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Carta aos Brasileiros

Posted by Cottidianos on 23:33

Sexta-feira, 29 de julho de 2022




 Há tempos temos visto o presidente Jair Bolsonaro, diuturnamente, atacar a urnas eletrônicas, o processo eleitoral brasileiro, os ministros do Supremo Tribunal Federal, do Tribunal Superior Eleitoral, a democracia. Tudo isso era assistido e ouvido passivamente pelos brasileiros e, mais ainda, pelo demais Poderes que constituem a República.

E aqui nem falo da Câmara dos Deputados, e nem da Procuradoria Geral da República, por que os que comandam esses órgãos Arthur Lira e Augusto Aras, respectivamente, tornaram-se, por puro interesse e conveniência, vassalos de Bolsonaro. O primeiro de olho na fortuna do Orçamento Secreto e nos cargos que o governo pode distribuir para o Centrão, e o segundo, de olho, talvez, numa sonhada vaga no STF.

Diante das investidas de Bolsonaro contra a democracia, o que se via desses órgãos, inclusive do STF, eram tímidas notas de repúdio que nem chegava citar, diretamente, o nome do responsável por esses ataques.

Mas enfim, sempre há uma gota d’água a fazer transbordar o copo. E penso que essa gota d’água foi a convocação dos embaixadores para reunião no Palácio do Planalto, no qual, mais uma vez, ele fez ataques infundados à democracia, às urnas eletrônicas, e até mesmo, ameaçou não haver eleições, marcadas para outubro deste ano.

E essa forte reação, por incrível que pareça, não veio do STF, nem do TSE, nem da Câmara dos Deputados, nem do Senado Federal, mas sim, da sociedade civil.

Dois dias após inusitado encontro do presidente os embaixadores — na qual eles próprios ficaram estupefatos com tal reunião na qual foram chamados para ouvir fake news relativas às urnas eletrônicas ditas pelo governante da nação — a Faculdade de Direito da Universidade de São Paulo (USP), lançou o documento “Carta aos Brasileiros em defesa do Estado Democrático de Direito”.

O documento foi divulgado na terça-feira, 26, no site da universidade, site no qual também é possível assinar o documento. Com apenas três dias de lançamento a carta já conseguiu reunir mais de 400 assinaturas. Também deve ser lançada uma versão em inglês do documento, uma vez que, depois do Brasil, os Estados Unidos são o país que tem mais acessos à página. No ranking de acesso, após Brasil e EUA, estão Portugal, Reino Unido e Alemanha.

Mas nem todo mundo quer democracia. Há aqueles que preferem viver sob o julgo das ditaduras. Prova disso é que desde que foi lançada a página já sofreu mais de 2.300 tentativas de ataque hacker. “Tentam invadir o sistema e tentam principalmente derrubar o site. Pelo que soubemos, colocaram nosso site na deep web e estão incentivando as pessoas a derrubar o site por lá. Eles estão usando palavras de baixo calão, xingamentos, agressões, e tentam se inscrever por outras pessoas, para depois deslegitimar a lista”, disse o procurador-geral do Ministério Público de Contas do Estado de São Paulo, Thiago Pinheiro Lima, um dos idealizadores do evento, em entrevista ao portal G1.

Porém, ainda segundo Thiago, esses ataques já eram esperados e para a página também foi pensado forte esquema de segurança. Tanto é que nenhum desses ataques, muitos feitos por especialista em ataques hacker, conseguiu derrubar a página.

Entre os que assinam a carta estão nomes de peso nas mais diversas áreas de atuação da sociedade. Assinando o documento estão banqueiros, juristas, políticos, artistas, empresários.

E adivinhem quem anda bastante irritado com um movimento em favor da democracia. Se você pensou no presidente Jair Bolsonaro, acertou. Na quinta-feira, 27, em uma convenção do partido Progressitas, em Brasília ele ironizou a Carta aos Brasileiros, dizendo que não precisava de nenhuma “cartinha” para demonstrar seu apoio às instituições.

Aprovietando a onda iniciada pela USP, a Federação das Indústrias do Estado de São Paulo (Fiesp), também prepara manifesto em defesa da democracia, e que deverá ser lido separadamente, mas durante o evento no Largo de São Francisco, no mesmo evento que lançará a Carta aos Brasileiros, da Faculdade de Direito da USP. A carta da Fiesp será assinada por entidades.

Na live desta quinta-feira, 28, Bolsonaro disse que o manifesto a favor da democracia organizado pela Fiesp é uma para beneficiar o também candidato à presidência, Luís Inácio Lula da Silva.

Bolsonaro também lançou na live a Carta de Manifesto em Favor da Democracia. Obviamente sem o peso, a seriedade, e a importância da iniciativa feita pela Faculdade de Direito da USP. Para assinar o manifesto da universidade, a pessoa tem que entrar na página, assinar nome, colocar CPF, no manifesto lançado pelo presidente na rede social, basta uma curtida.



A “Carta aos Brasileiros”, tem um quê de histórica. Em 08 de agosto de 1977, um Pátio das Arcadas da Faculdade de Direito da USP, no Largo de São Francisco repleto de estudantes, gente do povo, artistas, políticos, empresários, juristas, professores, o professor Godoffredo da Silva Telles Junior lia a Carta aos Brasileiros.

Naquela época, o Brasil viva sob a cortina do ferro da ditadura e o manifesto lido pelo professor a toda a sociedade brasileira era também um ato de repúdio a ditadura. A gota d’água naquela época havia sido uma alteração da constituição permitindo que se criasse os senadores biônicos e adotava outras medidas de restrição da liberdade.

