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Paixão, morte e ressurreição do Brasil

Posted by Cottidianos on 00:33
Sexta-feira, 25 de março

Veja!

Não diga que a canção

Está perdida / Tenha fé em Deus

Tenha fé na vida / Tente outra vez!

Beba! 

Pois a água viva / Ainda tá na fonte

(Tente outra vez!)

Você tem dois pés / Para cruzar a ponte

Nada acabou!

(Tente outra vez – Raul Seixas)
 



 O tempo parece estar correndo na velocidade do ano luz. Já nos aproximamos do fim de março. Chegamos a mais uma semana de grande importância no mundo cristão, que é a Semana Santa. Semana que, segundo relatos bíblicos, aconteceu o injusto julgamento de Jesus Cristo. Julgamento esse que resultou na sua paixão e morte. O Deus-homem foi castigado, humilhado e ferido. Os líderes políticos e religiosos romanos da época, jogaram Jesus nas mãos dos soldados que o castigaram, humilharam e maltrataram impiedosamente. Esses mesmos líderes que queriam a morte de Jesus, fizeram do povo massa de manobra, a ponto de eles preferirem à libertação de um criminoso, a salvar um inocente da cruz. Mas, sendo Deus feito homem, Jesus venceu todas essas demandas e ressuscitou ao terceiro dia. Provando que a fé vence qualquer barreira, inclusive a barreira da morte.


Nós brasileiros, chegamos a essa Semana Santa assistindo ao Calvário do nosso país. Por aqui também, os líderes políticos — e porque não dizer, religiosos, uma vez que o presidente da Câmara, e sua bancada evangélica, já assumiram esse papel dentro do âmbito institucional, confundido estado e religião — jogaram nosso país nas mãos de empresários e governos corruptos. Os soldados, aliados desses governos, humilham, roubam e castigam esse país impiedosamente. Roubam seus recursos para abastecer suas campanhas presidenciais e saciar sua sede de poder, enquanto nas ruas o povo pede pão; nos hospitais públicos, imploram pelo remédio que lhes falta; e, na área educacional, o povo pede a dignidade que lhes é negada.


Ah, Deus! Como estamos precisando vencer todas essas demandas e ressuscitar. Olha, Deus, nem precisa ser no terceiro dia, se nos concederes um ano para que ressuscitemos esse país, já tá de bom tamanho.


Assim, como perdoastes aqueles que batiam nas faces, furavam tuas mãos com pregos, e zombavam da mensagem salvadora pregada por teu filho, perdoa também a essas aves de rapina que destroem a nossa querida nação, porém, como imploraste na cruz, eu imploro a ti: “Afasta de nós esse cálice”... E faz com que aqueles que acabam com o sonho de um país mais justo e mais próspero, sejam devidamente responsabilizados pelos maus atos que praticaram.

 Após esse orante e suplicante introito, digo a vocês caros leitores, que sempre fico muito curioso para saber o que a imprensa estrangeira diz a respeito da atual crise política brasileira. Mas os jornais e telejornais só nos dão as manchetes de jornais estrangeiros falando do Brasil, tais manchetes são bem afinadas com o que ocorre no país, mas dão apenas uma ideia do que circula a respeito de toda essa lama lá fora.

 Resolvi então traduzir um artigo publicado na revista britânica, The Economist, cujo título é, Hora de ir (Time to go). O artigo fornece uma panorâmica da atual crise política brasileira, falando, inclusive, de fatos bem recentes como as manifestações nas ruas, a nomeação de Lula como ministro, a delação do senador Delcídio do Amaral, e o posicionamento de Sérgio ao liberar gravações sigilosas. O artigo diz ainda aquilo que costumamos dizer ou pensar, ou seja, estamos no meio de um fogo cruzado, como diz o ditado, “se correr o bicho pega, se ficar o bicho come”. O texto cita a corrupção generalizada que tomou conta do nosso país, e questiona aquilo que, de fato, acontece: se Dilma sofrer impeachment, quem vai assumir o lugar dela, se o vice-presidente do Brasil, Michel Temer, o presidente da Câmara, Eduardo Cunha, e o presidente do Senado, Renan Calheiros, também são citados nos escândalos de corrupção, e junto com eles metade da Câmara e do Senado?


