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As sementes da democracia
Posted by Cottidianos
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18:33
Domingo,
20 de agosto
“Atirei minha
semente
Na terra onde
tudo dá
Chuva veio de
repente
Carregou levou
pro mar
Quando as águas
foram embora
Plantei sonhos
no chão
Mais demora
minha gente
Ter na hora um
verde puro
Ou dar fruto bem
maduro”
(Semente - Almir Sater & Paulo
Simões)
Seja
na aurora da vida, ou no meio do dia, seja ao entardecer da existência, sempre
é tempo de internalizar algum conhecimento, de trazer para dentro de nós, algum
princípio de sabedoria, que nos torne seres humanos melhores.
Para
aquele que se coloca diante da vida como um aluno, cada dia, cada hora, cada
momento é um ato de aprendizado. Mesmo porque a vida e o tempo são professores
incansáveis. Professores que, fora dos métodos tradicionais de aprendizagem, às
vezes ensinam pelo amor, às vezes pela dor. Em ambos os casos, o objetivo é
sempre o mesmo: que estejamos prontos, ou quase prontos, no momento em que
formos chamados para continuar o aprendizado nas salas de aulas da eternidade.
A
eternidade é perfeição. Quantas vidas nos são necessária para alcançarmos a
perfeição? Quem de vós pode bater no peito e afirmar-se um ser humano perfeito?
Tu mesmo, conheces alguém que seja
perfeito neste mundo de ilusões fugazes?
“Sede
perfeitos como é perfeito o vosso pai que está nos céus”. Assim nos exorta
Jesus nos evangelhos. Mas... Quão difícil é o caminho, e quão íngreme a estrada
que leva a perfeição. Levanta-se aqui, cai acolá. Um passo de cada vez. Mais um.
Alguns desistem de continuar o caminho. Outros resmungam e se afirmam incapazes
de tal coisa. Estes terão trabalhado dobrado, pois a eternidade como símbolo de
perfeição e evolução não aceita desistências, pois não conhece outro objetivo
que não seja o encontro do homem com sua essência.
Talvez
o mais difícil nessa caminhada em direção à plenitude é que não se podem pegar
elevadores, nem aviões, nem todas essas modernidades que levam a humanidade
para cima e para baixo, seja nos pequenos prédios de qualquer cidade, seja nos
arranha-céus de Dubai. Na estrada da plenitude, não tem jeito: a subida é feita
degrau por degrau, passo a passo. Pode ser que isso irrite a muitos tão
arraigados às modernidades, acostumados a viver na velocidade da luz quando se
trata de tecnologia.
Ainda
falando desse Jesus que nos exortou a sermos perfeitos como o Pai é perfeito,
ao que nos consta, em seu currículo não há nenhuma graduação em Stanford,
nenhum doutorado em Cambridge, nem um pós-doutorado em Harvard. Também não
consta do currículo dele nenhuma especialização em Oxford. Nem tampouco, o
nazareno, nascido de gente simples, e vivendo entre gente simples, era versado
em línguas. Se houvesse redes socais naquela época, certamente não o
encontrarias em viagens luxuosas pelo Caribe, nem encontrarias postagens dele
vivendo em grandes mansões, nem rodeado de celebridades.
No
entanto, aquele homem simples conseguiu confundir um império inteiro. E não era
um império qualquer. O império em questão tratava-se do poderoso Império
Romano. A força do Messias era tão forte e as sementes que ele espalhou, eram
tão poderosas, que mesmo após sua morte, e sem a força das armas, conseguiu
vencer aquele que havia lhe tirado a vida física. Como uma semente que cresce e
se fortifica, mesmo sofrendo perseguições por três séculos após a morte de seu
principal ícone, no ano 313, o imperador Constantino legaliza o cristianismo, e
em 390, ele se torna a religião oficial do Império Romano.
Assim,
mesmo sem diplomas importantes, e sem o domínio das línguas, a palavra daquele
que andava entre pescadores e era acolhido por gente simples, espalhou-se por
entre as nações.
Toda
essa obra, porém, só cresceu e frutificou por ter sido plantada em solo fértil,
e regada com muito suor, e até com sangue. Solo fértil e boa semente: Eis aí a
receita para que se possa fazer prosperar uma obra, para que se façam crescer
as nações, e juntamente com elas, os sonhos e desejos daqueles que se abrigam
sob os seus mantos, suas bandeiras.
