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A realidade paralela de Jair Bolsonaro

Posted by Cottidianos on 01:47

 Quinta-feira, 24 de setembro




Mais uma vez os poderosos do mundo estiveram reunidos na 75ª Assembleia  Geral da Organização das Nações Unidas, sob o lema: O futuro que queremos. O evento foi online devido à pandemia, e foi realizado na terça-feira, 22.

Mais uma vez, como já é tradição, o Brasil foi o primeiro país a discursar. O que poderia ter sido diferente foi o discurso do presidente, Jair Bolsonaro, que, mais uma vez, inventou uma realidade paralela para explicar os incêndios que devoram as florestas brasileiras e a pandemia, provocada pelo poderoso vírus, batizado pelos cientistas de Covid-19.

Em resumo, Bolsonaro parecia mais estar falando para seu público eleitor que para líderes mundiais de diversos países. Os eleitores do presidente, sim, gostam da realidade parelela que o presidente narra. Líderes mundiais, nem tanto.

Segundo dados divulgados pelo consórcio de imprensa, o Brasil, na data de hoje, 139.065 mortes por coronavírus. Porém, no discurso o presidente quase não menciona essa quantidade absurda de mortos pela pandemia.

A COVID-19 ganhou o centro de todas as atenções ao longo deste ano e, em primeiro lugar, quero lamentar cada morte ocorrida”, diz ele, sem mencionar o número de mortos. Na verdade, ele faz pouco caso dessas vidas perdidas desde o início da pandemia. Lembram do “E daí?”. Ou então do “Eu não sou coveiro”.

Segue o discurso: “Desde o princípio, alertei, em meu País, que tínhamos dois problemas para resolver: o vírus e o desemprego, e que ambos deveriam ser tratados simultaneamente e com a mesma responsabilidade”.

Conversa para boi dormir. Será que alguém acredita nisso, além dele mesmo, e de seus cegos eleitores?

Quem ouviu o presidente, desde o início da pandemia, dizer que o vírus representava uma ameaça e que ele estava preocupado com isso? A contrário, ele sempre minimizou a pandemia, fez pouco caso do coronavírus. “É só uma gripezinha”, dizia ele.

Com a economia, sim, a preocupação era total, sem considerar que as mãos que movem a economia e que fazem ela acontecer são as mãos de trabalhadores, e trabalhadores são humanos, sujeitos a pegar doenças desconhecidas para as quais ainda não remédio e morrer desse mal. Esses trabalhadores, com certeza também não dispõem do aparato médico e de saúde de que o presidente dispõe no caso de contrair a doença, como de fato contraiu.

Além disso, o presidente ainda ironizou as medidas sanitárias tomadas pelas autoridades para conter o avanço da doença. A pandemia estava a todo vapor no país, o número de mortos estava na casa dos mil por dia, e o presidente lá, passeando sem máscara, provocando aglomerações, e participando de atos antidemocráticos.

Quão mais fácil teria sido, quantas mortes teriam sido evitadas, e quanto a economia teria sido menos atingida se ele tivesse dado apoio aos seus ministros da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e depois Nelson Teich? E também se tivesse tido a humildade de ouvir o que a OMS tinha, e tem a dizer?

Nosso governo, de forma arrojada, implementou várias medidas econômicas que evitaram o mal maior:

- Concedeu auxílio emergencial em parcelas que somam aproximadamente 1000 dólares para 65 milhões de pessoas, o maior programa de assistência aos mais pobres no Brasil e talvez um dos maiores do mundo;

- Destinou mais de 100 bilhões de dólares para ações de saúde, socorro a pequenas e microempresas, assim como compensou a perda de arrecadação dos estados e municípios.

É verdade que o governo distribuiu auxilio emergencial aos trabalhadores que ficaram sem renda, ato que até ajudou, e muito a alavancar a popularidade do presidente. Mas o presidente talvez tenha exagerado um pouco quando fala de valores gastos em tal iniciativa.

O programa de apoio à micro e pequenas empresas também existe, mas nos Estados Unidos, por exemplo, foi sete vezes maior que aqui o incentivo dado pelo governo às empresas. É verdade também que um número grupo de microempresários ainda permanece sem receber qualquer ajuda do governo.

Quanto a saúde também não é que tenha havido tanto empenho em empregar recursos públicos para deter o vírus. Por exemplo, em julho, o Ministério da Saúde dispunha de uma quantia de R$ 38,9 bilhões, mas apenas haviam saído dos cofres públicos 11, 4 bilhões. Naquele mês o país já contabilizava 55 mil mortos, e 1,2 milhões de casos notificados, mas o ministério havia gastado apenas 29% por cento da verba emergencial. O que aconteceu ali? Falta de gestão?

