontade — continuarão a batalhar pelos seus sonhos e projetos; as crianças continuarão com seus brinquedos e folguedos até que o tempo os faça ciente de que já cresceram e lhes apresente novos brinquedos e novos folguedos de adultos.
Na verdade o que deveria se fazer novo mesmo, ou melhor, o que deveria se fazer nova mesmo seriam as nossas consciências. A consciência, essa chave escondida dentro de cada um de nós que pode nos levar a gloria ou a destruição, conforme o uso que fazemos dela.
Temos visto tantos exemplos de como esse tesouro pode ser causa de elevação ou de ruína. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o médico Roger Abdelmassih, e mais recentemente, o médium João de Deus, também ele muito conhecido no Brasil e no exterior, são exemplos de como o mau uso da consciência pode rasgar belas biografias, e de fazer pessoas respeitadas e poderosas da sociedade, de repente, perderem todo o respeito e poder que desfrutavam em face de seus irmãos em humanidade.
De repente, eles perderam o poder que tinham, mas sabemos que assim como os castelos da vida real não são construídos, de uma hora para outra, com o poder mágico da varinha de condão das belas e bondosas fadas, da mesma forma eles também não são destruído, de uma hora para outra, com as porções maléficas das bruxas.
Uma má intenção aqui, outra acolá, e o sujeito nem percebe que cava a própria ruína. Talvez, eles próprios, em suas consciências doentias, nem se deram conta de que estavam agredindo, machucando, transgredindo a boa fé daqueles que neles confiavam. Certamente, evitaríamos tantas decepções se observássemos o preceito evangélico formulado pelo sábio Jesus de Nazaré, que diz: “Pelo fruto se conhece a árvore”.
Foram citados esses três personagens, mas a intenção é colocar por trás deles todos os políticos, médicos, médiuns e outras categorias profissionais que são trevas no mundo, ao invés de ser luz, que espalham decepção, em vez de semearem esperança.
Para levantar a cabeça e não desanimar com esses exemplos pense o leitor nos milhares, milhões de pessoas que estão nesta terra a semear as sementes da bondade e da misericórdia. Ao que semeia, tenha a consciência de que, a exemplo da parábola do semeador, citada nos evangelhos cristãos, nem todas nascerão. Por vários motivos algumas sementes plantadas não brotarão. Mas não é por culpa do semeador, este fez o seu trabalho de semear, de por a semente no seio da terra.
Também não esperem que a tal fada da varinha mágica de condão, venha e, do dia pra noite, faça surgir um mundo mais justo e mais fraterno. Também aqui é tijolo por tijolo. Um bom pensamento aqui, outro acolá, e quando nos dermos conta já estaremos com uma boa plantação de boas ações.
Muitas expectativas se abrem pra nós, brasileiros e brasileiras, com o novo governo de Jair Bolsonaro. Porém, sempre tem um porém, os brasileiros costumam colocar toda a confiança numa pessoa só, como se aquela pessoa fosse o salvador da pátria. Não pensem assim. Salvadores da pátria não existem. E se existem são tão consistentes quanto às bexigas que decoram as festas infantis por ocasião dos aniversários. Bastam um objeto mais pontiagudo e elas se desmancham no ar.
Lembrem-se de que já tivemos vários exemplos desses em nosso país onde se elegeu uma pessoa como herói, como salvador, e as coisas não foram bem como esperávamos.
Na verdade, o que salva um país é a vontade de melhorar de seu povo. É a determinação de que é preciso fazer diferente do que fizeram gerações passadas.
Que venham 2019, pois entraremos nele com esperança renovada, revigorada.
Desde já, desejo a todos e todas, votos de um FELIZ NATAL e PRÓSPERO ANO NOVO.
Obrigado pela companhia. Encontraremos-nos em 2019. Espero que continuem a acompanhar o Cottidianos. Aproveitem para ler algum artigo que porventura não tenham lido ainda.

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Rio 40 graus

Posted by Cottidianos on 01:19
Quarta-feira, 06 de dezembro


Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
Pra você que me esqueceu - aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro - aquele abraço!
Todo o povo brasileiro - aquele abraço!