No próximo dia 11 de agosto, no mesmo cenário, a Faculdade de Direito, no Largo de São Francisco, será lida uma nova versão da Carta aos Brasileiros. No passado estávamos vivendo em plena ditadura e queríamos uma democracia. Hoje, vivemos numa democracia e estamos dizendo que queremos permanecer nela, diante dos ataques à democracia e ameaça de golpe feitas constantemente pelo presidente Jair Bolsonaro.

Nessa luta contra o voto eletrônico Bolsonaro tem tentado puxar para o lado deles os militares, categoria que não faz o menor sentido estar querendo dar palpites em eleições. O papel deles é cuidar da defesa do país. Também não se pode dispensar a participação dos militares nesse processo, porém, eles devem colaborar, e colaboram muito na parte logística.  

Falando em militares, o Brasil sedia entre 25 a 29 de julho, a 15ª Conferência de Ministros de Defesa das Américas (CMDA). 34 países enviaram representantes para a reunião. O evento foi criado em 1995 e se destina a promover o conhecimento recíproco, a análise, o debate e troca de ideias e experiências na área de Defesa. A CMDA acontece a cada dois anos.

Na terça-feira, 26, no discurso de abertura, o ministro da Defesa brasileiro, Paulo Sérgio Nogueira, disse que respeita a Carta Democrática Interamericana, aprovada em 1º de Setembro de 2001, durante sessão especial da Assembleia da Organização dos Estados Interamericanos (OEA), Lima, Peru. A carta tem como objetivo principal a luta pelo fortalecimento da democracia e o repúdio às rupturas da ordem democrática.

Nesta quinta-feira, 28, o ministro assinou a Declaração de Brasília, documento elaborado durante a Conferência. O documento defende a defesa dos valores democráticos e a promoção da paz. A Declaração de Brasília também foi assinada por ministros de Defesa de outros 20 países.

Alguns pontos aqui. O primeiro é que o ministro da Defesa de um país democrático dizer que é a favor da democracia nem deveria ser notícia, deveria ser algo tão normal que não merecesse manchete. Só por aí a gente vê que há algo que não se encaixa. Um ponto fora da curva.

Segundo é sobre que conceito de democracia tem o ministro da Defesa. Democracia para ele pode não ser a mesma coisa que para nós que acreditamos nos valores democráticos. Por exemplo, Bolsonaro diz que é democrata, que respeita a democracia, mas age de forma a desdizer isso. Ontem mesmo, como falei, lançou na rede social dele um manifesto em defesa da democracia. Mas com certeza o conceito que o presidente tem democracia, não é o mesmo que o nosso.

Por esse motivo ponho  pé atrás com Paulo Sérgio Nogueira, ministro da Defesa, pois ele tem ajudado a colocar lenha nessa fogueira da desconfiança em relação às urnas eletrônicas armada pelo presidente Jair Bolsonaro.

O jornalista Guilherme Amada relata em sua coluna no site do Metrópole, que Paulo Sérgio Nogueira, no dia 06 de julho, se recusou a responder a uma pergunta sobre a possibilidade de um golpe militar.

O fato se deu após uma reunião da Comissão de Relações Internacionais e Defesa Nacional, realizada na Câmara dos Deputados. O jornalista perguntou ao ministro se havia alguma chance de um golpe militar no Brasil. Ao que o ministro respondeu: “Ah, pô, tu vai me perguntar isso aqui agora? Dá licença aí”. Antes da reunião, enquanto discursava, Nogueira cometeu um ato falho ao chamar Bolsonaro de general, e logo em seguida, corrigiu a falha.

Em junho, o ministro da Defesa havia enviado um ofício ao Tribunal Superior Eleitoral no qual dizia que as forças Armadas estavam se sentindo desprestigiadas no grupo de transparência das eleições criada pelo Tribunal. No ofício, Paulo Sérgio também diz que “não interessa concluir o processo eleitoral sob a sombra da desconfiança dos eleitores”.

Para mim, essa frase do ministro soa como uma ameaça. Também quando ele fala em “desconfiança dos eleitores”, ele deve estar se referindo não à totalidade dos eleitores, mas dos eleitores de Bolsonaro.

Não poderia terminar esse texto sem falar da varíola dos macacos.

O Brasil registrou nessa sexta-feira, 29, a primeira morte pela doença. A vítima é um homem, 41 anos, morador da cidade de Uberlândia, Minas Gerais. Segundo o Ministério da Saúde, a vítima tinha imunidade baixa, sofria de câncer, e outras comorbidades, o que contribuiu para o agravamento da doença que o levou à morte. Essa foi a primeira morte provocada pela doença registrada fora da África.

A varíola dos macacos, até agora, foi diagnosticada em 16 mil pacientes, espalhados em 74 países. No dia 23 de julho a OMS classificou a doença como emergência de saúde global. Aqui no Brasil já foram detectados 900 casos da doença.

Para terminar, de fato, esse texto, convido o leitor a assinar a Carta aos Brasileiros, manifesto iniciado pela Faculdade de Direito da USP, e fazer parte dessa história.

Segue o link para a página.

https://direito.usp.br/noticia/3f8d6ff58f38-carta-as-brasileiras-e-aos-brasileiros-em-defesa-do-estado-democratico-de-direito


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Instabilidades

Posted by Cottidianos on 23:19

Quinta-feira, 21 de julho

                                      Encontro de Bolsonaro com embaixadores

Não é o objetivo nesse artigo fazer uma biografia do presidente Jair Bolsonaro — mas vamos dar aqui algumas pinceladas antes de prosseguirmos antes de abordar o assunto do encontro do presidente com os embaixadores na segunda-feira, 18, em Brasília.

