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Noite de horror em Campinas

Posted by Cottidianos on 18:14
Terça-feira, 14 de janeiro


Imagem: http://correio.rac.com.br/_conteudo/2014/01/capa/campinas_e_rmc/142843-vitimas-da-chacina-em-campinas-comecam-a-ser-enterradas.html
Campinas
Tarde de segunda-feira, 13 de janeiro de 2014.

No Cemitério Parque Nossa Senhora da Conceição, conhecido popularmente como Cemitério dos Amarais, na cidade de Campinas, interior do Estado de São Paulo, estavam sendo velados os corpos de nove, das doze vítimas da terrível chacina ocorrida entre a noite de domingo e a madrugada de segunda, em bairros da região oeste da cidade.  Cerca de 200 pessoas, incluindo familiares, vizinhos e amigos das vítimas, além de curiosos, estavam presentes a ultima despedida dos jovens. A comoção era geral. Uns choravam, outros gritavam, alguns desmaiavam. O clima era de grande tristeza. Faltava pouco menos de 30 minutos para os carros funerários levarem os corpos das vítimas para a última morada. Tudo corria normalmente para o que se espera que aconteça em um velório.

Enquanto ainda chorava a morte de seus entes queridos, a família de Diego Dias Carvalho (24) e Wesley Adiel Lopes (19) teve uma surpresa. Alguns funcionários do cemitério aproximaram-se do momento fúnebre e anunciaram:

_ Os corpos desses dois jovens não podem ser enterrados agora. Eles precisam voltar para o IML (Instituto Médico Legal) para que sejam realizados novos exames.

_ Não, de jeito nenhum. Eles vão ser enterrados agora. Se haviam de fazer algum exame, porque não fizeram antes?

De nada adiantou a reclamação dos familiares. Os funcionários fecharam os caixões e os corpos foram levados para novos exames periciais. Quando os funcionários explicaram que o motivo da realização dos exames era a busca de mais algum projétil que estivessem alojados nos corpos das vítimas, as famílias ficaram ainda mais furiosas.

Este triste desfecho que acontecia no Cemitério dos Amarais, provavelmente, tenha tido seu início no domingo, por volta do meio dia.

Domingo, 12 de janeiro.
Meio dia.

É dia de folga do policial Aride Luís dos Santos, de 44 anos. Ele aproveita para passear com a mulher. Notando que o combustível do veículo que dirigia, chegava ao limite, e para evitar surpresas desagradáveis, parou para abastecer, num posto de combustíveis, na Rua Rui Rodriguez, região do Ouro Verde. Após abastecer o veículo e enquanto pagava a conta, os criminosos chegaram e anunciaram o assalto. Aride estava desarmado, porém o instinto de reação de policial o levou a reagir, tentando desarmar um dos ladrões. O outro assaltante não pensou duas vezes e atirou na cabeça do policial. Os assaltantes fugiram, sem que nada fosse levado, nem do policial, nem do posto de combustíveis. A mulher de Arides Luis entra em desespero, mas ainda assim, consegue prestar socorro ao marido, levando-o ao Hospital Ouro Verde, entretanto nada mais podia ser feito. O policial, que trabalhava para a 3ª companhia do 47º Batalhão de Campinas, já chegava sem vida ao hospital. A Polícia Civil registrou o caso como latrocínio, que é o roubo seguido de morte.

Imagem: http://noticias.r7.com/sao-paulo/esclarecimento-de-chacina-em-campinas-e-prioridade-absoluta-diz-secretario-de-seguranca-14012014


Noite de domingo. Madrugada de segunda.
Hora do horror.

Domingo, 12 de janeiro
Residencial Sirius Pirelli. 20h30

Sadrak Santana Galvão, de 25 anos anda tranquilamente pelas ruas. Fizera um dia bastante quente e o ar da noite lhe era bastante agradável. De repente, surge do meio das trevas da noite um gol vermelho e avança em direção a ele.  Os homens, encapuzados, que estão dentro do veículo atiram contra o rapaz. Os tiros atingem-lhe as costas e a cabeça, enquanto seu corpo tomba sem vida no asfalto. Os atiradores aceleram e partem em alta velocidade, afastando-se do local. Aquele seria o primeiro de uma série de crimes brutais que trariam medo e horror aos moradores da região oeste da cidade. Na calada da noite, a morte andava a espreita nas ruas da região do Ouro Verde e agiria, novamente, duas horas e cinqüenta minuto depois.

Bairro Recanto do Sol II
Domingo. 23h20

Os amigos Peterson Rodrigues Calderari (17), o irmão dele, Patrick da Silva (19), e mais dois amigos haviam pedido uma pizza e a degustavam ali mesmo na rua, enquanto conversavam animadamente. Novamente, o carro com os encapuzados se aproximou, dessa vez, vagarosamente.  Os encapuzados desceram do carro e abordaram os rapazes. A irmã de Peterson e Patrick e uma amiga, que estavam dentro de casa, ao perceber que alguém havia chegado de carro e o som de vozes diferentes e saíram à rua para ver quem era. Os encapuzados, então, ordenaram que elas voltassem imediatamente para dentro de casa. Amedrontadas elas obedeceram. Já dentro de casa, primeiro ouviram os gritos de pavor dos rapazes, depois o disparo das armas de fogo que haviam visto nas mãos dos homens e, por fim, o silêncio mortal.

