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Ventos novos, novas esperanças

Posted by Cottidianos on 03:07

Sexta, feira, 21 de dezembro

No novo tempo, apesar dos castigos

Estamos crescidos, estamos atentos, estamos mais vivos
Pra nos socorrer, pra nos socorrer, pra nos socorrer
No novo tempo, apesar dos perigos
Da força mais bruta, da noite que assusta, estamos na luta
Pra sobreviver, pra sobreviver, pra sobreviver
Pra que nossa esperança seja mais que a vingança
Seja sempre um caminho que se deixa de herança
(Novo Tempo – Ivan Lins)




Caros leitores, caras leitoras, desde julho de 2013 com postagens ininterruptas, este blog suspenderá as postagens por um mês.  Mas antes gostaria de deixar a todos vocês umas breves palavras.
Mais um ano vai se aproximando do final e mais um ano se anuncia no horizonte. Na verdade, tudo continua a mesma coisa: o dia entregará o bastão à noite para que ela possa continuar o trabalho da criação; os homens e mulheres de boa vontade — e até mesmo aqueles que não têm nenhuma boa vontade — continuarão a batalhar pelos seus sonhos e projetos; as crianças continuarão com seus brinquedos e folguedos até que o tempo os faça ciente de que já cresceram e lhes apresente novos brinquedos e novos folguedos de adultos.
Na verdade o que deveria se fazer novo mesmo, ou melhor, o que deveria se fazer nova mesmo seriam as nossas consciências. A consciência, essa chave escondida dentro de cada um de nós que pode nos levar a gloria ou a destruição, conforme o uso que fazemos dela.
Temos visto tantos exemplos de como esse tesouro pode ser causa de elevação ou de ruína. O ex-presidente Luís Inácio Lula da Silva, o médico Roger Abdelmassih, e mais recentemente, o médium João de Deus, também ele muito conhecido no Brasil e no exterior, são exemplos de como o mau uso da consciência pode rasgar belas biografias, e de fazer pessoas respeitadas e poderosas da sociedade, de repente, perderem todo o respeito e poder que desfrutavam em face de seus irmãos em humanidade.
De repente, eles perderam o poder que tinham, mas sabemos que assim como os castelos da vida real não são construídos, de uma hora para outra, com o poder mágico da varinha de condão das belas e bondosas fadas, da mesma forma eles também não são destruído, de uma hora para outra, com as porções maléficas das bruxas.
Uma má intenção aqui, outra acolá, e o sujeito nem percebe que cava a própria ruína. Talvez, eles próprios, em suas consciências doentias, nem se deram conta de que estavam agredindo, machucando, transgredindo a boa fé daqueles que neles confiavam. Certamente, evitaríamos tantas decepções se observássemos o preceito evangélico formulado pelo sábio Jesus de Nazaré, que diz: “Pelo fruto se conhece a árvore”.
Foram citados esses três personagens, mas a intenção é colocar por trás deles todos os políticos, médicos, médiuns e outras categorias profissionais que são trevas no mundo, ao invés de ser luz, que espalham decepção, em vez de semearem esperança.
Para levantar a cabeça e não desanimar com esses exemplos pense o leitor nos milhares, milhões de pessoas que estão nesta terra a semear as sementes da bondade e da misericórdia. Ao que semeia, tenha a consciência de que, a exemplo da parábola do semeador, citada nos evangelhos cristãos, nem todas nascerão. Por vários motivos algumas sementes plantadas não brotarão. Mas não é por culpa do semeador, este fez o seu trabalho de semear, de por a semente no seio da terra.
Também não esperem que a tal fada da varinha mágica de condão, venha e, do dia pra noite, faça surgir um mundo mais justo e mais fraterno. Também aqui é tijolo por tijolo. Um bom pensamento aqui, outro acolá, e quando nos dermos conta já estaremos com uma boa plantação de boas ações.
Muitas expectativas se abrem pra nós, brasileiros e brasileiras, com o novo governo de Jair Bolsonaro. Porém, sempre tem um porém, os brasileiros costumam colocar toda a confiança numa pessoa só, como se aquela pessoa fosse o salvador da pátria. Não pensem assim. Salvadores da pátria não existem. E se existem são tão consistentes quanto às bexigas que decoram as festas infantis por ocasião dos aniversários. Bastam um objeto mais pontiagudo e elas se desmancham no ar.
Lembrem-se de que já tivemos vários exemplos desses em nosso país onde se elegeu uma pessoa como herói, como salvador, e as coisas não foram bem como esperávamos.
Na verdade, o que salva um país é a vontade de melhorar de seu povo. É a determinação de que é preciso fazer diferente do que fizeram gerações passadas.
Que venham 2019, pois entraremos nele com esperança renovada, revigorada.
Desde já, desejo a todos e todas, votos de um FELIZ NATAL e PRÓSPERO ANO NOVO.
Obrigado pela companhia. Encontraremos-nos em 2019. Espero que continuem a acompanhar o Cottidianos. Aproveitem para ler algum artigo que porventura não tenham lido ainda.