Bolsonaro começou sua carreira no serviço militar na Escola de Cadetes de Campinas, São Paulo. Aqui chegou — digo aqui, pois é de Campinas que escrevo este blog — em 08 de março de 1973, apenas duas semanas antes de completar 18 anos.  A Escola de Cadetes foi a porta de entrada do jovem Jair Bolsonaro para o serviço militar.

A partir daí seguiu seu caminho nas Forças Armadas. Colegas de Jair no serviço militar o descrevem como alguém com grande aptidão física e disposto ao serviço, porém não foi por isso que ficou “famoso” por lá.

Naquele ambiente ele já demostrava sua capacidade de provocar instabilidade. Em 1986, ele escreveu um artigo publicado na revista Veja, na qual fazia críticas aos baixos salários pagos aos soldados e oficiais de baixa patente pelo alto comando das Forças Armadas.

No artigo, intitulado, “O salário está baixo”, ele escreve: “Como capitão do Exército brasileiro, da ativa, sou obrigado pela minha consciência a confessar que a tropa vive uma situação crítica no que se refere a vencimentos”. Por causa disso, ficou 15 dias preso num quartel.

No ano seguinte, a Veja publicou uma reportagem que revelava os supostos planos de Jair Bolsonaro e o amigo Fábio Passos, de explodir bombas em instalações militares a fim de pressionar o alto comando dos militares a aumentar os salários.

Foi instalada uma investigação. Os dois negaram os fatos. No primeiro julgamento foram condenados. Recorreram então ao Superior Tribunal Militar (STM). Ali foram absolvidos por falta de provas por 9 votos a 4.

Por levantar a bandeira de melhores salários para os oficiais e soldados de baixa patente, Bolsonaro era admirado por eles nessa época. Amado pelos soldados e odiado pela alta cúpula.

Talvez tenha sido por essa razão: ser admirado pelos colegas de farda, é que Jair Bolsonaro tenha sido absolvido naquele julgamento. Talvez os juízes tenham tido receio de aplicar a ele uma pena severa a ele, e causar indignação e revolta nos baixos oficiais, talvez até um motim. E assim, Bolsonaro saiu livre e solto das acusações.

Após esses fatos, Jair Bolsonaro deixou o serviço militar e foi tentar a carreira política. Se deu bem. Já na primeira tentativa foi eleito vereador na cidade do Rio de Janeiro, em 1989, tendo como plataforma de campanha a defesa dos interesses corporativistas.

Em seguida, tentou uma vaga na Câmara dos Deputados, e conseguiu. O primeiro mandato dele como deputado deu-se entre 1991 e 1995. O ex-campeão do exército passou 27 anos na Câmara dos Deputados na qualidade de deputado medíocre, baixo clero, sem conseguir aprovar nenhum projeto de grande relevância.

Chamava a atenção por lá, não pela sua capacidade, inteligência, e disposição para elaborar projetos de grande relevância, nem para o povo do Rio, nem para a nação brasileira.

Naquela casa legislativa ele chamava a atenção por suas falas homofóbicas, preconceituosas contra mulheres, negros, indígenas, homossexuais. A uma coisa Bolsonaro foi fiel: ao corporativismo militar. Dessa base, ele sempre atendeu os interesses. Daí se explica o apoio que os militares deram a sua campanha.

O jornal O Estado de Minas, fez uma compilação de 10 frases ditas por Bolsonaro quando ele era deputado, se o leitor quiser lê-las basta clicar no link, reproduzirei aqui apenas uma: “O erro da ditadura foi torturar e não matar”. Disse Bolsonaro em entrevista a uma rádio, em junho de 2016.

Pois bem, o tempo foi passando e Bolsonaro resolveu se candidatar a presidente. Quando lançou sua candidatura à presidência da República, em agosto de 2018, ninguém o levou muito a sério. Mas, para espanto de todos, e surfando na onda do antipetismo, ele conseguiu.

Veio o governo de Jair Bolsonaro e a história toda vocês acompanharam. Uma tragédia para o Brasil. Época de retrocessos em TODAS as áreas.

Em 2018, havia o sentimento antipetista como já disse acima. E Bolsonaro se anunciou como aquele que iria combater a corrupção. Deixar a “velha política” fora do jogo. Logo as máscaras caíram e a corrupção também apareceu no governo dele. A Lava Jato foi assassinada, morta e enterrada.

A velha política voltou ainda com mais força, tendo o Centrão como grande destaque. Como recompensa por tanta dedicação, o Centrão ganhou a chave do cofre do orçamento na Câmara dos Deputados, e o poder de indicar quem quiser e puder para cargos em todos os escalões do governo. Tornou-se íntimo dos habitantes do Palácio do Planalto. Passou da sala para a cozinha com muita desenvoltura.

Uma prova da grande influência dos abutres do Centrão nesse governo foi a aprovação da PEC 1/2022, apelidada de PEC-Kamikaze. Uma PEC que cria benefícios em ano eleitoral, o que é proibido pela Lei Eleitoral.  Porém, o governo armou as coisas de um jeito tão bem amarrado que oposição e situação votaram pela sua aprovação mesmo assim. Na Câmara dos Deputados, Arthur Lira fez verdadeiros malabarismo para que a PEC fosse aprovada a todo custo.

E assim o capitão vai prosseguindo: governando pouco ou quase nada, e cometendo muitos crimes. Por muito menos, a ex-presidente Dilma Rousseff sofreu impeachment.

Em 2018, o inimigo era o PT. Mas agora o presidente Jair Bolsonaro não tem a mesma moral para se autoproclamar um governante que luta pelo combate à corrupção, pois ela está entranhada no seu governo, e na sua família.