Ainda em relação a esse assunto, com relação aos indígenas o governo diz que: “Assistiu a mais de 200 mil famílias indígenas com produtos alimentícios e prevenção à COVID

Na verdade, o presidente é um pouco cruel para com o povo indígena. Em julho, por exemplo, ele sancionou com vetos uma lei que previa medidas de proteção ao povo indígena durante a pandemia de coronavírus. Foram barrados pelo Executivo artigos importantes para proteger qualquer pessoa durante uma pandemia, por exemplo, o acesso do povo das aldeias à agua potável, a leitos hospitalares, matériais de higiene, e respiradores. Em agosto, o Congresso derrubou os vetos do presidente.

Também em agosto, uma equipe do Médicos Sem Fronteiras queria ir fazer um trabalho em sete comunidades indígenas do Mato Grosso do Sul. O governo não autorizou a entrada dos médicos na comunidade. O objetivo dos profissionais de saúde era impedir o avanço do coronavírus entre os povos indígenas.

A Hidroxicloroquina. Essa não podia faltar nesse discurso. Um remédio, segundo a comunidade científica mundial, sem eficácia comprovada nenhuma no combate ao coronavírus. O presidente sempre atuou como garoto propaganda do medicamento. Por que tanto empenho na defesa e na propaganda do remédio? Algum objetivo há nisso tudo. O medicamento foi produzido em grandes quantidades. Alguém lucrou com isso. Não há dúvida.

Meio Ambiente. Uma pedra no sapato do governo. Todos ficaram na expectativa sobre o que diria o presidente nesse tema. E ele falou.

Somos vítimas de uma das mais brutais campanhas de desinformação sobre a Amazônia e o Pantanal.

A Amazônia brasileira é sabidamente riquíssima. Isso explica o apoio de instituições internacionais a essa campanha escorada em interesses escusos que se unem a associações brasileiras, aproveitadoras e impatrióticas, com o objetivo de prejudicar o governo e o próprio Brasil”.

A Amazônia arde em chamas. O Pantanal também. As altas temperaturas tem contribuído para isso. Porém, grande parte dos focos de incêndio dessas duas joias brasileiras são criminosos. O evento dos incêndios aqui no Brasil dependem mais da mão humana do que da ação da natureza para que ocorram.

Os dois principais órgãos do Meio Ambiente, o Ibama e o ICMBio sofrem nesse governo uma espécie de desmonte. A política governamental não é de combate aos incêndios criminosos e a quem os provoca, mas, sim àqueles que ajudam a combate-los. Essa política às avessas parece perseguir aos profissionais que estão tentando salvar a floresta. Ao invés de o governo reforçar as normas de proteção ambiental, ele as combate.

Isso parece ter ficado bem claro quando, na reunião ministerial de 22 de abril, o ministro do Meio Ambiente, Ricardo Salles, sugeriu aproveitar o momento em que todos estavam preocupados com o coronavírus para passar a boiada e mudar as regras. “Então pra isso precisa ter um esforço nosso aqui enquanto estamos nesse momento de tranquilidade no aspecto de cobertura de imprensa, porque só fala de COVID e ir passando a boiada e mudando todo o regramento e simplificando normas. De IPHAN, de ministério da Agricultura, de ministério de Meio Ambiente, de ministério disso, de ministério daquilo. Agora é hora de unir esforços pra dar de baciada a simplificação, é de regulatório que nós precisamos, em todos os aspectos”, disse ele.

Depois disso tudo dito, soa irônica a frase do presidente no discurso da ONU quando ele diz: “Somos líderes em conservação de florestas tropicais. Temos a matriz energética mais limpa e diversificada do mundo”. Na frase, o presidente apenas errou o verbo. Em vez de dizer “somos” ele deveria ter dito “fomos”.

Mas o discurso do presidente ainda pode se tornar mais chocante. Vejam só esse trecho:

Nossa floresta é úmida e não permite a propagação do fogo em seu interior. Os incêndios acontecem praticamente, nos mesmos lugares, no entorno leste da Floresta, onde o caboclo e o índio queimam seus roçados em busca de sua sobrevivência, em áreas já desmatadas”.

Ora, todos sabem que os grandes criminosos, aqueles que não querem ver sobrar pedra sobre pedra na floresta, ou melhor, árvore sobre árvore, são os fazendeiros que querem queimar a floresta para fazer dela pasto para seus rebanhos. Notem que o presidente, em nenhum trecho do discurso do discurso se refere a essa gente. A culpa então cai no colo de quem? Do índio e do caboclo.

Os focos criminosos são combatidos com rigor e determinação. Mantenho minha política de tolerância zero com o crime ambiental”.

