0
Fala, Marcelo Odebrecth... Senão você pode virar bode
Posted by Cottidianos
on
23:25
Sábado,
27 de fevereiro
Marcos Valério |
Bode
expiatório?! De onde nos vem essa expressão? Errou se você pensou nela como
algo relacionado ao mundo rural. Nada disso. Essa expressão deriva da tradição bíblica.
Segundo o Livro do Levitico, havia um dia chamado de Dia da Expiação e, nele,
os hebreus organizavam uma série de rituais, que tinham o objetivo de purificar
a nação. Em um desses rituais, os hebreus escolhiam dois bodes. Através de
sorteio, um deles era escolhido para ser sacrificado junto com um touro, e o
sangue era espalhado pelas paredes do templo.
O outro
bode era transformado em bode expiatório. Ritualisticamente, um sacerdote
levava às mãos a cabeça do bode inocente, e, nesse momento, era atribuída a ele
a função de carregar os pecados do povo hebreu. Após esse ritual, o bode era
levado ao deserto e lá era deixado e, junto com o bode, ficavam também ficavam
por lá os males e a influência dos demônios.
Por
que falo da origem da expressão “bode expiatório”? Porque, em nosso país, o que
mais tem aparecido é essa espécie de animal. Claro, o bode dos hebreus era
inocente. Já nos daqui... Ah, caros leitores, nesses a inocência passa bem
longe, mesmo assim, eles não deixam de cumprir a função de bodes expiatórios.
Por
exemplo, nos últimos anos, têm sido notórios graves escândalos de corrupção. Os
verdadeiros responsáveis, os que realmente arquitetam os diabólicos planos bem
elaborados de sangria dos cofres públicos nem aparecem na lista de culpados. Mas
em lugar deles, é preciso que alguém pague, que sirva de exemplo, que o digam
Marco Valério e Hamon Hollerbach, aos quais foram aplicadas as mais altas penas
no escândalo do mensalão. Os dois cumprem pena em Minas Gerais. Ao primeiro foi
imposta uma pena de prisão de 23 anos, 8 meses e 20 dias, o segundo recebeu uma
pena de 27 anos, 4 meses e 20 dias. Como se Marcos Valério e Hamom tivessem
poder de agir sem interferência dos políticos.
Com
a Operação Lava Jato, pode ser que surja que mais bodes expiatórios que sejam
levados para o deserto, e para lá levem com ele o segredo do que realmente
acontece no submundo do crime.
Essa
semana, a polícia realizou mais uma operação da Lava Jato. E quando se fala em
nova fase da Lava Jato, pode se esperar que há grandes novidades. Nesta, a 23a
, a PF prendeu o publicitário João Santana e a esposa dele, Monica
Santana. No momento do decreto da prisão, os dois estavam na República
Dominicana onde comandavam a campanha publicitária para a reeleição do atual
presidente do país, Danilo Moura. No Brasil, João Santana havia atuado na
campanha da reeleição do presidente Lula, e nas campanhas presidenciais de
Dilma Rousseff.
Um
dia após ser notificado da ordem de prisão, o casal desembarcou no Aeroporto de
Cumbica, em São Paulo, onde foram presos pela PF. Pela atitude dos dois, eles
nem pareciam que estavam indo para a prisão, mas sim para algum monastério onde
experimentariam um estado de nirvana. Sorriram ao ser presos. Sorriram quando
chegavam ao Instituto Médico Legal (IML), onde fariam os rotineiros exames de
corpo de delito. Aquele riso me pareceu um misto de deboche, cinismo, e
psicopatia. Como pode alguém ser preso e ainda sair desfilando com o sorriso da
Mona Lisa?
Os
investigadores suspeitam que João Santana tenha sido pago por seu trabalho
publicitário na campanha do ex-presidente Lula e da atual presidente, Dilma,
com dinheiro oriundo de propina na Petrobrás. Ainda segundo os investigadores,
os dois teriam recebido, em conta secreta na Suíça, R$ 7,5 milhões, entre os
anos de 2012 e 2014, da empreiteira Odebrecht, e do engenheiro Zwi Skornicki,
apontado pela PF como operador do esquema na Petrobrás.
A
linha de defesa do casal segue na linha “dos males o menor”, ou seja, admitir
que mantenha contas secretas no exterior, mas que o dinheiro não provém de
propinas no esquema da Petrobrás. O casal sustenta a tese de que o dinheiro depositado
nessas contas é oriundo de campanhas feitas no exterior. Ao se defender, o
casal acabou acusando a Odebrecht, pois deixa a entender que a empresa realiza
falcatruas não apenas em eleições no Brasil, mas também em outros países. Marcelo
Odebrecht, ex-presidente da empreiteira, é réu da Operação Lava Jato, e está
preso em Curitiba, desde junho de 2015
O
bom da Operação Lava Jato, é que quanto mais se lava, mais sujeira se descobre.