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Rio 40 graus

Posted by Cottidianos on 01:19
Quarta-feira, 06 de dezembro


Meu caminho pelo mundo eu mesmo traço
A Bahia já me deu régua e compasso
Quem sabe de mim sou eu - aquele abraço!
Pra você que me esqueceu - aquele abraço!
Alô, Rio de Janeiro - aquele abraço!
Todo o povo brasileiro - aquele abraço!

(Aquele Abraço – Gilberto Gil)


Cidade Maravilhosa, purgatório da beleza e do caos

Cidade maravilhosa
Cheia de encantos mil
Cidade maravilhosa
Coração do meu Brasil
Berço do samba e das lindas canções
Que vivem n'alma da gente
És o altar dos nossos corações
Que cantam alegremente
(Cidade Maravilhosa – Marchinha de carnaval)

Rio 40 graus
Cidade maravilha
Purgatório da beleza e do caos
Capital do sangue quente do Brasil
Capital do sangue quente
Do melhor e do pior do Brasil
...
Comando de comando submundo oficial
Comando de comando submundo bandidaço
Comando de comando submundo classe média
Comando de comando submundo camelô
Comando de comando submáfia manicure
Comando de comando submáfia de boate
Comando de comando submundo de madame
Comando de comando submundo da TV
Submundo deputado - submáfia aposentado
(Rio 40 graus – Fernanda Abreu)

Duas canções. Dois retratos do Rio de Janeiro. Retratos, diga-se de passagem, diametralmente opostos.  Dois momentos absolutamente distintos da história da cidade carioca.
Quando a marchinha de carnaval, de autoria de André Filho, foi gravada pela primeira vez em 1934, o Rio deveria ser, realmente, uma cidade maravilhosa e encantadora.
De lá pra cá... Isso é outra história. A violência que começou discreta nos morros cariocas, e que não teve o pulso firme das autoridades em colocar a cidade nos eixos logo no início, se alastrou, desceu dos morros para o asfalto, para angústia dos cariocas.
De Cidade Maravilhosa virou Rio 40 graus, cidade purgatório da beleza e do caos, composta por Fernanda Abreu, e lançada por ela mesma, em 1992.
Da violência advinda do trafico de drogas e suas ramificações já se sabia. Talvez o que não se sabia era que havia outro tipo de bandidagem no submundo carioca, quiçá, tão ou mais perigosa e mais devastadora que a violência policial tão estudada, debatida, e temida: a corrupção que sugava os recursos financeiros do estado. O que não se sabia também eram que existiam outros bandidos tão ou mais perigosos que os bandidos que empunhavam fuzis e metralhadoras nos morros cariocas: os bandidos de terno, gravata, e caneta na mão, e que governavam e davam as cartas no submundo político do estado.  
O Rio de Janeiro continua tendo suas belezas naturais que encantam brasileiros e estrangeiros, mas hoje já se sabe que o cartão postal do Brasil anda um pouco desbotado.
O Cristo Redentor continua de braços abertos abençoando o povo carioca. Do alto, vê a assiste a tudo. Para os bons ele sorri e abençoa... Para os maus diz, no silencio do seu coração: um dia o acerto de contas chegará, e nesse dia haverá choro e ranger de dentes...

Do palácio para a cadeia

A Lava Jato, em mais uma operação denominada Boca de Lobo, abocanhou mais um bandido de alto gabarito e de baixa moral que comandava o Rio de Janeiro.
Na quinta-feira, 29 de novembro, a Polícia Federal prendeu o governador do estado do Rio de Janeiro, Luiz Fernando Pezão. Ele tornou-se o primeiro governador carioca a ser preso no exercício do mandato. A Polícia Federal deu voz de prisão a Pezão no alvorecer do dia. Eram seis horas quando os policiais chegaram ao Palácio das Laranjeiras, residencial oficial do governador. Ainda lhe deram uma colher de chá e permitiram que ele tomasse o café da manhã. Depois, gentilmente, o conduziram a uma residência nada luxuosa: a cadeia. Além do governador, foram presas mais sete pessoas nessa operação policial. 31 mandatos de busca e apreensão foram expedidos.
A operação Boca de Lobo foi baseada na delação premiada de Carlos Miranda, que havia sido operador financeiro do ex-governador Sérgio Cabral, também ele, atrás das grades. Com a prisão de Pezão, assumiu o governo o vice, Francisco Dornelles, 83 anos.
Segundo o delator Carlos Miranda, na época em que Pezão era vice governador de Sérgio Cabral, era pago a ele, Pezão, uma mesada de R$ 150 mil. Esse dinheiro tinha como fonte de origem as empreiteiras e fornecedoras que tinham contrato com o governo do estado. Ainda segundo Miranda, entre 2007 e 2014, além das mesadas, Pezão, também recebeu um décimo terceiro salário, e dois gordos bônus de R$ 1 milhão cada um.
Sérgio Cabral foi preso em 2016, porém, mesmo depois disso, os esquemas criminosos continuaram de vento em popa no governo do Rio. Além desse esquema com as empreteiras, Pezão também é acusado de receber dinheiro de esquemas criminosos no Tribunal de Contas do Estado União do Estado do Rio de Janeiro, e de receber propina da Fetranspor. Segundo a delação premiada de Miranda também era Pezão o operador do esquema de corrupção montado pelo ex-governador, Sérgio Cabral.
O governador preso começou a carreira no governo de Rosinha Garotinho. Na época ele ocupava o cargo de subsecretário de governo e coordenação. Em 2006, formou chapa com Sergio Cabral. A dupla foi eleita, conseguindo se reeleger para o mandato subseqüente. Em 2014, Sérgio Cabral renunciou ao governo do Estado em meio à denúncias de corrupção, e Pezão assumiu o governo.