Por parte dos ambientalistas não há essa impressão que os incêndios sejam combatidos com o devido rigor e determinação. A política de tolerância zero com o crime ambiental também parece uma falácia.

Em agosto, por exemplo, o Ibama havia preparado uma operação contra o garimpo ilegal na Terra Indígena (TI) Munduruku, na região de Jacareacanga, no Pará. Três helicópteros do órgão ambiental já estavam preparados para decolar da Base da Força Aérea Brasileira, na Serra do Cachimbo, quando foram impedidos. Às vésperas da operação, a coordenação de fiscalização do Ibama recebeu um ofício do Ministério da Defesa cancelando todas as operações na região.

Não poderia faltar ainda no discurso de Bolsonaro, uma reverência, no popular, uma puxada de saco, para aquele a quem Bolsonaro bate continência: o presidente Trump. “O Brasil saúda também o Plano de Paz e Prosperidade lançado pelo Presidente Donald Trump, com uma visão promissora para, após mais de sete décadas de esforços, retomar o caminho da tão desejada solução do conflito israelense-palestino”.

E assim, de incoerência em incoerência nos discursos presidenciais brasileiros à comunidade internacional, a gente vai pagando mico após mico. Os seguidores de Bolsonaro podem engolir tudo o que o presidente Jair Bolsonaro fala. A comunidade internacional, não. E é aí que mora o perigo.


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Conversa para boi dormir

Posted by Cottidianos on 00:23

 Quinta-feira, 17 de setembro

                                          Cerimônia de posse do ministro da Saúde, Eduardo Pazuelo

Enfim, depois de quatro meses com um ministro interino da saúde: o general Eduardo Pauzelo, agora, finalmente o Ministério da Saúde ganhou um ministro de fato e de direito: o general Eduardo Pazuelo.

Bolsonaro oficializou o ato em cerimônia realizada nesta quarta, 16. Com a oficialização do ato já são três os ministros que ocupam a pasta no governo Bolsonaro.

O general do Exército, Eduardo Pazuelo é o homem certo para ocupar o cargo de ministro da Saúde? E porque Bolsonaro o escolheu?

O general não é especialista em saúde. Mas outros ministros que ocuparam a pasta em outros governos também não eram médicos, poderia argumentar você. É verdade. Se bem que a grande maioria dos ministros que chefiaram a pasta eram formados em Medicina. À exceção de alguns poucos como Gilberto Magalhães Occhi (02/04/2018 a 02/01/2019), advogado; Ricardo José Magalhães Barros (13/05/2016 a 02/04/2018), Engenheiro Civil; Barjas Negri (21/02/02 a 31/12/02), economista, e mais alguns poucos. O próprio senador José Serra, que já concorreu à cadeira presidencial, sem sucesso, foi ministro da Saúde, mas sua formação acadêmica é Engenharia Civil.

Mas note que nenhum dos outros ministros, mesmo não tendo formação acadêmica na área da saúde, nenhum deles enfrentou uma turbulência tão grande como a pandemia do coronavírus, o vírus que sacudiu o planeta e o pegou de sobressalto.

Portanto, para esse momento, era de se esperar que qualquer governo prudente, escolhesse, em meio a essa crise, um médico para chefiar a pasta.

E aí, chegamos a segunda pergunta feita acima: Porque Bolsonaro o escolheu?

Simplesmente porque Pazuelo, é um homem da carreira militar. E os militares, como todos sabemos, são educados para cumprir ordens, sejam elas boas ou não. Ou seja, o general é o homem certo para o governo, é o homem certo para o presidente, mas não é para o país, pelos menos não no momento em que atravessamos, em que um vírus vem como um tsunami violento e mata tantas pessoas.

Apenas para refrescar a memória do leitor, da leitora que lê este artigo. Os dois ministros da saúde que ocuparam a pasta antes do atual ocupante dela, Luiz Henrique Mandetta, e Nelson Teich, porque um foi demitido, e o outro, por pura pressão, se demitiu?

Por dois motivos básicos, totalmente orientados pela ciência. Eles defendiam o isolamento social, e a não prescrição da cloroquina, remédio de eficácia não comprovada contra o coronavírus, e que se tornou alvo de ampla propaganda pelo governo. Tanto é que, um dos primeiros atos do general como interino, foi mudar o protocolo da cloroquina. Protocolo esse que ampliou o uso do medicamento por pacientes com coronavírus, mesmo contra todas a evidências de que o remédio não possui nenhuma eficácia científica comprovada para estes casos.

O site Catraca Livre, elenca seis fatos que atestam que Pazuelo não é homem certo para o cargo certo, no momento certo. Motivos esses que esse blog elenca abaixo.