Abre-se
nesse ponto do ponto do presente escrito para a parábola do semeador, proferida
pelo mestre à beira de um lago. Outra curiosidade a respeito deste homem é a de que ele não falava as coisas claramente
aos seus discípulos e aos seus seguidores. Sempre falava sobre os mistérios
divinos e ate sobre si mesmo usando histórias simples, cheias de simbolismo,
nas quais cada elemento da narrativa tem um significado específico. Em todas elas,
porém, há sempre algum ensinamento, alguma reflexão sobre a vida. Conta a parábola:
A parábola do semeador
Naquele mesmo dia Jesus saiu de casa e
se sentou à beira do lago. Uma grande multidão se juntou ao seu redor. Havia
tanta gente que Jesus entrou num barco e se sentou; e toda a multidão
permanecia de pé na praia. Jesus lhes ensinou muitas coisas por meio de
parábolas. Ele dizia:
— Certo homem saiu para semear. Enquanto
semeava, uma parte das sementes caiu à beira do caminho e os pássaros vieram e
as comeram. Outra parte caiu no meio de pedras, onde havia pouca terra. Essas
sementes brotaram depressa pois a terra não era funda, mas, quando o sol
apareceu, elas secaram, pois não tinham raízes. Outra parte das sementes caiu
no meio de espinhos, os quais cresceram e as sufocaram. Outra parte ainda caiu
em terra boa e deu frutos, produzindo 30, 60 e até mesmo 100 vezes mais do que
tinha sido plantado. Quem pode ouvir, ouça.
Sabe-se
que para que uma cultura de qualquer grão ou cereal tenha efeito, são
necessários três coisas: semeador, semente, e solo.
Ora,
e o que tem que fazer o semeador? Nada mais além de semear a semente. Se passar
pelos campos e deixar a semente na sacola nada terá feito, e semente nenhuma
terá semeado. Se as deixar estocadas no celeiro tampouco haverá safra nenhuma. Portanto,
o trabalho do semeador é arregaçar as mangas e por se a semear.
Para
que o trabalho daquele que semeia seja produtivo e a safra seja farta concorrem
duas coisas: que a semente seja boa, e que o solo na qual ela é depositada também
o seja. Não adianta jogar boa semente em solo ruim. Perde-se o trabalho todo.
Na
parábola em questão o semeador depara-se com quatro tipos de situação: as
sementes que caíram à beira do caminho, às que caíram em meio às pedras, às que
caíram em meio aos espinhos, e às que caíram em terra boa. As primeiras foram
comidas pelos pássaros, as segundas ficaram espremidas entre as pedras. Essas até
brotaram, pois ainda ali havia um pouco de terra, mas não era suficiente para
que as sementes germinassem. Faltava-lhes profundidade para que as raízes
pudessem se aprofundar. As seguintes foram sufocadas pelos espinhos, e as
últimas, caíram em terra boa. Essas sim! Cresceram e deram bons frutos para
alegria daquele que semeou.
Transpondo
esta parábola para o campo político, temos que a democracia tem semeado suas
sementes pelos campos imensos do país. Mas poucas sementes têm frutificado. O solo
do país é fértil. A semeadora é esforçada e sábia. Porém para que a semente cresça
e frutifique no solo de uma nação há que concorrer quatro coisas: bom semeador,
boa semente, solo fértil, e vento favorável.
Infelizmente,
nos campos da política brasileira estão faltando ventos favoráveis. A democracia
tem tido um trabalho medonho. Sua sacola está cheia de boas sementes, e há um
solo de primeira qualidade ávido de sementes para fazer frutificar. Mas os
ventos não tem sido favoráveis. E esses ventos, soprando em contrário, fazem
com que muitas sementes caiam à beira do caminho. Podemos comparar estas aos
políticos que ingressam na política, mas sem muita convicção, e sem vocação
para a vida pública, acabam sendo presas fáceis de negociações escusas e logo
abandonam a causa pela qual deveriam lutar, e mudam de lado rapidamente, abandonando
aqueles que os elegeram através do voto.
Os
que caem entre as pedras, podemos compará-los àqueles que até entram para a
política com boas convicções, cheios de ideais de mudança, e planos de lutar
para que o país tenha um futuro melhor. Entretanto, esses conceitos, vontades e
ideais estão apenas no campo teórico, sem estarem enraizados em seu caráter. Esses
logo sucumbem ao oferecimento da primeira propina, e aliam-se aos poderosos,
esquecendo, rapidamente, seus sonhos de uma nação que cresce junto com seus
habitantes. As sementes que caem entre os espinhos são aqueles que entram
cheios de entusiasmo, e de idealismo, porém, encontram nas casas legislativas
um clima tão adverso, tão cheio de corrupção e falta de compromisso com o povo,
que ficam sufocados por essas dificuldades e deixam morrer em seus corações o
desejo de lutar por um país melhor. Essas sementes logo secam e apodrecem, não
dando fruto algum.
Porém,
ai do povo de um país, de uma nação, se nenhuma semente caísse em terra boa. Aí
seria o fim dos sonhos. Apenas campos secos e desertos. Sem frutos para
alimentar a população, e sem árvores que abrigasse do calor intenso. O trabalho
da incansável semeadora democracia não é de todo em vão em nosso país. Há sementes
que caem em terra boa. Essas são aqueles políticos que, mesmo, e apesar de toda
a adversidade, apesar das tentações que lhe passam pela frente, ainda conseguem
dizer não aos projetos contrários aos interesses da nação quando eles são
colocados em plenário em votação. Esses nem sempre ganham, mas também nem
sempre perdem.
E
graças a essas sementes que caíram em terra boa, é que os campos ainda tem
esperança de não serem dominados pelo terrível joio, e de ainda frutificar produzindo
“30, 60 e até mesmo 100 vezes mais do que tinha sido plantado”.