Mas é preciso haver um inimigo. Criar narrativas. E quem foi o escolhido dessa vez? Adivinhem! Ela a urna eletrônica. Essa, sim, segundo ele, é a grande vilã das eleições brasileiras. Ela que foi lançada nas eleições de 1996 e desde então se tornou a principal protagonista da maior eleição informatizada do mundo, se tornou para Jair Bolsonaro, a inimiga.

Vejam, notem o detalhe: A urna eletrônica foi usada pela primeira vez nas eleições de 1996. E Jair Bolsonaro, contando o tempo de sua eleição como vereador, em 1989, foi eleito, na grande maioria das vezes através desse instrumento. E o mais impressionante ainda: três de seus filhos entraram na vida pública e também foram eleitos pelo sistema de votação eletrônica. E nunca, nenhum deles, falou qualquer coisa a respeito da confiabilidade das urnas eletrônicas.

Bastou o ex-presidente Lula voltar a disputa para que as urnas eletrônicas se tornassem a grande vilã, sendo que, desde que elas começaram a ser usadas, não houve nenhum episódio comprovado de que elas tenham sido fraudadas. Houve acusações é verdade, mas todas elas já foram desmentidas pelo Tribunal Superior Eleitoral.

Já faz tempo Jair Bolsonaro faz esses ataques. Ora ele ataca os ministros do TSE, ora ele ataca os ministros do STF, ora ele ataca as urnas eletrônicas. Tudo isso numa tentativa de desqualificar, não apenas o processo eleitoral brasileiro, mas o Judiciário como um todo. É isso que as instituições brasileiras não podem e não devem permitir.

Bolsonaro já fez live, deu entrevistas, falou no cercadinho contra as urnas eletrônicas, mas a último ato dele nesse sentido foi inacreditável e, simplesmente, ridículo.

Na segunda-feira, 18, o presidente usou a máquina governamental e a estrutura do Palácio do Planalto e ali reuniu embaixadores de diversos países. Ancorado numa apresentação em power point — com erros de inglês — o presidente repetiu a mesma ladainha que nós já estamos acostumados a ouvir.

Também sem apresentar provas, o presidente lançou dúvidas sobre a confiabilidade das urnas eletrônicas, e sobre o processo eleitoral brasileiro. Jair Bolsonaro também aproveitou a ocasião para atacar o ex-presidente, Lula, que concorre ás eleições deste ano e está em primeiro lugar nas pesquisas.

Sobrou veneno para Edson Fachin, presidente do Tribunal Superior Eleitoral, e também para Luís Roberto Barroso e Alexandre de Moraes, ambos do Supremo Tribunal Federal STF.

Auxiliando Bolsonaro nessa tragicomédia estavam os ministros Carlos França (Relações Exteriores), Ciro Nogueira (Casa Civil), Paulo Sérgio Nogueira (Defesa), Luiz Eduardo Ramos (Secretaria-Geral), e Augusto Heleno (Gabinete de Segurança Institucional).

Acho que nunca houve algo parecido em outro lugar no mundo, essa coisa de um presidente da República chamar os embaixadores para um evento para falar mal das instituições de seu próprio país, e o que é ainda pior, fazer a elas acusações sem provas.

Várias autoridades e partidos de oposição deram declarações contra as falas de Bolsonaro. Só quem silenciou foram Arthur Lira, presidente da Câmara dos Deputados, e Augusto Aras, Procurador-Geral da República. O primeiro, como já disse, tem a chave do cofre na mão, e faz parte do Centrão, que, hoje, é quem, de fato, governa o país. O segundo, está de olho em uma vaga no STF. Como diz o ditado, “para bom entendedor, meia palavra basta.


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Perigoso extremismo

Posted by Cottidianos on 00:21

Terça-feira, 19 de julho


Muito recentemente o mundo se viu assustado e espantado por um vírus chamado SARs-Cov2, mais popularmente conhecido por coronavírus. E não é para menos. No mundo todo a doença já matou mais de 6 milhões de pessoas desde o seu início em fins de dezembro de 2019.

Os cientistas, numa corrida desesperada contra o tempo, em tempo recorde, produziram uma vacina que ajudou a conter o vírus. Os cientistas produziam a vacina de um lado, e de outro, havia muita gente mal-intencionada, produzindo fake news contra a vacina. Enfim venceu o bem, venceu a ciência.

Porém, é sempre bom ressaltar, ainda não nos livramos do vírus. Muita gente ainda continua morrendo de covid-19, mundo afora. No Brasil, a média móvel de mortes para os últimos sete dias é de 248. É muito pouco diante da situação crítica que já enfrentamos, mas ainda é uma tragédia se considerarmos que são 248 vidas humanas que se vão a cada dia por causa do coronavírus.

É como se um avião, lotado de passageiros, caísse todos os dias no Brasil. Isso não seria normal, assim como não devemos normalizar a média móvel de mortes da covid. Mas, enfim, deu uma melhorada. No pico da pandemia era como se cinco aviões caíssem por dia. Melhoramos muito nesse sentido, mais ainda não vencemos a guerra.

Quando o vírus vem da natureza, por mais ameaçador que ele seja, os cientistas dão uma de super-herói, e conseguem dar um jeito, inventar um remédio, uma vacina, como é o caso da doença que falamos, e de tantas outras que já vitimaram a raça humana em diferentes períodos da história.

Mas, e quando a doença não vem da natureza, quando a doença está na sociedade, ou melhor, quando a doença está na cabeça de alguns indivíduos que compõem a sociedade. O que fazer quando a própria sociedade se torna o próprio vírus.

