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Mateus Solano e Thiago Fragoso protagonizam o primeiro beijo gay em horário nobre na Rede Globo
Posted by Cottidianos
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Terça-feira, 04 de fevereiro
Durante
a história da humanidade,
Já
se disse dos negros: Eles não têm alma. Eles não merecem ocupar os mesmos
espaços que nós os brancos.
Já
se disse das mulheres: Elas não conseguem desenvolver tarefas relevantes na sociedade.
Elas devem se dedicar apenas a trabalhos domésticos.
Já
se disse dos judeus: Eles não merecem viver. Devem, portanto, sere exterminados
em câmara de gás.
Hoje
ainda se diz dos gays: Eles não merecem amar. Seus amores não podem vividos.
“Assim
caminha a humanidade, em passos de formiga e sem vontade”, diz o cantor e
compositor Lulu Santos, na música, Assim
caminha a humanidade, com o qual eu concordo plenamente.
***
Imagem: http://www.sidneyrezende.com/noticia/223787+amor+a+vida+chega+ao+fim+confira+como+foi+o+ultimo+capitulo |
Já
assisti muitos finais de telenovelas - por falar nelas, e complementando os pensamentos
acima, já se disse delas que eram apenas para mulheres. Homens tinham vergonha
de confessar que assistiam novela. Hoje todo mundo assiste e ainda se discute a
respeitos dos temas tratados na telinha – porém, a última cena de Amor à Vida,
exibida pela Rede Globo de Televisão, e que foi ao na sexta-feira, dia 31 de
janeiro, creio ter sido, em minha opinião, umas das mais emocionantes, se não a
mais emocionante dentre todos os finais de novela aos quais já assisti.
No
dia anterior havia visto uma entrevista do autor da trama, Walcyr Carrasco, na
qual ele dizia que a última cena de Amor à Vida seria algo marcante. Fiquei
curioso para ver o autor apresentaria de diferente, capaz de prender a atenção
dos telespectadores. De fato, ele
cumpriu o que prometeu: deu de presente aos telespectadores uma comovente cena
da reconciliação entre pai e filho – em sua grande maioria, a última cena das
novelas é uma cópia dos contos de fada, do tipo, “e viveram felizes para
sempre”. Durante todo o decorrer da novela, Cesar (Antonio Fagundes), sempre
desprezou e humilhou seu filho, Felix, por não aceitar sua condição de
homossexual. É bom deixar claro também, que Felix (Mateus Solano) não era
nenhum anjinho, tendo praticado diversas maldades, algumas delas muito graves.
Durante a última fase da novela Cesar fica cego, e depois de saber que era
rejeitado pela mulher a quem amava, sofre um Acidente Vascular Cerebral (AVC) e
perde parte dos movimentos do corpo e da face.
Felix vai morar em uma casa em frente à praia com sua nova família: o
companheiro Niko (Thiago Fragoso) e dois filhos do casal: um adotado e outro
conseguido através de inseminação artificial,
e assume também, a responsabilidade de cuidar do pai doente.
Imagem: http://acapa.virgula.uol.com.br/mobile/noticia.asp?codigo=23443 |
Todos os dias, o agora, dedicado filho, leva
o pai, em cadeira de rodas, para tomar banho de sol. Na cena final da novela,
eles estão em um desses momentos de quietude. Cesar
já conseguiu recuperar um pouco da visão e o que consegue do por do sol é
envolto em nevoa. A trilha sonora que embala esse momento é a
Quinta Sinfonia de Mahler, em uma clara referência à uma cena do filme Morte em Veneza, do cineasta italiano
Lucchino Visconti, gravado em 1971. Os dois estão sentados em cadeiras
colocadas de frente para o mar. Ao fundo, um sol brilhante parece surgir de
dentro do oceano. Felix diz para o pai: Pai, eu te amo! E continua com os olhos fixos no mar, como se
não esperasse em troca nenhuma palavra de carinho do pai. Cesar surpreende o
filho ao dizer: Eu também te amo, filho. Felix chora emocionadamente, primeiro
pelo fato de que o pai retribuíra ao seu afeto e chora, por ser a primeira vez
em toda a sua vida, que Cesar o chama de filho.
A
cena, a respeito da qual acabo de falar, pode ter sido a mais bonita, porém,
não era a mais esperada. O que os milhões de telespectadores, espalhados por
todo o país, queriam ver mesmo era o beijo entre o casal gay Felix e Niko. Estavam
todos ansiosos por não saber se esse momento de amor entre os dois personagens
iria acontecer ou não.
Quando
a novela é boa, o último capitulo dela tem clima de final de Copa do Mundo. Foi
assim com a novela Avenida Brasil exibida também pela Globo entre 26 de março e
19 de outubro de 2012. Foi assim, ainda que em menor escala, com Amor à Vida. Na
sexta-feira os bares que não tinham telões instalados em suas dependências,
tiveram menos clientes. As ruas ficaram quase vazias. Idem os supermercados. Na verdade o que a grande maioria queria era
estar no conforto do lar para acompanhar o último capítulo da novela.
