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República Federativa da Corrupção
Posted by Cottidianos
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23:38
Quarta-feira,
30 de março
“Meu partido
É
um coração partido
E
as ilusões estão todas perdidas
Os
meus sonhos foram todos vendidos
Tão
barato que eu nem acredito”
(Ideologia
– Cazuza)
?????????????????
Cheio
de pontos de interrogação em relação à situação política e econômica de nosso
país, é assim que me sinto, então resolvi expressar isso linguagem simbólica, através
dos pontos de interrogação que abrem esse texto.
Profundamente
mergulhado em uma crise política sem precedentes, com um processo de
impeachment em andamento, um governo sitiado, e políticos que esperam por uma
fatia do poder como os abutres esperam por um bocado de carne, tudo me parece a
mim, entre nevoas.
Não
gostaria de ser pessimista, e isso na verdade, isso nem é pessimismo, mas uma
observação concreta da realidade, mas as perspectivas de futuro em nosso país
são um tanto quanto sombrias.
Esta
semana, o PMBD decidiu, finalmente, pular do barco do governo, e isso joga o
impeachment de Dilma em um cenário ainda mais provável, pois outros partidos da
base aliada podem seguir o mesmo exemplo e, com isso, lá se vão os apoios que a
presidente poderia ter a fim de evitar o pior. Aliás, conquistar apoios e
aliados foi o que Dilma nunca soube fazer, faltou-lhe este dom.
Entretanto,
na política, tal qual na natureza, colhe-se o que se planta. E Dilma colhe o
que plantou. Uma sucessão de erros marcou o seu primeiro e segundo mandato. O
último deles, que o mesmo efeito que um tiro no próprio pé, foi a tentativa de
colocar Lula como uma espécie de seu primeiro-ministro na Casa Civil. Fosse o
objetivo apenas as manobras políticas que, Lula, com certeza, saberia muito bem
conduzir, não haveria problema algum, ou seja, poderia até haver problemas, mas
estaria tudo dentro da mais perfeita legalidade. A questão é que, como ficou
evidente, nas gravações telefônicas sigilosas, cuja divulgação foi autorizada
pelo juiz Sérgio Moro, o objetivo não tinha nada de nobre, muito pelo
contrario, a grande jogada era colocar Lula no ministério, dá-lhe foro
privilegiado, e escondê-lo da justiça. Com isso, o ex-presidente, que era para
ser solução, tornou-se para o governo, um grande problema.
Agora,
as sessões que tratam do processo de impeachment na Câmara caminham a passos
largos, e afunila-se o prazo para que a presidente apresente sua defesa.
O
governo usa a estratégia de alardear para o Brasil e para o mundo, que está
sendo vítima de um golpe. Tudo conversa fiada. Na verdade, o processo de
impeachment está dentro da legalidade, é garantido pela nossa Carta Maior. Mas
um processo de impeachment mesmo dentro da legalidade, e atingindo sua
finalidade que é o impedimento da presidente, não nos garante um futuro governo
legítimo. Não do modo como os nossos quadros políticos estão corrompidos pelo
vírus da corrupção.
República
da Corrupção. É triste, mas é isso no qual se tornou o país. É estranho que dos
65 deputados que analisarão o processo de impeachment, 40 deles, enfrentem
acusações de envolvimento em corrupção. É estranho que o processo de
impeachment seja conduzido por um presidente da Câmara cínico, corrupto, e
debochador das instituições, e do povo brasileiro. É estranho que, se a decisão
sobre o impedimento de Dilma for para o Senado, lá também o presidente do
Senado, e alguns senadores estejam também envolvidos em corrupção. É estranho
que o PMDB esteja tão envolvido nos escândalos de desvios de dinheiro da
Petrobrás quanto o PT. Idem para os partidos de oposição. Acho tudo muito
estranho e surreal, penso que em países ditos de primeiro mundo isso seria
inimaginável. Sinal de que ainda temos uma longa caminhada para receber esse
nobre título de país de primeiro mundo.
Apenas
sei que apenas um milagre salvará Dilma do impeachment. Também sei que apenas
um milagre fará que com que o próximo a ocupar a cadeira presidencial do nosso
país seja um político honesto.
Também
sei que a saída de Dilma, não resolvera os nossos problemas, mas, pelo menos,
terá mostrado à classe política que não aceitamos mais governos ilegítimos,
governos que não nos representem.
Basta
dar uma olhada para as casas legislativas de todo o país, tanto em nível
estadual, quanto municipal, para ver que por lá também pipocam casos de
irregularidades, também por lá impera soberana a corrupção. É isso que nos
incomoda, a nós brasileiros, tanto essa onda de criminalidade política, quanto
a impunidade de que gozam esses políticos bandidos, que se escondem debaixo do
manto da lei, não para defendê-la, mas para manchá-la. Precisamos ir às ruas,
não apenas para derrubar o governo Dilma, juntamente com todos os atores vilões
que o compõem, mas para lavar o nosso país de toda essa onda de descaso para
com a população e para com a coisa pública. Com ou sem impeachment, precisamos
continuar lutando para que o nosso país deixe de ser uma REPÚBLICA FEDERATIVA
DA CORRUPÇÃO e, passe a ostentar o belo e forte nome oficial que lhe é de direito,
qual seja, REPÚBLICA FEDERATIVA DO BRASIL.