(Aquele Abraço – Gilberto Gil)


Cidade Maravilhosa, purgatório da beleza e do caos

Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil
Berço do samba e das lindas canções
Que vivem n'alma da gente
És o altar dos nossos corações
Que cantam alegremente
(Cidade Maravilhosa – Marchinha de carnaval)

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza e do caos
Capital do sangue quente do Brasil
Capital do sangue quente
Do melhor e do pior do Brasil
...
Comando de comando submundo oficial
Comando de comando submundo bandidaço
Comando de comando submundo classe média
Comando de comando submundo camelô
Comando de comando submáfia manicure
Comando de comando submáfia de boate
Comando de comando submundo de madame
Comando de comando submundo da TV
Submundo deputado - submáfia aposentado
(Rio 40 graus – Fernanda Abreu)

Duas canções. Dois retratos do Rio de Janeiro. Retratos, diga-se de passagem, diametralmente opostos.  Dois momentos absolutamente distintos da história da cidade carioca.
Quando a marchinha de carnaval, de autoria de André Filho, foi gravada pela primeira vez em 1934, o Rio deveria ser, realmente, uma cidade maravilhosa e encantadora.
De lá pra cá... Isso é outra história. A violência que começou discreta nos morros cariocas, e que não teve o pulso firme das autoridades em colocar a cidade nos eixos logo no início, se alastrou, desceu dos morros para o asfalto, para angústia dos cariocas.
De Cidade Maravilhosa virou Rio 40 graus, cidade purgatório da beleza e do caos, composta por Fernanda Abreu, e lançada por ela mesma, em 1992.
Da violência advinda do trafico de drogas e suas ramificações já se sabia. Talvez o que não se sabia era que havia outro tipo de bandidagem no submundo carioca, quiçá, tão ou mais perigosa e mais devastadora que a violência policial tão estudada, debatida, e temida: a corrupção que sugava os recursos financeiros do estado. O que não se sabia também eram que existiam outros bandidos tão ou mais perigosos que os bandidos que empunhavam fuzis e metralhadoras nos morros cariocas: os bandidos de terno, gravata, e caneta na mão, e que governavam e davam as cartas no submundo político do estado.  
O Rio de Janeiro continua tendo suas belezas naturais que encantam brasileiros e estrangeiros, mas hoje já se sabe que o cartão postal do Brasil anda um pouco desbotado.
O Cristo Redentor continua de braços abertos abençoando o povo carioca. Do alto, vê a assiste a tudo. Para os bons ele sorri e abençoa... Para os maus diz, no silencio do seu coração: um dia o acerto de contas chegará, e nesse dia haverá choro e ranger de dentes...

Do palácio para a cadeia

A Lava Jato, em mais uma operação denominada Boca de Lobo, abocanhou mais um bandido de alto gabarito e de baixa moral que comandava o Rio de Janeiro.
Na quinta-feira, 29 de novembro, a Polícia Federal prendeu o governador do estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Ele tornou-se o primeiro governador carioca a ser preso no exercício do mandato. A Polícia Federal deu voz de prisão a Pezão no alvorecer do dia. Eram seis horas quando os policiais chegaram ao Palácio das Laranjeiras, residencial oficial do governador. Ainda lhe deram uma colher de chá e permitiram que ele tomasse o café da manhã. Depois, gentilmente, o conduziram a uma residência nada luxuosa: a cadeia. Além do governador, foram presas mais sete pessoas nessa operação policial. 31 mandatos de busca e apreensão foram expedidos.
A operação Boca de Lobo foi baseada na delação premiada de Carlos Miranda, que havia sido operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral, também ele, atrás das grades. Com a prisão de Pezão, assumiu o governo o vice, Francisco Dornelles, 83 anos.
Segundo o delator Carlos Miranda, na época em que Pezão era vice governador de Sérgio Cabral, era pago a ele, Pezão, uma mesada de R$ 150 mil. Esse dinheiro tinha como fonte de origem as empreiteiras e fornecedoras que tinham contrato com o governo do estado. Ainda segundo Miranda, entre 2007 e 2014, além das mesadas, Pezão, também recebeu um décimo terceiro salário, e dois gordos bônus de R$ 1 milhão cada um.
Sérgio Cabral foi preso em 2016, porém, mesmo depois disso, os esquemas criminosos continuaram de vento em popa no governo do Rio. Além desse esquema com as empreteiras, Pezão também é acusado de receber dinheiro de esquemas criminosos no Tribunal de Contas do Estado União do Estado do Rio de Janeiro, e de receber propina da Fetranspor. Segundo a delação premiada de Miranda também era Pezão o operador do esquema de corrupção montado pelo ex-governador, Sérgio Cabral.
O governador preso começou a carreira no governo de Rosinha Garotinho. Na época ele ocupava o cargo de subsecretário de governo e coordenação. Em 2006, formou chapa com Sergio Cabral. A dupla foi eleita, conseguindo se reeleger para o mandato subseqüente. Em 2014, Sérgio Cabral renunciou ao governo do Estado em meio à denúncias de corrupção, e Pezão assumiu o governo.

