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O poder da ressurreição
Posted by Cottidianos
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00:08
Segunda-feira,
28 de março
A
ressurreição de Cristo está para o cristianismo como o fermento esta para a
massa de bolo, ou como a pedra está para o alicerce de uma construção. Como diz
o apostolo Paulo: “Se Cristo não
ressuscitou, vã é nossa pregação, e vã é nossa fé”.
É impressionante
como a crença num Deus que voltou à vida, vencendo a escuridão do sepulcro, conseguiu,
incólume, atravessar, mais de dois milênios, vencendo o pensamento
materialista, vencendo o avanço da ciência de da tecnologia, e tantas outras
mudanças que se operaram no mundo depois de seu acontecimento. O que faz essa
crença, ainda nos dias de hoje, tão arrebatadora, é um mistério indecifrável. Enfim,
é como diz Jesus a Tomé: “Você acreditou
porque viu. Felizes aqueles que acreditarão sem ter visto”.
As
lições de Jesus, inclusive de sua Paixão, Morte e Ressurreição, nos animam a
continuar lutando e acreditando, apesar de todas as dificuldades, pois sabemos
que por maiores que sejam elas, estamos nas mãos de um Deus que venceu a morte
e, com ele, também nós venceremos, e com ele ressuscitaremos gloriosos.
Abaixo,
compartilho texto de minha autoria, escrito com base em relatos bíblicos.
Aproveito
para desejar a todos uma serena e abençoada semana.
FELIZ PÁSCOA!
***
O
poder da ressurreição
Era
madrugada de domingo em Jerusalém, cidade santa. Dali a algumas horas o sol
ressurgiria em todo o seu esplendor para cumprir mais uma jornada. Uma mulher
caminhava. Tristemente caminhava com um ramalhete de flores nos braços. Levava ela
também, um pequeno frasco com bálsamo aromático, que fora preparado com
essências de nardo e de flor de lótus, misturado com puríssimo óleo de oliveira.
Do frasco, rescendia essa perfumada mistura inundando o ambiente de agradável perfume.
O vento agitava suavemente as folhas das árvores à beira do caminho. Olhando para
o alto, ainda se podia ver a estrela d’Alva, dona soberana da madrugada,
cintilar em todo o seu esplendor.
Após
algum tempo de caminhada, ouviu, ao longe, o cantar de um galo, anunciando que
era quase chegada a hora do amanhecer. No infinito, uma barra avermelhada
começava a se desenhar no horizonte anunciando a chegada do astro rei. Tivesse
sol alto, ela conseguiria ver todo o verdor que se espalhava pelos vales do Cédron
e do Tiroféon, formando um vastíssimo tapete verde que se estendia a perder de
vista. Veria também as palmeiras tremulando ao sabor do vento, nas colinas da
estrada para Jericó.
O
animado canto dos pardais e dos pintassilgos servia para amenizar-lhe a tristeza
que lhe ia ao coração. O nome dessa mulher era Maria Madalena. Lágrimas silenciosas
desciam de seu rosto. Os três últimos dias tinham sido para ela muito intensos,
tristes, e dolorosos. Presenciara seu melhor amigo, e pai espiritual, ser
injustamente, assassinado no alto de uma cruz, sem que ela pudesse fazer qualquer
coisa para impedir.
Rompia
o dia quando ela avistou a colina do Gólgota, onde fora sepultado seu querido
amigo e pai espiritual. Havia acompanhado o Mestre — como carinhosamente, o
chamava desde o início de seu ministério — e afeiçoara-se a ele. Havia se
tornado uma de suas seguidoras mais fieis.
Havia acompanhado as curas que ele fizera, os discursos que pregara, o
carinho e amor com que ele sempre tratava a todos. Ela era testemunha de todo o
bem que ele fizera, não somente a ela, mas a milhares de outras pessoas.
Mas
Jesus, pensava ela, havia contrariado interesses dos grupos religiosos
dominantes. Ele anunciava um reino que não era deste mundo, e todo o reino
precisa de um rei que o governe. Esse era um dos medos dos chefes dos
sacerdotes. Outra coisa abominável em toda essa história foi a inveja que eles
sentiam do Mestre. Jesus era conhecido e aclamado por onde passava. Não se
deixava guiar rigidamente pelas leis judaicas, e por isso também era visto como
subversivo. Por esses e outros motivos os chefes dos sacerdotes incitaram o
povo contra Jesus, e a pressão dos líderes religiosos forçou o governador, Pôncio
Pilatos, a tomar a decisão de mandar crucificá-lo, mesmo que não encontrasse nele
culpa alguma.
Mas
como eles estavam errados, lamentava ela. O reino que Jesus queria estabelecer
era o reino do amor, do perdão, do respeito aos mais necessitados. O Mestre
queria apenas dar voz e vez, àqueles que eram jogados à margem da sociedade.