Ascensão e queda de uma promessa da política nacional

Sergio Cabral, ex-governador do Rio, preso no complexo de Gericinó, na capital carioca, foi mais uma vez condenado em um processo que tramita na 7a Vara Federal Criminal do Rio de Janeiro. Foram mais 14 anos e meio de reclusão em regime fechado. A sentença foi dada na segunda-feira (03). Com a pena aplicada nessa sentença pelo juiz Marcelo Bretas já somam 197 anos e 11 meses de prisão. É caros leitores, o ex-governador já acumula quase 200 anos de prisão por ter saqueado o Rio de Janeiro, e ter enriquecido ilicitamente à custa do contribuinte.
Nesse mesmo processo, além de Sérgio Cabral, também foram condenados Susana Neves Cabral, ex-mulher do ex-governador, e o irmão dele, Maurício Cabral. Também foram condenados Alberto Silveira Conde, contador da FW Engenharia, e Flávio Werneck, dono da FW Engenharia.
O homem que acumula tantas penas e tantas condenações por corrupção poderia, hoje ser presidente do Brasil, mas a ambição desmedida jogou na lama sua fama e reputação. Preferiu o dinheiro ao poder. Como diz o personagem Frank, na série americana, House of Cards: “O dinheiro compra a mansão enorme em Sarasota que começa a ruir em dez anos. O poder é a antiga construção de pedras que permanece por séculos”.  O que Sérgio Cabral tem descoberto ultimamente é que também as grades da prisão são construções de pedra que podem durar por séculos.
Filho do escritor, jornalista, compositor, e pesquisador brasileiro, Sérgio Cabral Santos — um dos fundadores de O Pasquim — Sérgio Cabral Filho, começou a vislumbrar as glórias da vida pública quando ingressou na carreira política nos anos 80. Naquela época, Cabral, um jovem de 19 anos, carioca do Engenho Novo, entrou para a ala jovem do PMDB. Em 1982, foi um dos principais articuladores na vitoriosa campanha do pai a vereador.
Seu passaporte para o ingresso real na vida pública veio quando, em março de 1987, assumiu a Diretoria de Operações da Turisrio, Companhia de Turismo do Estado do Rio de Janeiro, no governo Moreira Franco.
Em 1990, elegeu-se deputado estadual, tendo sido reeleito em 1994, e 1998. Nesses primeiros anos, era um político que levantava bandeiras bastante discretas, e que não provocavam — e ainda hoje não provocam — muita polêmica, como por exemplo, os direitos da juventude, a questão dos albergues, a defesa dos direitos dos idosos. Ao que parece, ele tinha medo de brincar com fogo e desviava de temas controversos.
Em 1992, havia se candidatado a prefeitura do Rio. Trocara o PMDB pelo PSDB, mas mesmo com o apoio de grandes nomes da política como Fernando Henrique Cardoso e José Serra, não obteve sucesso na empreitada.
Em 1995, o jovem que, antes de se filiar ao PMDB levava uma vida despretensiosa, junto à família e os amigos, assumiu a presidência da Alerj (Assembléia Legislativa do Rio de Janeiro), e começou a experimentar o poder de uma forma mais concreta.
Se a cena política é um teatro onde o fingir bem é a arte do negócio, Sérgio Cabral assumiu na Alerj um papel moralizador, um exemplo de ética e zelo pela coisa pública. Para começar dispensou o uso do carro oficial, e cortou outros privilégios a que tinha direito. Implantou um projeto de moralizar a Assembléia. Naquela época havia naquela casa um auxílio alimentação de R$ 800 mil a que os deputados tinham direito. Cabral resolveu cortar esse benefício.
Em seu novo papel, chamou para si os temas polêmicos, como o do combate aos altos salários, aos ditos salários de marajás. Demitiu 316 servidores e pensionistas que ganhavam um salário de R$ 4.700 por mês. Isso lhe rendeu uma ameaça de morte aos filhos.