A
penúltima cena de Amor à Vida, lembra os bons momentos bucólicos, cheios de paz
e amor, coisas das quais o mundo atual tem sentido tanta falta. Uma mesa de
café-da-manhã, posta no jardim para que a família possa fazer a primeira
refeição do dia... A babá das crianças, brincando no jardim com elas, enquanto
espera o momento de levá-las para a escola... A conversa saudável entre os
participes da cena...
Logo
após a saída das crianças para a escola o casal começa a conversar sobre os
afazeres cotidianos, sobre a rotina da casa e da família. Trocam palavras afáveis
e gestos carinhosos... E, por fim, o tão esperado momento: o beijo entre os
dois personagens selando uma bela união.
Tudo seria muito normal, não fosse o casal em questão ser dois homens
que resolveram viver as suas vidas de acordo com aquilo que manda o coração.
Quando
a cena do beijo foi ao ar em muitos lugares houve comemoração como quem
comemora um gol feito na final do campeonato.
Imagem: http://noticiasdatv.uol.com.br/noticia/novelas/beijo-de-felix-e-niko-reflete-momento-da-sociedade-diz-globo-2113 |
Como
se chegou à tamanha expectativa? A novela, Amor à Vida, escrita pelo talentoso
Walcyr Carrasco foi inovadora em diversos sentidos. Foi a primeira vez que se
colocou um gay como protagonista da trama.
Felix não era o tipo de pessoa a quem costumamos chamar de bom moço. Talvez,
por ter sofrido desde pequeno com a atitude homofóbica do pai, tenha se tornado
um adulto revoltado e rancoroso, cheio de ciúmes do carinho e da preocupação
que o pai nutria por Paloma, sua irmã. A maldade do personagem era tanta que
ele chegou a joga a filha da irmã no lixo – por sorte a menina foi encontrada
por Bruno, que depois viria a se tornar marido de Paloma. Essa foi apenas uma
das maldades de Felix.
O
interessante é que, apesar de tudo isso, o personagem ganhou o carinho do
público. Ele era mal, mas também era muito bem humorado e proporcionou bons momentos
de diversão. Com frases como: “Será que eu piquei salsinha na tábua dos Dez Mandamentos”?
“Mamãe não tem um coração, tem um mousse de morango no lugar, de tão doce que é”.
“Eu devo ter salgado a Santa Ceia”, Felix fazia-nos rir. E, depois de um
difícil dia de trabalho, que não gosta de rir um pouco?
Percebendo
que o personagem agradava ao público, o autor Walcyr Carrasco, deu jeito de
humanizar o personagem. Tirou o arrogante Felix da presidência do Hospital San
Magno e o leva para ser vendedor de hot-dogs, na rua 25 de março, em São Paulo,
cidade onde é ambientada a trama. Em vez de comidas finas, hot-dog. E assim o personagem
vai começando a se tornar humano. Pilar, a mãe do vilão, ao vê-lo em tal
situação, resolve levá-lo de volta para casa, porém, lhe impõe uma
condição: a de que ele peça perdão a
todas as pessoas as pessoas às quais ele prejudicou, a começar pela irmã
Paloma.
Niko
(Thiago Fragoso) vinha de um relacionamento homossexual com Heron (Marcello
Antony). Após separar-se deste, e com o coração magoado, Niko conhece Felix, já
nos últimos capítulos da trama. Depois de muitas brigas e discussões, os dois
acabam ficando juntos.
Confesso
que não esperava tal atitude por parte da emissora. Casais gays não são
novidades na teledramaturgia brasileira. Vez ou outra aparecem personagens
desse tipo. Porém quando se falava da vida sexual deles, tudo ficava apenas na
insinuação. Beijo entre duas pessoas do mesmo sexo? Nem pensar! Ainda mais em
pleno horário nobre. Não ia ser em Amor á Vida que isso iria acontecer. Pensava
eu.
A
cena do beijo, usando as palavras do próprio Mateus Solano, que interpretou o
Felix, “Não foi de mais nem de menos. Foi na medida certa daquilo que o público
estava esperando”. Tudo feito com muita arte, beleza e sensibilidade.
Já
havia visto o Mateus fazendo outros papéis em novelas, mas sempre o achei um
ator mediano. Porém com a atuação em
amor à vida mudei minha visão em relação a esse ator. Não é fácil fazer um
vilão gay, em horário nobre e ainda por cima conquistar o carinho e admiração
do público. Isso não é para qualquer um.
Fiquei
surpreso também com o amadurecimento da sociedade brasileira em relação a essa
questão da aceitação ao que é diferente. A tomada de consciência de que duas
pessoas do mesmo sexo podem construir uma família bem estruturada e estabelecer
uma relação saudável e duradoura como qualquer casal heterossexual.
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