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Rock In Rio, o maior festival de música do planeta: Uma história de superação
Posted by Cottidianos
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17:38
Sábado, 21 de setembro
Imagem: http://www.viajandopelorio.com.br/blog/destaques/rock-in-rio-2013-voce-nao-vai-querer-perder/ |
A banda inglesa, Queen, toucou os acordes iniciais da bela canção Love of My Life. Um coro de 250 mil vozes começou a cantar os primeiros versos:
Love o my life, you’ve hurt me
You’ve broken my heart,
And now you leave me.
Love of my life, can’t you see?
Bring it back, bring it back,
Don’t take it away from me,
Because you don’t now
What it means to me.
A multidão presente à Cidade do Rock pegou os integrantes do Queen de surpresa. Emocionado, o vocalista Fred Mercury deixou que o mar de gente fizesse o show. O cantor apenas agitava os braços, como um maestro, e pedia para que a multidão cantasse. O vocalista entrou no terceiro verso da canção:
Love of my life don’t leave me,
You’ve stolen my love,
And now desert me,
Love of my life, can’t you see?
A partir daí, o que se viu e o que se ouviu foi o mais belo dueto jamais visto na história do rock e da música, de um modo geral. Um show memorável, escrito com tinta de ouro nas crônicas musicais. Era o oitavo dia da primeira edição do Rock In Rio, em 1985, na cidade do Rio de Janeiro. O Queen já havia se apresentado na abertura do festival também com igual sucesso.
O Rock In Rio era um sonho que se tornara realidade.
Foto divulgação |
No início dos anos 80, o Brasil vivia sob o
jugo da ditadura militar que havia começado em 1964. Era uma época de censura,
tinha-se que viver sob a mordaça do silêncio. Os Atos Institucionais eram mais
importantes que os Preceitos Constitucionais. No plano econômico a situação não
era nada fácil: os brasileiros enfrentavam dias de recessão e desemprego. Em
1984, uma multidão saiu ás ruas do país exigindo eleições diretas. O movimento
ficou conhecido com Diretas-Já. A ditadura agonizava e uma abertura democrática
se anunciava no horizonte brasileiro. Sob o comando de guerreiros como o
deputado Ulisses Guimarães, uma luta pela democracia era travada no cenário
político.
Em 1985,
durante a realização do festival, Tancredo Neves foi eleito presidente do
Brasil através de eleições indiretas.
Era o primeiro presidente civil eleito, ainda que por eleição indireta, após
vinte anos de ditadura. Os brasileiros viam em Tancredo Neves uma esperança de
liberdade. O novo presidente veio a falecer poucos meses após a eleição mas a
semente da democracia já havia sido plantada no país.
O céu sombrio que cobria o solo brasileiro no inicio daquela
década foi amenizado pelo som das bandas de rock que surgiram no período. Era
preciso fazer o povo dançar, cantar esquecer um pouco a dura realidade. Várias
bandas surgiram nesse contexto: Barão Vermelho, Titãs, Paralamas do Sucesso,
Legião Urbana, Blitz, Kid abelha, RPM, só para citar algumas.
Vivendo nesse panorama desanimador estava Roberto Medina, um
empresário sonhador. Medina andava descontente com a situação pela qual o país
atravessava. Pensava até em se mudar para o exterior, mais precisamente a terra
do Tio Sam: os Estados Unidos da América.
Conhecedora do amor que o marido nutria pelo Brasil, sua mulher, Maria
Alice, era contrária a ideia de ir morar em outro país. “Meu querido, eu te amo
e você sabe disso. Irei com você para qualquer lugar. Porém, te digo uma coisa:
se você for embora do Brasil, você vai se arrepender. Pensa bem amor, com essa
abertura democrática, talvez as coisas melhorem um pouco”, dizia ela.
Medina, pensou, pensou e resolveu ficar. Começou a surgir em sua
mente um projeto que colocasse o Brasil em evidência... Passou noites em claro
elaborando projetos. Numa dessas noites suas mãos rabiscaram um nome: Rock In
Rio. O coração de Medina se encheu de
luz, seus olhos brilharam. O empresário pensou num megaevento que colocasse o
Brasil na rota cultural dos grandes astros e estrelas da música internacional.