O fato caros leitores e leitoras é que vivemos numa sociedade doente, mentalmente doente, com alguns de seus indivíduos atuando como vírus a espalhar ódio, violência, preconceito, intolerância, seja de cunho religioso, racial, sexual, enfim, o próprio fato de ser ou pensar diferente já é suficiente para se tornar alvos implacáveis desses “vírus”.

Recentemente os brasileiros se depararam com episódios de violência e brutalidade que deixou a todos atordoados, perplexos.

Falo do caso de médico anestesista que estuprava as pacientes, durante o parto, e do petista assassinado por um bolsonarista quando celebrava seu aniversário de cinquenta anos. Os fatos já foram amplamente noticiados pela mídia, mas não poderia deixar de abordar esse assunto aqui.

Já era madrugada de domingo, 10, quando a delegada Bárbara Lomba, e outros policiais que com ela estavam, entraram em uma das salas do Hospital da Mulher Heloneida Studart, em Vilar dos Teles, São João do Meriti, munícipio da Baixada Fluminense, Rio de Janeiro.

Cumpriam mais uma missão: prender em flagrante o médico anestesista, Giovanni Quintela Bezerra, 32 anos. A delegada não demonstra, mas, interiormente está muito abalada — como ficariam abalados os brasileiros após o fato se tornar público — com o crime cometido pelo acusado. Este, se mostra surpreso com a prisão, e também por ouvir a delegada dizer que há um vídeo provando as acusações. Ele põe as mãos para trás. Uma algema é colocada em seus pulsos. Um policial o conduz à viatura que o levaria à prisão.

O fato deve ter sido ainda mais impactante, por ser ela, Barbara Lomba, filha de um casal de médicos.

Terminava ali uma carreira de sucesso de um jovem médico anestesista, de classe média alta, filho de médico obstetra, morador da Barra da Tijuca, frequentador assíduo de academia, e que gostava de se exibir nas redes sociais.

Giovanini havia se formado em 2017 e, desde então, dava plantões em diversos hospitais públicos e privados do Rio. O motivo da prisão em flagrante de Giovanni: Funcionários do hospital deixaram o celular escondido dentro de um armário, e conseguiram gravar imagens dele colocando o pênis na boca de uma paciente durante o parto que a equipe médica estava realizando nela. Para facilitar o crime, o anestesista dopou a paciente, muito mais do que o normal.

O médico já havia atuado em outros dois partos no domingo, 10. A equipe de enfermagem já vinha desconfiando do comportamento dele durante as cirurgias, como a quantidade de sedativos que ele usava, e outros comportamentos fora do padrão para um anestesista durante o parto.

A equipe conseguiu, de última hora, trocar a sala de cirurgia, para que fosse possível a gravação. Encontraram uma sala com um pequeno armário com vidro fosco, no qual colocaram o celular, em ângulo que pegasse a atuação de Giovanni. E conseguiram fazer o flagrante.

Ainda na tarde da segunda-feira, 11, o médico foi transferido para o presídio de Benfica, Zona Norte do Rio, onde permanece preso por tempo indeterminado, enquanto se desenvolve a investigação. Quando chegou ao presídio, houve protestos contra o médico pelos presos daquela unidade prisional. Na chegada do novo morador, os presos começaram a bater nas grades das celas.

A delegada quer investigar todos os partos feitos por Giovanni. Ela acredita que ele é criminoso em série. Além das três pacientes nos quais Giovanni atuou no parto no domingo, apareceram outras três que o acusam de estupro nas mesmas circunstâncias, e é possível que novos casos apareçam com o decorrer das investigações.

Pelos depoimentos que foram dados à imprensa por pessoas que conheciam o médico, seja do local onde ele morava, da academia que frequentava, ou colegas que estudaram com ele na faculdade, todos são unânimes em afirmar que ele era uma pessoa reservada, não era de muita conversa, mas que, em nenhum momento demonstrava atitudes suspeitas, e comportamento criminoso.

Outro caso que chocou o país foi o assassinato do Guarda Municipal Marcelo de Arruda, na cidade de Foz do Iguaçu, Rio de Janeiro. Marcelo era petista, tesoureiro do PT na cidade.

Há algum tempo ele vinha planejando a desta de seu aniversário de cinquenta anos. Enfim, chegou o aguardado sábado, dia 09 de julho, o dia tão esperado por ele. Aquele dia foi planejado para ser um dia muito especial.

Como tema para sua festa de aniversário, o Guarda Municipal escolheu o PT e o presidente Lula. Para o local da festa foi alugado as dependências da Aresf, uma associação de funcionários de Itaipu. Também foi encomendada uma decoração toda em vermelho e branco. O bolo de aniversário foi decorado com as mesmas cores, tendo ao centro a estrela do PT.

O dia em que completava seus cinquenta anos já começou com festa logo no café da manhã. Ele ganhou de presente de um amigo, um café da manhã especial em um camping. Mesa farta e muita alegria. Foi esse clima no qual Marcelo, a esposa, e o filhinho de apenas 40 dias de nascido começaram o sábado especial.

A festa estava programada para começar à noite, porém, por volta das 15hs, Marcelo já estava no clube, atarefado, cuidando das coisas na cozinha. Depois chegou Leonardo, 26 anos, o mais velho dos quatro filhos de Marcelo. E lá se foi Leonardo também para a cozinha, preparar o vinagrete o os molhos.

Mas aquele dia que começara e se desenvolvia em perfeita alegria para Marcelo, acabaria em sangue, dor, e tristeza para aquela família.

