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Troca de comando no navio Brasil
Posted by Cottidianos
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00:17
Sexta-feira,
13 de maio
“Numa folha qualquer eu desenho um navio de
partida
Com
alguns bons amigos bebendo de bem com a vida
De
uma América a outra eu consigo passar num segundo
E com
um simples compasso num círculo eu faço o mundo”
(Aquarela – Toquinho)
Sábio
é o homem, ou a mulher, que sabe compreender os sinais que a vida vai colocando
ao longo do caminho. Saber ler os sinais que a vida põe em nosso caminho, pode
nos salvar do precipício. Não sabê-los pode nos lançar no abismo. Seguindo o
mesmo raciocínio eu digo que sábio é o político que compreende os sinais e
anseios de mudança de uma sociedade, de uma nação.
Penso
que o Partido dos Trabalhadores não soube ler esses sinais e caminhou em
direção a um abismo que pode por fim ao seu egoístico projeto de poder.
Voltemos
ao passado, ainda na era Lula. O mensalão explodia com intensidade. O que foi o
mensalão? Dizendo de uma forma muito simples e elementar — e é nas coisas simples
e elementares que se encontra a essência da vida e das coisas a ela atinentes —
o mensalão era uma espécie de mercado. O PT encheu os bolsos de dinheiro, e
hoje nós sabemos claramente a origem desse dinheiro, e foi ao mercado, chamado Congresso
Nacional, e comprou parlamentares. Não sei a que preço eles se venderam, se foi
caro ou barato, mas eles se venderam ao governo. O custoso mesmo foi para os
cofres públicos. Para esses, a conta deve ter sido bem salgada.
Mas
enfim, todos os homens do presidente, digo, seus aliados, inclusive seu fiel
escudeiro, José Dirceu, estavam envolvidos no escândalo, mas,
inexplicavelmente, o presidente sempre jurou que não sabia de nada. Quando ele
afirmava isso — e isso é uma opinião absolutamente particular minha — sentia
uma expressão de sarcasmo em suas palavras e sua fisionomia. Foi ali que a
sociedade brasileira começou a se revoltar contra os políticos corruptos de
forma mais contundente. Mas, os líderes petistas, incluindo seu líder máximo, o
presidente Lula, agiam como se nada estivesse acontecendo, ao contrário, debochavam
da lei e das instituições.
Em
2007, o escândalo do mensalão ainda incendiava o país, o Brasil sediava os
jogos Pan-americanos, no Rio de Janeiro. Lula foi vaiado em todas as vezes que
compareceu ao Maracanã, ou quando seu nome foi citado durante o evento. Talvez
por isso, temendo um constrangimento, o presidente não fez o tradicional
discurso de abertura. Isso foi um primeiro sinal de que a sociedade brasileira
não tolerava o comportamento dele em relação ao que estava acontecendo no país.
Tudo
bem. Surfando na onda de prosperidade que o mundo
atravessava, a vida no Brasil foi seguindo seu rumo
e, mesmo com toda a crise, a popularidade do presidente continuava em alta. Também
pudera, em meio a todo o escândalo que envolvia seus principais assessores, ele
parecia passar incólume em meio à tempestade. O guarda-chuva dele devia ser
muito bom, pois nenhuma gota do mensalão respingava nele. Das duas uma: ou ele
era muito santo, ou extremamente ardiloso. Porém, como no mundo político não
creio que existam santos, então fico com a segunda opção.
Lula
terminou seu mandato, e elegeu sua sucessora, Dilma Rousseff, em 2011, a sua
protegida, uma mulher que nunca havia disputado uma eleição
sequer.
Corria
o mandato de Dilma quando o Brasil sediou a Copa das Confederações, em 2013.
Dilma, ao lado de Joseph Blatter, então presidente da FIFA, não conseguiu
sequer fazer o discurso de abertura, tamanha era a intensidade das vaias que
ecoavam pelo estádio. Um constrangimento nacional transmitido ao vivo para o
mundo. Era mais um sinal de que o povo queria que a presidente conduzisse o
país de modo diferente.
Ainda
durante a Copa das Confederações, fora dos estádios, por todo o país eclodiam
manifestações gigantescas. O Brasil parecia um gigante adormecido que acorda de
repente, e começa a exigir melhores horizontes. Deu certo. Naqueles dias, tramitava
no Congresso, uma proposta de emenda à Constituição que proibia que investigações
fossem feitas pelo Ministério Público. As manifestações não tinham um norte,
nem um líder. Na mesma manifestação gritava-se contra tudo: o governo, a
educação, o aumento nas tarifas de transporte público, a corrupção. O povo dava
mais um sinal de sua insatisfação, e o governo, novamente, fez pouco caso.
Em
2014, voltaram os protestos, dessa vez, contra o uso do dinheiro público em
obras da Copa do Mundo. E pelo que tem nos tem revelado a Lava Jato, o povo,
mesmo saber direito o que se passava nos bastidores, estava coberto de razão. Pois,
certamente, houve também nas obras da Copa, a relação promiscua do Estado
brasileiro com as empreiteiras, o que resultou em obras superfaturadas, mal
feitas, e mal gerenciadas. Muitas delas não ficaram prontas até hoje. Era mais
um sinal que os ventos do destino mostravam. E o governo? Alheio a tudo isso,
como sempre.