1. Não é da área da saúde

Com a saída de Teich, Pazuello assumiu interinamente, Ele já era secretário-executivo da pasta desde 22 de abril, quando João Gabbardo, que somava 39 anos de trabalho na pasta, deixou o Ministério da Saúde.

Pazuello nasceu no Rio de Janeiro e é formado na Academia Militar das Agulhas Negras, mesma instituição onde Bolsonaro estudou.

No Exército, Pazuello comandou o 20° Batalhão Logístico Paraquedista e foi Diretor do Depósito Central de Munição, ambos no Rio de Janeiro. Em 2014, foi promovido a General-de-Brigada e, em 2018, a General de Divisão. Antes de ir para o Ministério da Saúde, exercia o comando da 12ª Região Militar, em Manaus.

Como Oficial General, foi coordenador logístico das tropas do Exército Brasileiro empregadas nos Jogos Olímpicos e Paralímpicos do Rio de Janeiro, em 2016. Em 2018, coordenou a Operação Acolhida, força-tarefa que atou em Roraima, recebendo imigrantes venezuelanos

Como podemos ver, nenhuma experiência na área da Saúde. A nomeação de Pazuello como ministro da Saúde é ainda mais contraditória, justamente, por acontecer durante o governo do presidente Jair Bolsonaro, que se elegeu dizendo que não tornaria os cargos públicos em moeda de troca para disputas políticas, os deixando exclusivamente para técnicos e especialistas das áreas. É, não é isso que acontece na prática. Enfim, a hipocrisia.

2. Avanço desenfreado da covid-19

No dia em que Pazuello assumiu interinamente o Brasil registrou 14.817 mortos e 218.223 casos de covid-19. Um dia antes de sua efetivação como chefe da pasta, o país atingiu a marca de 132.006 mortos e 4.345.610 casos registrados do novo coronavírus, de acordo com dados do Conselho Nacional de Secretários de Saúde (Conass).

Os números representam quase 10 vezes mais óbitos e 20 vezes mais infecções. Aceleração como essa não aconteceu em nenhum país do mundo, mostrando o quanto a administração de Pazuello foi ineficaz durante esses meses de pandemia.

3. Diminuição do orçamento

O Ministério da Saúde, já sob a gestão de Pazuello, deixou de executar boa parte dos recursos autorizados pelo Congresso Nacional para a aplicação do enfrentamento à covid-19. De R$ 38,9 bilhões, apenas R$ 11,4 bilhões saíram dos cofres federais até 25 de junho, segundo uma auditoria do Tribunal de Contas da União (TCU). Os recursos gastos representam somente 29% da verba emergencial prevista para combater o novo coronavírus.

4. Desmonte do corpo técnico do Ministério da Saúde

O Ministério da Saúde sempre teve uma estrutura formada por quadros especializados na área sanitária, pessoas com alto grau de qualificação profissional e Pazuello, assim que chegou, demitiu nove desses funcionários para nomear militares que não têm qualquer vínculo com a área da saúde, para os cargos.

Pazuello nomeou advogado de milicianos como assessor especial. Zoser Plata Bondim Hardman de Araújo, que assumiu o cargo na quarta-feira, 20, é conhecido por ter defendido milicianos cariocas e o ex-PM  Ricardo Teixeira Cru, condenado pelo assassinato da juíza Patrícia Acioli em 2011.

5. Cloroquina

Com apenas dez dias no cargo de ministro – e em caráter interino -, Eduardo Pazuello já havia mudado o protocolo do Ministério para permitir a prescrição de cloroquina até para pacientes com sintomas leves da covid-19, como queria o presidente Jair Bolsonaro, ainda que o medicamento não apresente nenhuma comprovação científica de combate à doença. Pelo contrário, há reações adversas, como problemas cardíacos.

A ausência de comprovação científica também não impediu Pazuello de fazer o Ministério da Saúde distribuir 100.500 comprimidos de cloroquina para indígenas, segundo informou o próprio ministro interino, durante uma coletiva de imprensa, no dia 24 de julho.

Além disso, sob o comando do general do Exército, o Ministério decidiu comprar, com dinheiro público, três toneladas de insumo farmacêutico para fabricação de cloroquina, mesmo com os técnicos alertando que: “Devido à atual situação, não é aconselhável trazer uma quantidade muito grande, pois, caso o protocolo venha a mudar, podemos ficar com um número em estoque parado para prestar contas”.

A essa altura, a OMS já havia anunciado que a cloroquina não tinha eficácia comprovada e podia provocar efeitos colaterais. Cientistas de várias organizações de renome também já haviam chegado à mesma conclusão. E países como França, Bélgica, Itália, Portugal e Reino Unido suspenderam, proibiram ou deixaram de recomendar o remédio.