Com o discurso moralizador, vieram os holofotes, os amigos e,claro, os inimigos... Ah, também veio o dinheiro, e com ele a primeira suspeita de corrupção atribuída a Cabral: a compra de uma casa em Mangaratiba, no sul do estado, em 1998.
Marcello Alencar (PSDB) era governador do Rio e entrou com pedido de improbidade administrativa contra Cabral. Porém, a popularidade e o poder de Sérgio Cabral estavam em alta. Ele havia saído das urnas nas eleições de 98 como o deputado estadual mais votado do Brasil. Tudo isso contribuiu para que as investigações sobre a casa em Mangaratiba — casa é um modo de dizer, pois o imóvel é uma luxuosa mansão de veraneio — fossem colocadas embaixo do tapete.
A desavença com Alencar, seu companheiro de partido fez com que ele deixasse o PSDB e voltasse ao PMBD. Em 2002, se candidatou ao senado e venceu as eleições. Depois de uma atuação discreta no senado, renunciou ao cargo pois havia sido eleito governador do Rio. Voltava para casa em grande estilo.
E voltou com os discursos e ações moralizadoras ainda mais forte, principalmente, nas áreas da segurança e da saúde. Entretanto, mais uma vez era tudo uma máscara, uma farsa. Logo se aliou aos poderosos e desonestos em seu projeto de enriquecimento fácil e rápido. Era o todo poderoso do Rio, porém o dinheiro o fascinava ainda mais que o poder.
Mas, como toda Roma tem seu apogeu e o seu declínio, o declínio de Cabral começou quando ele começou a amizade com o empresário Fernando Cavendish. No Rio de Janeiro, em face de seus compatriotas usava máscara de bom moço, empenhando na luta contra a corrupção, mordomias, e privilégios.
Longe da terra natal, nos luxuosíssimos restaurantes de Paris, era hora e momento de torrar o dinheiro ganho com os contratos ilícitos firmado com as empreiteiras. Foi num desses jantares nababescos que Fernando Cavendish presenteou Adriana Ancelmo, mulher de Sérgio Cabral, com um anel no valor de R$ 800 mil. Era um pequeno mimo para agradecer os grandes favores que o governo de Cabral concedia ao empresário. Afinal, Cavendish havia ganhado quase R$ 1,5 milhões em contratos firmados entre a Delta e o governo do Rio.
Era assim que funcionava: Cabral cobrava mesada das empreiteiras para que elas ganhassem os contratos com o estado. Esse esquema durou de 2007 a 2014.
Hoje o todo poderoso amarga as celas e a solidão da prisão.
Além de Sergio Cabral e Pezão, também outros dois governadores do Rio já experimentaram a solidão da prisão: Antonio Garotinho e sua mulher, Rosinha Garotinho.
Mas não para por aí. No Rio também já foram presos conselheiros do Tribunal de Contas do Estado. Recentemente foram presos 10 deputados, um deles recém-eleito nas últimas eleições. Também no Rio já foram presos também quadrilhas de policiais que, ao invés de defender a lei e a ordem, se aliavam aos bandidos para adquirir vantagens em dinheiro.
Por tudo isso, o Rio de Janeiro é, ao mesmo tempo cartão postal, retrato e pulmão do Brasil. Um pulmão manchado pelo vício da corrupção que há tempos saqueia o estado e deixa o povo no abandono quando se trata de questão importantes como educação, saúde e segurança.
É impossível não fazer comparações. Fernando Collor assumiu um discurso moralizador e deu no que deu... Sérgio Cabral fez a mesma coisa no Rio de Janeiro... Agora chega Jair Messias Bolsonaro com um discurso idêntico. Queira Deus que, mais uma vez, não nos decepcionemos.
Cristo Redentor, Rogai por nós.