Apesar
de estar muito próximo ao Mestre, e aos seus discípulos, e acompanhando-os em quase
todas as missões, ela não entendia certas coisas que ele falava. Era como se
Jesus falasse em código, tanto a ela, quanto aos discípulos. Dentre esses
tantos enigmas propostos pelo Mestre, um deles lhe vinha à mente com mais força
e intensidade. Estavam subindo para Jerusalém para a festa da Páscoa e o Mestre
chamou os seus discípulos em particular. Ela estava presente, pois a comitiva
precisava de todo o apoio naquele momento. Lembrava-se nitidamente das palavras
ditas por ele naquela ocasião. Jesus dissera, em voz pausada e suave, como se
estivesse sussurrando um grande segredo. Um suor frio percorreu o corpo de
Maria Madalena na ocasião, pois as palavras dele pareciam mais uma despedida,
uma previsão sombria. Assim se expressara Jesus: “Eis que estamos subindo para Jerusalém, e o filho do homem vai ser
entregue aos chefes dos sacerdotes e aos doutores da Lei. Eles o condenarão a
morte para zombarem dele, flagelá-lo, e crucificá-lo. E no terceiro dia ressuscitara”.
Enquanto
prosseguiam a caminhada para Jerusalém, aquelas palavras martelavam sua cabeça.
O filho do homem ia ser entregue para sofre toda uma série de castigos, e depois
ser condenado à morte? Quem seria esse filho do homem? Estaria Jesus falando
dele mesmo? É certo e sabido que os chefes dos sacerdotes e doutores da Lei
tinha era muita inveja do Mestre pelos milagres que fazia e da popularidade que
ele gozava, mas daí a condená-lo à morte? Não, definitivamente, isso não era
possível. Mas então quem seria aquele filho do homem do qual ele falava?
Hoje,
ela compreendia as palavras do Mestre de forma tão clara como água cristalina. Jesus
falava de si mesmo. Previa sua própria condenação, flagelação e condenação à
morte? Mas, então, se sabia de todas essas coisas, porque insistira em subir
para Jerusalém? Por mais que pensasse nisso não conseguia compreender. Havia ainda
mais um mistério o qual ela não conseguira decifrar. E esse mistério estava nas
últimas palavras do Mestre naquele momento em que falara aos discípulos na
subida para Jerusalém. “E no terceiro dia
ressuscitará” .
Agora
ela sabia que Jesus falara de si mesmo, prevendo sua própria morte. Mas que
significaria ressuscitar? E mais ainda ressuscitar no terceiro dia? É fato que
já haviam se passado três dias da morte do Mestre. Se algum mistério ainda
havia a ser revelado, estava bem próximo.
Finalmente,
aproximou do sepulcro. Achou estranha a ausência dos soldados, que ainda
deveriam estar de guarda ali — como era de costume para com os que morriam
condenados na cruz. Ao chegar mais perto, viu que a pedra do túmulo havia sido
retirada. Ela havia sido testemunha de que fora ali mesmo, naquele sepulcro,
que agora estava aberto, que ela havia visto colocarem o corpo do Mestre. Maria
Madalena olhou rapidamente dentro do sepulcro, e um pavor enorme percorreu seu
corpo: Ela não vira ali nenhum corpo.
Imediatamente,
ela saiu correndo e, no caminho, encontrou Pedro e João, que também estavam
indo ao sepulcro. Apavorada, disse a eles: “Tiraram o corpo do Mestre do túmulo
e não sei onde o colocaram. Sei apenas que a pedra que fechava o túmulo estava
aberta”.
“Como
assim, não há nenhum corpo no túmulo?” perguntou Pedro. Em seguida, João e
Pedro saíram correndo a fim de ver o que havia acontecido. João chegou primeiro
ao túmulo, e viu que os panos de linho que envolveu o corpo de Jesus estavam no
chão, mas não entrou. Pedro chegou ofegante por último, e entrou no sepulcro. Viu
os panos de linho no chão, da mesma forma que João havia visto, mas notou que o
sudário, pano que havia sido usado para cobrir a cabeça de Jesus, não estava
junto com os panos de linho, mas sim enrolado num lugar à parte.
Os
dois discípulos voltaram para a comunidade a fim de dar a notícia do sumiço do
corpo de Jesus ao outros discípulos. Maria Madalena ficou ao pé do túmulo. Ela
chorava e por alguns momentos, baixou os olhos, pensativa. Quando os ergueu
novamente, deparou-se com dois anjos. Eles estavam vestidos de branco, e
sentados no lugar onde Jesus havia sido colocado. Enquanto um deles olhava para
ela com olhos cheios de conforto, o outro lhe dirigiu à palavra dizendo: “Mulher,
porque choras?” “Estamos aflitos porque levaram o corpo de Jesus e não sabemos
onde o colocaram”, disse ela.