6. Falta de outros medicamentos

Enquanto toneladas de cloroquina chegaram ao Brasil, os remédios realmente essenciais para o tratamento de pacientes com covid-19 estão em falta. Desde o fim de maio, os técnicos do Comitê de Operações de Emergência alertavam o governo sobre os baixos estoques de medicamentos, como os usados para entubar pacientes em UTI – analgésicos e sedativos. O documento registrava que: “267 insumos estavam com risco de desabastecimentos”.

Um funcionário de um hospital de campanha, no Rio de Janeiro, relatou ao Jornal Nacional, da TV Globo, em 24 de julho, que a situação não melhorou. “À medida que a médica ia pedindo os medicamentos para fazer a sedação e a curarização, não tinha. Vai ter que misturar com outros medicamentos, porque não tem. Ele simplesmente parou, na minha cara. Uma pessoa que estava conversando comigo há uns 40 minutos atrás, morreu. E isso é muito duro”, relatou o profissional que não quis se identificar.

Claro, o general Pazuelo, atua muito bem na área de logística. É tanto que, grande parte dos Secretários de Saúde, aprovam o trabalho dele. A sua atuação na logística do problema, não impediu, entretanto, que, em alguns estados brasileiros, houvesse superlotação nos hospitais provocados pela Covid-19. Muitas brasileiros perderam a vida à espera de um leito de hospital de UTI onde dispusessem de respiradores.

Falamos já bastante dessa nomeação de Pazuelo. Falemos agora da negação. Do negacionismo.

No Brasil, segundo dados das últimas vinte e quatro horas, divulgados pelo consórcio formado pelos veículos de comunicação, já são 4.421.686 casos diagnosticados de Covid-19, e 134.174 óbitos. Uma quantidade absurda de vidas perdidas pela doença. Mortes que poderiam ter sido evitadas, pelo menos grande parte delas, se o governo tivesse se dedicado com mais afinco à defesa da único remédio que pode salvar as vidas neste momento: o isolamento social, e os demais orientações relacionadas a higiene, orientadas pela OMS.

Mas o que vimos no Brasil foi a negação total da doença por parte do presidente. Negação que continua ainda. Acho que o exagerado número de mortes ainda não é suficiente para um presidente que parece ter uma única preocupação em mente: a reeleição. Todos os atos e atitudes do presidente parecem girar em torno dessa mor.

Ainda na quarta-feira, durante a cerimônia de posse de Pazuelo, o presidente disse: “Não tínhamos por que fechar as escolas, mas as medidas restritivas não estavam mais nas mãos da Presidência da República. Por decisão judicial, elas competiam exclusivamente aos governadores e prefeitos. Lamento. Somos o país com o maior número de dias em lockdown nas escolas. Isso é um absurdo”.

Absurdo, a última palavra do presidente nesse trecho do seu discurso, é, ironicamente, a que melhor traduz sua fala.

Ainda bem, que o Supremo Tribunal Federal tirou das mãos do presidente a decisão sobre a implantação das medidas restritivas, e as colocou nas mãos dos governadores e prefeitos. Não fosse isso, o morticínio provocado pelo vírus aqui no país seria ainda maior.

E ainda, Bolsonaro diz lamentar sermos o país com maior número de dias de lookdown nas escolas. Quanto a sermos o segundo país com maior número de mortes pela doença, ficando atrás apenas dos Estados Unidos, isso não parece absurdo para Jair Bolsonaro, a julgar pelo pouco caso que ele faz quando o assunto se refere aos mortos pela Covid-19.

O presidente apoia seus argumentos no fato de que, segundo ele, estudos realizados em diferentes países, revelar que a chance de pessoas com menos de 40 anos morrerem por causa da doença é quase zero. Sem citar que estudos e que pesquisas são essas. Aliás, os argumentos defendidos pelo presidente são bem caraterísticas de algo em que ele, e também os filhos, são especialistas: Espalhar fake news.  

E qual a linguagem das fake news? Ela geralmente vem envolvida em uma roupagem hipotética do tipo, tal médico disse, em algum lugar, que tal medicamento é bom para tal doença. Ou seja, as notícias falsas sempre vão carecer de objetividade. Sempre serão informações vagas e genéricas.

Ainda em seu discurso, ele, como sempre tem feito desde o início da pandemia, criticou os governadores, e também a mídia. “Eu entendo que alguns governadores foram tomados pelo pânico, proporcionado por essa mídia catastrófica que nós temos no Brasil. Não é uma crítica à imprensa, é uma constatação. Me desculpem”.