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Jogo de trapaças

Posted by Cottidianos on 01:33
Quinta-feira, 29 de novembro


O presidente eleito Jair Bolsonaro se elegeu graças a um forte discurso antipetista e anticorrupção. Esse discurso colou — e muito bem, por sinal. O candidato do PSL também se apresentou como uma nova cara na política e como candidato antisistema.
Estratégias, estratégias, estratégias. Elas funcionam bem em qualquer situação. Para fazer justiça ou injustiça, para o bem ou para mal. A estratégia não deixa de ser uma arma de guerra. Ganha quem melhor sabe fazer uso dela.
Á título de exemplo, este blog cita o caso do ex-jogador de futebol e ator americano O. J. Simpson. Ele foi acusado, em 1994, de assassinar a facadas a ex-mulher, Nicole Brown, e o amigo dela, Ronald Goldman. Todas as provas materiais colocavam O. J. Na cena do crime. Para a acusação era daqueles casos em que se poderia afirmar: É um caso ganho.Em 1994, após um longo julgamento que dividiu a opinião publica norte-americana, e em um polêmico veredicto, o ex-atleta foi absolvido do crime de duplo assassinato, graças ao trabalho meticuloso e brilhante da defesa.
Essa ilustração, extraídas das páginas policiais da vida real , entra nesse artigo para destacar a estratégia usada pela defesa que conseguiu desviar a atenção dos jurados, e da opinião pública, do caso da acusação de duplo homicídio, para um caso relacionado à questão racial. Como já foi dito acima, estratégia é arma. Quem sabe melhor manejá-la ganha o jogo.
Bolsonaro ganhou, é verdade, graças ao bom uso da estratégia. Mas logo, logo, verá que e preciso muito jogo de cintura para governar. Na verdade, de cara nova na política Bolsonaro não tem nada.  E de antisistêmico menos ainda. É tão velho na política, quanto às velhas raposas. É tão sistema quanto qualquer dos outros mais antigos na cena política. Afinal, foram 27 anos percorrendo os corredores do Congresso, sendo testemunha de acordos espúrios na calada da noite, negociatas, compra de votos, e toda essa lama que rola em Brasília.
Isso pode ser bom e pode ruim para ele. Ele pode usar esses rascunhos e estratégias contra ou a seu favor. Isso somente saberemos quando o jogo começar pra valer.
Por enquanto, digamos assim, ele está apenas escalando o time. Vai encontrar resistência de todos os lados. Já está encontrando, na verdade. A bancada evangélica promete ser dura na queda de braço do jogo do poder.  E ela já começou a fazer isto quando se opôs a indicação de Mozart Neves Ramos, diretor do Instituto Ayrton Senna, para o ministério da Educação.
Seria uma escolha técnica, devido ao conhecimento de Mozart nessa área, porém a bancada evangélica queria alguém com um perfil mais ideológico. Bolsonaro então, cedendo à pressão, e fugindo um pouco de sua promessa de formar um ministério mais pendente para o lado técnico, resolveu então prescindir do nome de Mozart, para indicar Ricardo Vélez Rodríguez, com perfil mais ideológico que técnico para o cargo de ministro da Educação.
Há também os bandidos que usam o Congresso Nacional e o cargo que lhes foi outorgado pela população, através do voto, para tentarem legislar em causa própria e facilitarem a própria vida, caso as denúncias que pesam contra eles e seus comparsas, sejam levadas às vias de fato, e eles vão parar no lugar que lhes é de direito: atrás das grades.
Alguns desses parlamentares, e que estão sendo investigados na Lava Jato, pretendem colocar em votação um projeto que atenua a pena de vários crimes, inclusive, aquele no qual estão enredados, ou seja, a corrupção.
Aprovado em outubro do ano passado no Senado, o projeto elaborado por uma comissão de juristas teve autoria de Renan Calheiros, também ele envolvido em casos de corrupção. São 14 inquéritos aos quais o senador responde no STF ligados a crimes de corrupção.
Aprovado no Senado, o projeto chegou à Câmara dos Deputados em novembro, e logo, deputados com a cabeça na guilhotina da justiça, propuseram que ele deveria ser votada de imediato. Aliás, é sempre assim: Quando se trata de legislar em causa própria, os deputados e senadores têm a máxima urgência. Já quando se trata de assuntos de interesse do país e da população, aí os projetos, quando tramitam, o fazem no mesmo passo e ritmo que o das tartarugas. Isso quando não vão amarelar suas páginas, esquecidos na gaveta de algum relator.
Agora, ao apagar das luzes, conforme denúncia da Folha de São Paulo, em reportagem publicada nesta segunda-feira (26), esse grupo de parlamentares, dentre eles, Arthur Lira (PP, Avante), Jovair Arantes (PTB, PROS, PSL, PRP), Marcos Montes (PSD), Carlos Zarattni (PT), Baleia Rossi (PMDB) e José Rocha (PR), voltaram a pressionar o presidente da Câmara, Rodrigo Maia (DEM-RJ).