Em outro ponto da cidade, também em uma festa, estava Jorge Guaranhos, policial penal. Jorge estava em churrasco e os amigos pediram para ele acender a churrasqueira e assar a carne para o pessoal. Com ele, estava mulher e filho recém-nascido. O tempero do churrasco em que o policial estava também era a alegria. Enredos semelhantes que se cruzariam nas trevas daquela noite.

Veio à noite, e com ela os convidados. Pouco a pouco, um a um, eles começaram a chegar. “Será que vai vir todo mundo? ” “Poxa, já passou da hora e os convidados ainda não chegaram”. Esses são pensamentos que se passam na cabeça de todo aniversariante ansioso pela chegada dos convidados. Com Marcelo não era diferente.

Enfim, chegaram todos os amigos que ele convidara. E a coisa foi acontecendo. Muita música, especialmente, os pagodes do grupo Revelação, do qual Marcelo era fã, cerveja, risadas, brincadeiras. Nem todos na festa eram petistas, havia bolsonaristas também. Inclusive irmãos de Marcelo. Umas brincadeiras favoritas era flagrar amigos bolsonaristas junto à símbolos petistas.

A noite também chegou no churrasco onde estava Jorge Guaranhos, policial penal. Um dos convidados que fazia parte da segurança do clube onde Marcelo celebrava, junto à familiares e amigos, seus 50 anos de existência, tinha acesso às câmeras de segurança, e viu que no local estava sendo realizada uma festa com temática do PT. Logo a notícia se espalhou entre os convidados.

Segundo testemunhas, Jorge também viu as imagens, mas segundo testemunhas, não esboçou, nenhuma reação. Ele ficou ali, no churrasco, por mais cerca de uma hora, após isso, saiu, de carro, com a mulher o e filho recém-nascido. Entretanto, em vez de ir para casa, rumou para o clube onde era realizada a festa com tema petista.

O aniversário de Marcelo decorria nesse clima de descontração e alegria quando os que estavam dentro do salão ouviram alguém gritar: “Aqui é Bolsonaro”. Algum dos convidados gritou: “Santo Deus! Mais um bolsonarista chegando atrasado! Vai ver quem é, Marcelo”. Pensando tratar-se de algum dos seus amigos chegando tarde na festa o aniversariante saiu para ver quem era.

Quando Marcelo saiu para fora do salão, viu um estranho passando ao volante, em frente ao clube. No carro do desconhecido tocava a música a qual um dos versos diz: “O Mito chegou, e o Brasil, acordou, a esperança de verdade, olhar de criança. Agora podemos ver um futuro melhor. ” Uma clara referência ao presidente Jair Bolsonaro.

O carro passou, depois voltou e Jorge Guaranhos ficou xingando. Marcelo, diz para ele: “Cara, vai embora. Isso aqui é uma festa particular”. Em seguida, pega um punhado de terra de um vaso de planta que estava próximo e a joga no carro de Jorge.

O policial penal então saca a arma e aponta para Marcelo. A mulher de Marcelo, que também é policial, aparece e tenta acalmar Jorge. Este vai embora, mas, antes de sair promete retornar e fazer uma chacina no local.

Diante, disso, Marcelo, desconfiado, foi até o carro, e pegou a arma dele. E a festa continuou. Pouco tempo depois, Jorge Guaranhos decide voltar à festa. A mulher dele implora para que não faça isso, mas não obtém sucesso. Às 23h40min, ele estaciona o carro, em frente ao clube. Convidados avisam a Marcelo que Guaranhos voltou. O aniversariante carrega a arma e a coloca na cintura.

Pamela, mulher de Marcelo sai para fora e tentar contornar a situação, mostrando sua identidade policial, tentando acalmar o homem irado. Mas os esforços de Pamela são em vão, e começa o tiroteio. Ainda do lado de fora, Gauranhos atira em direção à Marcelo. O tiro atinge o aniversariante, e ele caí.  Em seguida, Guaranhos corre para dentro do clube a atira outras vezes em Marcelo, este mesmo ferido, consegue atirar em Guaranhos, que também cai.

E assim, aquele dia que havia começado como um conto de fadas, termina numa noite como num filme de faroeste: dois homens caídos num salão após um tiroteio.

Marcelo ainda chegou a ser levado ao hospital, mas já chegou sem vida. Jorge Guaranhos está em estado grave, na UTI. Ele teve prisão preventiva decretada na segunda-feira, 11.

A delegada, Camila Cecconello, que conduz o inquérito, conclui o inquérito de forma relâmpago, sem ao menos periciar o celular do assassino, e disse que o crime não havia sido de natureza política. A conclusão do inquérito foi muito criticada tanto pelos advogados de defesa de Marcelo de Arruda, quanto por juristas que analisaram o caso.

Diante dos fatos apresentados, fica fácil, até para um leigo, afirmar que o crime foi, sim, um crime de ódio, um crime político. Se a festa do Marcelo fosse decorada com qualquer outro tema não teria sido motivo de disse-me-disse no churrasco do qual Jorge Guaranhos participava, nem muito menos teria feito com que ele, ao sair de lá, em vez de ir para sua casa, fosse para o clube onde era realizada a festa de Marcelo. Nem teria chegado lá, gritando “Aqui é Bolsonaro”, nem tocando música alusiva ao presidente, Jair Bolsonaro.

 Outro fato nos mostra também sinais da violência na política. Neste sábado, 16, o deputado federal Marcelo Freixo, PSB, pré-candidato ao governo estadual no Rio de Janeiro, fazia uma caminhada, junto com apoiadores. Eles estavam reunidos na Praça Saens Pena, Tijuca, Zona Norte do Rio. Era o ponto de encontro do deputado, naquela manhã.