Bairro Parque Universitário
Domingo. 23h30

Jailson da Costa (28) conversa tranquilamente com um amigo, em frente à casa onde mora. Novamente os encapuzados se aproximam de carro e pedem que eles entrem em casa. O amigo de Jailson consegue entrar, porém, quando este ia passar pelo portão, os homens atiram-lhe nas costas e na cabeça.

Bairro Vida Nova
Domingo. 23h40

José Ricardo Grilo havia acabado de chegar a casa. Havia ido buscar a mulher no serviço e resolvera sair para a rua conversar um pouco com os amigos. Além dele, estavam ali; Daniel da Silva (20), Rodnei Manoel (27), Gustavo M. da Slilva (21) e Diego Dias Coelho (24). Mais uma vez, a morte encapuzada e motorizada se aproximou, primeiro de um adolescente de 14 anos. Os assassinos disseram ao jovem: “Corre que chegou a tua hora!” Garoto, desesperado, tentou escapar, porém recebeu alguns disparos nas costas, apesar disso, sobreviveu. O mesmo não aconteceu com Renato Grilo e os amigos que conversavam muito próximo dali.

Bairro Vista Alegre
Segunda-feira. 1h40

Sérgio Donizeti Junior, (18) encontra a morte encapuzada e motorizada.


Imagem: http://blogleiacomente.blogspot.com.br/2014/01/incendiarios.html

 Terminal Ouro Verde.
Segunda-feira. 12h

Um grupo de, mais ou menos, vinte rapazes, provavelmente, parentes e amigos da vitimas, invade o terminal armados com paus, pedras e coquetel molotov. Os rapazes exigiram que os passageiros deixassem os ônibus, começando, então, a depredação. Três veículos foram depredados. Cabines do terminal foram destruídas e até mesmo jornalistas que cobriam o fato, foram ameaçados. O bando de rapazes usava camisas para esconder o rosto. O motivo de mais selvageria era uma forma de protesto contra a chacina ocorrida.

Esse foi um resumo do violento final de semana ocorrido na cidade de Campinas. Foi a maior chacina da história da cidade. Algo bastante incomum. Enquanto as famílias vivem a dor e o luto de perder seus entes queridos a polícia vai ter muito trabalho para investigar o caso. Seis delegados foram designados para investigar o ocorrido. O governo do Estado de São Paulo, através da Secretaria de Segurança Pública também está empenhado na solução desses homicídios. Fernando Grella Vieira, Secretário de Segurança Pública, determinou que uma equipe de inteligência do DHPP (Departamento de Homicídios e Proteção à Pessoa)  do Estado de São Paulo, viesse à Campinas para acompanhar o caso.

Seis das vítimas já tinham passagem pela polícia por crimes de homicídio, receptação, tráfico e roubo de veículos. Nenhuma delas, entretanto, portava armas no momento do crime e nenhuma era foragida da justiça. As vítimas, todas elas, não tiveram a menor chance de defesa. Na maioria dos casos, encontravam-se em grupos, nas calçadas, em frente à suas residências. Os assassinos estavam sempre encapuzados e utilizavam dois carros. A polícia trabalhará com algumas linhas de investigação como, por exemplo, a briga entre gangues rivais. Outra linha de investigação é a ação de um grupo de extermínio formado por policiais, que supostamente, teriam agido para vingar a morte do policial Arides Luis, morto ao tentar reagir a um assalto. Em todos os casos, as testemunhas afirmaram, que os encapuzados usavam roupas escuras e botas parecidas com as do uniforme policial Foi a polícia ou não foi? Foram brigas entre grupos rivais? Isso só o fim das investigações dirá. O fato é será feito um trabalho sério, por parte da Corregedoria da Policia Militar, de investigações dos policiais que remontará a meses atrás, no qual serão investigados as atitudes e comportamentos de policiais que trabalham na região.

A repercussão do fato é bastante negativa para a imagem da cidade por diversos motivos. Primeiro que ninguém gosta de ver essas coisas acontecendo na própria cidade onde mora. Isso gera uma sensação de medo e insegurança. Há também o fato de que a cidade de Campinas, daqui há alguns meses, receberá as seleções de Portugal e Nigéria. As duas equipes estrangeiras ficarão hospedadas aqui, por ocasião da Copa do Mundo. A chacina em Campinas teve destaque na imprensa portuguesa, e em outros países. Deve também ter repercutido na Nigéria.


Outro fato preocupante é que Campinas já teve 21 assassinatos em 13 dias, incluindo as mortes ocorridas durante a chacina.  A cidade vive o mês de janeiro mais violento dos últimos dois anos. “É um fato muito triste, lamentável e, de certa forma, ate prejudicial para a cidade de Campinas e região. Porque nós estamos sendo foco de eventos internacionais que de forma contrária, trazem um implemento à nossa cidade e região, que dá um salto de progresso, dá um salto de mobilização das pessoas, enfim, uma ação muito importante. E vem nesse meio uma notícia que é lamentável, muito triste, a ponto da mídia internacional, da imprensa internacional, destacar esse fato, que teve inúmeros mortos, numa chacina’, afirma o Coronel Antonio Galasso, em entrevista a Rádio CBN Campinas.

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