Abaixo,
compartilho matéria do jornalista Luiz Rufato, publicada no site do jornal ElPaís Brasil, no dia 23 de março.
***
O
legado da nossa miséria
A
decisão final do Congresso sobre o impeachment, seja qual for ela, embora
revestida de legalidade, carecerá de legitimidade
LUIZ
RUFFATO
Em
2009, ancorado em excelentes indicadores econômicos que lhe davam uma altíssima
taxa de popularidade (72%), o então presidente Luiz Inácio Lula da Silva
resolveu impor o nome da ministra da Casa Civil, Dilma Rousseff, como candidata
do PT à sua sucessão. Dilma, que embora tivesse um histórico de militância na
esquerda nunca havia concorrido a um cargo eletivo, obteve 56% dos votos
válidos, tornando-se a primeira mulher a alcançar o cargo máximo do Poder
Executivo brasileiro. Com uma taxa de desemprego estável e a inflação sob
controle, mas desgastada por denúncias de corrupção contra membros de seu
partido, ela reelegeu-se em 2014 com uma margem apertada, 51% dos votos
válidos.
A
ampliação do cerco a importantes membros do PT pelas investigações da Operação
Lava-Jato e o acelerado colapso da economia resultaram no aprofundamento da
crise institucional e no consequente abandono de Dilma por seus aliados – e até
mesmo pelos caciques de seu partido. Envolvido em denúncias de corrupção, Lula
tenta agora reaproximar-se da presidente, oferecendo-se como uma espécie de
primeiro-ministro em um regime presidencialista. Na prática, ele aposta que com
seu inegável carisma conseguirá recuperar as rédeas da governabilidade,
retomando o crescimento econômico e cacifando-se para as eleições de 2018. Ao
mesmo tempo, sela o suicídio político de sua antiga pupila.
Neutralizada
no comando do governo, Dilma enfrenta ainda um estranho processo de
impeachment. Há investigações em curso, mas nenhuma acusação formal contra ela.
As alegações que justificam os pedidos de seu afastamento da Presidência da
República são difusas e obedecem muito mais a uma lógica de vingança que de
justiça. Pressionados pelas ruas – 68% apoiam a saída de Dilma, segundo
pesquisa Datafolha –, a maior parte dos parlamentares vai deliberar baseado em
obscuros interesses particulares.
A
comissão especial da Câmara dos Deputados que determinará a instalação ou não
do processo de impeachment tem 65 membros – 40 deles receberam dinheiro de
empresas investigadas pela Operação Lava-Jato para financiar suas campanhas e
10 são réus em processo no Supremo Tribunal Federal (entre eles, Paulo Maluf,
que tem seu nome na lista de procurados pela Interpol). Caso aprovado, o
processo será discutido no plenário da Casa, que tem como presidente Eduardo
Cunha, também réu em processo no STF e alvo de pedido de cassação de seu
mandato no Conselho de Ética. A Câmara totaliza 53 réus em processos na Suprema
Corte, além de outros 148 deputados que respondem a acusações criminais, entre
eles os presidentes do Solidariedade, Paulo Pereira da Silva (o Paulinho da
Força); do PR, Alfredo Nascimento; do PTB, Cristiane Brasil; e do PCdoB,
Luciana Santos.
Se
aprovado na Câmara por maioria absoluta – 257 votos favoráveis – o processo
sobe para o Senado, que, por maioria simples – metade mais um dos 81 membros –
decidirá se referenda ou não a instauração do processo de impeachment contra a
presidente Dilma. Quatro senadores são réus em processo no STF e outros 31
respondem a inquérito ou ação penal, entre eles o presidente da Casa, Renan
Calheiros, os presidentes do DEM, José Agripino Maia, e do PP, Ciro Nogueira, e
o ex-presidente Fernando Collor. A decisão final do Congresso, seja qual for,
embora revestida de legalidade, carecerá de legitimidade.
Na
hipótese de afastamento definitivo de Dilma Rousseff, assumiria o vice, Michel
Temer, que vem sistematicamente trabalhando nas sombras pela saída da
presidente, seja promovendo o afastamento do PMDB do governo, seja articulando
uma aliança com o PSDB. Assim, Temer, que também preside o PMDB, o partido que
durante a curta história da democracia vem se especializando em criar
dificuldades para vender facilidades, ocuparia um cargo para o qual não obteve
um único voto e que por mérito próprio nunca alcançaria. Pesquisa Datafolha
mostra que só 16% dos entrevistados acreditam que, caso assuma o governo, o
desempenho de Temer seria bom ou ótimo.
Hoje,
o principal interlocutor de Temer é o PSDB, partido presidido pelo senador
Aécio Neves, candidato derrotado em 2014, e também envolvido em denúncias de
corrupção na Operação Lava-Jato. Os tucanos, por meio de suas lideranças, o
ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, o governador de São Paulo, Geraldo
Alckmin, e o próprio Aécio Neves, vêm demonstrando enorme regozijo com a
possibilidade de assumir indiretamente um mandato que perderam na disputa
direta de votos. De novo, uma situação que não será desprovida de legalidade,
mas que com certeza carecerá de legitimidade.
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