Estava tudo tranquilo até aparecer por lá o deputado estadual Rodrigo Amorim, PTB. Amorim é bolsonarista. Junto com ele estavam alguns apoiadores. Nesse grupo havia pessoas armadas. Eles partiram para cima do grupo que acompanhava Marcelo Freixo, e os agrediram, empurraram pessoas, e quebraram bandeiras.

Creiam, caros leitores e leitoras, este é para nós, brasileiros, o ano mais difícil e desafiador desde a abertura democrática. Vivemos um clima de violência, e insegurança. Já não há mais partidos e ideologias, há ódio sendo destilado todos os dias, todas as horas, já estamos cansados disso, e de repetir isso.

Em grande parte, a culpa de tudo isso, é do presidente Jair Bolsonaro. Ele é como aqueles seres trevosos que se alimentam de ódio, de vingança, de confusão, e de todas as coisas semelhantes a estas. Não faz outra coisa desde que foi eleito. Antes de ser eleito presidente também já trazia consigo essa essência.

Notem que ele está sempre procurando alguém para agredir. Ele precisa disso. Não vive sem isso. Uma hora é Lula, outra hora o PT, os comunistas, que só existem na cabeça dele e de sua tosca militância, ora é Alexandre de Moraes, outra hora é Fachin.

A bola da vez são as urnas eletrônicas. Todo dia, toda hora, lançando dúvidas sobre o sistema de votação brasileiro, sistema esse que foi quem o elegeu por anos e anos, e que também elegeu seus filhos. Porém, só agora, é que ele percebeu que as urnas não são confiáveis.

A obsessão do presidente beira o ridículo. Por exemplo, nesta segunda, 18, o presidente tem encontro marcado com embaixadores de vários países no Palácio da Alvorada.

Bolsonaro fez para eles uma apresentação sobre as eleições brasileiras. O tom do encontro já havia sido anunciado na live do dia 07 deste mês. “Será um PowerPoint mostrando tudo o que aconteceu nas eleições de 2014, 2018, documentado, bem como essas participações dos nossos ministros do TSE, que são do Supremo, sobre o sistema eleitoral”.

Obviamente, o assunto sendo apresentado do ponto de vista do presidente, é mais uma aberração, uma apresentação de asneiras e tolices aos quais os embaixadores terão de ser submetidos. Faz tempo que o presidente diz que as urnas não são confiáveis, que as eleições de 2018, que o elegeram presidente, foram fraudadas. De acordo com ele, era para ele ter vencido ainda no primeiro turno naquelas eleições.

Entretanto, Bolsonaro nunca apresentou provas do que diz. Para o gado que o segue e que o serve é exatamente isso que importa: que o presidente diga que é as urnas não são confiáveis. Apresentar provas não é importante.

Ora o que é tudo isso senão uma incitação à violência? A que os apoiadores dele façam aqui o que os apoiadores de Trump fizeram nos Estados Unidos ao invadir o Capitólio?


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PEC Terrorista

Posted by Cottidianos on 21:41

Sexta-feira, 01 de julho

Kamikazes. Provavelmente, o leitor ou leitora, já ouviu, leu algum livro, artigo, reportagem, ou assistiu algum filme, principalmente sobre guerra, no qual o assunto foi abordado, mesmo assim, vamos reavivar o termo, trazê-lo à mente.

Quem eram os kamikazes? Atuando durante a Segunda Guerra Mundial, os kamikazes eram pilotos japoneses enviados em missão contra os Aliados. Eles enchiam seus aviões de explosivos e jogavam aviões, explosivos, e eles mesmos, pilotos, contra alvos inimigos. Seus alvos principais eram navios e porta-aviões dos Aliados. Atualmente, chamamos esse tipo de atitude suicida de terroristas.

Atitude kamikaze foi o que fizeram os senadores, nesta quinta-feira, 30, ao aprovar a PEC das Bondades, PEC Kamikaze, ou PEC da Irresponsabilidade Fiscal. Eles — quase por unanimidade, não fosse o voto contra do senador, José Serra — encheram o avião de explosivos e jogaram contra a economia e as contas públicas brasileiras. Como diz o ditado: A corda sempre arrebenta do lado mais fraco. É que vai acontecer com essa PEC. Ela vai explodir no colo de todo mundo, principalmente, da classe mais pobre, ironicamente, a quem ela se propõe a ajudar. Tudo isso para satisfazer as vontades de um presidente completamente desesperado para se reeleger para mais quatro anos de mandato e ter mais tempo de jogar o país de vez no precipício.  

Vamos voltar um pouco no tempo para entender a raiz de tudo isso, e ficar ainda mais espantados do modo como os ventos contrários viraram a favor desta PEC sem-vergonha e que pode fazer o barco da economia brasileira perder de vez o rumo.

Na sexta-feira, 04 de fevereiro, o senador, Carlos Fávaro, (PSD-MT), apresentou no senado uma Proposta de Emenda Constitucional com a finalidade de reduzir os impostos de combustíveis em 2022 e 2023, sem nenhuma compensação fiscal.

A PEC do senador também previa Auxílio Diesel de R$ 1.200 para caminhoneiros, aumentava o subsídio do gás de cozinha de 50% para 100%, dentre outras benesses.

Equipe do ministério da Economia, chefiado pelo ufanista Paulo Guedes — digo “ufanista” pois Paulo Guedes é um dos do que no governo acham que o Brasil vai de vento em popa, e que em alguns aspectos da economia, está melhor de que países mais desenvolvidos, como os Estados Unidos, por exemplo. Podemos dizer disso que é ufanismo, ou mais popularmente, “viajar na maionese” — fechando esse breve parêntese, prossigamos.