Ascensão e queda de uma promessa da política nacional

Sergio Cabral, ex-governador do Rio, preso no complexo de Gericinó, na capital carioca, foi mais uma vez condenado em um processo que tramita na 7a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Foram mais 14 anos e meio de reclusão em regime fechado. A sentença foi dada na segunda-feira (03). Com a pena aplicada nessa sentença pelo juiz Marcelo Bretas já somam 197 anos e 11 meses de prisão. É caros leitores, o ex-governador já acumula quase 200 anos de prisão por ter saqueado o Rio de Janeiro, e ter enriquecido ilicitamente à custa do contribuinte.
Nesse mesmo processo, além de Sérgio Cabral, também foram condenados Susana Neves Cabral, ex-mulher do ex-governador, e o irmão dele, Maurício Cabral. Também foram condenados Alberto Silveira Conde, contador da FW Engenharia, e Flávio Werneck, dono da FW Engenharia.
O homem que acumula tantas penas e tantas condenações por corrupção poderia, hoje ser presidente do Brasil, mas a ambição desmedida jogou na lama sua fama e reputação. Preferiu o dinheiro ao poder. Como diz o personagem Frank, na série americana, House of Cards: “O dinheiro compra a mansão enorme em Sarasota que começa a ruir em dez anos. O poder é a antiga construção de pedras que permanece por séculos”.  O que Sérgio Cabral tem descoberto ultimamente é que também as grades da prisão são construções de pedra que podem durar por séculos.
Filho do escritor, jornalista, compositor, e pesquisador brasileiro, Sérgio Cabral Santos — um dos fundadores de O Pasquim — Sérgio Cabral Filho, começou a vislumbrar as glórias da vida pública quando ingressou na carreira política nos anos 80. Naquela época, Cabral, um jovem de 19 anos, carioca do Engenho Novo, entrou para a ala jovem do PMDB. Em 1982, foi um dos principais articuladores na vitoriosa campanha do pai a vereador.
Seu passaporte para o ingresso real na vida pública veio quando, em março de 1987, assumiu a Diretoria de Operações da Turisrio, Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, no governo Moreira Franco.
Em 1990, elegeu-se deputado estadual, tendo sido reeleito em 1994, e 1998. Nesses primeiros anos, era um político que levantava bandeiras bastante discretas, e que não provocavam — e ainda hoje não provocam — muita polêmica, como por exemplo, os direitos da juventude, a questão dos albergues, a defesa dos direitos dos idosos. Ao que parece, ele tinha medo de brincar com fogo e desviava de temas controversos.
Em 1992, havia se candidatado a prefeitura do Rio. Trocara o PMDB pelo PSDB, mas mesmo com o apoio de grandes nomes da política como Fernando Henrique Cardoso e José Serra, não obteve sucesso na empreitada.
Em 1995, o jovem que, antes de se filiar ao PMDB levava uma vida despretensiosa, junto à família e os amigos, assumiu a presidência da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro), e começou a experimentar o poder de uma forma mais concreta.
Se a cena política é um teatro onde o fingir bem é a arte do negócio, Sérgio Cabral assumiu na Alerj um papel moralizador, um exemplo de ética e zelo pela coisa pública. Para começar dispensou o uso do carro oficial, e cortou outros privilégios a que tinha direito. Implantou um projeto de moralizar a Assembléia. Naquela época havia naquela casa um auxílio alimentação de R$ 800 mil a que os deputados tinham direito. Cabral resolveu cortar esse benefício.
Em seu novo papel, chamou para si os temas polêmicos, como o do combate aos altos salários, aos ditos salários de marajás. Demitiu 316 servidores e pensionistas que ganhavam um salário de R$ 4.700 por mês. Isso lhe rendeu uma ameaça de morte aos filhos.