Algo que fosse inédito no Brasil e no mundo. O projeto que surgia naquele papel
era improvável, de uma loucura tamanha... Soava como um grande desafio. Isso o
estimulava. A ideia era tão louca que, nos dias de hoje, equivaleria a dizer
que se está vendendo ingressos para o pouso de uma nave espacial na Praia de
Copacabana. Você compraria? Naquela
época, um grande evento no Brasil era o que reunia quarenta ou cinquenta mil
pessoas no máximo. A expectativa do rock In Rio era reunir cerca de um milhão e
meio de pessoas.
Roberto Medina
Foto divulgação |
Na Artplan, agência de publicidade que comandava, seus
funcionários receberam a proposta do evento com descrédito. Foi preciso muita
conversa para convencê-los de que o projeto era viável. Vencida essa primeira
dificuldade, Medina partiu para a guerra. Viajou aos Estados Unidos para fechar
contrato com bandas internacionais. Ou pelo menos tentar fazer isso. Não viajou
sozinho, levou consigo dois amigos: o produtor Luiz Oscar Niemyer e o
empresário Oscar Orestein.
O trio passou cerca de dois meses em solo americano sem conseguir
nenhum contrato. Ninguém acreditava que houvesse público para um evento de tal
grandiosidade num país que atravessava séria crise financeira. A ideia de
desistir bateu mais uma vez na sua porta.
Os anjos sempre estiveram do lado do empresário. Primeiro foi sua
mulher, Maria Alice, que o convenceu a ficar quando ele já arrumava as malas
para se mudar para terras americanas. Em seguida, foram três jovens que Medina
encontrou, por caso, na rua. Naquele dia, estava indo ao escritório para
desistir de uma vez dessa ideia de Rock In Rio. Os rapazes o reconheceram e
logo lhe saudaram de forma animada. Sabiam que ele estava organizando o
festival e já faziam planos para que quando ele acontecesse. Elogiaram sua
coragem de realizar tal empreendimento quando todos os fatores pareciam
conspirar contra. Os jovens foram embora e Medina, ao chegar ao escritório,
jogou no lixo a ideia de desistir do sonho.
Nos Estados Unidos também havia de aparecer um anjo. E ele
apareceu na figura de Lee Solters, empresário de Frank Sinatra. Medina e sua equipe criaram coragem e foram
falar com ele. Falou do projeto, das dificuldades que estavam encontrando e até
da vontade de desistir.
_ O que fazemos nós? Perguntou o empresário brasileiro.
_ Não façam coisa alguma. Só peço a vocês que organizem um
coquetel para cerca de cinquenta pessoas e podem deixar o resto comigo.
O trio brasileiro que esperava que fossem aparecer uns dois ou
três jornalistas, teve uma grande surpresa. Nesse concorrido coquetel estavam
presentes os jornalistas mais influentes dos Estados Unidos. Roberto Medina
falou do Rock In Rio, do sucesso que prometia ser o evento e contou detalhes do
projeto a eles. A partir daí, os ventos começaram a soprara a favor. Muitos contratos
começaram a ser fechados. No dia 11 de janeiro de 2005 o sonho de Roberto
Medina definitivamente tornou-se realidade.
À uma hora da tarde os portões da Cidade do Rock foram abertos e uma
multidão ávida por rock-in-roll invadiu o espaço esperando pelos shows que
aconteceriam logo mais. Grandes astros da música internacional desfilaram pelo
palco. Várias bandas de rock nacional ganharam visibilidade e consolidaram suas
carreiras a partir daquele festival.
Vinte
e cinco anos mais tarde, mais precisamente em janeiro de 2010, assim Roberto
Medina recordava o início do festival, em entrevista ao G1, portal de notícias
da Globo: “Foi
uma maluquice. Não existia nada parecido, nem aqui nem lá fora, que pudesse
servir de referência para o que gostaria de fazer. Foi pura intuição. Claro que
não planejei nada sozinho. Tive uma equipe de outros malucos que me
acompanharam. E, no momento em que topamos o desafio, fui aprendendo. Foram
oito meses de trabalho lidando com dificuldades. Era uma época de transição
entre o governo militar e a democracia, um momento em que a juventude queria ir
para rua. Eu, como empresário de comunicação, achava que seria bom tentar
ajudar nesse sentido, mostrar a cara do Brasil. O festival nasceu a partir
disso”.
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