Dentre as alterações que os deputados pretendem fazer estão; a progressão de antecipada de regime quando o presídio em que o réu estiver confinado se encontrar superlotado e a conversão da pena privativa de liberdade, não superior a quatro anos, em restritiva de direitos, dentre outras.
O futuro ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro, vê com preocupação essa alterações e defende que essas flexibilizações não podem ser aplicadas aos crimes de corrupção, e pediu ao presidente da Câmara, Rodrigo Maia que não coloque o projeto em pauta da votação, como queriam alguns deputados, e que a análise do caso fique apenas para o ano que vem. “Eu não penso que resolve-se o problema da criminalidade simplesmente soltando os criminosos. Claro que a superlotação é um problema, isso tem que ser trabalhado, mas simplesmente abrir as portas das cadeias não é a melhor solução, na minha opinião, isso tem que ser enfrentado de uma outra maneira”, disse Sérgio Moro.
Em mais uma prova de que os políticos usam o Congresso para legislar em causa própria, ao invés de proteger os interesses da nação, é que, por falta de votação na Câmara, seguiu direto para o Senado, um projeto que volta a permitir que quem ocupou cargo político ou atuou em campanha eleitoral nos últimos três anos, seja indicado para a direção de estatais, e que também caia a proibição de que parentes de até terceiro grau de dirigentes de partidos, senadores, vereadores, ministros, e outras autoridades, ocupem cargo em empresas públicas.
O projeto que os deputados têm tanta pressa em ver aprovado ainda no mandato vigente, fere a lei de responsabilidade das estatais, e, de certo modo, enfraquece a luta contra a corrupção.
Tanto alvoroço em torno da questão é o fato de que tramita na Câmara um recurso que obriga o debate do projeto no plenário.
O projeto havia sido aprovado, simbolicamente, por uma comissão de 35 deputados, mas a idéia era envolver todos os 513 deputados na discussão, porém, se isso acontecesse não daria tempo do projeto ser votado ainda durante esse mandato. Porém, alguns partidos orientaram os deputados a votar contra o recurso, o que permitiu o envio do texto ao Senado.
Ainda na questão de legislar em causa própria, o deputado, Giovani Querini (PR), pediu para os deputados pensarem neles mesmos e derrubar o recurso. “É muito importante votar não porque parece, aqui nesta casa, que deputado dá tiro no pé. Porque imagina se uma pessoa que ocupou um cargo político não pode ocupar outro cargo, porque automaticamente passou a ser suspeita. Isso é confissão, isso é um erro que esta casa comete permanentemente”, disse o deputado.
Em meio a tudo isso, mais um problema se apresenta ao futuro governo, Jair Bolsonaro, as contas públicas, e ao bolso de cada cidadão: o presidente Michel Temer sancionou o reajuste de 16% para os ministros do Supremo Tribunal Federal. Os Salários subiram de R$ 33.763 para R$ 39.293. Esse aumento foi proposto pelos próprios ministros do STF.
A questão é que os soldos dos ministros do STF servem também de base para os soldos dos funcionários públicos em todas as esferas: federal, estadual, e municipal. É um verdadeiro efeito em cascata. O impacto nas contas públicas com esse reajuste é de R$ 4 bilhões. E de onde vai sair o dinheiro para pagar a conta, em uma nação com as contas públicas pra lá de vermelhas?
O ministro Luiz Fux usou o aumento como moeda de troca. Se o aumento fosse concedido aos magistrados ele revogaria o auxilio moradia concedido aos juízes. Ora, esse é um benefício a que os magistrados tem direito, mas se formos botar na balança, com os salários estratosféricos que eles recebem, nem precisariam. Assim como também de outros penduricalhos que ajudam a engordar os salários de magistrados e também da classe política.
É assim caros leitores: no Brasil discute-se a violência urbana, diz-se que é preciso armar os cidadãos, mas não se discute, nem muito menos se fala, em acabar com essa violenta desigualdade social que é, na verdade, a matriz geradora de todas as demais formas de violência e atraso na educação, na cultura, na economia, na segurança, na saúde, e em todas as demais áreas do estrato da sociedade brasileira.
E assim, ignorando fatores que poderiam impulsionar o Brasil pra frente, vai-se transformando a democracia num jogo de trapaças, e num jogo de faz de conta, no qual a sociedade brasileira como um todo acaba saindo perdendo feio.

