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Les Plaisirs de Versailles no Teatro Castro Mendes
Posted by Cottidianos
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23:28
Sexta-feira,
28 de fevereiro
Palácio de Versalhes
Domingo,
dia 22, fui ao Teatro Casto Mendes, na Vila Industrial. Eu estava ansioso por
assistir a ópera, Os Prazeres de Versalhes,,
que seria apresentada pela Orquestra
Sinfônica da Unicamp e pelo Coral,
também da Unicamp, Ziper na Boca. Cheguei às 18h30 para um espetáculo que começava às 20h. Vai sobrar-me muito
tempo, e agora o que faço? Perguntei a mim mesmo. Olhei para um lado e para
outro, além de mim, aquela hora só haviam chegado umas quatro ou cinco pessoas
para assistir o espetáculo.
Não
queria ficar esperando tanto tempo até começar o espetáculo, resolvi, então,
dar uma volta nas proximidades do teatro. Sai caminhando pelas ruas, admirando
o bairro que, apesar de estar bem próximo ao centro, ainda conserva, aliado aos
prédios modernos, um jeito de bairro antigo. Estava na Avenida Sales de
Oliveira e deixei-me invadir pela emoção de passear por uma parte importante da
cidade de Campinas: a Vila Industrial, um dos
primeiros bairros de Campinas.
Nesse
curto e saudoso passeio, na quietude da tarde, cujo horizonte alaranjado
prenunciava uma bela e quente noite, chegou aos meus ouvidos, vindo de um tempo
distante, o apito da sirene da Companhia Férrea Mogiana. O apito da sirene
soava sempre às 5h da tarde, lembrando aos trabalhadores que era hora de voltar
para casa e descansar um pouco depois de um mais de um dia de trabalho. Passeava
pela rua, mas não estava sozinho: junto comigo estava um pedaço da história da
cidade e a lembrança de pessoas anônimas que ajudaram a construí-la.
Aproximadamente
dez minutos de caminhada, retornei ao local de onde saíra, dessa vez,
caminhando pelas ruas de paralelepípedo que me lembravam ainda mais o passado.
Quando cheguei em frente ao teatro, já havia-se formado uma pequena fila. Não me
importei em ficar um pouco mais atrás: o passeio havia valido a pena. Enquanto
ainda estava na fila, comecei a reparar melhor na fachada do teatro. Fiquei
observando o design moderno do prédio do qual emana forte simbologia.
O
Projeto de Otto Felix para a nova fachada do Teatro era bastante fiel à
história da cidade e à realidade no qual estava inserida aquela casa de
espetáculos. As ranhuras na parede, que se percebe de longe como linhas
verticais e diagonais, lembram a malha viária e ferroviária que havia na região.
Os trens, já foram para a região de Campinas, sinônimo de progresso, e a linha
ferroviária era um divisor sócial: a região central da cidade abrigava os ricos
e brancos e, para além da linha do trem, era destinada a habitação dos
imigrantes e dos negros. O local onde hoje é o teatro era, antigamente, o Campo
Santo dessas classes marginalizadas.
Uma
janela existente na fachada do prédio, na verdade a única janela, também tem
sua simbologia dentro do contexto. Ela representa uma espécie de conexão entre
o universo lúdico e o mundo real. A janela também serve como a luz que ilumina
a cultura, uma vez que serve de iluminação natural para a área interna do
teatro, antes que se entre para a platéia, o chamado “foyer”.
Na
parede, ao lado da entrada principal, há cubos amarelos que formam uma espécie
de ponto de conexão cultural entre diferentes áreas da cidade, todas nos
levando ao teatro.
Imagem: http://jornalocal.com.br/site/cidades/pendente-luminoso-e-instalado-no-teatro-castro-mendes/ |
Finalmente,
cheguei à bilheteria e peguei o meu ingresso e ao adentrar às dependências do
teatro me deparei com uma iluminação, também não convencional, que me chamou
bastante atenção: uma escultura de luz. O pendente luminoso no teto
emitia raios de luz amarelada, transmitindo-me a sensação de alvorecer,
remetendo-me àquele momento em que o imponente sol se levanta no horizonte e
vai a tudo e todos iluminar. Pensei no sol da cultura iluminando a todos e
afastando, para longe do mundo, as trevas da ignorância.
