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A pesada cruz do preconceito
Posted by Cottidianos
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00:19
Terça-feira,
17 de maio
“Strani amori che vanno e vengono
Estranhos amores
que vão e vêm
Nei
pensieri che lì nascondono
Nos pensamentos
se escondem
Storie
vere che ci appartengono
Histórias verdadeiras
que nos pertencem
Ma
si lasciano come noi
Mas se perdem
como nós
Strani
amori fragili
Amores
estranhos, frágeis
Prigionieri
liberi
Prisioneiros
livres
Strani
amori mettono nei guai
Amores estranhos
que nos colocam em problemas
Ma,
in realtà, siamo noi”
Mas, na
realidade, somos nós
(Strani Amore – Renato Russo)
Células
tronco. Clonagem. Tecnologia digital. Viagens espaciais. Robótica. Internet. Smartphones.
Esses
vocábulos tem feito parte da vida do homem moderno, de uma forma a qual nunca
se viu antes. Também pudera, vivemos em outro mundo, se comparados à gerações
nem tão distantes assim.
A
tecnologia tem, cada vez mais, derrubado as fronteiras entre as nações. O que
antigamente se levava meses para ser conhecido, hoje pode levar menos de um
segundo. A ciência, apesar de ainda não ter encontrado a cura para doenças que afligem
a humanidade há milênios, certamente, trouxe, pelo menos, alento, e um pouco
mais de vida para muitos de seus portadores. Os telefones inteligentes
revolucionaram o modo das pessoas se comunicarem, a ponto de eles não mais viverem
sem tais dispositivos. O mundo da robótica tem dado saltos impressionantes, e
não é de admirar se, algum dia desses, você entrar em alguma repartição e for
atendido por um robô.
Mas
os véus do mistério... Ah, esses não. O homem ainda não os domina, e talvez por
isso retroceda em suas ações e pensamentos, e faça coro aos que viveram na
Idade Média, por exemplo. Dentre esses véus, há dois que remetem diretamente ao
nó da vida. Você sabe quais são esses dois nós dos mistérios da humanidade que
o homem não desata nunca, pelo menos não até agora?
Um
deles é a morte. Quanto à vida, tudo bem, essa o homem pode até ganhar nota 10.
Sabe de cor e salteado os processos que levam a formação física de um ser
humano. Já em relação ao seu oposto, a morte, ou o que acontece após ela... Ah,
em relação a isso o homem é lançado no mar da dúvida. Os relatos dos médiuns, e
de pessoas que tiveram uma experiência de quase morte, apenas deixam os
curiosos ainda mais confusos. Nessa matéria, a humanidade ainda é uma criança
nos bancos escolares, que mal sabe pegar no lápis. Mas um dia aprenderá a
escrever, certamente. Mas por enquanto, só tira 0 na prova da vida eterna.
Outro
dos mistérios, que apesar de toda a tecnologia e ciência que tem a mão, o homem
ainda não domina é a questão sexual. Céus quantos tabus ainda existem a
respeito desse assunto! Você pode ate dizer “ah, mas não é bem assim”. Porém,
quantas pessoas você conhecem que falam da questão sexual abertamente? Muito poucas,
ou quase nenhuma. E quando se comenta sobre o assunto, se comenta com reservas.
Abordo
esse assunto sobre o preconceito, pois neste dia 17 de maio, o mundo celebra o
Dia Internacional de Combate à Homofobia. Várias ações são desenvolvidas para
discutir a causa em todo o globo. E porque a data é celebrada neste dia? Pois
foi apenas em 17 de maio de 1990, que a Organização Mundial da Saúde (OMS),
retirou a homossexualidade da Classificação Internacional de Doenças (CID). Vejam
só, mesmo no mundo da tecnologia e da ciência, há bem pouco tempo atrás, 26
anos, não é tanto tempo assim em se tratando de período de tempo da humanidade,
é que se chegou a conclusão de que o amor entre duas pessoas do mesmo sexo não
era doença.
A ciência
contribuiu bastante para o forte preconceito que ainda hoje existe contra os
homossexuais em todos os países do mundo, pois suas teorias absurdas consideravam
a homossexualidade como um desvio de comportamento, uma doença mental, tendo os
gays que se submeter a tratamentos estapafúrdios. Esses tratamentos incluíam castração,
hipnose, choques elétricos e lobotomia a fim de que ficassem curados.
Com
a decisão da OMS de retirar da homossexualidade o rótulo de doença, abolindo, inclusive,
o uso do sufixo “ismo”, que, na área da saúde, remete a uma condição patológica,
o rótulo de vício, tara, desvio de comportamento, ou doença mental passou a ser
usado pela categoria dos ignorantes e incapazes de compreender a diversidade e
de aceitar a tolerância.
Mesmo
assim, a apesar de todo o avanço da sociedade, os gays ainda são obrigados a
carregar a pesada cruz do preconceito. Vez em quando, a mídia noticia casos de
violência contra homossexuais, apenas pelo fato de eles serem homossexuais. Diante
de tantas atitudes homofóbicas, penso que também deveria haver um tratamento
para os ignorantes e que não aceitam a diversidade, acho que a ciência deveria
pensar nisso. Homofobia, isso sim, é doença.
Quando
digo que alguns homens insistem em voltar a tempos passados, isso aconteceu, de
fato, aqui no Brasil. Em 2013, o então líder da bancada evangélica na Câmara, deputado
João Campos, do PSDB, do Estado de Goiás, apresentou um projeto chamado, Cura
Gay, que, se aprovado teria feito a sociedade brasileira retroceder à retirada,
pela OMS, da homossexualidade do Código Internacional de Doenças. Na época, o
então presidente da Comissão de Direitos Humanos da Câmara dos Deputados,
deputado Marco Feliciano, fez campanha a favor do projeto de lei que,
felizmente, devido à pressão da sociedade, foi arquivado.
Desde
1830, a legislação brasileira deixou de considerar a homossexualidade como um
crime. Porém, em países fundamentalista a vida não é tão fácil para os gays. Por
exemplo, em países como Afeganistão, Mauritânia, Arábia Saudita, Nigéria,
Somália, Emirados Árabes, Iêmen e Irã, o relacionamento entre dois homens do
mesmo sexo é punido com pena de morte. Em outros países, as penas podem ser de
prisão, prisão perpetua, trabalhos forçados, deportação.
Ou
seja, ainda muito que se lutar para que o respeito ao diferente venha a ter um
amplo espaço no mundo dito civilizado. O problema é que os homens condenam o
diferente apenas por que é diferente, mas a verdade é que ninguém entende por
que um homem sente atração por outro homem, nem a causa de uma mulher sentir
atração por outra mulher. Teorias e mais teorias são elaboradas, debatidas,
discutidas, mas sempre se fica na base da hipóteses e nunca dos fatos em si.
Uns
defendem que homossexualidade tem origens genéticas, outros defendem que isso é
fruto do ambiente em que o ser humano vive, ou foi educado. Mas a verdade, é
que nem mesmo os gays sabem por que são gays. Enquanto isso, os gays, homens e
mulheres, vão carregando às costas, vida afora, a pesada cruz do preconceito,
vivendo sua dura caminhada ao Calvário, sendo humilhados, açoitados, maltratados,
e assassinados por uma sociedade que não sabe o que faz, nem porque o faz.
Pai,
perdoa-lhes.
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