Maria
Madalena, notou uma sombra que vinha de trás dela. Levantou-se e viu um homem
que lhe fez a mesma pergunta que o anjo acabara de lhe fazer, acrescentando: “Quem
você procura?”. Pensando que aquele homem fosse o jardineiro, ela perguntou: “Onde
foi que você colocou o corpo de Jesus? Diga onde o pôs que iremos buscá-lo?”
Foi então que ele pronunciou o nome dela: “Maria”. Maria Madalena sentiu como se a cegueira que
havia em seus olhos tivesse sido curada. Nesse momento, ela reconheceu o
Mestre, e tomada de surpresa, ela disse: “Mestre”, e quis abraçá-lo, mas ele
lhe disse: “Não me segure porque ainda não voltei para o meu Pai, que também é
Pai de vocês. Agora vá e diga aos discípulos que isso é ressurreição. Vencer a
morte é ressuscitar”.
Emocionada,
ela foi e fez como Jesus havia pedido. Mesmo assim, eles não compreenderam a
mensagem. Foi preciso que Jesus aparecesse a eles e lhe desse a boa nova. Tomé
não estava junto com os discípulos quando Jesus apareceu. Quando os discípulos
lhe contaram a maravilhosa novidade, ele, obviamente não acreditou, e disse: “Se
eu não vir a marca dos pregos nas mãos dele, e se eu não colocar a mão no lado
dele, não acreditarei”.
Passada
uma semana, os discípulos estavam reunidos, em uma sala à portas fechadas e,
dessa vez, Tomé estava com eles. Então Jesus entrou, posicionou-se no meio
deles, e disse: “A paz esteja convosco!” Então, olhando para Tomé, cujos olhos
estavam arregalados, tomados pela grande surpresa, Jesus disse, estendendo as
mãos: “Tomé, você que não acreditava, estenda suas mãos e ponha seu dedo em
minhas mãos, e toque o meu lado”. De joelhos, maravilhado, Tomé conseguiu
apenas dizer: “Meu Senhor e meu Deus!”. Jesus olhou mansamente para ele, e disse:
“Tomé, você acreditou por que viu. Felizes aqueles que acreditarão sem ter
visto”.
Jesus
ficou com ele ainda por alguns dias, preparando-os e orientando-os para darem
prosseguimento, sozinhos, ao anúncio do Reino de Deus.
Muitos
anos depois, através da janela, olhando o céu que se levantava no horizonte,
Maria Madalena refletia sobre essas coisas. Tudo para ela ainda era um grande
mistério para o qual não tinha explicação. Não tinha explicação mas acreditava
verdadeiramente. Isso era o que se costuma chamar de fé: acreditar nas coisas
que não vemos. Ela, outras mulheres seguidoras de Jesus, e os discípulos,
haviam tido a ventura de vê-lo ressuscitado, mas muitos outros creram sem tê-lo
visto, e esses mereciam maiores venturas que eles. Até aquele momento, e depois
de ter perseverado por tantos anos na fé no Deus que vence a morte, ela não
entendia a mudança na fisionomia de Jesus quando ele apareceu a algumas
pessoas, inclusive para ela.
Ressurreição!
Essa era para ela uma palavra chave e pedra de fundamental importância na
religião que dobrou os joelhos do arrogante Império Romano. Pois essa grande
vitória do cristianismo como religião, não veio dos belos discursos feitos por
Jesus, pois, certamente, havia em Roma outros oradores tão eficientes quanto o
Mestre, nem veio das curas que ele fazia, pois também em Roma havia que curasse
os enfermos, nem da popularidade que o Mestre gozava entre o povo, havia outros
profetas bem populares e contemporâneos a ele. Mas fora a ressurreição que
vencera o jogo, transformando o cristianismo de seita em religião oficial do
Império.
Ademais,
se Cristo não houvesse ressuscitado, não havia porque continuar acreditando.
Mas ele venceu a morte, e se ele venceu, pensava ela, todo aquele acredita
também pode obter a mesma vitória. Os ensinamentos de Jesus, juntamente, com
sua paixão, morte e ressurreição, haviam-na tornado mais forte, mais tolerante
para com a natureza humana. A lição da cruz a havia ensinado que, por maiores
que sejam as dificuldades, as contrariedades, invejas e perseguições, muito
maior é força que Deus nos dá para superá-las. E a certeza de que um dia também
estaria na casa do Pai, a animava a nunca desistir da luta, a nunca esmorecer
diante das batalhas da vida, e a seguir sua missão espalhando por onde quer que
passasse, o bem, o amor, e a caridade.
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