A equipe de Paulo Guedes previu na época que a PEC poderia provocar um rombo de 100 milhões nas contas públicas. Membros da equipe consideraram que o assunto estava sendo tratado de forma populista e que os políticos estavam visando apenas fazer bondade visando um calendário eleitoral que se abria à frente deles.

Aliás, quem apelidou a PEC de Kamikaze foi a própria equipe econômica, chamando-a de suicida, uma vez que ela traria junto consigo grande desarranjo fiscal e alta do dólar e tudo viraria como que uma bola de neve na economia.

Porém, esse ano é ano de eleição. E em ano de eleição tudo pode acontecer. Ainda mais quando se tem um presidente da República tentando, desesperadamente, se manter no poder. E aquela que era uma PEC suicida de repente passou a ser totalmente aceita por todos: governo e oposição.

Nesta quinta-feira, 30 o Senado aprovou a PEC em primeiro turno por 72 votos a 1, e em segundo turno por 67 votos a 1. O instrumento permite que se crie no país um estado de emergência fictício apenas para que seja aprovado um pacote de bondades eleitoreiras com grande potencial de se tornar uma bomba fiscal.

Pela Proposta de Emenda à Constituição deverá ser criado um voucher de R$ 1.000 para caminhoneiros autônomos, e outro para taxistas com valor ainda indefinido. O valor do Auxílio Brasil passará de R$ 400,00 para R$ 600,00.

A proposta também prevê um aumento no vale gás que pode chegar até R$ 120,00. Atualmente o governo subsidia 50% por cento do valor do botijão de gás. Pela PEC esse valor é reajustado de 50% para 100%, sendo pago a cada bimestre.

Faz parte do pacote também o repasse de R$ 2,5 milhões aos municípios para o custeio do transporte gratuito dos idosos no transporte metropolitano. Também serão repassados aos estados uma quantia para cobrir os custos com cortes em alíquotas de tributos sobre o etanol, mantendo assim a competividade do combustível em relação a gasolina.

Tudo isso há apenas três meses das eleições. Claramente uma jogada eleitoreira que humilha a Lei de Responsabilidade Fiscal, a Lei Eleitoral. E nessa lambança embarcou todo mundo, governistas e oposição, partidos de direita, de esquerda, e de centro. Na verdade, o governo os colocou numa armadilha. Se a oposição votasse contra haveria munição para dizer: “Vejam, só tal senador foi contra o aumento dos benefícios para os mais necessitados”. E isso, em ano eleitoral, poderia pegar muito mal para quem busca se reeleger ao Congresso.

Por outro lado, a própria oposição dá motivos para um presidente que já esnobou a pandemia, que zombou das vítimas feitas por ela, que agride as minorias, que destrói o meio ambiente, e que está a todo momento causando instabilidade institucional e atrito entre os poderes da República, que esse presidente venha a dizer falsamente daqui há três meses, em campanha: “Resolvi o problema do Brasil”.

Nada contra dar benefícios a quem precisa deles. É até muito justo. O Brasil voltou ao mapa da fome. Há milhões de brasileiros passando fome. Muitos indo morar nas ruas porque já não tem mais como pagar aluguel ou sustentar a casa. Mas isso decorre, justamente, da incompetência de um governo que não sabe governar, e de uma equipe econômica que nada resolve, ficando apenas no mundo das quimeras, falando de um Brasil que só existe para eles, e na cabeça deles.

É revoltante que um governo que nunca teve como bandeira o social, nem se preocupou com políticas econômicas para as classes menos favorecidas, venha agora, a três meses das eleições, de forma altamente irresponsáveis, levantar essa bandeira, vestir essa camisa.

Esse drible na Lei Eleitoral e a afronta a Constituição que é essa aberração da PEC do Vale Tudo, da PEC Suicida, vai ter efeito bumerangue e vai voltar com força, atingindo a todos, como já disse antes, porém, ainda mais aos pobres.

De que forma isso se dará? O descontrole fiscal levará a uma alta do dólar, que, por sua vez, pressionará o aumento da inflação, e o valor desses benefícios agora dados se tornarão nanicos perante o monstro da inflação. Para se ter uma ideia, os especialistas afirmam que a medida terá um impacto fiscal de ao menos R$ 41,2 bilhões nas contas do governo. Quanto ao dólar, depois da aprovação da PEC a moeda disparou. Teve alta de 1,73% e fechou a 5,32 na venda. Essa foi a maior alta do dólar perante o real em cinco meses.

Obviamente, é uma reação em cadeia. Subindo o dólar o resto vem atrás. Gasolina, diesel, alimentos, e outros produtos subirão, pois, esses produtos ou importados ou são exportados.

Podemos colocar nesse cortejo fúnebre de alta de preços a conta de energia, a alta de juros, efeitos negativos no emprego. Ou seja, é como se o benefício concedido agora fosse ser devorado daqui a dois ou três meses pelo monstro da inflação, que é voraz.

Podemos também comparar o “pacote de bondades” do governo a família que está em dificuldades e recorrer a um agiota para resolver a situação. E ainda tem gente que aplaude e apoia tanta incompetência.

Outro detalhe importante. A PEC tem validade até dezembro. E depois disso, como ficarão as coisas? O caos? E quem se preocupará novamente com os pobres?

Agora, o projeto segue para aprovação na Câmara. E lá também, certamente, será aprovada. E por lá, pela Câmara, essa PEC pode se tornar ainda pior.

Vergonha. É a palavra para tudo isso.


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