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A lição dos baobás

Posted by Cottidianos on 20:19
Terça-feira, 20 de novembro
Vou deixar a vida me levar
Pra onde ela quiser
Seguir a direção
De uma estrela qualquer
É, não quero hora pra voltar, não
Conheço bem a solidão, me solta
E deixa a sorte me buscar
(Vou deixar – Skank)


No coração da África, havia uma extensa planície. E no centro dessa planície, erguia-se uma alta e frondosa árvore. Era o baobá. Um dia, embaixo do sol escaldante do meio-dia africano, corria pela planície um coelhinho, que, cansado, quando viu o baobá, correu a abrigar-se à sua sombra. E ali, protegido pela árvore, ele se sentiu tão bem, tão reconfortado, que olhando para cima não pôde deixar de dizer:
— Que sombra acolhedora e amiga você tem, baobá! Muito obrigado!
O baobá, que não costumava receber palavras de agradecimento – como muitos de nós também não recebemos - ficou tão reconhecido, que fez balançar os seus galhos e tremular suas folhinhas, como numa dança de alegria.
O coelho, percebendo a reação da árvore, quis aproveitar-se um pouquinho da situação e disse assim:
— É, realmente sua sombra é muito boa.... Mas e esses seus frutos que eu estou vendo lá em cima? Não me parece assim grande coisa...
O baobá, picado no seu amor próprio, caiu na armadilha. E soltou, lá de cima de seus galhos, um belo e redondo fruto, que rolou pelo capim, perto do coelhinho. Este, mais do que depressa, farejou o fruto e o devorou, pois ele era delicioso. Saciado, voltou para a sombra da árvore, agradecendo:
— Bem, sua sombra é muito boa, seu fruto também é da melhor qualidade. Mas... e o seu coração, baobá? Será ele doce como seu fruto ou duro e seco como sua casca?
O baobá, ouvindo aquilo, deixou-se invadir por uma emoção que há muito tempo não sentia. Mostrar o seu coração? Ah... Como ele queria... Mas era tão difícil... Por outro lado, o coelhinho havia se mostrado tão terno, tão amigo... E assim, hesitante, o baobá foi lentamente abrindo o seu tronco. Foi abrindo, abrindo, até formar uma fenda, por onde o coelho pôde ver, extasiado, um tesouro de moedas, pedras e jóias preciosas, um tesouro magnífico, que o baobá ofereceu a seu amigo.
Maravilhado, o coelho pegou algumas joias e saiu agradecendo:
— Muito obrigado, bela árvore! Jamais vou te esquecer! E chegando à sua casa, encontrou sua esposa, a coelha, a quem presenteou com as joias. A coelha, mais do que depressa, enfeitou-se toda com anéis, colares e braceletes e saiu para se exibir para suas amigas.
A primeira que ela encontrou foi a hiena, que, assaltada pela inveja, quis logo saber onde ela havia conseguido joias tão faiscantes. A coelha lhe disse que nada sabia, mas que fosse falar com seu marido. A hiena não perdeu tempo: foi ter com o coelho, que lhe contou o que havia acontecido.
No dia seguinte, exatamente ao meio-dia, corria a hiena pela planície e repetia passo a passo tudo o que o coelho lhe havia contado. Foi deitar-se à sombra do baobá, elogiou-lhe a sombra, pediu-lhe um fruto, elogiou-lhe o fruto e finalmente pediu para ver-lhe o coração.
O baobá, a quem o coelhinho na véspera havia tornado mais confiante e mais generoso, dessa vez nem hesitou. Foi abrindo o seu tronco, foi abrindo, bem devagarinho, saboreando cada minutinho de entrega. Mas a hiena, impaciente, pulou com suas garras no tronco do baobá, gritando:
— Abra logo esse coração, eu não aguento esperar! Ande! Eu quero todo esse tesouro para mim, eu quero tudo, entendeu? O baobá, apavorado, fechou imediatamente o seu tronco, deixando a hiena de fora a uivar desesperada, sem conseguir pegar nenhuma joia. E por mais que ela arranhasse a árvore, ela nada conseguiu.
A partir desse dia é que a hiena ganhou o costume de vasculhar as entranhas dos animais mortos, pensando encontrar ali algum tesouro. Mal sabe ela que esse tesouro só existe enquanto o coração é vivo e bate forte.
Quanto ao baobá, nunca mais ele se abriu.
O delicado e tocante relato é uma lenda africana, chamada, O Coração do Baobá, árvore que, especialmente para o povo africano, é revestida de grande significado.
Existem várias lendas que tentam explicar a árvore. Diz outra que:
No início dos tempos,quando o Deus criou o mundo, primeiro fez as águas e as terras. Depois admirando a paisagem, criou diversas espécies para viver o resto dos tempos.
A primeira árvore que fez era bem grande e forte : foi um baobá.
O baobá nasceu ao lado de um rio de águas tranquilas, onde se refletia e acompanhava seu próprio crescimento.
Atento, observava a natureza ao redor, os outros tipos de plantas e flores.
A enorme árvore tinha tudo para ser feliz, mas parecia insatisfeita e descontente.
— Por que não tenho flores o ano inteiro? - Indagava o baobá.
— E por que não tenho flores de várias cores? - Assim prosseguia por horas.
O baobá sentia inveja das outras espécies.
Inconformado, chamou o criador e fez exigências sem fim.
— Não reclame, você é perfeito: dá frutos deliciosos, sementes, flores, sombra e até água! - Disse o Deus.
No entanto o baobá não desistia. Seguiu o criador por toda a África, fazendo suas queixas. Dizem que é por isso que há baobás por todo o continente!
— Não posso acreditar que é infeliz! Justo você, que caprichei tanto! - Insistia o Deus.
A árvore continuava reclamando.
Chegou o dia em que o criador não aguentou mais ouvir lamentações:
— Chega de blábláblá!- Disse aborrecido.
Então arrancou o tronco da terra e plantou o baobá de novo, com as raízes viradas para cima!