Só discordo quando o jornal afirma que não há provas de que Dilma tenha cometido as tão faladas pedaladas fiscais para maquiar a verdadeira dimensão do déficit fiscal do ano de 2015. Ora, se o próprio Tribunal de Contas da União, em abril do ano passado, declarou que não havia mais dúvidas de que a presidente havia cometido crime de responsabilidade fiscal, ao utilizar recursos de bancos públicos para inflar os resultados orçamentários e, com isso, melhorar as contas da União, como dizer que não há provas de crime de responsabilidade fiscal? Junte-se a isso, as tentativas, na quais a própria Dilma se envolveu para obstruir a justiça para salvar a pele do ex-presidente Lula, acho que temos motivos de sobra — e eu me incluo nesse grupo de eleitores sem partido que são a favor do impeachment — para ver a presidente fora de seu posto.


E, em seus delírios, a presidente, o ex-presidente, chamam um processo democrático de golpe. Os petistas fanáticos acreditam, realmente, que está em curso um processo golpista no país.  Não nos deixemos envolver pela conversa dos lobos, eles querem apenas abocanhar mais ovelhas, ou mais dinheiro, quem sabe? 


O Brasil está envolvido em uma grave crise política e econômica, mas o país busca soluções, recursos que estão dentro da lei, para solucioná-las, e o impeachment é uma delas.

Obviamente que, como cita The Economist, o Brasil, com uma classe política desacreditada, e tendo a seguinte situação no Congresso: “de 594 membros do Congresso, 352 enfrentam acusações de corrupção” dá certo medo do que viria depois de um governo Dilma, mas acho que, às vezes, a situação é tão dramática, que vale a pena um mergulho no escuro, quem sabe não haverá uma luz no fim do túnel. É uma esperança que nos resta, e nela devemos apostar.


Aproveito para desejar um bom feriado religioso a todos, e porque não fazermos nossas orações, nossos pedidos, para que consigamos atravessar, em paz, a tempestade, e pedir que a justiça impere?


Abaixo, compartilho com vocês, a tradução livre que fiz do artigo da The Economist.


***




Crise política brasileira


Hora de ir


Com reputação manchada, presidente deveria renunciar


As dificuldades de Dilma Rousseff têm se aprofundado há meses. Os enormes escândalos envolvendo a Petrobrás, a gigante estatal do petróleo, da qual ela já foi presidente, envolvem algumas pessoas muito próximas a ela. Ela governa uma economia que sofre a pior recessão desde a década de 30, em grande parte, devido a erros que ela cometeu durante seu primeiro mandato. Sua fraqueza política tornou seu governo quase impotente diante do aumento do desemprego e queda nos padrões de qualidade de vida.  Seus índices de aprovação estão na casa de dois dígitos e milhões de brasileiros foram às ruas para gritar: Fora Dilma!


E, no entanto, até agora, ela afirma, categoricamente, que a legitimidade de conferida a ela na reeleição de 2014 não foi abalada, e que nenhuma das acusações feitas contra ela, justificam seu impeachment. Aos juízes e policiais que investigam algumas das figuras mais importantes do Partido dos Trabalhadores (PT), ao qual ela pertence, ela declara, com fisionomia séria, o seu desejo de que a justiça seja feita.


Agora, ela jogou fora o que lhe restava de credibilidade. No dia 16 de março, ela tomou a extraordinária decisão de nomear seu antecessor, Luiz Inácio Lula da Silva, como seu chefe da Casa Civil. Ela descreveu isso como uma manobra perspicaz. Lula, como é conhecido por todos, é um articulador político astuto: ele poderia ajudar a presidente a sobreviver às tentativas do impeachment no Congresso, e até mesmo estabilizar a economia. Porém, alguns dias antes, Lula havia sido levado para interrogatório por ordem de Sérgio Moro, juiz federal encarregado das investigações na Petrobrás (apelidada de Lava Jato), que suspeita que o ex-presidente tenha se beneficiado do esquema de corrupção. Promotores do Estado de São Paulo acusam Lula de ocultar um Triplex, em um condomínio em frente à praia. Ele nega essas acusações. Ao se tornar ministro, Lula teria foro privilegiado: somente a corte suprema do país poderia julgá-lo. Neste caso, um juiz do Supremo suspendeu sua nomeação.