Outro lado positivo dessa operação, brava e brilhantemente conduzida pelo juiz
Sérgio Moro, é que ela sinaliza de algo no Brasil, aos poucos está começando a
mudar. E faço votos de que ainda venha a mudar muita coisa.
Abaixo,
compartilho artigo do jornalista Reinaldo Azevedo, publicado na Folha de São
Paulo, publicado nesta sexta (26), na Folha.
***
Marcelo Odebrcht |
Fala,
Marcelo Odebrecht!
Reinaldo
Azevedo
A
racionalidade aponta que Marcelo Odebrecht chegou a uma encruzilhada: ou vai
ser o anti-herói por excelência dessa quadra infeliz da história brasileira,
arcando com o peso de muitos anos de cadeia e condenando a verdade à poeira do
tempo, ou contribui para elucidar os fatos. Farei agora uma aparente digressão
para chegar à essência da coisa.
Há
eventos que, na sua singularidade até besta, indicam uma mudança de estágio.
Algo aconteceu nas consciências com a prisão do marqueteiro João Santana e de
sua mulher, Mônica Moura. E com poder para incendiar de novo as ruas. O decoro,
meus caros, é sempre uma necessidade. O que a cultura nos dá de mais importante
é um senso de adequação, mesmo nos piores momentos, nos mais constrangedores.
Nunca
se viram no Brasil presos como João e Mônica. Ele surgiu com o rosto plácido,
sorridente, como se estivesse no nirvana. Ela, mascando um chiclete
contidamente furioso, exibia um queixo desafiador. Nem um nem outro buscaram ao
menos fingir a compunção dos culpados quando flagrados ou dos inocentes quando
injustiçados.
O
pesar, quando não se é um psicopata, não distingue culpa de inocência. Mesmo os
faltosos não escapam da vergonha se expostos. Coloque-se no lugar de um preso,
leitor. Não deve ser fácil ter de lidar com a censura, a decepção e a tristeza
daquelas pessoas que compõem a sua grei sentimental e que legitimam o mundo que
o cerca. Quando se trata de um inocente, então, aí a coisa pode ser ainda pior.
Junta-se à dor a revolta contra a injustiça.
A
tristeza passou longe de João e Mônica! Viu-se apenas um riso sardônico.
Não
estou aqui a exigir a humilhação pública deste ou daquele. Abomino esse tipo de
espetáculo. Também não quero transformar expressões faciais em prova de culpa.
Mas uma coisa é certa: marido e mulher são especialistas em cuidar da imagem
das pessoas. Suas empresas se orgulham de eleger postes. Eles conhecem o peso
dos símbolos. Mas, tudo indica, não conseguiram esconder uma natureza.
Trata-se,
infiro, de um tipo psíquico, incapaz de sentir vergonha ou culpa. Se inexiste
essa dupla para conter os apetites, então tudo é permitido.
Volto
a Marcelo. Em seu depoimento, Mônica afirmou ter recebido, pelo caixa dois, US$
3 milhões da Odebrecht e US$ 4,5 milhões do lobista Zwi Skornicki. O primeiro
montante seria pagamento por campanhas eleitorais em Angola, Panamá e
Venezuela; o segundo estaria relacionado apenas à jornada angolana.
Venham
cá: se empreiteira e marqueteiros têm esse comportamento em outros países, por
que não o adotariam por aqui mesmo? Para preservar o PT, a si mesma e ao
marido, Mônica torna ainda mais gravosa a situação da Odebrecht, que, então,
segundo o seu testemunho, burla regras em eleições mundo afora.
Desde
a primeira hora, recomendo que empreiteiros, Marcelo Odebrecht em particular,
se lembrem do publicitário Marcos Valério e da banqueira Kátia Rabelo, que
pegaram as duas maiores penas do mensalão. Os criminosos da política já estão
flanando por aí, alguns a delinquir de novo, mas os dois mofam na cadeia. Até
parece que poderiam ter feito o mensalão sem o concurso dos políticos.
Marcelo
terá de decidir se vai ser o cordeiro que expia os pecados do PT e de todos os
empreiteiros, os seus próprios também, ou se explicita a natureza do jogo que
Mônica, tudo indica, tentou esconder.
Fala,
Marcelo Odebrecht! Não há como o Brasil não melhorar.
Postar um comentário