Como não poderia faltar, também houve espaço para exaltar a cloroquina. “Nós tínhamos que fazer alguma coisa sobre as mortes vitimadas pelo vírus. A primeira coisa foi a hidroxicloroquina. A decisão não foi da minha cabeça, como uma aposta de um jogador. O chanceler Ernesto Araújo conversou com diversos embaixadores”.

Ora, caros leitores e leitoras, para se obter um parecer sobre a eficácia de um remédio a quem se deveria recorrer: a médicos ou a embaixadores? No governo Bolsonaro, o certo é se recorrer a pessoas fora do círculo científico. Isso é por demais estranho, não acham?

Ou seja, as conversas do presidente são conversas para “boi dormir”, como diz um ditado popular. E o impressionante é ver como tem muito boi dormindo.


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Palavras ao vento

Posted by Cottidianos on 01:17

Terça-feira, 08 de setembro

cariocas lotam praia em feriado de 7 de setembro


Feriado de 7 de setembro.

Já se vão longe os dias, como conta a história, que D. Pedro II, à beira de riachozinho, deu o famoso grito: “Independência ou morte”! Grito esse que marcou a emancipação do Brasil em relação a coroa portuguesa.

A partir daquele 7 de setembro de 1822, o deixava de ser apenas uma colônia portuguesa e ensaiava os seus primeiros passos como nação. Certamente, seria uma grande nação se as aves de rapina não tivessem se lançado sobre suas riquezas e se apropriado delas. Ainda hoje, descaradamente, fazem isso.

Também não se pode dizer que o Brasil é uma nação pequena, insignificante. Isso não. O país tem sua importância no cenário internacional. Apesar de hoje ter um governante que ajuda a manchar a imagem da nação ao lavar às mãos às queimadas na Amazônia e em todo o território nacional. Que lava as mãos aos atos de corrupção que jurou, em campanha, combater. E que também lava as mãos para a questão do coronavírus que até agora vitimou 127.001 brasileiros.

Também vale destacar que já não somos o segundo país com maior número de casos de Covid-19. Fomos ultrapassados pela Índia. Por aqui, já são 4.147.598 casos confirmados da doença desde o início da pandemia. Enquanto lá já são 4.204.613 casos confirmados.

Por falar em 7 de setembro, o presidente Jair Bolsonaro usou os meios de comunicação para fazer um pronunciamento à nação nesta data especial para os brasileiros.

Mas a realidade retratada nos discursos de presidentes de nações, especialmente os ditadores e os que se pretendem populistas não representam de fato a realidade. Esses discursos são como camadas de aquarela jogadas em um quadro para esconder ou disfarçar a pintura original.

Por exemplo, no discurso de hoje, Bolsonaro disse reiterar o compromisso com a Constituição, com a democracia e a liberdade, e a preservação da soberania. Mas basta olhar não muito longe sobre os ombros para ver o presidente exaltando e participando de atos antidemocráticos, ameaçando as instituições, e praticando atos de governo claramente autoritários e próprios das ditaduras. Se não é o STF, o Congresso, e diversos setores da sociedade civil a pressionar, provavelmente, as coisas já tivessem tomado outro rumo.

No mesmo discurso em que defende a democracia, o presidente exalta o golpe militar de 64, golpe esse que jogou o país em uma ditadura que durou vinte e um anos. O presidente também fez parecer em seu discurso que a diversidade étnica e cultural que é a base da sociedade brasileira atual se deu de forma natural, sem conflitos. Uma visão idealizada de Brasil.

Quando na verdade, todos sabem que houve muita luta, muita sofrimento, discriminação, genocídio, na base de tudo isso. A dizimação dos costumes e dos povos indígenas são exemplos disto. Assim como o preconceito que os negros sofreram e sofrem ao cultuar seus deuses de origem africana. E também no caso da ascensão social.

O próprio governo perpetua a dizimação dos povos indígenas quando não apoia as políticas públicas a estes povos, ao contrário, praticamente, ignorando-os como brasileiros que também são.

Enquanto o presidente falava, também falaram as panelas nas janelas das residências e edifícios em vários estados brasileiros. Vozes sufocadas, que não concordam com os atos que se escondem atrás dos discursos bem floridos, tem de encontrar uma forma de fazerem ouvir, e as panelas são uma ótima forma de dizer que não se concorda com que está sendo dito. Uma panela sozinha faz apenas comida. Muitas panelas juntas, ao mesmo tempo, fazem grande barulho.

Quem também reapareceu neste 7 de setembro foi o ex-presidente Lula. Ele usou as redes sociais para apresentar uma carta aberta aos brasileiros.