Já
no foyer – hall de entrada do Castro Mendes - me deparei com uma bela exposição
de fotos. Fiquei ali passeando, através das imagens fotográficas, por uma Campinas
antiga. Subindo um lance de escada havia outra interessante exposição chamada
“Imagens Efemeras”, mostrando fotos do artista Pedro Ribeiro, que tinham como
tema central o urbano e o efêmero. O interessante na proposta do artista é que
ele entende que as o processo artístico não se finaliza com a impressão das
imagens, mas com a interação do público, elas podem se modificar, se completar, num
perfeito jogo de criatividade. Ao lado das fotos impressas em grandes painéis,
havia canetas para que o público pudesse exercer sua criatividade e sentir-se co-autor da obra, por alguns breves
instantes. Eu não podia
deixar passar essa oportunidade e também fiz minhas criativas interferências.
Quando
voltei ao foyer, o salão já estava repleto de pessoas aguardando que as portas
se abrissem para, finalmente, comporem a platéia. Porém, para nossa surpresa, o
espetáculo começou ali mesmo, com dois atores, um homem e mulher, com figurino inspirado
nas festas nos luxuosos salões do Palácio de Versalhes. Eles dialogaram com o
público, fizeram-nos rir um pouco, e em seguida nos convidaram a subir o curto
lance de escada que nos separava da entrada para a platéia. Sentei-me nas
confortáveis poltronas e quando todos se acomodaram, fomos transportados aos
prazeres da música nas luxuosas festas promovidas pelo rei Luis XIV, na corte de
Versalhes, centro do poder do Antigo Regime, na França.
A
Orquestra Sinfônica da Unicamp - sob a regência da maestrina e co-responsável
pela direção artística, Vivian Nogueira - abriu o espetáculo com a peça Vivaldiana: Uma Abertura Concertante, de
Denise Garcia, em seguida tocou, Water
Music (Música Aquática), de George F. Hendel, enquanto essa peça era apresentada,
integrantes do Coral Ziper na Boca, fazia simultaneamente, representações
cênicas a respeito desse tema.
Em
seguida, foi à vez da apresentação da peça principal Les Plaisirs de Versailles (Os Prazeres de Versalhes), opera
composta por Marc-Antoine Carpentier. Encontrei uma breve descrição da ópera,
na página eletrônica da Prefeitura de Campinas: “Os Prazeres de Versailles” foi escrita para ser representada nas
dependências do castelo de Luis XIV, em soirées privadas oferecidas pelo rei em
seu castelo. Os principais personagens são a Música e a Conversação, às quais
se junta um coro. Mais tarde aparecem Comus (o Deus das festas) e o “Jogo”. Seu
enredo hedonista trata da arte e do prazer de entregar-se aos momentos de
ociosidade.
A incessante tagarelice da Conversação
interrompe o canto da Música. Uma questão se instala e o tom aumenta: qual das
duas é mais essencial ao prazer do rei, a Conversação ou a Música? Temendo que
elas desapareçam do castelo de Versailles, o coro dos Prazeres pede ao Deus das
festas, Comus, que intervenha. Ele oferece a cada uma delas chocolate, o mais
fino dos vinhos, tortas. Mas é tudo em vão. Ele solicita então a ajuda do Jogo,
que é imediatamente derrotado: as duas rivais continuam sua disputa.
Apesar de tudo elas acabam se
reconciliando, para o alívio do coro dos prazeres: a Música e a Conversação
continuarão a sua missão de fazer "descansar" o grande rei Luis XIV,
nos períodos em que ele não estiver ocupado com a guerra”.
Ao
final do espetáculo, o público aplaudiu intensamente aos atores/cantores do
Coral Ziper na Boca e a Orquestra Sinfônica de Campinas, em agradecimento pelo
belíssimo espetáculo.
O
Projeto “M.A Carpentier: Les Plaisirs de Versailles, faz parte de um projeto do
Fundo de Investimentos Culturais de Campinas (FICC), sendo realizado em
parceria com a Orquestra Sinfônica da Unicamp e Coral Ziper na Boca, numa
proposta que se traduz em diálogo entre a música contemporânea e barroca. O
ponto alto do espetáculo é a montagem da opera francesa “Les Plaisires de
Versailles, apresentada o público em versão cênica e legendada, revivendo os
espetáculos peculiares oferecidos aos seus convidas, pelo rei Luis XIV, em sua
corte.