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Será Dilma o bode da vez? Devemos mandá-la para o deserto?
Posted by Cottidianos
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00:43
Quinta-feira,
03 de março
A
correria dos últimos três dias tem roubado muito da energia de minha máquina
(corpo), de sobra que não tenho encontrado posto de gasolina (momento de
descanso) para abastecê-la, de modo que passei por aqui, mesmo com pouca
gasolina, para compartilhar com vocês um artigo do jornalista Juan Arias,
publicado no site do jornal El País Brasil.
Quando
começávamos a sonhar com um futuro melhor, com um Brasil melhor, alguém veio e
puxou nosso tapete. Mergulhados nas mais
diversas crises: econômica, política de saúde, de ética, de educação, e sabe se
mais lá qual, procuramos um bode expiatório. Como a presidente Dilma é a bola
da vez, e a bomba que, diga-se de passagem já estava acesa, estourou na mão
dela, será ela o bode expiatório ideal? A saída dela resolveria todos os nossos
problemas?
Sou
a favor da saída da presidente. Mas quem ocuparia o lugar dela? É bom nos
lembrarmos de que cena do impeachment de um presidente corrupto não é nova em
nosso velho cenário político. E eu pergunto a vocês: Isso resolveu alguma
coisa? —Muito pelo contrário, o “caçador de marajás” corrupto foi reconduzido
ao cenário político. — É tudo tão novo e ao mesmo tempo tão velho. De lá para
cá, casos de corrupção continuaram acontecendo aos montes, recursos públicos
continuaram sendo saqueados, conchavos e acordos políticos espúrios continuaram
sendo feitos.
Que
os corruptos desocupem o governo, concordo plenamente. Que, à exemplo dos
hebreus, mandemos um bode para o deserto levando com ele todo mal, concordo
plenamente. Mas temos que ter mente que, enquanto acharmos normal a cultura da
corrupção que se arraigou como raiz de baobá sob nosso solo,
enquanto acharmos normal a cultura do jeitinho brasileiro de levar vantagem em
tudo, enquanto o nosso povo se contentar em receber esmolas de políticos que
lhes dão a menor parte, enquanto ficam com a parte mais gorda da refeição... Aí
meus amigos, podemos mandar quantos bodes quisermos para o deserto que a
situação permanecerá a mesma.
Ufa,
para quem está com pouca gasolina, até que falei demais.
Deixo
vocês com o texto de Juan Aria.
***
Será
Dilma o bode expiatório da crise brasileira?
Quem
frustrou os velhos sonhos do país, que acreditava ter alcançado o futuro e
ainda se vê preso num presente cada vez mais incerto?
Os
analistas políticos concordam cada vez mais sobre a necessidade da sociedade
brasileira de resolver a crise através de uma catarse coletiva, que implicaria,
segundo a psicologia e a antropologia, a escolha de um bode expiatório no qual
descarregar todas as frustrações. Seria a presidenta Dilma Rousseff a possível
escolhida? Ou seria o ex-presidente Lula, para citar as duas personalidades
mais emblemáticas da política brasileira?
“Se
há uma palavra que o Brasil necessita é catarse”, escreveu Juan Onís neste
jornal. Uma catarse capaz de expulsar seu mal-estar social e aliviar as tensões
do grupo.
Analistas
políticos afirmam que a crescente irritação produzida pelo aumento dos casos de
corrupção que salpicam as mais altas esferas da política, do Governo e do
empresariado poderia gerar a necessidade de recorrer a um bode expiatório com
seu mecanismo de “culpa deslocada”, transferida por meio de um rito de
expiação.
O
mecanismo de transferência de tensões e culpas de uma família ou coletividade,
através da escolha de alguém que é feito responsável por elas, não supõe a
total inocência do grupo. O bode expiatório tampouco é sempre merecedor de
arcar com o peso de todas as culpas.
Com
esse rito de expiação, a sociedade pode desencadear sentimentos narcisistas de
superioridade moral. A culpa seria apenas do sacrificado no altar das vítimas.
No
caso concreto do Brasil, essa mesma sociedade que, segundo os especialistas,
estaria buscando um bode expiatório, poderia se perguntar se ela também não é
culpada por seus silêncios do passado frente à corrupção e sua condescendência
com os piores políticos a quem sempre reelege.
Lembram-se
da pergunta inquietante de anos atrás (“Por que não há indignados no Brasil?”),
enquanto as praças de outros países se enchiam de manifestantes exigindo a
renovação da velha política.
A
vítima escolhida como bode expiatório costuma ser a pessoa mais vulnerável do
grupo, que acaba aceitando sua missão salvadora, mas também pode ser escolhido
um sujeito ativo e até mesmo altaneiro, que nunca aceitaria sua condição de
vítima. Nesse caso, a condição seria imposta pela comunidade.
Se
os analistas estão certos, parece evidente que esse rito expiatório, que
atenuaria a tensão e produziria uma catarse, seria a saída da presidenta Dilma.
Neste
momento, é a pessoa que apresenta, de fato, maior tendência de solidão e
isolamento. Sua aprovação popular é das mais baixas na história dos
presidentes; boa parte dos que votaram na reeleição hoje se diz arrependida.
Existe a crença de que ela mentiu para poder se reeleger, ocultando os
problemas que o país já sofria. Está a ponto de ser abandonada por seu partido,
como ficou claro quando não quis comparecer à comemoração do trigésimo sexto
aniversário de sua fundação. O PT, que a elegeu, apresentou um programa
econômico oposto ao do Governo.
Talvez
seja a primeira vez que um presidente da República se vê estigmatizado por seu
próprio partido, enquanto a maior formação da coalizão governista, o PMDB,
exibiu ao país um programa de propaganda eleitoral de oposição e quase de
ruptura com o Governo. Quem restou para apoiá-la?
Dilma
é consciente de que tudo caminha para que ela seja o bode expiatório que
deveria ser sacrificado para apaziguar a sociedade irritada e descontente. Daí
suas repetidas frases apelando à sua inocência, à sua retidão ética, ao “não
tenho contas na Suíça”, embora hoje essa afirmação venha manchada pela detenção
de seu marqueteiro e assessor de todas as horas, João Santana, e de sua esposa,
que tinham contas ocultas na Suíça que talvez serviram, com ou sem conhecimento
de Dilma, para ajudá-la a se reeleger.
O
“se”, o “como” e o “quando” a presidenta poderia se ver obrigada a deixar o
poder é um longo caminho, político e judicial, que poderá ser melhor conhecido
com a adesão ou não da sociedade ao protesto convocado para o dia 13, com a
participação de partidos da oposição, para pedir sua saída da Presidência.
A
espada de Dâmocles continua ameaçadora sobre a cabeça de Dilma. Será ela capaz
de sair ilesa da batalha, como já fez outras vezes? O problema é que não
depende só de sua tenacidade, nem sequer de sua suposta inocência, e sim da
constatação coletiva de que, com ela, o país poderá seguir ingovernável e cada
vez mais empobrecido.
Os
que ainda a defendem chamam isso de “golpe”. Para a psicologia, é “uma
transferência de culpa por meio de um rito expiatório”.
Onde
ficaram os velhos sonhos de um Brasil que acreditava ter alcançado o futuro,
mas que ainda se vê preso num presente cada vez mais incerto e obscuro?
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