São muitos os assuntos tratados por Lula na carta aberta à nação. Ele vai da Covid-19, passando pelo militarismo no governo, do financiamento do SUS à floresta amazônica, dentre outros assuntos.

Com relação ao coronavírus o ex-presidente diz o atual governo banaliza a morte e que “converteu o Coronavírus em uma arma de destruição em massa”. E assim vai. A imensa maioria das palavras de Lula no discurso são reservadas para críticas ao governo.  Em relação a eleição de Bolsonaro, Lula diz: “Como nos filmes de terror, as oligarquias brasileiras pariram um monstrengo que agora não conseguem controlar, mas que continuarão a sustentar enquanto seus interesses estiverem sendo atendidos”.

Enfim, depois de apresentar um Brasil destruído sob o governo Bolsonaro, Lula propõe a reconstrução nacional através de um pacto social.  Um contrato social que garanta a todos o direito de viver em paz e harmonia. Em que todos tenhamos as mesmas possiblidades de crescer, onde nossa economia esteja a serviço de todos e não de uma pequena minoria... O alicerce desse contrato social tem que ser o símbolo e a base do regime democrático: o voto...Através dessa reconstrução, lastreada no voto, teremos um Brasil um democrático, soberano, respeitador dos direitos humanos e das diferenças de opinião, protetor do meio ambiente e das minorias e defensor de sua própria soberania”.

Tudo muito bonito. Muito valido também. Mas Lula, tal qual Bolsonaro, parecem sofrer de um complexo de Narciso, personagem da mitologia grega que era fascinado pela própria beleza. Narciso é símbolo máximo da vaidade. No governo Bolsonaro, por exemplo, nenhuma estrela pode brilhar mais que a dele. Se brilhar, é guilhotina na certa. Que o digam o ex-ministro da Saúde, Luiz Henrique Mandetta, e o ex-ministro da Justiça e Segurança Pública, Sérgio Moro.

Lula é taxativo. Não aceita a formação de frentes democráticas que englobem vários partidos, e representantes de diversos setores da sociedade. Em junho, quando se faziam mais fortes os ataques de Bolsonaro à democracia, vários deputados propuseram a criação de uma frente ampla para defender a democracia da qual participariam pessoas de várias correntes ideológicas, de vários grupos e setores da sociedade. Enfim, uma união nacional em defesa da democracia. É esse tipo de coisa a que Lula se opõe.

O pensamento é mais ou menos o seguinte: vamos criar um novo pacto social, mas ele só poderá ser criado pelo PT, tendo como centro dos debates sua estrela máxima: Lula.

Enfim, tanto o discurso de Bolsonaro, quanto o de Lula, são discursos, cheios de palavras e sentenças fortes, mas que carecem do selo da verdade. São homens que parecem habitar em um passado remoto, distante dos tempos atuais. Suas palavras são como balões coloridos bailando ao vento que ao primeiro obstáculo explodem, e aí acaba a beleza. Apenas resta o vazio.

Além dos discursos vazios de significado, ainda veio coroar o 7 de setembro, a irracionalidade de uma população que esqueceu que vivemos uma pandemia, e correu para as praias e parques provocando chocantes e escandalosas aglomerações, fazendo com isso, que a pandemia por aqui se prolongue além do normal e que nos mantenhamos no incomodo platô ainda alto de mortes por covid-19.

Para terminar, apresento um vocábulo, cuja definição foi tirada da página do IBC (InstitutoBrasileiro de Coaching).

Resiliência.

A palavra resiliência vem do latim: Resilire, que significa “voltar atrás”. Está associada à capacidade que cada pessoa tem de lidar com seus próprios problemas, de sobreviver e superar momentos difíceis, diante de situações adversas e não ceder à pressão, independentemente da situação.

A resiliência demonstra se uma pessoa sabe ou não trabalhar bem sob pressão. É mais que educação, experiência, treinamento. O nível de resiliência de um indivíduo determina quem terá sucesso e quem se perderá pelo caminho. Quanto mais resiliente é alguém, mais forte e preparado ele estará para lidar com as adversidades da vida.

Resiliência foi o que faltou para grande parte da população brasileira que lotou praias e parques, grande parte dessas pessoas sem tomar o menores cuidados sanitários contra o vírus.


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Coronavírus: Prudência ainda é necessária

Posted by Cottidianos on 12:20

Domingo, 06 de setembro


Anchieta-Imigrantes: milhares de veículos descem à serra 
em direção ao litoral paulista

Falava-se no início da pandemia que a quarentena talvez fosse um período no qual as pessoas pudessem avaliar melhor os seus atos e atitudes, e saissem desse confinamento forçado um pouco melhores. Mas o que temos visto mundo afora, inclusive no Brasil, são casos onde alguns seres humanos parecem estar saindo desse deserto mais brutalizados, mais insensíveis.

