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Embaraços diplomáticos
Posted by Cottidianos
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04:50
Segunda-feira,
18 de novembro
Henrique Pizzolato
Imagem: http://noticias.r7.com/brasil/noticias/ex-diretor-do-bb-condenado-no-mensalao-nao-fugiu-diz-advogado-20121001.html |
Além
das prisões já efetuadas, é possível que Joaquim Barbosa, presidente do STF
(Supremo Tribunal Federal) peça ainda a prisão de mais sete réus condenados,
envolvidos no escândalo do mensalão. Faz parte desse grupo, dois deputados
federais: Valdemar da Costa Neto do PR/São Paulo e Pedro Henry, do PP do Mato
Grosso. É possível que também seja pedido a prisão de Roberto Jeferson, do PTB.
Dentro em breve, Barbosa pode pedir ainda o início do cumprimento das penas de
condenados que escaparam da prisão cumprirão penas alternativas. É o caso
do ex-deputado José Borba, de Emerson Palmiere, ex-tesoureiro do PTB e Enivaldo
Quadrado, ex-sócio da corretora Bonus Banval.
Um
dos capítulos que merece atenção especial nessa questão é fuga de Henrique
Pizzolato, ex-diretor do Banco Central do Brasil, condenado a 12 anos e sete
meses de cadeia. Pizzolato, aproveitando-se do fato de possuir dupla cidadania
e do vacilo que deram as autoridades brasileiras, fugiu para a Itália. Agora, é
improvável que Justiça Brasileira o traga de volta, falando na linguagem
jurídica, que seja extraditado.
Vários
fatores concorrem para que isso não aconteça. O Tratado de Extradição assinado
entre a República Federativa do Brasil e a República Italiana, diz em seu
artigo VI que “Quando a pessoa reclamada, no momento do recebimento do pedido,
for nacional do Estado requerido, este não será obrigado a entrega-la”. Ora, na
Itália, Pizzolato é tão italiano quanto eu sou brasileiro. Não acredito que o
governo italiano entregue um dos seus cidadãos para que cumpra pena em outro
país.
Além
disso, brechas na lei podem ser usadas para manter Pizzolato por lá. Uma dessas
brechas está no segundo item, do artigo V, desse tratado que diz que a
extradição tampouco será concedida: “Se
houver fundado motivo para supor que a pessoa reclamada será submetida a pena
ou tratamento que de qualquer forma configure uma violação dos seus direitos fundamentais”.
As péssimas condições dos presídios brasileiros podem ser usadas como argumento
de que o foragido permaneça na Itália.
A
verdade é que esses episódios embaraçosos entre Brasil e Itália vêm acontecendo
há algum tempo. Primeiro, foi o caso do ex-banqueiro, Salvatore Cacciola,
condenado em primeira instância por crimes contra o sistema financeiro, em 1999. No ano
2000, o MP (Ministério Público) pediu a prisão do então banqueiro, com receio
de que ele fugisse do país. O pedido de prisão de Cacciola foi atendido e ele
ficou trinta e sete dias na prisão. Foi quando o então Ministro do STF, Marco
Aurélio Mello, concedeu liminar que o libertava da prisão. Logo depois essa
liminar foi revogada. O problema é que Cacciola aproveitou esse vacilo das
autoridades, foi de carro até o Paraguai, de lá pegou um avião para a Argentina
e, da Argentina, pegou tranquilamente um voo para a Itália. Como ele possuía dupla
nacionalidade, o governo italiano não concedeu ao governo brasileiro, o pedido
de extradição. Ficou seis anos na Itália, e foi preso pela Interpool, quando
passeava pelo Principado de Mônaco, em 2008. Só então foi trazido de volta ao
Brasil.
Outra
“pedra no sapato” na relação entre os dois países é caso do italiano Cesare
Battisti. Battisti, ex-militante que foi condenado a revelia em seu país com pena
de prisão perpetua pelo assassinato de quatro pessoas entre 1977 e 1979. Antes de
sua condenação na Itália, Battisti fugiu para onde a França, em 1981. Em 2007,
foi revogada sua condição de refugiado na França e ele veio para o Brasil.
Preso no Rio de Janeiro, foi enviado a Brasília, onde ficou detido na
penitenciária da Papuda, para fins de extradição. Em 2009, governo brasileiro, na
pessoa de seu Presidente, Luís Inácio Lula da Silva, concedeu ao fugitivo
italiano, status de refugiado político. A decisão repercutiu muito mal na
sociedade brasileira e, ainda mais, nas autoridades italianas. Instalou-se uma
crise diplomática entre os dois países. À época o governo italiano chegou a chamar
de volta o seu embaixador no Brasil.
Hoje(18),
no início da tarde, o Secretário Nacional de Justiça, Paulo Abrão, reuniu-se com técnicos do Ministério da Justiça para analisar formas de trazer de volta o réu
brasileiro.
Agora,
por revezes do destino, é a Itália quem abriga um condenado brasileiro. Depois de
tudo isso alguém ainda acredita que o governo italiano se mostre favorável ao
pedido de extradição de Battisti?
Na
continuação desse texto, trago a vocês, o comentário do jornalista Alexandre
Garcia, feito hoje no Telejornal Bom Dia Brasil, exibido pela Rede Globo de
Televisão.
“Entre os condenados estão
deputados, que têm mandato. A Constituição diz que perderá o mandato quem
sofrer condenação criminal em sentença transitada em julgado, como era o caso
do deputado Natan Donadon.
A Câmara Federal reagiu pelo
plenário e, em votação secreta, Donadon não teve o mandato cassado. Está no
presídio e sai com escolta policial da prisão para o plenário.
Agora está na mesma situação o
deputado José Genoíno, e podem estar em breve os condenados Valdemar Costa
Neto, Pedro Henry e João Paulo Cunha. Enquanto a Câmara não aprovar o voto
aberto para cassar mandato, há o risco de repetir Donadon.
Seria menos constrangedor para a
Câmara ter ouvido o Supremo, na conclusão de que bastaria um decreto
legislativo para livrá-la de uma bancada de meia dúzia de apenados, que
perderam direitos políticos, sendo chamados de excelência.
Henrique Pizzolato, condenado por
peculato por 11 a zero, afirmou que iria buscar na Itália um novo julgamento.
Além de Pizzolato, os ex-dirigentes petistas Dirceu, Genuíno e Delúbio alegam
que são prisioneiros políticos, condenados por um tribunal de exceção. Mas oito
dos onze ministros do Supremo foram nomeados por Lula e Dilma, e com isso dizem
que o Brasil, governado pelo seu partido deles, tem presos políticos, como Cuba”.
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