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A onda conservadora que nos ameaça levar aos mares do retrocesso
Posted by Cottidianos
on
00:06
Quinta-feira,
05 de maio
Caríssimos
e caríssimas, a correria hoje não me permitiu escrever nenhum texto de minha
autoria, mas, mesmo assim decidi compartilhar o artigo de Luiz Ruffato,colunista
do El Pais Brasil.
Não
por acaso compartilho com vocês o texto do jornalista, mas por afinidade de
pensamento. Ele fala de algo sobre o qual tenho refletido há algum tempo: O
conservadorismo de nosso Congresso.
Lembremo-nos de que em todos os momentos da história, quando o estado
se mesclou à religião, o resultado foi retrocesso. Um estado democrático de
direito, para ser realmente justo, tem de ser laico. Isso pode parecer
contraditório, mas apenas dessa forma, o estado, como um deus, consegue abrigar
a todos os seus filhos sob seu manto, e a cada um deles, atender as
necessidades que lhe são mais prementes.
E além
das mazelas que já nos rondam, ainda surge por acréscimo, o fantasma de um
conservadorismo hipócrita, praticado por políticos hipócritas, desses que
pregam uma coisa e fazem outra completamente diferente.
A
bancada do boi, bala e bíblia, prega valores tradicionais que caminha na
direção contrária a que ruma a humanidade, talvez, com isso seja mais fácil
desvia os olhos da sociedade brasileira da corrupção e praticam ilícitas e
viciosas que eles praticam no submundo da política, desvirtuando dessa forma,
os valores evangélicos aos quais tanto se agarram de do qual tanto se gabam.
Poderia
até continuar essa linha de pensamento, mas deixo que Juan Arias, vos fale.
***
A
maré conservadora
Luiz Ruffato
Fruto
do pensamento simplista e hegemônico que floresce onde mingua a educação, o
obscurantismo autoritário vai pouco a pouco alargando sua área de atuação Um
espectro ronda o Brasil – o espectro do conservadorismo. Os discursos
eufóricos, beirando à histeria, proferidos na Câmara dos Deputados favoráveis
ao impeachment da presidente Dilma Rousseff, evocavam Deus, Pátria e Família,
não por acaso lema do Integralismo, movimento que encarnava o fascismo
nacional, cujo ideário baseava-se no nazifascismo europeu. Publicado em 7 de
outubro de 1932 e destinado à Nação Brasileira, o manifesto da Frente
Integralista foi redigido pelo chefe dos "camisas verdes", Plínio
Salgado, e tinha como seguidores Dom Hélder Câmara, o jurista Miguel Reale, o
depois ministro da Justiça no governo Médici, Alfredo Buzaid, e o escritor
Adonias Filho, entre muitos outros.
Hoje,
falam em nome de Deus, Pátria e Família os evangélicos, fundamentalistas
religiosos reunidos em uma Frente Parlamentar que conta com 199 deputados e
quatro senadores, cujo principal objetivo é zelar pelos "valores
morais" da sociedade. Assim, de forma aguerrida, lutam contra o direito ao
aborto e à eutanásia; contra a união civil entre pessoas do mesmo sexo; contra
a criminalização da discriminação a homossexuais, bissexuais e transexuais e
contra a criminalização dos castigos físicos impostos pelos pais aos filhos.
Além disso, buscam aprovar um estatuto que, entre outras coisas, define família
como núcleo formado por um homem e uma mulher. Vinte e três membros desta
bancada respondem a processos no Supremo Tribunal Federal por acusações que
incluem peculato, improbidade administrativa, sonegação de impostos e formação
de quadrilha. Alguns de seus afiliados mais notórios são o presidente da
Câmara, Eduardo Cunha (PMDB-RJ), e os senadores Magno Malta (PR-ES) e Marcelo
Crivella (PRB-RJ).
Também
em nome de Deus, Pátria e Família advoga a Frente Parlamentar da Agropecuária,
a bancada ruralista que reúne 215 deputados e 22 senadores. Além de coincidir
com os evangélicos na defesa dos "valores morais" da sociedade, esses
congressistas atuam principalmente para impedir o combate efetivo ao trabalho
escravo, para minimizar os efeitos da legislação sobre o meio-ambiente e para
frear de vez a nossa já tímida reforma agrária. Sua mais recente ação pede a
Michel Temer, que em breve deverá ser alçado ilegitimamente à Presidência, o
uso do Exército na resolução de conflitos fundiários. Seus mais notórios
membros são os senadores Renan Calheiros (PMDB-AL), presidente da Casa, Ronaldo
Caiado (DEM-G0) e Jáder Barbalho (PMDB-PA).
Com
interesses comuns às frentes evangélica e ruralista, a bancada da bala
compõe-se de políticos ligados à indústria armamentista, ex-policiais e
militares, cuja líder é o "católico fervoroso", deputado Jair
Bolsonaro (PSC-RJ), pré-candidato à Presidência da República em 2018. Bolsonaro
apregoa a tortura – considerado crime contra a Humanidade pela Organização das
Nações Unidas (ONU) - como método válido para obter confissões de traficantes
de droga e sequestradores e pleiteia a pena de morte em casos de crime
premeditado. Sua plataforma inclui ainda a redução da maioridade penal, a
adoção de trabalhos forçados para presidiários e a mudança radical no Estatuto
do Desarmamento, que ampliaria a possibilidade de porte de armas pelo cidadão
comum.
Fruto
do pensamento simplista e hegemônico que floresce onde mingua a educação, o
obscurantismo autoritário vai pouco a pouco alargando sua área de atuação. Há
pouco, a Assembleia Legislativa de Alagoas – último colocado brasileiro no
ranking de Índice de Desenvolvimento Humano e em taxa de alfabetização –
aprovou uma lei que obriga os professores da rede estadual de ensino a manter
"neutralidade" de opinião em assuntos políticos, religiosos e
ideológicos, sob penas que vão até à demissão. Projeto idêntico tramita na
Assembleia Legislativa do Rio Grande do Sul, de autoria do deputado Marcel van
Hattem (DEM), que estabelece a proibição de qualquer "doutrinação política
e ideológica" por parte dos professores e propõe que a Secretaria de
Educação estabeleça um canal de comunicação "destinado ao recebimento de
reclamações relacionadas ao descumprimento da lei, assegurado o anonimato".
A
maré conservadora já alcança-nos a garganta.
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