Com o discurso moralizador, vieram os holofotes, os amigos e,claro, os inimigos... Ah, também veio o dinheiro, e com ele a primeira suspeita de corrupção atribuída a Cabral: a compra de uma casa em Mangaratiba, no sul do estado, em 1998.
Marcello Alencar (PSDB) era governador do Rio e entrou com pedido de improbidade administrativa contra Cabral. Porém, a popularidade e o poder de Sérgio Cabral estavam em alta. Ele havia saído das urnas nas eleições de 98 como o deputado estadual mais votado do Brasil. Tudo isso contribuiu para que as investigações sobre a casa em Mangaratiba — casa é um modo de dizer, pois o imóvel é uma luxuosa mansão de veraneio — fossem colocadas embaixo do tapete.
A desavença com Alencar, seu companheiro de partido fez com que ele deixasse o PSDB e voltasse ao PMBD. Em 2002, se candidatou ao senado e venceu as eleições. Depois de uma atuação discreta no senado, renunciou ao cargo pois havia sido eleito governador do Rio. Voltava para casa em grande estilo.
E voltou com os discursos e ações moralizadoras ainda mais forte, principalmente, nas áreas da segurança e da saúde. Entretanto, mais uma vez era tudo uma máscara, uma farsa. Logo se aliou aos poderosos e desonestos em seu projeto de enriquecimento fácil e rápido. Era o todo poderoso do Rio, porém o dinheiro o fascinava ainda mais que o poder.
Mas, como toda Roma tem seu apogeu e o seu declínio, o declínio de Cabral começou quando ele começou a amizade com o empresário Fernando Cavendish. No Rio de Janeiro, em face de seus compatriotas usava máscara de bom moço, empenhando na luta contra a corrupção, mordomias, e privilégios.
Longe da terra natal, nos luxuosíssimos restaurantes de Paris, era hora e momento de torrar o dinheiro ganho com os contratos ilícitos firmado com as empreiteiras. Foi num desses jantares nababescos que Fernando Cavendish presenteou Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, com um anel no valor de R$ 800 mil. Era um pequeno mimo para agradecer os grandes favores que o governo de Cabral concedia ao empresário. Afinal, Cavendish havia ganhado quase R$ 1,5 milhões em contratos firmados entre a Delta e o governo do Rio.
Era assim que funcionava: Cabral cobrava mesada das empreiteiras para que elas ganhassem os contratos com o estado. Esse esquema durou de 2007 a 2014.
Hoje o todo poderoso amarga as celas e a solidão da prisão.
Além de Sergio Cabral e Pezão, também outros dois governadores do Rio já experimentaram a solidão da prisão: Antonio Garotinho e sua mulher, Rosinha Garotinho.
Mas não para por aí. No Rio também já foram presos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Recentemente foram presos 10 deputados, um deles recém-eleito nas últimas eleições. Também no Rio já foram presos também quadrilhas de policiais que, ao invés de defender a lei e a ordem, se aliavam aos bandidos para adquirir vantagens em dinheiro.
Por tudo isso, o Rio de Janeiro é, ao mesmo tempo cartão postal, retrato e pulmão do Brasil. Um pulmão manchado pelo vício da corrupção que há tempos saqueia o estado e deixa o povo no abandono quando se trata de questão importantes como educação, saúde e segurança.
É impossível não fazer comparações. Fernando Collor assumiu um discurso moralizador e deu no que deu... Sérgio Cabral fez a mesma coisa no Rio de Janeiro... Agora chega Jair Messias Bolsonaro com um discurso idêntico. Queira Deus que, mais uma vez, não nos decepcionemos.
Cristo Redentor, Rogai por nós.

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