A verdade é que mesmo, segundo a lenda, tendo sido plantada de cabeça para baixo, o baobá continuou crescendo como crescem os filhos e filhas de reis e rainhas: belos, deslumbrantes, exuberantes, e majestosos.
Hoje é 20 de novembro, em muitos municípios brasileiros, feriado do Dia da Consciência Negra. Um dia de luta de afirmação da negritude,  e de políticas de afirmação para este segmento da população.
O Dia da Consciência Negra, que na verdade, nasceu como uma homenagem ao líder negro, quilombola, Zumbi dos Palmares, nascido em 1655, e assassinado pelas tropas do governo, no dia, em 20 de novembro 1695.
 A data foi oficializada em 2011, por meio da Lei 12.519, aprovada pelo Congresso Nacional e sancionada pela então presidente, Dilma Rousseff. Não é feriado nacional. Cabe a cada município decretar ou não feriado nesse dia. Entretanto, tramita no Congresso um projeto de lei, o PLS 482/2017, d e autoria do senador Randolfe Rodrigues (Rede-AP), que estabelece o 20 de novembro como feriado em todo o território nacional.
Em entrevista à Rádio Senado, o senador defendeu a proposta usando o seguinte argumento: “A escravidão é a maior ignomínia, o maior crime que pode ser perpetrado contra um ser humano, e nós somos uma sociedade, um Estado, estruturado nesse crime. Temos que fazer nossa catarse, a superação disso, que só ocorrerá nas gerações futuras se isso for debatido nas escolas e no dia a dia”.
Em resumo: um dia de reafirmar a luta pelos direitos iguais. É verdade que a Constituição garante esse direito a todos, mas, na prática, sabemos que as coisas não são bem assim. O povo negro continua a sofrer, ainda nos dias de hoje, preconceito e discriminação. Ainda quando atinge o topo da fama e do sucesso, ainda assim são alvos de pedradas, na forma de ofensas e injúrias raciais, como é o caso de muitos atores, atrizes, e atletas.
É também por isso, que essa população luta para que políticas de afirmação, como por exemplo, as cotas raciais nas universidades, sejam mantidas. Questão controversa é essa. Muitos brancos, e mesmo alguns negros, são contra a instituição de cotas para negros na universidade.
Ora, pensemos da seguinte forma. Nos tempos de colônia e república, alguém via algum negro nos bancos de universidades? Isso era impensável. Mesmo depois da abolição, os negros continuaram enfrentando enormes dificuldades para o ingresso em instituições superiores. Então, o que se tem é um déficit do estado para com a população negra. As cotas são uma tentativa de sanar esse déficit. Há quem concorde, e há quem discorde, mas precisa ser negro para entender na alma essa necessidade, ou branco que tenha uma percepção da história de luta desse segmento da população.
Mas, voltemos aos baobás, que se posicionam na vida sempre com porte altivo e majestoso. Eles são assim. É da natureza deles ser dessa forma. São árvores raras de se encontrar, mas se, por acaso, o caro leitor, ou leitora, tiver a ventura de encontrar com algum deles na estrada da vida, jamais o verá curvado, submisso, “chorando pitangas”, como diz o ditado popular. Se encontrar uma árvore assim, se dizendo baobá, seja educado (a), diga-lhe “passe bem”… E siga seu caminho, pois, certamente, acabou de encontrar um falso baobá.
E essa lição aprendida com essas milenares árvores majestosas, não servem apenas para a vida do povo negro, mas também como de todas as outras minorias, ou seja, a de não se sentirem diminuídas, nem menores que ninguém. De olhar sempre em direção ao alto, pois é de lá que vem a força que renova em nós, todos os dias, o compromisso de por o pé, firmemente na estrada... E prosseguir.
Se a vida é feita de avanços e retrocessos, saiba, que dos retrocessos pode resultar saltos que avançam mil metros. Se soubermos aproveitar os recuos da vida para rever nossas estratégias, retraçar nossos planos e objetivos, e recuperarmos nossa energia, então voltaremos à batalha com novos impulsos, forças renovadas, e mais fortes.
A árvore rainha de que trata esse texto, é da família Bombacaceae, e é o mais conhecido membro do gênero Adansonia – um pequeno grupo de árvores tropicais do velho mundo. Existem oito espécies do gênero, uma na África, seis em Madagascar, e uma na Austrália.
O tronco da árvore é imenso e as folhas e galhos parecem bastante desproporcionais em relação a ele. No inverno, ela fica desfolhada, como se recuasse para reavaliar suas estratégias, e voltar ainda mais exuberante na primavera e no verão, momento em que, além das folhas de um verde exuberante, com as galhadas renovadas, aparecem também flores exóticas brancas e ricas em néctar que nascem de cabeça para baixo e apenas se abrem à noite. Flores noturnas só poderiam ter por parceiros seres noturnos, e é justamente aí que os morcegos entram na história. São eles que polinizam as flores do baobá.
Desse processo de polinização nascem grandes frutos ovais que são cobertos por uma espécie de veludo que variam em tamanho e formato, e podem conter de 30 a mais de 200 sementes. Estas, ficam dentro de uma polpa ácida branca, que, por sua vez, é envolvida por uma camada de fibras. Do verão ao início do outono é o tempo do fruto amadurecer, e depois caírem.
Estas árvores de grande porte e milenares com certeza foram testemunhas silenciosas do rapto de muitos de seus concidadãos africanos que eram enviados a outros continentes. Imponentes, devem ter vertido rios de lágrimas de seus olhos bondosos ao ouvir o grito de dor dos negros que acorrentados, feridos, machucados, eram, como árvores de raízes profundamente fincadas no solo, arrancados de seu lugar de origem. Devem ter sentido-se incapazes de aliviar todo aquele sofrimento.
 Eram plantas do coração cheio de riquezas. Podiam dar flores, frutos, sombra, e acumular muita água em seus enormes e grossos troncos, água que matava a sede dos negros africanos, mas não podiam tirá-los das mãos dos opressores, e isso lhes doía o coração.
Mas, com sua atitude, sua força para sobreviver em solos áridos, secos,e e pedregosos, os baobás podiam, pelo menos, dar um recado aos negros que eram arrastados da terra natal, para futuros distantes, incertos, e cheios de sofrimento: Sejam nobres! Altivos! Não deixem que seja diminuída sua personalidade, sua inteligência, sua cultura. Afinal, você também é filho de nossa terra, nosso irmão. Quando estiverem enfrentando as dificuldades e revezes da vida, pense em nós que sempre miramos o alto, de onde nos vem luz e força para atravessarmos os séculos, firmes, fortes,e majestosos. Lembre-se: no teatro da vida, vocês são atores principais, não se contentem com papeis secundários. Elevem-se ao Deus poderoso, como todos os dias elevamos nossos galhos aos céus e a ele imploramos força e proteção. E não se esquecem de manter suas raízes firmemente arraigadas à terra, para que nenhum vento forte e repentino os derrube e os ponha abaixo, afinal é pelas raízes que sugamos da mãe terra toda água e nutrientes de que necessitamos.
Como os negros africanos, as diversas espécies de baobás também foram habitar em vários cantos do planeta. Quem sabe eles não tem uma lição a lhe ensinar? E se na sua região, em seu país, em sua cidade, não houver baobás, certamente, terá uma árvore irmã que, além de frutos, flores, talvez esteja, silenciosamente, querendo ensinar-lhe algo. Por que não abre o coração para ouvir e aprender?

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