Este jornal tem argumentado que tanto o sistema judicial, quanto eleitores — sem ligação com partidos políticos, que querem o impeachment da presidente, deveriam decidir o destino dela. Porém, a nomeação de Lula parece ser uma tentativa grosseira de impedir o curso da justiça. Mesmo se essa não fosse a intenção, teria o mesmo efeito. Este foi o momento no qual a presidente escolheu os mesquinhos interesses de seu grupo político, em detrimento do Estado de Direito. Dessa forma, ela mostrou-se incapaz de permanecer na presidência.


Três maneiras de deixar o Planalto


A forma como ela deixará o Planalto importa muito. Nós continuamos a acreditar que, na ausência de provas de criminalidade, o impeachment de Dilma Rousseff não é justificável. O processo contra ela no Congresso se justifica em denuncias não comprovadas de que ela usou truques contábeis para esconder a verdadeira dimensão do déficit orçamentário de 2015. Isso parece apenas um pretexto para expulsar uma presidente impopular.  A ideia defendida pelo chefe do comitê de impeachment de decidir o destino de Dilma ouvindo “as ruas” criaria um precedente preocupante. Democracias representativas não devem ser governadas por protestos e pesquisas de opinião.


Há três modos de tirar Dilma do poder apoiados em bases legais. A primeira seria a de que ela obstruiu a investigação na Petrobrás. Declarações de um senador petista de que ela fez isso, pode formar a base para uma segunda proposta de impeachment. Mas até agora essas acusações não foram comprovadas, e ela nega-as; a tentativa de proteger Lula da investigação pode fornecer mais motivos. Uma segunda opção seria uma decisão do Supremo Tribunal Federal de convocar nova eleição presidencial. Isso pode ser feito, se for comprovado que a campanha à reeleição de 2014, foi financiada com dinheiro desviado da Petrobrás. Mas essa investigação seria demorada. O modo mais rápido e melhor de Dilma deixar o Palácio do Planalto seria ela renunciar, antes que seja posta para fora.


Sua saída ofereceria ao Brasil a chance de um novo começo. Mas a renúncia da presidente, por si só, não resolveria os problemas do Brasil. O lugar dela seria, a princípio, ocupado pelo vice-presidente, Michel Temer, líder do Partido do Movimento Democrático Brasileiro. Temer poderia condizer um governo de unidade nacional, incluindo os partidos de oposição, que, em teoria, pode ser capaz de promover as reformas fiscais necessárias para estabilizar a economia e corrigir um déficit orçamentário que está perto dos 11% do PIB.


Infelizmente, o partido de Temer está profundamente envolvido no escândalo da Petrobrás, assim como o PT. Muitos políticos que participariam de um governo de unidade são vistos como representantes de uma classe política desacreditada. De 594 membros do Congresso, 352 enfrentam acusações de corrupção. Uma nova eleição presidencial daria aos eleitores a oportunidade de confiar as reformas a um novo líder. Porém, se correia o risco de deixar outro governante corrupto no cargo até 2019.


O judiciário também tem perguntas para responder. Os juízes merecem grande crédito por prenderem poderosos políticos e empresários brasileiros, mas eles tem se enfraquecido porque desrespeitam as normas legais. O exemplo mais recente foi a decisão de Sérgio Moro de liberar gravações de conversas telefônicas entre Lula e seus aliados, incluindo Dilma Rousseff.  A maioria dos juristas defende que somente o Supremo Tribunal pode divulgar conversas em que umas das partes têm foro privilegiado, como a presidente, por exemplo. Isso não justifica as acusações de partidários do governo de que o judiciário está encenando um ”golpe”. Assim fica fácil aos acusados na Operação Lava Jato desviarem a atenção de seus erros para os erros de seus acusadores.


A guerra de partidos e personalidades do Brasil obscurece algumas das mais importantes lições que se pode tirar da crise. Tanto o escândalo na Petrobrás, quanto a crise econômica, tem suas origens em práticas e leis erradas que são praticadas no Brasil há décadas. Para o Brasil sair dessa bagunça são necessárias mudanças profundas: incluindo a questão previdenciária; reforma das leis fiscais e trabalhistas que atravancam o crescimento; e a reforma de um sistema político que estimula a corrupção e enfraquece os partidos políticos. 


Estas coisas não podem mais ser adiadas. Aqueles que gritam “Fora Dilma” nas ruas irão reivindicar a vitória se ela sofrer o impeachment. Mas para o Brasil sair ganhando, isso é apenas o primeiro passo.

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