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Quão grande és tú
Posted by Cottidianos
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00:58
Terça-feira,
25 de fevereiro
Quem
não gostaria de, em meio às lutas de vida, deixar-se apenas ficar em contato em
contato com a natureza, ouvindo o cantar dos pássaros, o barulho gostoso das
cachoeiras e o sussurrar da brisa mansa. Como seria bom recarregar as energias
da alma, para depois retornar a essas mesmas lutas, das quais não podemos nem
devemos fugir. É, justamente, ao
enfrentar as intempéries da vida, que nos tornamos mais fortes. Em meio às
dificuldades, nós crescemos e, se soubermos com elas lidar, reluziremos tal
qual ouro que no fogo é provado. Convido o leitor a entrar em comunhão com a
natureza e fazer-se um só com ela. Inebriando-se de sua paz, sorvendo a sua
real beleza.
O
texto a seguir é inspirado em duas canções do repertório gospel de Elvis
Presley: We Call on Him e How Great Thow Art.
Ano de 1967. Na
tranqüilidade da sala de uma mansão em Memphis, Tennessee, as mãos de um homem
executam ao piano, acordes divinos. Sua voz suave, firme e potente entoa hinos
de louvor a Deus. Canta tão docemente que é fácil imaginar anjos sentados aos
pés do piano bebendo daquela fonte de canções maravilhosas. Aos 32 anos, já é
um astro de fama internacional, acostumado aos holofotes, ao assédio da mídia e
muita badalação. Talvez se deva a isso o fato de poucas pessoas conhecerem esse
seu lado místico. O nome desse homem: Elvis Presley. Fascinado ouço a
interpretação da música gospel We Call On Him (Nós Clamamos por Ele), e sinto o
cantar com a alma, com o sentimento. Logo em seguida é a vez de How Great Thou
Art (Quão Grande És Tú). Enquanto essa canção é magistralmente executada ao
piano, minha mente voa nas asas da melodia e vai parar nas matas exuberantes da
pátria que se cobre de verde, amarelo, azul e branco.
Ergo
meus olhos para a copa das árvores centenárias que dão vida a imensa floresta.
Elas se erguem imponentes e majestosas em direção ao infinito. Seus galhos se
agitam ao sabor do vento como braços que, em desespero, clamam misericórdia aos
céus. Enquanto folhas e galhos se agitam e se debatem em doce lamento, o tronco
que os sustenta permanece firme e inabalável. Embaixo de todo esse espetáculo,
humilde e silenciosa, está a raiz indo terra adentro em busca do alimento que
nutre, fortifica e verdeja a árvore irmã.
Acima
do verde intenso desenha-se um céu azul de suave esplendor, mesclado de nuvens
que ora desenham figuras de anjos, ora desenham figuras de leões e, assim, vão
brincando como se fossem crianças que não se cansam de criar formas.
Suavemente
meus olhos descem do céu a terra. Sinto a quietude que me envolve. Ouço, não
muito distante, uma orquestra de colibris, pintassilgos e sabiás. Fecho os
olhos e deixo o canto doce e sonoro dessas maravilhosas criaturas invadir minha
alma. De repente, ouve-se o som de uma flauta em plena floresta: é o canto
mavioso do uirapuru. A passarada silencia enquanto o rei da passarada faz o seu
solo de acordes longos e melodiosos.
Ainda
ouço embevecido o cantar daquela ave quando uma brisa leve traz até minhas
narinas um cheiro gostoso de terra e mato. Um pequeno mimo para o meu olfato.
Minhas
mãos deslizam pelas folhas da calendula, planta das flores cor-de-sol (flores
amarelo-alaranjada, de perfume inigualável e de folhas aveludadas). A pedra
angular, na qual estão firmados meus pés, me transmite segurança. À minha
frente e um pouco mais adiante contemplo o esplendor de uma cachoeira que desce
forte e graciosa pelas encostas da montanha. Ouço o suave murmurar das águas e
isso me inebria. Sorvo em grandes goles do vinho da felicidade que a natureza
derrama em minha taça.
Entre
as pedras ao pé da cachoeira forma-se uma piscina natural de porte médio. Sinto
o apelo irresistível da águas, enquanto minhas roupas, debruçadas num galho
qualquer, assistem meu corpo nu mergulhar nas águas cálidas. Permito que a
serenidade das águas me inunde. Uma emoção me invade e me sinto voltar ao
início de tudo quando era apenas um pequenino feto envolto em liquido no útero
de minha mãe. Pequenino ser a necessitar de cuidados.
Imerso
nessa estonteante beleza que me envolve e fascina, ergo meus olhos para o alto
e, dessa vez, minha pequenez se vê diante da grandeza do Deus Altíssimo. Minha
alma canta acompanhada do coro dos anjos celestiais: “Quão grande és tu,
maravilhoso Deus!”
Quão
miserável é o homem que, envolto em véus de tristeza, angústia e decepção, não
abre os olhos para as infindáveis belezas da criação. Infeliz de quem não olha
a vida senão através do olhar da esperança. A vida acontece ao nosso redor, a
todo instante, seja na criança que nasce, seja na flor que desabrocha, seja na
luz de um radiante amanhecer. Basta abrir os olhos e o coração.
Por
que, pois, ó criaturas, não agradeceis e dais louvores ao vosso Criador a cada
instante de vossas vidas? Por que clamais por Ele somente naqueles momentos em
que pesadas nuvens cobrem o vosso céu? Por que elevais a Ele o vosso clamor
apenas quando todas as esperanças parecem perdidas e tua taça de vinho se
transforma numa taça de fel?
Nesses
instantes vos lembrais que és um nada... E Deus te quer tanto bem. Tu que nem
acreditavas... E ele acreditava em ti o tempo todo... Tu que nem o amavas... E
ele te amava todo o tempo.
Levanta
a cabeça, abre os olhos, aquieta e sossega a tua alma, ainda que alguns
instantes por dia e entra comigo na floresta. Eleva teu espírito além das
preocupações cotidianas. Lembra-te do que disse o Mestre Jesus no Sermão da
Montanha: bastam a cada dia as próprias preocupações. Juntos façamos reverência
ao Deus Criador, o nosso Rei e Senhor... E deixemos que nossa alma cante junto
com os anjos: Quão grande és tu! Quão grande és tu!”
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