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Eu tenho um sonho – I Parte: As circunstâncias

Posted by Cottidianos on 01:45
Terça-feira, 11 de novembro

Semana que vem, dia 20, celebra-se o Dia da Consciência Negra, 1.047 cidades brasileiras, decretaram feriado nesse dia. É um dia de reflexões. Por todo o país, entidades que defendem a causa, promovem palestras, apresentações artísticas, discussões sobre o tema. Procura-se trazer nesse dia, e na semana que o antecede, chamada de Semana da Consciência Negra, à memória da resistência e dos sofrimentos pelos quais passaram os negros na terrível época do cativeiro. O dia 20 foi escolhido por ser o dia no qual morreu um dos símbolos dessa luta no Brasil: Zumbi dos Palmares. Publicarei essa semana, e parte da próxima, alguns textos que buscam trazer à tona a reflexão sobre esse tema. Como a questão da escravidão é um tema universal e, consequentemente, a causa dos direitos civis também o é, começo essa discussão na América, terra de Martin Luther King Jr., um dos grandes defensores dos direitos civis dos negros americanos e que se tornou referência mundial quando se trata desse tema. Apresento o texto Eu tenho um sonho... Um dos mais belos discursos proferidos em contexto de luta pela liberdade. Dividido em duas partes: a primeira, apresenta a circunstancia no qual se deu esse discurso e, na segunda parte, o discurso.


Imagem: http://blogcasmurros.blogspot.com.br/2013/08/sobre-literatura-e-seu-trabalho.html


Fazia uma tarde quente e abafada em Washington, no dia 28 de agosto de 1963. A voz afinadíssima de Camilla Williams, uma soprano negra do Estado da Virginia, emocionava profundamente o mar de gente à sua frente, ao cantar o hino nacional americano. A multidão entoava o hino junto com ela e o momento era sublime.

Após a execução do hino, os oradores escolhidos para o evento começaram os seus discursos exaltados. Um a um iam eles iam falando à multidão. Segurando entre as mãos o discurso que havia preparado na noite anterior, estava o reverendo King.  Sentia certo nervosismo ao olhar as 250 mil pessoas à sua frente. Estavam reunidos ali, brancos, negros, crianças, jovens, homens e mulheres. Gente do Norte e do Sul. Ninguém queria perder aquele momento histórico. Enquanto aguardava sua vez, os pensamentos do reverendo voltaram ao início daquele dia.

Abrira a janela de seu quarto no Willard Hotel, em Washington. Um esplendoroso sol se levantava na linha do horizonte, anunciando o amanhecer de um novo dia, que ficaria marcado para sempre no coração do povo norte-americano. Um momento que coroaria de êxito a luta para que os direitos civis dos negros fossem respeitados. Ele mesmo, Martin Luther King Jr., havia estado na prisão diversas vezes por levantar esta bandeira. Dormira pouco na noite anterior preparando o discurso que faria logo mais à tarde, em frente ao Lincoln Memorial – monumento  construído em homenagem a Abraham Lincoln, presidente que há cem anos havia abolido o regime escravocrata nos Estados Unidos. A. Philips Randolf, um velho líder trabalhista negro e outros membros da luta pelos direitos civis haviam organizado uma passeata pacifica. Queriam chamar a atenção da sociedade para os projetos de lei que apresentados ao Congresso norte-americano sobre direitos civis que acabara de ser enviado àquela casa, pelo Presidente John F.Kennedy.

Ainda na janela, fitando o horizonte límpido e claro à sua frente, lembrou-se da conversa que tivera com John Kennedy. O presidente se mostrara preocupado, não pela passeata em si, essa ele até apoiava. O problema era que se houvesse alguma confusão naquele momento, os opositores dos direitos civis poderiam usar isso como arma para derrubar o projeto de lei. “Viram só a confusão a baderna que os negros fizeram em Washigton? Agindo desse modo, eles mostraram que não estão preparados para assumir direitos civis.”, diriam eles. Além disso, havia a preocupação de que o número de pessoas presentes a marcha fosse insuficiente e isso enfraqueceria o movimento.

Imagem: http://blogprocurandoeles.blogspot.com.br/2012/06/3-dias-reencarnacao-dimensao-densidade.html


Da parte de King, a preocupação era de que não conseguisse expressar em seu discurso a essência do clamor de liberdade que havia na alma do povo negro. O evento seria transmitido também pelas redes de televisão, ao vivo, para todo o país e, certamente iriam ser vistas no mundo todo. Era aquele o momento de mudar o jogo. Os negros já haviam esperado por tempo demais.

De repente, ouviu um barulho no interior do quarto. Virou-se e viu que sua esposa Coretta havia acabado de acordar. King, imediatamente, caminhou até o móvel onde estava o aparelho de TV e o ligou. Não havia feito isso antes para não perturbar o sono da esposa. Estava ávido por saber o que imprensa estava falando a respeito da marcha. Segundo as reportagens o movimento contaria com a presença de 25.000 pessoas, e isso o preocupou. Esperava mais gente para o evento. Apesar de um pouco preocupado, conseguiu tomar o café da manhã junto com a esposa com tranquilidade. Quando os dois chegaram ao local onde os manifestantes estavam se reunindo tiveram uma grata surpresa: havia ali muito mais gente do que o previsto.

Imagem: http://blogcasmurros.blogspot.com.br/2013/08/sobre-literatura-e-seu-trabalho.html


A marcha teve início atrás da Casa Branca, cruzou os grandes parques que circundam o Washington Monument, terminando diante do imponente Lincoln Memorial. O percurso transcorreu como King deseja: em clima de paz e tranquilidade. Durante a caminhada foram entoados vários spirituals - Gênero musical nascido nos Estados Unidos da América e que servia de inspiração aos escravos negros.

Agora ele estava ali diante de 250 mil pessoas que sonhavam com uma sociedade mais justa para todos. Por volta das 3 horas da tarde, A. Philips Randolf, falou à multidão:
_ Agora eu tenho a honra de lhes apresentar o líder moral de nossa nação. Eu tenho o prazer de lhes apresentar Dr. Martin Luther King Jr.


King se posicionou aos microfones, sob intensos aplausos da multidão. O reverendo começou a fazer o discurso que havia preparado durante a noite, depois deixou falar o coração e seus lábios pronunciaram um dos discursos mais belos, emocionantes e verdadeiros na causa dos direitos civis...

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