E o
barco andou. Nas eleições de 2014, Dilma foi reeleita. Mas como? Pergunta você?
E o que eu mesmo me pergunto até hoje. Entretanto, caídas as máscaras,
revelados os véus do mistério tudo ficou tão fácil de enxergar, como se
enxergam as moedas no fundo das águas cristalinas de uma cachoeira.
O
país caminhava em direção ao abismo já naquela época. Mas era inconcebível
falar a verdade. Principalmente para quem não tem esse habito. As contas
públicas já estavam muito no vermelho, mas eram maquiadas, disfarçadas em
contas saudáveis através da pedaladas fiscais nada saudáveis. Esconderam-se
dados estatísticos. Promessas foram feitas, quando se sabia que, na atual
conjuntura pela qual atravessava o país, não se podiam cumpri-las. Os petistas,
no desespero de agarrar-se a todo custo ao poder, fizeram terrorismo eleitoral,
andaram a espalhar aos quatros ventos que, se Dilma não fosse eleita, o novo
governo iria acabar com os programas sociais como o bolsa família e o bolsa
escola. E isso, foi decisivo, principalmente, nos Estados do nordeste
brasileiro.
Aliás,
foi a mesma mentira usada pelo governo para infernizar a vida de Temer durante
o processo de impeachment. Poderiam eles ter sido, pelo menos, mais criativos e
inventado outra mentira diferente, pois, com essa, nós já estávamos acostumados.
Mas
vamos em frente. O barco andou como é o destino dos barcos, senão eles
enferrujam, e Dilma assumiu a presidência em 2015. Aí já não era mais possível
esconder o rosto entre véus. Tinha-se que olhar a nação olho no olho. A realidade,
inevitavelmente, veio à tona. O governo se desdisse. Começou a tomar medidas
totalmente contrárias a que havia feito em campanha. Vieram aumentos nos preços
de gasolina, da água, da energia, inicialmente esses, depois com o agravamento
da crise econômica, outros itens acompanharam essa onda de aumentos. Aumentou o
desemprego em todo o país. E a presidente, parecia um poste. Inerte. Não tomava
as medidas necessárias para que o país retomasse o crescimento. Nem procurava
apoio e orientação entre os parlamentares. Isolou-se. Arrogante, achou que tudo
se resolveria com o tempo.
Como
pano de fundo a todo esse caótico quadro, a Operação Lava Jato, incendiava o
país, ao revelar o lado obscuro das transações torpes que se realizavam nos
bastidores da Petrobrás, revelando toda a podridão da relação das empreiteiras
com o governo, e da relação dos diretores da Petrobrás em contratos altamente
fraudulentos com essas mesmas empresas. Em resumo, a Petrobras, que deveria
navegar num mar de lucros, navegava em um mar de lama... E lama da grossa.
O país
voltou às ruas e, com mais força e indignação, gritou: “Fora Dilma! Fora Lula!
Fora PT! Fora corruptos de todos os partidos!
E aos
poucos estão caindo as máscaras e, tristemente, estamos conhecendo a natureza
de nossos políticos.
E veio
o processo de impeachment, do qual o governo por muito tempo debochou, se
achando inatingível e todo-poderoso para sofrer qualquer processo legal de
afastamento do cargo.
Nas
primeiras horas deste histórico dia 12 de maio de 2016, o Senado, pelo placar
de 55 votos a favor e 22 contra, em uma longa sessão, abriu processo de
impeachment, afastando a presidente por 180 dias. Dilma foi notificada desse
afastamento. Michel Temer foi notificado de que era o novo presidente interino
do Brasil.
Os
petistas diziam que não iria haver golpe e, realmente, não houve. As instituições
cumpriram seu papel, de modo exemplar, à exceção do circo armado por Waldir
Maranhão, às vésperas da votação no Senado, mas, enfim, como palavra e atos de
loucos e bêbados devem ser ignoradas, Renan Calheiros, sabiamente assim o fez.
Não
estou soltando rojões com o afastamento de Dilma, apesar de ser completamente a
favor do afastamento dela. Gostaria mesmo era de que o país estivesse bem, que
o barco estivesse navegando com os ventos a seu favor. Também não gostaria que estivéssemos
sendo expostos a todos esses vexames que temos presenciado nos últimos meses.
Meus
votos de que o Sr. Michel Temer tenha habilidade no comando do barco, apesar de
ter sido ele colocado inesperadamente na cabine de comando. Os nossos problemas
não acabaram, não coloquemos essa utopia na cabeça, muito pelo contrário, agora
começam os maiores desafios. Se o Sr. Michel Temer também tiver culpa no
cartório, que ele também pague pelos seus erros, afinal, a luta contra a
corrupção é apartidária.
Antes
de terminar o texto, faço um pedido a todos os brasileiros que amam este país,
e que querem vê-lo resplandecer em Ordem e Progresso: Não deixemos de lutar
contra a corrupção. O nosso Congresso está cheio de políticos corruptos, se não
podemos tirar eles de lá agora, pelo menos que não mais os coloquemos lá,
novamente, nas próximas eleições. Afinal, se queremos que o barco navegue com
segurança, devemos tirar do navio aqueles que não dominam a arte da navegação.
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