Muitos são os casos, como por exemplo, em Ribeirão Preto, interior de São Paulo, onde uma equipe de fiscais da prefeitura estava fazendo uma fiscalização em um bar que estava desrespeitando as normas de segurança referentes à pandemia. A equipe havia recebido denúncias de que o bar estaria recebendo mais pessoas do que o recomendado pela prefeitura e pelos serviços de saúde, e com mesas na calçada, coisas proibidas pela prefeitura da cidade.

Os fiscais, que estavam ali zelando pela segurança da população em um momento delicado da saúde pública, foram xingados de vagabundos. Quando estavam de saída, alguns frequentadores do bar ainda cercaram o carro da prefeitura, e um deles ainda dá um tapa no celular de uma fiscal.

É certo que as pessoas estão cansadas de tudo nessa pandemia, inclusive do confinamento. Porém isso não é motivo para sair por aí agredindo quem quer que esteja justamente porque essa pessoa está tentando fazer com que o vírus não se espalhe ainda mais.

Por falar nisso, estamos em um fim de semana que desagua em um feriado. Fim de semana ensolarado. Cenário perfeito... Se não estivéssemos em uma pandemia, que, no Brasil, ainda está longe de acabar.

Mas basta olhar para as praias, parques, e outros locais turísticos e de lazer para ver que grande parte dos brasileiros ainda está desdenhando do coronavírus. Se no último final de semana, também de muito sol, as praias do Rio de Janeiro e de São Paulo ficaram abarrotadas de gente, imaginem nesse então que é trampolim para feriado. Quem se aventurou a descer a Serra, na noite de sexta-feira, 04, em direção as praias do litoral paulista teve que enfrentar vários quilômetros de engarrafamento na Anchieta-Imigrantes. Segundo a Polícia Rodoviária Federal, mais de 200 mil veículos desceram a Serra, até a manhã deste domingo, 6. Por aí já dá pra se ter uma ideia do tanto de gente nas praias paulistas por estes dias.

À beira das estradas e rodovias foram colocados outdoors com mensagens sobre o coronavírus. Mas será que alguém prestou atenção nelas? E se prestou, será que que lhe deu alguma importância?

Enquanto isso, o coronavírus que tem assombrado o mundo, continua seu nefasto trabalho de ceifar vidas. No Brasil, segundo dados apurados pelo consórcio formado pelos veículos de imprensa, junto as Secretarias de Saúde, já são 126.230 os mortos pelo coronavírus, e 4.121.203 os casos confirmados da doença. Uma boa notícia em meio ao caos é que a média móvel de mortes por Covid entrou em queda pela primeira vez desde o início da pandemia. Será que estamos saindo do platô da casa de 1.000 mortes em 24 horas? É o que indicam os dados, mesmo assim, a média de mortes em 24 horas ainda é alta. Por isso mesmo, ainda não é hora de achar que a pandemia acabou. Como diz um velho ditado popular: “Prudência e caldo de galinha não faz mal a ninguém”.

Nesses tempos de tempos do Covid-19, também é prudente olhar para o que acontece ao nosso redor e além, como forma de aprendizado e de prevenção. Por exemplo, a Europa voltou a registrar aumento da casos da doença. Tudo isso são sinais de alerta para nos lembrar que o inimigo ainda não foi vencido, e que todo cuidado é pouco.

Há ainda também um raio de esperança que são as vacinas que estão sendo testadas ao redor do mundo para a cura do coronavírus.

Finalmente, a vacina russa que foi recebida com desconfiança pela comunidade científica internacional recebeu seu aval esta semana ao ter um estudo sobre ela publicado na prestigiada revista científica britânica, The Lancet.

A Sputnik V, como é chamada a vacina russa, mostraram os estudos que é segura, não causa efeitos adversos importantes, é capaz de induzir resposta imune no organismo das pessoas que foram testadas. Os resultados desse estudo referem-se às fases 1 e 2 dos testes com a vacina.

E assim, de tropeços, quedas e esperanças, vamos vivendo um dia de cada vez em meio a essa pandemia com qual temos convivido desde o surgimento dela em fins de 2019 e início do ano vigente.

Além do vírus da Covid-19, ainda temos que enfrentar o vírus da desinformação. As redes sociais e a Internet são inundadas diariamente por notícias falsas, inclusive, a respeito do coronavírus. Notícias que outro fim não tem senão o de atrapalhar o trabalho sério desenvolvido por profissionais e autoridades em saúde.

É preciso estarmos muito atentos duplamente para se proteger tanto do coronavírus quanto das notícias falsas.


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